domingo, 28 de dezembro de 2014

O Não Desejo

Nunca um Natal foi tão difícil para mim como este último.
O pior, disparado, foi aquele fatídico Natal de 2003, ano em que meus Pais foram embora.
Não houve Natal mais infeliz que aquele.
Muitos anos depois, dos quais, diga-se de passagem,  perdi a conta pois é deses somatórios que a gente quer esquecer, decidi que precisava resgatar, de algum lugar, a alegria.
Não a alegria de outrora.
Aquela ficou no passado - tão presente sempre, e não voltará mais.
Mas uma alegria nova.
E logrei êxito.
Após  longos anos, consegui arrumar a árvore com aquela disposição que brota do coração, da felicidade de poder celebrar.
Eis, então, que outras mortes se anunciaram.
Não a morte física, mas aquela que acaba com o afeto e com toda a ilusão.
E como é difícil lidar com ela, pois, embora as pessoas estejam aqui, deste lado da vida, é como se não estivessem.
A morte do amor fraternal, o rompimento praticamente definitivo do elo daquilo que, um dia, foi uma família.
São tantas as razões, que seria enfadonho, até para mim, enumerá-las.
Uma, entretanto, sobressai: o não desejo.
Porque para perdoar, é preciso que haja o desejo da união.
Para retomar, é preciso que haja o desejo da reconstrução.
Para estar novamente juntos, é preciso que haja o desejo do amor.
E nada disso há.
Nem nunca houve.
Então, quando nos deparamos com a rude realidade, com a frieza, com a dureza e com o nenhum caso, torna-se bastante difícil assar o peru e enfeitar a casa.
Mesmo assim, continuei, porque sou teimosa como uma mula e não desisto fácil, ainda mais quando se trata de amor e de afeto.
Segui em frente.
Por mim mesma.
Por minhas filhas e pelo meu amor.
Nessas questões nebulosas costumo ir até o fim, até o fundo, ao âmago, e não me importo com arranhões e nem com o escuro, e nem com nada, vou em busca das respostas e,  para isso,  ponho-me a pensar e tampouco me importo com a dor de cabeça lancinante que virá.
Não há nada pior que o silêncio rancoroso e a ausência de respostas.
Nesse clima, arrumei minha árvore.
Pesado.
Triste.
Com muitas outras mortes dentro de mim que eu nunca desejei, mas que aí estão.
Como tantas vezes em minha vida, procurei, procurei e encontrei as respostas.
E concluí que ninguém pode dar aquilo que não possui.
Precisamos fazer determinadas escolhas para seguir vivendo, inobstante o não desejo do outro.
Independentemente das circunstâncias de cada um.
Poderia ficar horas discorrendo sobre estes temas tão tristes em uma época em que a regra é a alegria, mesmo aquela falsa, que somente existe para as fotos do Facebook.
Prefiro, entretanto, deletar, em definitivo, pessoas  que desprezaram, ao longo de tanto tempo, o meu amor e a minha amizade.
Aí está meu propósito para o Ano Novo: mais leveza, menos fardos.
Menos vulto, más claridad.
Como já referi em postagens anteriores, parafraseando Mario Quintana
"Todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão... eu, passarinho."














segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Divisor de Águas

O ano finda e, inevitavelmente, começamos a fazer um balanço de tudo.
Das realizações profissionais e materiais às questões afetivas, tudo passa pelo crivo da síndrome de conclusão de ano, isto é, aqueles momentos em que ficamos a sós e relembramos os laços que estreitamos, os projetos que saíram do mundo das ideias e viraram realidade, as amizades novas, o avanço que obtivemos em algumas áreas e o retrocesso em outras tantas.
As alterações no panorama afetivo são, a meu ver, as mais significativas.
Este ano foi, para mim, um divisor de águas.
O que era, e o que é.
O que foi, e o que será.
Não sem tristeza, trago à baila algumas decepções sofridas e que, espero, passem a integrar o rol daquelas coisas desagradáveis que queremos esquecer.
Queremos, mas não conseguimos, não sem antes fazer uma grande depuração, capaz de expelir e vomitar tudo até que não sobre mais nada.
Entretanto, é difícil expulsar de nossos corações pessoas que, durante largo tempo, fizeram parte de nossas vidas.
Que, um dia, lá atrás, num passado longínquo, formaram um núcleo denominado família.
Este foi, de longe, o mais doloroso e árduo embate que enfrentei na vida.
Uma guerra onde os grande vencedores foram a maldade, o desamor, a falta de caráter, as palavras duras, o olhar raivoso.
Prefiro render-me ao amor e à alegria a ter que carregar o fardo, insuportavelmente pesado, de amar e não ser amada, de clamar por abraços que nunca virão e por uma amizade que, hoje vejo, era apenas ilusão de ótica de  minha parte.
Há momentos em que sentimos, nitidamente, que a estrada se afunilou e chegou ao fim. Não há como continuar, e impossível é retroceder.
O que nos resta, então?
Parar, observar o horizonte que se descortina e fazer a opção: continuar estagnado, chorando pelas ilusões perdidas, ou levantar a cabeça e avançar, despojando-se de todos os maus sentimentos e deixando para trás os olhares rancorosos que destilam veneno.
É isso, ou sucumbir numa tristeza profunda, num murmurar de lamentos.
Prefiro responder às batalhas da vida com um sorriso aberto e desconcertante, com a altivez que aprendi com minha Mãe e com a força que herdei de meu Pai, sempre disposto a levantar após cada  tombo.
Filha de Edgard e Célia, fruto de um amor que foi alegre, colorido e risonho, deles recebi o legado do amor, da alegria e da força.
Essa é a minha marca!
É assim, com fé em Deus e muita disposição que pretendo iniciar o novo ano.
Pois, como já disse Cecília Meireles, aprendi com as Primaveras e me deixar cortar para poder voltar sempre inteira.

Uma ótima semana a todos, meus queridos amigos!










ótica de minha parte.