segunda-feira, 23 de abril de 2018

Exílio Forçado

Exilada do meu pago
Meu adorado Itaqui
Saudade que afoga o peito
E a gente não acha o jeito
De ficar longe de ti

Num tempo nem tão distante
Pensei até em me mudar
Para uma cidade grande
Para voltar a estudar
Sair muito
Passear

Mal sabia que seria
De maneira obrigada
Da minha terra exilada
Pra passar as madrugadas
Solita e triste chorando
De tanta falta de ti

E que tal o desvario
De ter pensado que um dia
Bem campante eu estaria
Vivendo longe de ti

Somente agora vejo
Que de ti, minha terra amada
Jamais quero me apartar
Por isso rogo a Deus todo dia
Que o tempo ande ligeiro
Para que eu possa voltar

Voltar para a minha rua
E ver do meu pátio a Lua
Ouvir a chuva cantar
Acordar com os passarinhos
E o vento soprando suave
Itaqui dos meus amores
Eu te canto com louvores
Para sempre vou te amar







domingo, 22 de abril de 2018

A Mulher Que Não Queria Fazer Plástica

Faz tempo que penso sobre a questão das cirurgias plásticas, as quais crescem no Brasil de forma estratosférica.
O que leva uma mulher a procurar tais recursos?
A mim não cabe responder, pois isso é muito particular e está ligado, certamente, a questões e fatores de ordem interna.
Falo de mim, e por mim, exclusivamente.
De início, deixo claro que não teço, aqui, qualquer crítica a quem é adepta da cirurgia estética, ao contrário, admiro e invejo, eis que sou, assumidamente, vil para a dor e tenho um pavor atávico a clínicas, hospitais e assemelhados e, assim sendo, não penso em me internar de foma espontânea, entrar sã e sair cheia de cortes e hematomas que resultarão, dali certo tempo, em um resultado muito bom, não resta dúvida.
Mas não é a minha praia.
De criança magra passei a ser uma adolescente gorda, talvez resultado da Emulsão de Polivitaminas que minha Mãe me dava todos os dias, após o café da manhã.
Como lembro daquela cena: eu, paradinha ao lado do filtro de água que ficava no balcão da copa e a Mãe, com uma colherinha de chá, me fazia engolir aquele líquido que tinha um gosto de mel levemente amargo.
Tá.
Fato é que minhas gorduras localizadas, peitos grandes, bunda grande e culotes fazem parte da minha vida e me acompanham desde os treze anos.
Viveram comigo grandes emoções, desde o primeiro beijo à primeira transa, celebraram o amor, a formação acadêmica, os foras, dois casamentos, o nascimento de minhas filhas, a volta para minha cidade natal, Itaqui, depois de doze anos de Capital...as delícias e as tristezas da Vida, enfim.
Meu corpo resistiu bravamente a todos os embates e seguiu, lépido e faceiro, embora os sinais do tempo começassem  a se tornar bem visíveis, pois aos 56 anos não há mágica.
Apenas a mágica da cirurgia plástica, ou os tratamentos menos invasivos, Botox, preenchimento, etc...
Foi assim que optei pelo tão festejado Botox, e disso faz quatro anos.
Olhando, hoje, fotos minhas daquela época em que, toda botocada e de sobrancelhas feitas...ahhh, esqueci o detalhe das sobrancelhas: refiz as minhas, que estavam ralas e com os fios muito claros.
Pois bem, revendo aquelas fotos nas quais, supostamente, eu deveria estar muito bem, confesso que me achei horrível!
Sim, horrível!
As sobrancelhas pareciam ter vida própria, tão marcadas estavam!
Como resultado do Botox e do preenchimento, virei uma mistura de gafanhoto com o Fofão, meu nariz ficou estranho, um arrebitado estranho...
Não ficou nada bem, hoje eu vejo.
Por que não era natural.
Por que não era eu, com minha bagagem.
No início deste ano, logo após meu diagnóstico, meu corpo começou a encolher.
Meus peitões sumiram, a bunda ficou reduzida a...bueno, não sei...e até meus culotes desapareceram.
Cara, de um dia para o outro, eu não tinha mais nem ão, nem ões, nem nada!
Minha médica falou, rindo,  que eu era um caso à parte, e que ela jamais tinha visto uma mulher chorar por ter perdido os culotes. Sendo ela professora universitária, autorizei-a a contar aos alunos o estranho caso da mulher que não queria fazer plástica e que chorava a perda de suas gorduras localizadas.
Fiz a cirurgia há oito dias.
Mais uma etapa vencida nesta luta que será de glórias, Deus é mais!
E meu corpo, que estava triste, murcho, sem viço, está se recuperando a cada dia.
Despacito vai se ajeitando.
Tenho mantido com ele longas conversas de amor, beijo-o,  agradeço a ele pela força, pelo empenho, e combinamos, nós dois, que voltaremos: ele, a envolver carinhosamente uma gorda feliz, e eu a exibir, orgulhosa, o que me identifica, pois não sou Lia sem ter ãos e ões, é meu carimbo e minha marca registradíssima, da qual não pretendo me desfazer, basta o que perdi.
Pergunte-me, então, se quero fazer uma cirurgia plástica, e a resposta será um rotundo não!
Estou muito à vontade ante passagem do tempo, e com as cicatrizes que ele deixou.
Elas me lembram, todos os dias, quem sou e como sou - modelo único e sem similar no mercado, com todas as minhas verdades, contradições, sonhos, planos, projetos, desejos...
Como me disse certa vez minha Mãe,  em um de seus lances geniais: nena, increíble como no tenés complejos...
Não os tenho!
Concluo, portanto, com tudo o que tenho visto e vivido nestes últimos meses, que minha aversão à cirurgia plástica e a seus derivados, e meu amor inconteste por meus culotes e gorduras, efetivamente, merecem estudo.















segunda-feira, 16 de abril de 2018

Sincronias

A gente conversa com uns e outros e todos são unânimes quando afirmam que nada é por acaso.
Nesta minha jornada em busca da cura tenho experimentado sensações dignas de nota, e o objetivo de por no papel as vivências desses dias difíceis é dividi-las e quem sabe poder ajudar outras pessoas, ainda que de uma pequena maneira.
O corpo físico fica decrépito, feio, sem viço, sente os traumas.
O espírito, entretanto, embora acabrunhado num primeiro momento, logo se reergue, apoiado em nossas crenças, na fé que nutrimos e alimentamos dia após dia, mesmo naquelas horas negras em que só fazemos chorar.
Duvidar do poder Divino, jamais!
Assim aconteceu comigo, e faço este relato para que fique gravado:
Internada para exames pré operatórios uma semana antes da cirurgia, vivi dias tristes,  cinzentos, onde sentia um profundo desespero e uma vontade infernal de cortar a pulseira de identificação de paciente e sair em desabalada carreira rumo à liberdade.
Que liberdade? Eu estava doente e precisava permanecer ali.
Não tem plano B,  me disse uma amiga.
Verdade.
Não havia escapatória.
Das janelas amplas do corredor do andar onde eu estava olhava a rua, de uma lado, e a parte interna do hospital, do outro lado.
Decidi me exercitar.
Subia e descia a escada entre os andares, várias vezes ao dia.
Olhava pelas janelas e agradecia a Deus por mais um dia, por estar sendo cuidada, por ter bons médicos,  pela minha disposição de lutar e de vencer, pois se não havia plano B para sair dali, tampouco eu pensava em outra coisa que não a cura completa.
Lutar e lutar até vencer.
Lembrava de meus avós e de suas vidas, de meus tios e tias, de meu Pai e de minha Mãe, e pedia forças.
Pedia e pedia, pois acreditava, e acredito.
E fui atendida, regiamente recompensada.
Refiro-me, aqui, às sincronias que aconteceram.
Havia uma enfermeira que olhava para mim e sorria. Sentia pena, eu sei, pois ela via  meu sofrimento.
Certa noite ficamos no corredor conversando abobrinhas e, a certa altura, ela me perguntou: de que signo tu és?
E eu: de gêmeos.
E tu?
Sou do dia 21 de junho.
Amigos, 21 de junho era o dia do aniversário de meu avô paterno, Atílio.
Na hora, pensei, e falei a ela: meu avô Atílio está aqui, me dando força através de ti.
E ela: nada é por acaso...
Na véspera de um dos tantos exames que fiz passei uma noite insone, a tal ponto que desisti de tentar dormir e fiquei recostada na cama, esperando o dia chegar, mas num certo momento cochilei, e sonhei, vi, e senti:
Recostado sobre a janela do quarto, em pé, olhando para mim estava Emanuel, com suas vestes brancas.
Olhava, sério, e não dizia nada, mas estava ali.
Logo após,  meu grande e amado amigo Michel Ayub, que não está mais aqui há mais de vinte anos surgiu ao  lado e, rindo, me disse, " não te preocupa com isso, tu não tens nada, que bobagem, ficar preocupada", e continuou rindo, a tal ponto que senti um sopro de ar morno em meu ouvido direito.
De fato, meu exame do dia seguinte não apresentou nenhuma alteração, tudo certo.
Estava liberada, e teria que retornar em dois dias para a cirurgia.
Já em casa, minha filha Marina me presenteou com uma sessão de Reiki e lá fui,  feliz da vida, pois estar no espaço de terapia alternativa de minha querida amiga Renata Duarte é uma bênção e um luxo.
Ao término da sessão, ela encerrou com a Oração de Proteção a São Miguel Arcanjo.
Fiquei tão impressionada com seu conteúdo que fui pesquisar e, por óbvio, também passei a rezar e a pedir por sua intercessão.
São Miguel Arcanjo, o Príncipe das Milícias Celestes, o Guardião do Paraíso, o Anjo mais próximo a Deus, invocado para por quem necessita de cura e de força para enfrentar uma dura batalha, cujo nome, em árabe, é Michel...e o meu amigo Michel era árabe...
Emanuel, que significa " Deus está conosco"...
E, já no bloco cirúrgico, veio falar comigo o anestesista, e me contou que é uruguaio e eu disse a ele que minha Mãe era argentina e ele, prontamente, me abraçando, começou a cantarolar uma música que ela cantava para mim quando eu, criança, me machucava ou ficava doente: sana sana, culito de rana, si no sana hoy sanará mañana.
Não tive como não pensar que, com milhares de anestesistas, me tocara justamente aquele, que cantou para mim uma musiquinha infantil em espanhol, a língua materna...
Estaria minha Mãe ali comigo, sabendo de toda minha aflição e medo?
Esses fatos aconteceram comigo e hoje, quatro dias após a cirurgia, considerada um sucesso pelos médicos, estou em casa me recuperando, me recompondo e, mais do que nunca, firme em minha fé em Deus e em seus Anjos e Santos, em meus seres de luz que, de uma ou de outra forma, se fizeram presentes nos momentos mais duros da minha vida.
Realmente, queridos amigos, nada é por acaso!