Dois dias antes para lá acorremos, " en caravana", como dizia um outro parente, a fim de participarmos do casório ilustre.
Veio toda a parentela de Buenos Aires, gente de Posadas, outros de Apostoles, além do sem fim de amigos e conhecidos argentinos convidados para o verdadeiro acontecimento que estava por vir.
Minha mãe, feliz que nem pinto no lixo, não fechava a boca e ria alto, tal a suprema alegria que aqueles encontros lhe proporcionavam.
Uma parte do grupo ficou hospedada na casa da tia Albita, o restante do povo foi para o hotel, incluídos aí meus tios paternos, Carlos Alberto e Maria Alba.
No dia da festa, a agitação na casa da tia Albita era geral porque, muito embora ela morasse numa casa enorme, a mesma não tinha sido feita para abrigar as vinte pessoas que se aglomeraram ali, só que ninguém se importava com isso, o que valia era a gritaria e as conversas que ecoavam por todos os cômodos.
Minha tia Dora, mulher de um irmão de minha mãe, era, sem sombra de dúvidas, a mais divertida. Ela era alta e bem magrinha, dona de uma voz sensacional e, nos encontros familiares, costumava cantar a plenos plumões, para felicidade geral.
Da igreja onde transcorreu a belíssima cerimônia do casamento rumamos para a festança de arromba, patrocinada pelos pais da noiva e um show à parte em matéria de decoração, iguarias finas, bebidas, músicas escolhidas a dedo: uma festa impecável.
Imaginem uma mesa onde italianos e argentinos estejam juntos. Uns 15, aproximadamente, fora os que estavam nas mesas vizinhas.
Um escândalo, se é que me entendem.
A festa corria solta e a champanhota mais ainda, o som da música aumentou e a maioria já começava num embalo tremendo quando, de repente, minha tia Dora ficou muito séria e, com um grito, exclamou:
Alllbaaaaaa!
Alllbaaaaaa!
Minha tia Albita, chique como sempre, apavorada, respondeu:
Pero que te pasa, Dora, que tenés?
" Hace un tiempo que te estoy mirando e ahora veo, te pusiste el vestido al revés."
Minha tia Albita ficou vermelha como um camarão e prontamente olhou para baixo, para a barra de seu vestido ali, bem à mostra, assim como todas as costuras laterias.
" No es posible" .... e desatou a rir, incontrolavelmente, assim como todos nós. Todos ríamos desatinadamente, muito pela bebida e pouco pela questão do vestido do avesso, fato é que estávamos todos naquilo, e a tia Dora sacudia-se a gargalhar quando pláááá: sua dentadura saltou longe, indo parar na pista de dança.
Meu tio Carlos Alberto, um gentleman, levantou-se rapidamente e foi buscar a dentadura da tia Dora, que não sabia onde se esconder de vergonha e outra saída não teve a não ser pedir que a levassem dali o mais depressa possível, no que foi seguida pela tia Albita.
Saíram as duas da festa, sob o protesto de alguns e as risadas da maioria, somente o tio Carlos Alberto permaneceu sério, pedindo a todos: parem, por favor, foi somente una piccola confusione! mas ninguém lhe deu ouvidos pois não controlávamos mais nada e a comédia bufa, protagonizada pelas duas respeitáveis tias Fernández, entrou para os anais das histórias familiares.
A cada festa, não faltava quem lembrasse à tia Albita, olha bem o vestido, vê se não está do avesso...ou à tia Dora, não ri muito, cuidado para não perder a dentadura!
Minhas tias lindas, que momentos fantásticos passei com vocês.
Ainda bem que o amor não termina!
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