terça-feira, 3 de maio de 2016

Estofado

Por que se aproxima o Dia das Mães, hoje resolvi, dando início à série de memórias afetivas, saudade sem fim e sem cura e sem remédio que me acomete, fazer um prato típico da culinária da Família Fernández: un estofado.
E por isso entende-se que vamos precisar de um quilo de carne para bife, cebola, pimentão, tomate, batata e cenoura.
Un poquito de sal y pimienta.
Acrescento à receita algo que aprendi com a melhor cozinheira que já conheci, e que viveu toda sua vida na casa de meus Avós paternos: Heloísa Chavaré, a Mãe Gija: uma pitada de canela em pó, e um cravo da índia.
Passemos ao modo de preparo:
Tempere os bifes e doure-os em um fio de azeite;
acrescente uma camada de cebolas, cortadas  em rodelas, uma camada de pimentão, uma camada de tomate, uma camada de batatas e uma de cenouras, fatiadas;
cubra tudo um pouco de água, coloque a pimenta, a canela em pó e o cravo, baixe o fogo, tampe a panela e deixe cozinhar por uns 40 minutos.
Você vai obter um molho espesso e muito saboroso.
Sirva com arroz branco e delicie-se con una copita de vino tinto, para arrematar.
Enquanto cozinhava, meu pensamento voou atá a grande cozinha da casa que um dia foi  minha mas, principalmente, viajei até o Alvear, direto à casa de minha Avó Adelaida, a que adorava gatos, a que sabia preparar delícias em seu fogão à lenha e que ensinou tudo para minha Mãe, que me ensinou.
Não pude deixar de pensar, meu Deus, há quanto tempo não as vejo?
Que falta me fazem seus abraços e beijos,  e aquele amor desinteressado que jamais em tempo algum voltei a experimentar.
Pois saibam, amigos que, apesar da saudade  y de la nostalgia  que me invadem nestas datas faço de tudo para viver com alegria e determinação, olhando sempre para a frente.
E é bem verdade que consigo, pois o que me sustenta e mantém é o amor que recebi daquelas mulheres que fizeram parte de minha vida e às quais devo tudo o que hoje sou: minha Avó Adelaida, minha Mãe, minhas Tias...
No me puedo quejar, pois fui muito amada por todas elas.
E esse legado de afeto o tempo não corrompe, a distância não tem o poder de desbotar, a separação física não consegue apagar, uma vez que a memória do coração não falha e nem esquece e a tudo recorda, nos mínimos detalhes: os lugares, a luz, as cores, os sons, o cheiro.
Sei que, de algum lugar, todas elas, as muitas mães que tive, estão sempre segurando minha mão.
Hoje, me levaram até a cozinha para fazer un estofado.
Uma forma de tê-las mais perto de mim, de evocar os momentos fantásticos que com elas vivi.
Tantas lições venho aprendendo nesta caminhada solitária sem minha Mãe e sem as mulheres da minha vida que até Deus duvida.
Uma coisa, porém, tenho sempre presente: por elas e por mim mesma, esmorecer, nunca!
Há muitas  formas de cultivar os amores e uma delas, por mais simples que possa parecer, é preparar uma receita de família, aquele prato que, quando saboreado, te fará suspirar e pensar que, afinal de contas -  e não me canso de repetir, o amor é o sentimento maior, é o que permanece e perdura.