sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O Terço de São Jorge

Assim vem acontecendo as coisas para mim, de um tempo para cá.
Talvez eu andasse bastante distraída e não prestasse a devida atenção aos sinais e, inclusive, aos fatos, mas tudo foi evoluindo de tal forma que me vi diante de situações, muitas delas inusitadas, e nada mais me restou a não ser acreditar na Força, na Energia, no Divino.
Naquilo que não enxergamos, mas sentimos.
Não que antes não cresse, longe disso.
Crer, mas muitas vezes como um observador que olha de soslaio, sem adentrar no cerce do sentir.
Assim eu era.
Até aquele dia.
Estávamos no Rio de Janeiro e era um passeio anteriormente agendado, aquele, de ir até a quadra da Escola de Samba do Salgueiro.
Sábado à noite, eu, bastante cansada de uma festa do dia anterior, mas o fato é que fui.
Partiu quadra do Salgueiro.
Confesso que estava com sono, com preguiça, sem vontade.
Fomos em uma van, com um grupo de quinze pessoas.
Lá chegando, de cara, na entrada, senti uma energia tão grande que, instantaneamente, a lombeira foi embora.
Escafedeu-se.
Um mar de luzes, de gente, de cores e de samba abriu-se diante dos meus olhos e nada mais importava, a não ser escutar o som dos tamborins.
Então, em torno de uma hora depois, deu-se o fato.
Eu olhava para todos os lados, absolutamente fascinada por tudo aquilo quando vi, postado junto a uma porta pequena um homem, vestido com as cores da Escola.
Fui até ali e, de imediato, meu olhar fixou-se num terço enorme que ele portava, como se fosse um colar, junto ao peito.
Sob o fundo branco de sua camisa, o terço faiscava, um brilho tão grande que eu não conseguia afastar dele os olhos.
Era todo de cristais vermelhos, dourados e brancos, intercalado por miçangas nessas mesmas cores e, pendendo, uma grande cruz dourada.
O terço era escandalosamente lindo!
Eu perguntei, " moço, esse terço..." Eu quero um igual a esse, tem? Onde?
Ele respondeu: " este é meu, até tenho outros, mas como este..."
Entrou pela porta pequena e veio com vários terços nas mãos.
Mas nenhum era como aquele.
Insisti: " eu quero este".
Eu precisava daquele terço!
Ele sorriu, não sem antes relutar por alguns minutos e suspirar fundo: " tá certo.  Leva".
E tirou o terço do pescoço e colocou no meu.
A partir dali, foi como se uma energia diferente se apoderasse de mim, pois senti que tudo de ruim que estava guardado esvaia-se, escorrendo, coração afora.
Possuída pelo samba, dancei, cantei e pulei até o final da festa, sem sentir os pés, as pernas, o cansaço.
Eramos a música, o som e eu, enlouquecida com minha dança.
E o terço.
O terço faiscava sobre o meu peito, dançando junto!
E comigo veio, e comigo está, e dele não me separo, pois possui uma energia fora do comum.
Dia desses vi, pela primeira vez, que ele traz uma imagem de São Jorge de um lado e, no verso, a inscrição São Jorge, Meu Santo Guerreiro!
Fui tomada de grande emoção, pois não foram poucas as vezes que pedi socorro a São Jorge, para que, vestido com suas armas, nenhum mal pudesse me acontecer....
Refleti muito, fiquei um tempão com o terço, olhando para ele.
Sim, há coisas que não podemos ver, mas, sem dúvida, sentimos.
Gratidão pela dádiva da vida, foi o primeiro pensamento que me ocorreu.
Nada a pedir, muito a agradecer, mais ainda, a fazer.
Obrigada, São Jorge!