quinta-feira, 29 de maio de 2014

Festa Antecipada

A saúde do 1º de junho, dia do aniversário desta que vocês, meus queridos amigos, têm a paciência de acompanhar e ler, e por isso agradeço imensamente, hoje cedinho ganhei de minha colega de trabalho, Tarciani Durgante, uma pashmina belíssima, vermelha - minha cor predileta.
 E como minha amiga sabia que eu adoro vermelho? E ela respondeu, achei a tua cara...
Mas o melhor da história foi o abraço que ganhei.
E, como se não fosse suficiente aquele abraço apertado e de coração, ouvi as mais belas palavras que um amigo ouve de outro amigo: obrigada por tua amizade.
Gente, meu povo e minha pova, isso é muito!
Isso é um bálsamo para um coração e um perfume para a alma, saber que temos um amigo que te agradece, assim, por tua amizade.
Com isso, fui às lágrimas, que para chorar não pago imposto e muito menos para derramar lágrimas de alegria, foi um momento tão bonito do meu dia, em meio à pilha estéril de papéis e folhas e processos, todos eles ficaram, claro, roendo-se de inveja da minha amiga e mais ainda de mim, com aquela pashmina maravilhosa em mãos, que usarei dia 1º, é obvio!
A amizade é um presente que a Vida nos dá e,  a nós,  vão  somando-se  pessoas.
A raiz disso, lembrei de uma foto que ganhei de um namorado de dez mil anos atrás,  ele, lindo de morrer com seus olhos azuis iguaizinhos a cor do mar que lhe servia de moldura e a dedicatória era mais ou menos assim..." somos como os regatos e os córregos, vamos seguindo, vamos nos juntando a outros; nesta quadra da vida, quero caminhar ao teu lado! "  Mas bá, se eu já estava de beiço caído pelo camarada, depois daquilo, então, foi uma covardia...
Lembrei disso para referir que minha amiga Tarciani e eu parece que nos conhecemos há muito tempo quando, a bem da verdade, não faz tanto tempo assim, mas a amizade é essa coisa mágica que um dia, quando menos se espera, surge e nasce entre as pessoas, e descobrimos que temos tantos assuntos para debater e conversar, ou assunto nenhum, mas aquela amiga te entende perfeitamente.
Então, com o presentão que recebi hoje,  declarei abertos os festejos do final de semana internacional do meu aniversário, data que prezo muito e que adoro comemorar, sou agradecida a Deus por tantas e tantas bênçãos, e confesso a vocês meu sonho de consumo, eu queria ter grana pra fazer uma festança de arromba, algo que começasse ao meio dia de sexta feira e terminasse no domingo a noite, reunir os amigos de perto e de longe, os de infância, os vizinhos, muita comilança e cantoria...deu.
Parei.
Não se preocupem, estou em meu juízo perfeito.
É o efeito Portinho misturado ao presente que recebi hoje, é a faceirice porque vou ver a filharada.
É, também, porque vou fazer 53 anos e nada tenho a pedir, somente a agradecer.
Pensando bem, até que podia pedir alguma coisinha, né...un arito me vendria bien!







quarta-feira, 28 de maio de 2014

Paseo Porteño

Começa o frio e dá uma vontade louca de ir até Paso de Los Libres, subir num Flecha Bus e amanhecer em Buenos Aires, la Capital Federal, como dizem os argentinos.
Por mais que passem os anos e apesar das consecutivas crises econômicas que assolam a Argentina -  a gente vê os portenhos com seus sobretudos elegantes, mas antigos, quase que puídos, mas sem perder o garbo e a pose que lhes é peculiar, as ruas sujas, os cafés meio decadentes, o frio cortante que gela os ossos e o vento que sopra nas esquinas, Buenos Aires não perde seu encanto.
Ao menos para mim, filha de argentina e com a metade da família morando do outro lado do Rio Uruguai, criada nas cidades onde a parentela residia, começando por Alvear e seguindo para Apostoles e Posadas e, pelo outro lado, Concórdia e Buenos Aires, basta ouvir a primeira palavra dita em espanhol e pronto, está feita a magia, sinto-me em casa.
Programa maravilhoso é poder circular por Florida com suas lojas, caminar por Santa Fe y  9 de Julio,   ou até a Recoleta ou Palermo, parando pelo caminho para saborear un té con leche y medias lunas de sabor inigualável, almoçar nos tantos restaurantes que se apresentam, a cada meia quadra, com um atendimento impecável, e pedir una milanesa com papas fritas ou purê y ensalada que só na Argentina sabem fazer, porque os bifes são fininhos e crocantes, nem brancos nem escuros demais, são dourados.São perfeitos!
Sabores que não tem igual, de jeito nenhum, solamente en Argentina, my viejo, podrás comer bien, y muy bien!
E, de sobremesa, uma torta de sorvete com nozes carameladas e calda de chocolate caliente: espetacular!
Tudo em Buenos Aires é bom, mas meu passeio predileto é ir, à noite a Puerto Madero para jantar observando as luzes que brilham sobre o canal costeiro ao Rio da Prata, saboreando un vinito tinto, por supuesto, sem pressa alguma.
Feira de San Telmo com suas antiguidades, visita guiada ao Teatro Colón, são tantas opções e passeios que o tempo voa e, quando nos damos conta, terminou, é hora de voltar para casa.
Claro que tudo, absolutamente tudo, quando estou na Argentina me faz lembrar de minha Mãe Maravilha, que foi quem me levou a Buenos Aires pela primeira vez, e dela herdei o amor e o gosto pelas coisas de sua pátria, ando saudosa de ouvir a língua materna, mas enquanto não me atiro rumo a um fantástico passeio portenho, fico cantando:
Mi Buenos Aires querido
Cuándo yo te vuelva a ver
No habrá más penas
Ni olvido.






terça-feira, 27 de maio de 2014

Ensimesmados

Tem gente que está sempre de mal com a Vida, e escrevo Vida com maiúscula, pois entendo que ela vale cada dia, cada minuto.
Uma dádiva que nos é dada e muitas vezes não sabemos dimensionar seu valor, a alegria de ter amigos, de um dia de sol, a chuva que vem mansinha, o frio do inverno e a delícia de observar a geada caindo e  que, no dia seguinte, deixa uma fina camada de gelo sobre a grama...tantas coisas boas, apesar dos problemas que, inevitavelmente aparecem.
Tem gente cuja primeira palavra que pronuncia ao iniciar uma frase é não.
Não vou.
Não quero.
Não tenho.
Não posso.
Pois é.
A convivência com seres assim torna-se extremamente cansativa e insalubre, pois o mau humor faz mal à saúde, arrisco-me até a sugerir que os mal humorados deveriam pagar alguma espécie de multa ou sofrer um tipo de sanção, embora eu creia que a maior penalidade para alguém de perfil  lúgubre e sombrio seja a de não conseguir romper com seu casulo e sair por aí, borboleteando.
Uma lástima.
Uma pessoa assim, taciturna, talvez nem observe a beleza dos dias e das noites, nem saiba o movimento das marés ou a delícia de abrir uma lata de leite condensado e comer com uma colher de sopa,  até sentir os cabelos repuxarem.
Que pena.
Aos que são casmurros tudo parece ser um fardo, um peso a carregar, um árduo caminho a percorrer.
Com seus queixumes, isolam-se e encerram-se em seu iglu, olham sem enxergar, ouvem sem escutar, falam sem emoção, andam por aí,  arremedando fantasmas.
Lembrei do trecho de um poema, que começa assim:
Quem Morre?
Morre lentamente quem não viaja, 
quem não lê, 
quem não ouve música, 
quem não encontra graça em si mesmo.
Os que estão de mal com a Vida, ensimesmados e permanentemente enrolados em seus próprios fios parecem desconhecer o significado da palavra viver.
Resumo da ópera: gente muy aburrida!









O Efeito Portinho

Depois de um domingo em que houve uma certa antecipação do dia das bruxas, isto é, nublado, cinza, carregado e murrinha - como se não bastasse o fato de não ter absolutamente nada para fazer, o que, para um ser de Gêmeos é um tanto quanto irritante, eis que surge a segunda feira com  seus zilhões de pendências, o dia passou voando e até para amenizar os fluídos negativos de um domingo tão escuro, dediquei a segunda feira para descansar a beleza e perfumar a alma, passei longe do computador e nada postei, o que originou reclamações e protestos do meu fã clube de meia dúzia de gatos pingados...paciência.
Estamos na terça, com um Sol espetacular sob o céu do Itaqui, frio mas agradável, aliado ao fato de que amanhã a noite estarei largando para o Portinho amado e idolatrado, só isso basta para elevar o astral, fazendo-me sentir nos píncaros da glória, o ser mais bem aventurado sobre a Terra,  vou ver meus três amores e ainda, de lambujem, abanar as tranças pelo shopping do qual sou sócia majoritária.
Brincadeira.
E já esclareço porque daqui a pouco talvez se espalhe a notícia de que sou dona de um shopping em Porto Alegre, quem duvida é louco, aqui na paróquia em que habito surge cada comentário absurdo, mas isso é outra história e o dia tá bonito demais para gastar tempo e energia com pessoas que não tem o que fazer a não ser fuçar a vida alheia para soltar uma farpinha aqui, um veneninho acolá...
Deixemos, por que enquanto o bloco dos maldosos late, a caravana passa.
Passa, e vai para o Portinho, delícia das delícias!
Hoje pela manhã, quando liguei para a rodoviária para reservar minha passagem - viu, também sou sócia da rodô, por isso, tenho tratamento vip e até minha passagem eles reservam, mal desliguei o telefone, senti uma intensa alegria, comecei a rir à toa, deu vontade de largar todos os processos e papéis de cima da mesa e sair cantarolando por aí: é o famoso efeito Portinho.
Toda vez que estou preparando a viagem, sinto isso, é inacreditável a felicidade, a satisfação,  porque sei que meus dias, lá, serão sinônimo de alegria e de muito papo furado com minhas filhas, fora o chopinho, a livraria, o cineminha, o salão de beleza onde sempre compareço, só para não perder o costume e o povo até me pergunta " anda passeando, veio ver as filhas?"
Como posso não sentir uma doida vontade de cantar e de pular de alegria?
O efeito Portinho espalha-se e é contagiante, pois quando passo por algum conhecido, pergunta-me, " tá feliz, Lia"? e o sorriso vai daqui e vem de lá.
Sim, meu povo, vou para Porto Alegre, e nem ligo para a viagem absurda, como já postei antes, muito menos para o trânsito de lá, dizem que agora, com a Copa, tudo está caríssimo - veremos...pois é, mas do meu chopinho básico não abro mão, afinal, mais vale um prazer que um vintém.
Agora, para coroar este dia fantástico, uma bela caminhada no parque que dista apenas meia quadra de minha casa e, na volta, um delicioso matecito para botar ainda mais pressão no efeito Portinho.
Preciso render-me à música de Kleiton e Kledir, ela é meu hino, é quase um mantra:
Deu pra ti, baixo astral, vou pra Porto Alegre, tchau.
Ótima semana a todos!



domingo, 25 de maio de 2014

A História da Panelinha

Chamava-se Leonor Praxedes ou, como por todos era conhecida,  simplesmente  Doña Praxedes.
Ou La Vieja.
Doña Leonor nascera na Espanha e chegara a República Argentina lá  pelo ano de 1950,  formando família e  fortuna.
Riquíssima, embora  feia e ruim de gênio, possuía um grave defeito: era miserável até não poder mais.
Além disso, falava sozinha e adorava criticar  quem cruzasse seu caminho, por isso chamavam-na de La Vieja, fosse pelos hábitos estranhos, que incluíam desde comer de qualquer jeito, nem sequer dava-se ao trabalho de arrumar a mesa, como o de manusear os talheres de forma grotesca e o de andar sempre escabelada como se tivesse acabado de sair da cama, Donã Praxedes fazia parte do folclore local e, apesar da riqueza e da gorda conta bancária, que de nada lhe valeram para polir-se um pouco, constituía -se persona non grata, enfileirando uma quantidade razoável de maridos, empregados e ajudantes, que não toleravam permanecer com ela mais de seis meses.
La Vieja tuvo cinco hijos,  dois homens e três mulheres, todos casados e, por sua vez, com filhos.
Entretanto, Susana, a esposa do filho mais velho era a pedra no sapato de Doña Praxedes, e vice versa.
Ambas mantinham um relacionamento pro forma, só para inglês ver.
Tão diferentes quanto a água do vinho, sogra e nora não conseguiriam jamais misturar-se, como água e azeite não se misturam nunca.
Explicava-se.
Susana era fina, filha de uma tradicional família do lugar, enquanto que a sogra era tão rica quanto mal educada.
Talvez tivesse sido a Guerra...
Enfim.
Certo dia, embora tenha se perguntado um sem fim de vezes a razão daquilo, Susana recebeu em sua casa, das mãos do marido, uma panelinha.
"A mamãe mandou para você, Susana, o que sobrou do almoço. E, como a empregada não veio hoje..."
Dentro da panela, assim, misturados, estavam uma coxa de galinha, um pouco de arroz, uma salada de batatas, duas rodelas de tomate e, a um cantinho, uma gororoba que imitava sopa, mas não dava para identificar o que era.
Susana olhou, olhou, olhou...
Não deu um pio.
Imediatamente, lembrou-se de sua Mãe, falecida há muitos anos, e sentiu uma raiva do tamanho de um trem começando a explodir dentro dela.
Raiva e nojo.
A implicância de La Vieja para com ela chegara ao seu ápice, mas terminaria ali e agora.
Não disse nada, seguiu muda, rumou para o pátio, despejou todo o conteúdo no lixo e, ipso facto, começou a demolir a panelinha maldita.
Jogou-a contra o muro de pedras e, a cada batida, amassava-a de um lado.
Depois outro golpe, e outro, e outro, até não restar nada, apenas uma lata amassada, que guardou num saco de supermercado.
No dia seguinte, foi até a casa da sogra e deixou, sobre a mesa, o pacote contendo o que restara da panelinha.
Encararam-se, as duas, com olhares ferozes, e nada foi dito e nem precisava, a lata amassada dizia tudo, parecia gritar sobre a mesa.
Susana saiu da casa e da vida de Doña Praxedes para nunca mais tornar a vê-la, pensando, no caminho, na celebre frase da escritora brasileira Clarice Lispector:
" Valorize quem te ama, esses sim, merecem seu respeito. Quanto ao resto, bom...nunca ninguém precisou de restos para ser feliz."









Solamente Amor

Entre fadas e dragões, em meio a tempestades ou em um dia de sol fantástico, observando as flores que insistiam em brotar desafiando a geada e os dias frios do inverno, Aninha sentia seu coração batendo alucinado de paixão.
Ela não entendia nada daquilo.
Durante algum tempo, tentara conviver com aquele sentimento desconhecido que, a final de contas, não sabia de onde viera e porquê, apenas chegara e entrara sem bater, instalando-se, primeiro timidamente, quase imperceptível, depois foi aumentando até fazê-la transbordar, tomando sua mente, seu coração e sua alma, toda ela vibrando como se fosse o som de uma nota só, e a música era ele.
Em cada minuto do seu dia Aninha imaginava aquele ser, objeto de todos os seus sonhos e desejos e pensava na delícia que seria os dois saírem juntos por aí, rindo muito.
Ela não sabia o que era aquilo e indagou a si mesma, até render-se à verdade: estava loucamente apaixonada, doente de amor,  e o único remédio para a cura era abrir o jogo e empreender aquele voo que prometia ser fantástico.
Talvez ela se estatelasse no chão, mas isso era o que menos importava.
Solamente amor, era o que Aninha queria e ela sabia disso, como também sabia que não tinha saída quando, num dia gelado e cinzento de inverno, lo vio pasar.
Viram-se.
O encanto foi instantâneo, de parte a parte...amigos de toda uma vida, não precisaram sequer falar.
As almas haviam se encontrado. ( De A Árvore das Plumas Vermelhas, Lia Helena Mondadori, 2008)
Discreta e alegremente, os anjos aplaudiram os dois.

sábado, 24 de maio de 2014

Diário de Bordo

Depois de algum tempo andando e vivendo, creio que deveríamos carregar uma cadernetinha, uma espécie de diário de bordo onde anotaríamos tudo que dissesse respeito às atividades do dia a dia.
Nada a ver com agenda, essa é para o trabalho.
A cadernetinha, de preferência pequena, mas não demais, seria extremamente útil para que tomássemos nota de coisas que fazemos ou guardamos, e com tal zelo, que depois esquecemos.
Sim, o esquecimento vem chegando devagar, sorrateiro, e vai se enfiando que nem piolho em costura, e a gente tenta lembrar o nome da pessoa que está sorridente bem na nossa frente, a mente trabalhando a todo vapor, quem é, conheço essa pessoa, claro que conheço, e faz tempo, não é de hoje, mas e o nome? Ficaria um tanto quanto estranho levar a mão ao bolso do casaco e puxar a cadernetinha, espera aí um minuto, vou espiar aqui porque não consigo lembrar teu nome... e a fama de caduca espalhar-se-ia como rastilho de pólvora.
Não dá, não rola, não tem como.
Mas para as tarefinhas do dia a dia, que sabe...
Por exemplo, você comprou um anel tão lindo e quer guardá-lo muito bem guardado, afinal, é uma joia cara e rara,  para ser usada somente em ocasiões especiais, até que, naquele jantar, decide usar o anel e, cadê? Guardou tão bem que escondeu de si mesma e não acha e talvez não o encontre tão cedo, certamente  não a tempo de usá-lo naquele jantar.
Pensei nisso quando comecei a procurar um par de botas pretas que comprei no ano passado.
Fui nos lugares tradicionais, e nada das botas.
Ué, sais, onde terei guardado?
Será que foi embora por engano, quando tive meu ataque anual de São Francisco de Assis, ocasião em que junto uma pilha de roupas, coisas e loisas que passo adiante?
Será?
Depois de muito procurar, sentei-me calmamente sob o tímido sol da manhã, e decidi buscar em outro lugar: na mente.
Peguei meu diário de bordo imaginário e comecei a "ler" folha por folha, remexendo nos escaninhos da memória: abre uma gavetinha aqui, arreda um baú de lá, vai para outra gaveta, até que, aháááá´: lembrei que minhas botas pretas estavam em Porto Alegre, no apê das filhas.
Ainda bem!
Com tantos rótulos que pululam por aí -  e abomino todos, diga-se de passagem como " meia idade, cinquentona (esse leva todas as fichas), melhor idade, acredito piamente que o que não podemos perder, de jeito nenhum, é o bom humor.
E,  para isso,  não precisamos de nenhuma cadernetinha.
Aliás, onde coloquei  as chaves do carro?





sexta-feira, 23 de maio de 2014

Lustrando as Botinas

Todo santo dia, meu Pai retirava de um pequeno armário seus sapatos, que os tinha em profusão mas sempre nas mesmas cores, marrom e preto, nem o modelo variava muito, passava a mão em uma latinha, uma flanela e uma escova, enfileirava-os na beirada de um poço que havia no centro do pátio de nossa casa, em desuso e transformado em canteiro de flores pela minha Mãe, e começava a lustrá-los, um a um.
Era uma tarefa que ele adorava realizar,e assim que me via, gritava, " China querida, vamos lustrar as botinas?", e soltava uma de suas típicas gargalhadas.
Eu deveria ter meus 6, 7 anos e, sentada numa cadeirinha de balanço, observava meu herói assoviar alegremente enquanto dava início aos trabalhos: primeiro, uma limpadinha rápida em todos os sapatos, para tirar a poeira; logo a seguir, passava a graxa, uma camada generosa, aliás, verdadeiras plastas para só então voltar-se para mim e dizer, " Agora, Chininha, vamos esperar que seque para depois lustrar".
E saía, bem campante, pátio afora, cantarolando.
Para cada afazer o Dr. Edgard  tinha um ritual, e para tudo me chamava, queria que eu compartilhasse com ele suas alegrias simples, desde a de barbear-se para  depois passar Água de Quina Pinaud, um líquido vermelho vivo que vinha dentro de uma garrafinha, com um cheiro do qual lembro até hoje, carregar as lenhas para o fogo da lareira, que somente ele sabia fazer e mais ninguém, acomodando os troncos de um jeito tal que logo começavam a estalar, fazer o mate...ah, a hora do mate! Das  tantas coisas que me trazem uma saudade boa - se é que existe isso, é das horas em que ficávamos sentados na cozinha ele, eu e a mãe, sorvendo aquele doce amargo e conversando fiado.
Voltando aos sapatos, era hora de " dar o lustro", a graxa estava seca e então, de escova em punho, ele começava a lustrá-los até ficarem um espelho de tão brilhantes. Observando aquela fila de sapatos, olhava-me e falava, " Minha filha,  teu Avô Atílio me ensinou que um homem se conhece pelos sapatos, e pelos dentes - entendeu, Chininha? "
Sim, Pai, entendi.
Tanto entendi que hoje, em razão do frio, enfileirei  as "botinas" na calçada do meu pátio e comecei a  lustrá-las.
E lá pelas tantas, quando dei por mim, assoviava, alegremente.



quinta-feira, 22 de maio de 2014

Meu Pequeno Milagre

Faz tanto tempo que rezo para Santa Rita de Cássia, cujo dia comemora-se hoje, que nem lembro mais  quando me apresentaram à Santa das Causas Impossíveis, creio que foi uma colega de faculdade quando, no último semestre, andávamos às voltas com tantas provas e trabalhos que o jeito era rezar um pouco,  e,  por isso, apelamos para a Advogada dos Desesperados.
Concluí meu curso e continuei minha devoção a Santa Rita, que incontáveis problemas resolveu para mim.
A tal ponto sentia-me, e sinto-me, devedora da Santa, que prometi que se um dia tivesse um bebê e fosse menina, dar-lhe-ia o nome de Rita.
Passou o tempo e eis que, em dezembro de 1988,  grávida de dois meses do meu primeiro filho, ou filha, decidi voltar a pé do trabalho para casa, seria um percurso de umas oito quadras, e pensava na promessa que havia feito, e vinha caminhando e era como se uma voz me assoprasse " para que colocar esse nome, Rita? um nome tão antigo, e faz tanto tempo que prometi que a santinha nem lembra mais, então, está decidido, vamos mudar o nome e, se for menina, qualquer um, menos Rita.
Assim fui rua afora até chegar em casa e quando abri a porta do apartamento senti algo estranho, e foi quando olhei para baixo e vi que dois filetes de sangue escorriam pelas minhas pernas, os pingos caindo no chão.
Sentei, pasma, e tomei aquilo como um sinal de que, sim,  Santa Rita importava-se comigo e com a questão do nome, e que, sim, eu tinha feito uma promessa e deveria cumpri-la.
Não preciso dizer a vocês, meus queridos amigos, que quando fui à médica, mais tarde, ela olhou, examinou e não entendeu a origem daquele sangramento que era pouco, mas constante.
Tinha que fazer repouso, e assim fiz, não sem chorar muito, com medo de perder meu bebê, de arrependimento e de vergonha por ter sido tão leviana.
No dia seguinte não havia mais sangramento e,  durante toda a gestação, não tive mais problema algum,.
Então, dia 10 de julho de 1988, as 4 da manhã, aconteceu meu pequeno grande milagre: nasceu minha filha mais velha, Rita Helena, linda, morena, cheia de vida, uma filha maravilhosa que me enche de orgulho, igualmente devota de Santa Rita de Cássia, fazendo jus ao nome que lhe dei e à proteção da Santa.
Não tenho a menor dúvida de que a fé que nos move é a mesma que opera  milagres quase que diários em nossas vidas, basta parar um pouco e observar em volta...
Obrigada, Santa Rita de Cássia, por tantas graças alcançadas!



Folha Branca

Tem dias em que as coisas não fluem.
Simplesmente empacam e nada avança, por mais que se tente.
Cedo da tarde havia postado um texto e, para meu desespero, o computador apagou tudo, nada ficou registrado e, por mais que tentasse, incontáveis vezes, resolver o problema, não deu, acho que foi o efeito da ventania da madrugada. 
Fiquei ligando e desligando, reiniciando, voltando, e nada.
E a minha paciência foi terminando.
Terminou.
Saí meio correndo em busca de algumas folhas brancas onde pudesse  escrever porque estava com o texto pronto na cabeça.
Folha branca?
Onde?
Não tinha.
Comecei a marchar pela casa, já meio bufando e resmungando, entre dentes, será possível que terei que escrever, quem sabe, no verso de alguma conta de luz? 
Sem chance.
Meu Deus do céu, pensava, não há frustração maior para um escritor, quando se está com a imaginação a mil, que a de não dispor de um mísero pedaço de papel para poder dar vazão as suas ideias.
É a treva!!!
Vasculhei daqui e dali e, finalmente, achei um caderno velho perdido no fundo de uma gaveta e aí sim, que alívio, poderia escrever, pois de caneta eu dispunha, ao menos isso, então passei a mão naquele pedaço de caderno de arames retorcidos e, sentada no sofá com ele ao colo, escrevi.
E, enquanto escrevia com uma pressa tremenda, não sei a troco de que santo, pensava que viramos escravos da tecnologia e que nem minha máquina de escrever eu possuo mais, pois ela se tornou inservível e obsoleta, nem sei que fim dei a ela, mas que falta me fez naquela hora.
Por sorte, papel e caneta salvaram a pátria e brecaram o ataque histérico que estava na iminência de eclodir, algo como uma onda imensa avançando dentro de mim,  detida a tempo pelas folhas do caderno velho.
Amanhã, sem falta, comprarei um pacote de folhas, vai que a rede emperra outra vez e me deixa a ver navios, e isso não pode acontecer,  nem pensar!
Talvez traga de volta, também, minha velha máquina de escrever, que deve estar jogada em algum canto, perdida, empoeirada e na maior depressão por ter sido deixada de lado...quem sabe.
De toda a função, restou-me um consolo: a minha "máquina" de fabricar textos, meu amado cérebro, esse funciona, graças a Deus, mesmo com vento forte.
Como diria minha tia Maria Luisa, " hay que luchar contra viento y marea".
Acho que o vento e a maré  não contavam com minha astúcia!

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Teteka

Fazia mais de ano que eu morava sozinha quando, numa segunda feira, a caminho da faculdade, vi aquele pequeno bichinho encolhido em meio a alguns jornais, meio dormindo, parecia.
Segui meu caminho mas, no dia seguinte, outra vez meu olhar foi puxado para o cãozinho e sua cama de jornais amassados, e nossos olhares se cruzaram pela primeira vez. Eu, curiosa e apressada, ele, triste, o legítimo cachorro abandonado.
Entrei no ônibus pensando no animalzinho,  e aquele olhar suplicante não saiu mais da minha cabeça, passei a manhã toda lembrando dele e, na saída, já tinha decidido: se ele ainda estivesse ali na calçada,  então, seria meu.
Loucura total, só que eu sabia, de antemão, que levaria o bicho para casa, até porque fui criada em meio a cães e gatos, galinhas, pássaros e até garças, que certa feita meu pai resolveu trazer para dentro de um viveiro que tínhamos no fundo do pátio e elas fizeram tal estrago que minha Mãe, no terceiro dia, saiu-se com esta: " Gagá (era o apelido do meu pai), o las garças, o yo, si no sacás estos bichos de acá me voy ahora mismo para Alvear, y muy probable que no vuelva!, o que levou o pai a dar sumiço nas garças num passe de mágica.
Voltemos ao cão.
Passava do meio dia e, da esquina, avistei o pequeno cachorrinho que jazia, entre a vida e a morte, atirado ali, naquele frio espantoso, coberto de feridas, tapado de sarna e louco de fome.Estava ali, e seria meu.
Andei mais duas quadras e entrei numa clínica veterinária, expliquei o caso e voltei com a Veterinária a tiracolo para recolher o cão, que revelou  ser uma cadelinha de apenas seis meses, segundo me disseram.
Lá se foram minhas economias, guardadas a duríssimas penas porque sempre fui perdulária, para pagar o tratamento.
Volta para buscar daqui uma semana, disse-me a Veterinária.
Semana longa, mas terminou e, quando cheguei para buscar a cachorrinha, quase não a reconheci: estava de banho tomado, não tinha mais feridas, parece que a sarna também sumira, tinha engordado e agora revelava seu pelo, que era preto, negro retinto, somente uma nesga de pelo branco debaixo do pescoço.
Saí dali radiante, cheguei em casa e acomodei minha amiga numa caminha que improvisei na área de serviço, um potinho de leite e outro para a comida.
E tratei logo de batizá-la, e seu nome era Teteka.
Meus amigos, que maravilha foi ter aquela cadelinha comigo!
Nós nos entendíamos muito bem, ela era excelente companheira e nunca me deu motivos de arrependimento por tê-la trazido para dentro da minha casa, ao contrário.O bichinho só não falava, mas entendia tudo, especialmente quando vínhamos para Itaqui, e eu entrava no ônibus com ela enrolada em alguma manta qualquer, ou dentro de uma sacola, não sem antes falar: Teteka, nem um pio, silêncio total! Ela apenas me olhava, com aqueles olhos doces, e vinha toda a viagem sem se mexer.
Por três felizes anos, fomos inseparáveis. Eu estava no final da faculdade e ela acomodava-se, 
pacientemente, perto de mim e ficava observando aquela montanha de livros e anotações, se tocava varar a noite, dava uns cochilos e me espiava com o rabo do olho, parecia dizer, apaga a luz, tô com sono!
Um domingo à noite saí com ela para passear e, de repente, ela se soltou da coleira e saiu correndo, rua afora: tinha avistado um cachorro no outro lado da calçada, e decidiu ir até lá.
Não me perguntou nada, não me deu tchau, saiu em disparada e foi-se embora para sempre porque um carro bateu nela em cheio, não teve como desviar. Fui até o meio da rua para recolhê-la e a vi, sem nenhum ferimento, o mesmo pelo brilhante, os mesmos olhos doces, a mesma carinha, minha querida amiga Teteka decidira buscar outras paisagens.
E nada mais me restou, a não ser chorar.



terça-feira, 20 de maio de 2014

Independência, nº 1087

Corria o ano de 1981, e meu Pai, atendendo minhas súplicas, decidiu alugar um apartamento para mim, pois três anos de pensionato estava de bom tamanho e como já me considerava quase uma porto alegrense, precisava de mais espaço e de  tempo, não conseguia mais me submeter aos horários impostos pelas Irmãs, Lia La Loca andava a milhão por hora e queria sair para desbravar o Portinho e todos os seus encantos. Assim, passei o mês de dezembro e boa parte de janeiro buzinando nas orelhas do Pai, dedicada à  tarefa de convencê-lo que  alugar um apartamento seria a oitava maravilha do mundo.
 Uma verdadeira sarna galega, falava no assunto dia e noite,  até que consegui meu intento.
Visitamos vários imóveis e o último, na Av. Independência, foi amor à primeira vista. Era mobiliado, tinha tudo e, como se não bastasse, a localização era excelente.
Fiz a mudança num tórrido mês de fevereiro sob um calor de rachar,  e quem se importava com isso? Cheguei, triunfante, Pensionato adentro para pegar minhas parcas tralhas e, of course, o famigerado radinho preto.
Tudo coube num táxi, saí da Av. João Pessoa direto para a Av. Independência e nem olhei para trás, aliás, uma característica minha, meu tempo de quartinho abafado e minúsculo terminara, estava indo morar num ap. de fundamento e foi lá, realmente, que minha vida mudou para muito melhor.
Morei dois anos e meio completamente sozinha.
Eu e Deus, meus discos e livros, o amigo rádio, alguns badulaques a título de enfeite, e fim de linha.
Passei um período de  fantástico auto conhecimento, fazia meu matecito e, sentada na sala ficava observando o céu que enxergava pela janela e pensando, matutando, tecendo sonhos, feliz com minha companhia.
Digo, tranquilamente, que foi uma experiência e tanto e, graças a ela, por mais que sinta uma saudade tremenda de minhas filhas, todas morando longe de mim, jamais pediria que abrissem mão de sair de casa para viver e escrever suas próprias  histórias.
São momentos únicos, que servem de aprendizado para o resto de nossas vidas.
Hoje olho para trás e vejo que, embora fosse agitadíssima - e ainda sou, sempre preservei meu apê, ali era meu refúgio sagrado, somente alguns amigos e colegas iam lá.
Saía de casa às 7h15 min. e descia a Felipe Camarão para pegar o ônibus na Osvaldo Aranha, em 20 minutos estava na PUC e, na volta, repetia o mesmo trajeto.
De tanto comer massa miojo com salsicha e ovo cozido, criei coragem e decidi que precisa aprender a cozinhar, e como a dor ensina a gemer e quem tem boca vai a Roma, consegui algumas receitas e assim fui me aventurando no mundo da culinária, até  fazer alguns grudes razoáveis.
Jamais padeci de solidão,  não tinha tempo para a tristeza, era absolutamente livre, e a liberdade é o bem maior que o ser humano pode ter!
Não por acaso, eu passara a morar numa avenida chamada Independência!




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segunda-feira, 19 de maio de 2014

O Radinho Preto

Quando fui para Porto Alegre em 1978, com dezesseis aninhos, achava que sabia o que era bom e não sabia era nada.
Pensava que fazia sucesso no Itaqui de costumes provincianos e não fazia era coisíssima  nenhuma, e ainda achava, pasmem, que entendia alguma coisa de música, só porque estudei piano com a Dona Dilema e com a Teresinha Cabral, tocava Pour Elise ou Le Lac de Come em algumas festas, e que sabia dançar, pois tinha feito balé com a Dona Sueli Cacciatore quando as salas do Mercado Público ainda eram habitáveis.
Quanta ingenuidade!
Passei trabalho e paguei cada mico que faria desistir a alguma outra, mas eu, ah, eu não! Eu sou brasileira e não desisto nunca!
 Minha primeira grande aquisição na Capital do Estado, ao menos para tentar não parecer tão fora de foco, foi um radinho de pilha. Economizei (não me pergunta onde fica o Alegrete, logo quem, economizando) um pouco da mesada que o Dr. Edgard mandava e fui numa loja do Centro, de onde voltei com o rádio, que era preto, de tamanho médio, tinha uma baita antena e um som fantástico.
" Continentalllllll"...mas credo, dava vontade da gente se atirar pela janela do terceiro andar, onde ficava meu quarto, cada música, uma melhor do que a outra!
Meu radinho era meu parceiro fiel, e começávamos cedo, às 6h30min., quando tocava o despertador, eu passava a mão nele e plim, fazia-se a mágica, o som inundava o quarto, eu sabia a hora certa, a previsão do tempo e ...mais música.
Nos finais de semana, onde a solidão pegava, aí sim, ele se impunha e mostrava seu valor, tocava as mais belas melodias e, não raro, eu chorava, chorava de saudade do meu Itaqui, da minha casa enorme, do meu pátio, do cachorro, da minha terra, da minha gente.
Eta coisa séria é a saudade de casa!
Meu radinho acompanhou todo meu primeiro e sofrido ano no Portinho, e foi testemunha de um dos mais belos momentos de minha vida.
Olhem só:
Em janeiro de 1979, fiz vestibular,  e o da PUCRS foi o último. O resultado sairia somente à tarde, e a família tava toda na praia, para onde me dirigi, de ônibus. Numa sacola ( mas que coisa mais brega, Deus do céu), eu carregava o indefectível radinho preto, pois queria saber do listão, que começaria a ser lido as 14 horas.
Já estávamos na metade do caminho para Capão,  meu coração parecia que ia saltar pela boca e eu ali, firme na paçoca com o radinho colado no ouvido, até que ouvi, alto e bom som, o locutor falar meu nome.
Foi o mico do século, pois fiquei em pé e gritei para todos os passageiros, " pessoal,  eu passei no vestibuláááááárrrrrrrrrrr!!!
E o ônibus inteiro me aplaudiu.
Depois que passou o primeiro surto de euforia, tive outro: beijava o rádio, beijava o radinho preto, abraçava-me  a ele,  provocando o riso espantado das pessoas que estavam perto de minha poltrona, e eu, nem boletas.
Tinha passado no vestibular, estava louca de faceira e precisava dividir aquela vitória com o primeiro amigo que fiz na Capital, aquele com quem cantei junto, chorei, curti fossa, dividi momentos lindos e, claro, tinha que ser com ele, que me aturava há um ano, a comemoração do grande feito de minha vida naquele ano de 1979: universidade, lá vamos nós!
Passamos muitos anos juntos, até que, numa das tantas mudanças que fiz, derrubei o meu amigo e ele espatifou-se no chão. Tentei juntar os cacos, mas não deu, não tinha conserto.
Foi-se o radinho preto, companheiro inseparável de tantas horas, doces e amargas, alegres e tristes.
Como estava em outra fase, comprei um som, um "três em um". Muito lindo, muito bom.
Não, de jeito nenhum.
Bom, mas bom mesmo, era o meu radinho preto!







Eflúvios

Geminianos adoram cartomantes. 
Falei no plural, até porque convivo diariamente com um que, por casualidade, faz aniversário no mesmo dia que eu, e ele costuma ser tão curioso e chegado a uma novidade que atrevo-me a afirmar que, a toda certeza, também gostaria de ir saber sua sorte nas cartas.
Como yo.
Esta minha, não diria mania, talvez costume, na verdade não sei que palavra se enquadra melhor para definir o que me leva até um determinado local, prestando-me para pagar o que for para  ver a cidadã abrindo seu baralho e lendo o que dizem as cartas.
Coisa mais louca isso, louca de boa, porque as cartas não mentem jamais!
Não sei se é alguma transmissão de pensamento ou se, efetivamente, elas(as cartomantes) têm o dom, fato é que, comigo, via de regra, acertam. 
Certa feita, aconteceu um fato curioso.
Estava eu envolvida em alguns negócios e, ao meu lado, convivendo direto, pessoas que eram de minha confiança, sempre dando palpites e sabedoras de todas,  de absolutamente todas as transações e do vai e vem do que estava sendo proposto.
E nada, o que era para ter saído, impreterivelmente em uma semana, caía por terra, e lá ficava eu completamente frustrada e sem entender a razão de tal estado de coisas.
Dali a pouco, recomeçavam as negociações, sempre com a presença dos "conselheiros" e, no dia seguinte, depois de tudo ajustado, práááá...estatelavam-se no chão as promessas e compromissos.
Um inferno, a treva, um saco, um nojo!
Até que um dia...
Geminiana, quando desconfia, sai da frente y, como no creo en brujas, pero que las hay, las hay, fui consultar os oráculos com minha cartomante favorita ( é obvio que vou a várias, afinal, para uma geminiana não basta uma ), disparado, a melhor de todas, a que sabe das coisas.
Iniciados os rituais, abriu-se o baralho e ela de imediato descreveu, uma a uma, todas as pessoas da turma que me rodeava e que sabiam de tudo, arrematando a sessão com a seguinte frase: minha querida, essa gente vibra contra ti e te manda eflúvios negativos e, enquanto estiverem por perto, teus negócios jamais andarão bem.
Foi um espanto!
Voltei acabrunhada, mas de orelhas em pé e já começando a tecer ilações com atos e fatos e a coisa fechava assim, como dois mais dois são quatro.
Increíble, pero real!
A partir dali, fechei a boca, que em boca fechada não entra mosca, dizia minha Mãe Maravilha, ahhh, a gente não dá muita bola para os conselhos de mãe, mas elas são sábias, elas tem ligação direta com o mundo das fadas e da magia do bem.
Não preciso dizer a vocês, amigos, que meu silêncio foi o segredo do sucesso, em menos de um mês tudo havia chegado a bom termo.
Para matar a curiosidade da turma, que me acossava com indagações, fazia cara de paisagem e respondia con una boludez qualquiera, até que acabei com eles no cansaço.
Como se vive, como se aprende!
Tem coisas que não conseguimos perceber, mesmo quando estão bem a nossa frente, diante de nossos olhos.
Mas uma cartomante, certamente, fará cessar a cegueira!
Así que, si  estás en duda, andáte a ver a las cartas.
Una semana regia, amigos!






sábado, 17 de maio de 2014

Stop, Salgadinho!

Creio que uma das questões mais difíceis para um profissional é saber a hora de parar, o momento de encerrar a sessão e sair de cena.
O ideal seria uma saída honrosa, penso eu, quando se está no auge, chegou-se ao ápice e, então, pá: deu pra ti, parei e vou tomar outro rumo, antes que a coisa descambe, degringole e a pessoa que antes era tida como uma grande na história passe a ser lembrado com irritação ou  leve o crédito de patético,  Deus nos acuda duma coisa dessas!
Tenho pensando nisso cada vez que assisto a novela das 9 e, antes que venham me crucificar, é o seguinte: adoro novelas, sim senhor. Sento-me na frente da TV com meu lanchinho e fico curtindo cada cena, cada capítulo, presto atenção na trilha sonora e naquelas coisas que todo mundo vê: o brinco de uma, o esmalte da outra, é, nem venham me dizer que não notaram o esmalte da Giovana Antonelli, um azulão mediterrâneo ... só que o assunto não é esse.
A hora de deixar de fazer o que sempre se fez durante anos é, deveras, um momento difícil.
Arrisco-me a dizer que não acontece de uma hora para outra, é um lento processo que começa e vai num creccendo, até chegar ao ponto máximo.
E qual é o ponto?
Diria que é, exatamente, a falta de ponto, de compasso, de jeito.
Explico-me.
Um grande escritor, por exemplo, deveria escrever,  sempre,  por prazer e por inspiração, não porque a editora obriga ou porque há tempos não escreve nada e, para agradar à pressão dos leitores, lança um livro meia boca; se isso acontecer, a história será um desastre.
Assim vejo a trama das 9 do Manoel Carlos, um novelista de fez tantas novelas bacanas e agora, em sua última novela, como vem sendo largamente noticiado, apresenta uma coisa sem pé nem cabeça que não empolga e, não raro, enoja.
Enoja ver a história da filha aos beijos com o amor que foi de sua mãe e, pior ainda, com o cara que tentou matar seu pai.
Isso não é novela, é uma boa merde, não tem como assistir algo assim.
Falta imaginação ao autor, falta tudo!
Aí volto a repetir: quando os sinais de stop começam a aparecer na sua vida, obedeça-os.
Uma coisa é continuar ativo, outra muito diferente é tentar transpor certos obstáculos que ...pois é, a fila andou, não dá, você não tem mais folego para certas empreitadas, embora possua tempo e disposição para começar  tantas outras.
Reconhecer os avisos luminosos é sinal de que conseguimos aprender alguma coisa ao longo do tempo, e que o excesso de vaidade não conseguiu sufocar a sabedoria que existe dentro de cada um de nós.





Bicicletando

Há dias vinha observando as bicicletas das gurias encostadas  num cantinho da garagem, empoeiradas e de cara feia, e não é para menos, afinal, bicicleta não foi feita para ficar parada.
Então, decidi que estava na hora de levar ao menos uma delas para uma faxina geral, considerando minha súbita vontade de andar por aí, abanando as tranças, livre leve e solta numa bicicleta, e não pude deixar de pensar porque razão deixamos de lado tantas coisas boas, que antes fazíamos, e não nos damos conta do tempo que passa e escorre como areia fininha entre nossos dedos, e as coisas que amamos e nos dão prazer vão caindo no esquecimento, numa espécie de limbo.
Combinando com a atual fase em que me encontro,  de repensar a vida, valores y otras cositas más, passei a mão na bicicleta e mandei arrumar, e o prazer que senti, ao vê-la prontinha, estalando como se fosse nova foi quase infantil, parecido com aquele que experimentei quando ganhei, num Natal, minha primeira bici; é, da primeira Caloi a gente nunca esquece e não seria eu a fugir de tal regra.
Minha Caloi azul com algumas faixas brancas e um cestinho preso ao guidon era tudo o eu precisava, e o que bastava para fazer feliz uma criança de seis anos. Uma bicicleta com duas rodinhas auxiliares que logo, logo, meu Pai tirou, para meu deleite e alegria de minha Mãe. Como lembro do olhar deles, sentados no pátio imenso de nossa casa, tomando mate e me observando a zanzar pelo gramado, desviando dos canteiros floridos.
Com 8 anos, ganhei uma bicicleta grande, minhas pernas mal alcançavam os pedais, mas o desejo de sair por aí era maior que tudo, equilibrava-me do jeito que podia e rapidamente troquei o pátio pela calçada e esta, pela rua.
Que fase espetacular de minha infância! Jamais senti medo, nem de nadar, nem de andar a cavalo e menos ainda de sair bicicletando pelo meu Itaqui, com suas ruas cheias de terra e pedras, isso não tinha ( e não tem) a menor importância, quando estamos felizes o entorno se torna mágico e lindo.
Levei um tombo, quando tinha doze anos, que me rendeu uma cicatriz no joelho esquerdo, mas ela também não foi e não é problema,  convivemos há tantos anos que nem nos lembramos uma da outra, somente em dias de chuva.
Todas essas lembranças, inclusive as de quando estive na Europa e aluguei uma bicicleta para percorrer os vinhedos no interior da Alemanha me fizeram sentir uma vontade doida de andar por aí, com a brisa de um dia  de sol sacudindo meus cabelos e a sensação de liberdade e domínio que só quem curte uma bici entende.
Hoje o dia estava excepcionalmente lindo e, ao raiar das 10 da matina passei a mão no mais novo objeto do meu desejo e saímos, calmamente, como duas amigas que não se viam há muito tempo e precisavam colocar o papo em dia.
Nos entendemos lindo, e lá fui eu, pedalando, até o Porto de Itaqui, observar o Rio Uruguai, que é simplesmente divino, mais ainda numa manhã de maio ensolarada e fresquinha como a de hoje.
Que felicidade,  meus amigos, quanta alegria senti ao reencontrar  a criança que andou de bicicleta, pela primeira vez, aos 6 anos.
E, como diz o ditado, quem aprende a andar de bicicleta jamais esquece!



quinta-feira, 15 de maio de 2014

Sinceridade Rude - II

A gente até tenta, mas não tem escapatória e, de alguma forma, precisamos externar a indignação que toma conta da gente a cada notícia que se tem sobre os facínoras, a gentalha que matou o inocente Bernardo.
Ponho-me a pensar como é possível pessoas que estudaram, se formaram, exerciam suas profissões e, aparentemente, mantinham um bom nível de vida, cometerem tamanha atrocidade, até pedi uma explicação, já que Freud explica, ao maridão, que é Psicólogo, e ele ficou mudo, pois a ele também, assim como a todos nós, esse fato causa repulsa e, diria eu, até medo.
Em quem se pode confiar, afinal? se o próprio pai do inocente arquitetou, friamente, a morte do filho, uma criança indefesa? se uma enfermeira e uma assistente social, que estudaram para cuidar de pessoas e zelar pela vida( que não dizer do médico monstro)planejaram, por um longo tempo, acabar com uma vida?
Confesso a vocês, queridos amigos, que esse fato criminoso me abalou, fico, por vezes, imaginando aquele menino lindo saindo da escola, indo para casa almoçar e depois, saindo com a alcaide madrasta para ser morto de forma covarde e, como se isso não fosse suficiente, despiram-no, colocaram a criança num saco, enterraram e jogaram soda cáustica sobre o corpo.
Mas que mentes diabólicas! Mas essa gente tem que arder no fogo do inferno!
Muito se comenta sobre a Promotora, a Dra. Dinamárcia de Oliveira, que foi Promotora aqui em Itaqui, e sobre o Juiz de Direito, que não teriam feito o suficiente, assim como a rede de proteção.
Não concordo.
Fizerem, sim.
Adotaram todas as medidas previstas em lei e mais que isso não podiam fazer, afinal, a quem cabia, em primeiro plano,  o dever de zelar pela criança? De que forma o Ministério Público e o Juiz de Direito poderiam adivinhar o que vinha sendo urdido há meses pelo casal assassino, com o auxílio da amiga, muy amiga, que matou um inocente por 30 dinheiros?
Fico olhando para as fotos deles e não consigo crer.
Enfim, rezo a Deus, como já postei aqui anteriormente, que o inocente não tenha se dado conta de nada.
De resto, tenho certeza que a Justiça gaúcha vai dar, tem que dar uma reposta à sociedade, uma paulada homérica na trinca maldita que, ao que parece, vai virar quarteto, haja vista a participação do irmão da assistente social no crime.
Julgamento pelo Tribunal do Júri, e que as penas sejam muito pesadas, e serão. Serão.
A mão de Deus vai estar ali, na hora do cálculo da pena, guiando a mão do Juiz.
Justiça ao menino Bernardo!


quarta-feira, 14 de maio de 2014

Pimenteira Seca

Olho gordo seca até pimenteira, disse-me, certa vez,  um amigo, e tinha razão, assisti ao vivo e a cores uma belíssima pimenteira que tinha num pote, em meu jardim, definhar.
A pimenteira era linda e, naquele dia em que recebi a visita indesejável, estava a exibir-se com suas pimentas que iam do amarelo avermelhado ao laranja e terminavam num vermelho glorioso,  postas entre as folhas verdes.
Antítese da visita, a pimenteira transbordava alegria e pulsava vida.
Exuberante, seria a palavra correta para defini-la.
E, de tão bela, não passou despercebida, e a pessoa olhava-a, insistentemente.
Pois bem.
Dias depois, não sem antes ter-se espatifado sem explicação lógica um prato lindo que era de minha Avó materna e que eu adorava, a lâmpada de cabeceira de meu abajur ter estourado, e o clima em casa ficar mais pesado que pastel de batata, eis que saio ao pátio e vejo que minha pimenteira estava derrubando suas pimentas.
Algumas jaziam, secas, no fundo do pote, enquanto outras pendiam, murchas, dos galhos ressacados.
As folhas, outrora de um  verde brilhante tinham perdido o viço, tornando-se acinzentadas.
Apesar do quadro desolador, mexi na terra, coloquei um pouco de adubo, reguei, mudei o pote de lugar, mas nada, absolutamente nada resolveu, e a pimenteira secou.
Torrou, dilui-se e dela nada mais restou, a não ser uma meia dúzia de galhos que, ao menor contato, quebravam.
Isto é fato verídico, meu amigos, é real.
Foi lá,  naquele tempo, que acreditei que a energia das pessoas tem poder. Elas poderão deixar seu rastro para o bem ou para o mal, para a construção ou para a destruição, para a leveza ou para o peso, uma vibração boa ou altamente maléfica,  a lista é longa.
Por isso, não custa nada custa carregar algum amuleto, algo que não fará mal a ninguém e que, em tese, talvez nos proteja do famigerado olho gordo, lamentavelmente tão presente em tanta gente.
Não sei se olho gordo e inveja são irmãos gêmeos, parentes próximos ou primos.
De qualquer forma, são sentimentos que considero execráveis, não suporto, simplesmente causam-me horror.
Por isso, ando com meu Terço e dele não me separo jamais, para dormir e quando acordo, a primeira coisa que faço é segurá-lo entre as mãos, vai para a bolsa, sai da bolsa, viaja comigo e andamos juntos por este mundão de Deus.
Meu Terço, meu amparo.
Basta prestar atenção para notar, claramente, a intenção maldosa da pessoa, que se entrega pelo olhar.
Entretanto, a fé nos deixa serenos e nos dá a firmeza necessária para repelir esse tipo de gente.
Vade retro!





segunda-feira, 12 de maio de 2014

Senso do Ridículo

Aí está um temor que me persegue, e não é de hoje: medo de parecer ridícula, sem noção, fora do esquadro, mal posta, llamale H, como diria minha mãe, fato é que deveríamos vir com um sensor instalado no corpo que nos avisasse, ó, pera aí, stop, isso não é para você, ou é, mas você ficou de bobeira  e perdeu o trem, a fila andou.
A gente não tem esse aparelhinho,  mas conta a ajuda bem vinda dos amigos, da família e dos colegas para que venham nos dizer que daquela forma não está bem, fica feio, será motivo de riso, ou de pena, o que é infinitamente pior.
Quando temos vinte anos, trinta, quarenta, a vida passa e nós andamos por ela flauteado, sem pressa ou qualquer outro compromisso que não o de ser  e descobrir as infinitas possibilidades que ela nos dá; podemos - e devemos surfar nas situações mais inusitadas, temos o domínio da cena.
Lá pelas tantas, começamos a questionar, uma espécie de adolescência tardia, mas muito válida.
Tentamos resgatar o que ficou mal resolvido e esclarecer a coisa toda, se ainda for possível.
Sorvemos apenas o néctar, já que o resto perdeu a importância e não vale mais nem um movimento nosso e muito menos lágrimas, dessas queremos distância, a menos que sejam de alegria.
Nesse meio tempo, entra o que eu chamaria de uma questão de equilíbrio entre aquilo que sempre fomos, o que aprendemos a ser e o que realmente queremos, mas nem sempre o que queremos, dá.
Por mais linda que seja, uma mulher de 50 anos com um mini vestido não ficará bem, não adianta, ela poderá ter se transformado numa boneca de silicone, de matéria plástica, repuxou tudinho o que tinha para esticar, ficou com olhos de ET e boca de...deixa pra lá, não importa, o ar a denunciará,  seu porte, seu jeito, sempre será o de uma pessoa de 50 anos. Aí, uma roupa curta a deixará com um  aspecto esdrúxulo, já que ela não é mais o que pretende parecer.
Esse equilíbrio é deveras difícil e, não raro, escorregamos.
Por tais razões, não consigo entender o que levou uma jornalista tão bacana como a Fátima Bernardes a fazer uma propaganda, em horário nobre, onde aparece abrindo um bocão e devorando uma fatia de presunto, olhando de soslaio para camera.
Terá sido o cachê? Não creio...
Terá sido a vontade de mostrar que é versátil e se enquadra em qualquer papel? Talvez...
Terá sido alguma vaidade que se manteve soterrada durante anos sob o manto da profissional séria e compenetrada, e agora ela cansou, continua uma profissional séria e compenetrada mas só que saber de abobrinhas ou, melhor dizendo, de presunto? Não sei, realmente, não sei...
Tem coisas que não dá, não combina, fica estranho.
Ou você consegue imaginar a Rainha da Inglaterra fazendo propaganda de amaciante?



Rindo a Toa.

Depois de uma semana de ausência, de volta ao lar, doce lar, o que é muito bom.
Aliás, bom é apelido!
Assim que cheguei, me deparei com uma orquídea linda, muito bem posta na sala, presente do maridão, como se não bastassem os mimos que ganhei dos meus três amores que, pacientemente, me aturaram e me carregaram para todos os lados no Portinho.
Meu gato Bibo se jogou, literalmente, sobre meus pés, gato ladino é ele, viu, ronronando sem parar e de perto de mim não saiu mais, assim como minha gata Chiquinha.
Acho que o povo estava com saudade de mim...
Passei um Dia das Mães feliz,  onde a tônica foi a alegria, pelo simples fato de estarmos, mãe e filhas, juntas.
O dia inteirinho só para nós, jogando conversa fora e rindo de uma besteira qualquer.
Eu, que adoro um agrado, voltei com o coração e a alma repletos de coisa boas, sensação de plenitude e bem estar.
Como veem, nem escrever direito estou conseguindo, porque, como todos sabem, a viagem até Itaqui costuma ser um tanto quanto cansativa, digamos assim, nove horas sentadita naquela poltrona que reclina, tá, mas e os pés, os que fazemos com os pés, que ficam balançando? Azar o meu, que tenho as pernas curtas.
Enfim, foi uma longa madrugada, pontuada pelos roncos extraordinariamente altos de um senhor que vinha sentado na poltrona da frente, todos roncavam, bufavam, espirravam e tossiam e eu ali, pensando na vida,   não preguei olho a noite toda e até tentei ver um pedaço de céu ou a Lua mas nem isso deu, meu vizinho de banco manteve as cortinas fechadas o tempo todo.
Quando o ônibus parou, desci rápido e quase dei uma de João Paulo II, tive vontade de beijar a terra do Itaqui, tal o alívio que senti de ter saído daquele lugar sufocante.
Entretanto, apesar dos pesares cheguei sã e salva de mais uma odisseia, graças a Deus e, como costumo dizer, agradeço a Vida por me presentear tantos momentos de felicidade com os que amo.
Comecei a semana rindo à toa, e o mesmo desejo a vocês, meus queridos amigos!

terça-feira, 6 de maio de 2014

Gracias a La Vida

Costuma ser assim a cada viagem para o Portinho: alegria tremenda invadindo meu coração,  primeiro porque vou estar juntinho e colada com meus três amores, fazendo as comidinhas que elas mais gostam, faço até bolo, sou prendada...coisa nenhuma, me defendo e era isso, minha praia é outra.
Segundo, já fiz a listinha básica de livros que pretendo comprar e, por supuesto, o da Isabel Allende é meu objeto do desejo, seguido de alguns outros e, se for possível e couber dentro de minhas parcas economias, sempre vai aparecer aquele que está no topo, ou o que não tem em lugar algum mas eu olho e me parece bom, então, fim de linha, compro e deu.
Terceiro, sei os filmes que irei assistir e os horários, salas, etc, fanática que sou por um cineminha. Adoro, não abro mão de jeito nenhum de ir ao cinema, um programa que faço desde que me conheço por gente, e curto muito, aproveito cada minuto: antes, comprando uma pipoca meio a meio, um refri, afinal de contas, eu tô no Portinho na fila para assistir aquele filmaço - nem me passa pela cabeça pensar em triglicerídios ou colesterol, glicose...o quê? Ahhh, para com isso, come a pipoca com guaraná( Antárctica) e guarda um espacinho para as balas de goma; o durante dispensa comentários, obviamente; depois, saio do filme viajando na maionese e pensando em como é tremendamente bom poder estar ali, fazendo o que gosto.
Dou graças a Deus todos os dias e nas horas do meu dia em que lembro Dele, e elas são muitas.
Agradeço a minha Mãe Nossa Senhora,  sempre a proteger os meus amores com seu manto, e não me custa pedir que Ela dê só uma espiadinha com seus olhos magníficos para minha humilde pessoa e me cuide e conserve gorda e sã de lombo.
Sem falar nos Santos que incomodo noite e dia com agradecimentos e pedidos.
Isso tudo é para dizer, queridos amigos, que agradeço a Vida as dádivas que ela tem me concedido, e não são poucas, razão pela qual esforço-me ao máximo e tento não abrir a boca para reclamar, apenas para agradecer.
Logicamente que Eles me conhecem com manha e tudo, por isso, sei que me perdoam quando queixo-me de barriga cheia.
E agora, com licença que preciso cerrar mi balijita, passar a mão no travesseiro e seguir, gloriosa, rumo ao Planaltão e às 9 horas de viagem que me separam da Capital, e não tô nem aí para o tempão que vai levar, para os pés inchados e para os roncadores de plantão, não mesmo.
Gracias a la Vida, que me ha dado tanto!



segunda-feira, 5 de maio de 2014

O Príncipe Que Virou Sapo

A Marcinha e o Dudu conheceram-se no reveillon e, quando bateram  um  no olho do outro foi como o espoucar de fogos em Copacabana, uma extraordinária sensação de felicidade, uma certeza absoluta de que ambos eram almas gêmeas e de que nada e nem ninguém seria capaz de separá-los.
Foi uma paixão vulcânica, um amor intenso, vivido e celebrado todos os dias,  uma química fantástica.
Poderosos, a Marcinha e o Dudu eram jovens, solteiros e muito bem posicionados em suas profissões.
Tudo corria bem, até que um dia Flávia, a melhor amiga da Marcinha alertou,  " amiga, esse cara é um tremendo galinha, é useiro e vezeiro em decorar a cabeça da mulherada, esse cara não presta...", e nem terminou a frase, porque a Marcinha, enfurecida, acabou com o assunto e com a amizade de uma década, afinal, o Dudu era o seu mundo e aquilo era inveja, pura inveja de gente que não tinha mais o que fazer a não ser botar areia na sua felicidade.
E assim, a Marcinha foi se distanciando dos seus amigos, das tardes de chimarrão e conversa jogada fora com a Flávia, trocou o reggae pelas músicas que o Dudu apreciava, conheceu pessoas que faziam parte do círculo social dele e fechou-se num casulo onde só havia espaço para o ser amado e ninguém mais.
Os amigos dela estavam preocupados, mas  a Marcinha mantinha-se irredutível e, naquelas alturas, nem sabia ao certo por que mundos andava, mandara tudo pelos ares em nome do grande amor, inclusive sua personalidade e forma de ver a vida.
Um ano depois, casaram-se.
A lua de mel foi nas Ilhas Maldivas, um lugar paradisíaco que, no terceiro dia de viagem, virou maldito para a Marcinha quando ela recebeu o primeiro tabefe do Dudu, que voltara da praia completamente embriagado.
Dali para a frente, o príncipe encantado da Marcinha transformou-se em sapo, e a queda foi abissal, Dudu mostrou a verdadeira face, que escondera durante o namoro e agora revelava, de forma plena: um mulherengo de carteirinha que abusava da bebida e, não raro, tornava-se irônico e violento.
Dois anos se passaram e, nesse período, a Marcinha descobriu que era apenas mais uma entre meia dúzia de mulheres com as quais o Dudu se relacionava; uma das tantas, para ele não fazia diferença.
Certo dia, passeando sozinha, enxergou seu reflexo no vidro de uma loja: tinha 30 anos e estava com um aspecto de 70! Finas rugas haviam se instalado no canto dos olhos e ao redor dos lábios, os olhos tinham perdido o brilho, o cabelo estava sem viço, opaco, ela tinha um ar de desamparo e os ombros, encurvados, eram a prova cabal do desastre que era sua vida.
A Marcinha levou um choque de realidade tão grande que quase caiu.
Quase.
Juntando a ínfima parcela de amor próprio que ainda lhe restava,  encostou-se junto a um muro e chorou todas as lágrimas que tinha para chorar, perdeu o sentido das horas. Em compensação, ali mesmo selou o fim do tempo, relativamente curto, que vivera com o Dudu, foi para casa, juntou seus trapos e pratos e foi-se embora para nunca mais voltar.
Sumiu, evaporou-se,  saiu em busca de si mesma, de quem havia se distanciado tanto e baniu de sua vida, em definitivo, aquele sapo cururu travestido de príncipe!









domingo, 4 de maio de 2014

Me Fui de Compras!

Ayer me fui de compras,  acordei com  'animus comprandi', um verdadeiro perigo, acho até que dormi pensando  nisso e não deu outra, antes das 14:30 já andava pela rua, ávida por novidades.
Fazia muito tempo que eu não tinha um ataque consumista, é, ontem eu estava assim, totalmente ensandecida, não se é culpa dos hormônios ou da falta deles, fato é que saí decidida a fazer algo que há muito não fazia, não daquele jeito: compras exclusivamente para mim. 
Egoisticamente para a minha pessoa.
Mas credo, completamente possuída!
Saí do jeito que gosto: sozinha, porque não suporto comprar com assistentes do meu lado dando dicas e palpites, nem pensar, aí me enrolo e termina que não compro nada.
O dia estava propício, se é que existe dia adequado para um acesso desse quilate, sei que tomei meu rumo, sabedora do queria e de onde poderia encontrar.
Engraçado que parece ter havido algum tipo de combinação entre as roupas da vitrine e eu, porque ali estavam, expostos, todos os objetos do meu desejo.
Sem delongas, entrei na loja e, para meu deleite, não havia quase ninguém ali, assim que me esbaldei olhando incontáveis blusas e saias e vestidos e calças...ops...calças?
Sim, enquanto estacionava o carro, uma calça jeans acenava alegremente para mim.
Calça jeans.
Olhem bem, meu amigos,  há muito tempo, muiiiiito, deixei de usar calça jeans, primeiro por motivos óbvios, o espelho, é, o m a l d i t o espelho, sempre ele! mas, acima de tudo, havia uma tristeza dentro de mim, e tristeza com jeans e camisa branca,  definitivamente,  são peças que não combinam.
Fato é que, de uns tempos para cá,  por essas obras de magia que circulam por aí, minha tristeza se hizo humo, graças a Deus e, dia desses,  me peguei pensando,  e porque não uma calça jeans?
Voltemos à loja.
Depois de provar blusas e outras peças de roupa, pedi: aquela calça jeans da vitrine, por favor e, imediatamente, pensei, claro que a droga da calça não vai me servir, mas, em frente, marche!
Para minha surpresa, a calça serviu...bem, definir o que senti com esse simples verbinho " serviu" é pouco, é nada.
 A calça ficou linda e fiquei me olhando no espelho e, ao mesmo tempo, rindo dele, um riso descarado e provocativo - e ele rendeu-se a mim, ao menos desta vez!
 Sorrindo para mim mesma, não acreditei que aquela calça jeans estivesse ali, na medida exata, feita para o meu corpicho.
Que sensação!
Aquilo surtiu em mim um efeito alucinógeno porque, saindo do provador, foi terra arrasada: passei a mão em mais duas blusas, outra calça, um cinto e uma bolsa divina, além de um top para ginástica.
Vou ficar pagando até a Primavera.
Não faz mal, não tem importância alguma!
Depois da calça jeans redentora, saí do outono e passei direto para a primavera, tô quase no verão, enxergando cores e  flores por todos os lugares!




quinta-feira, 1 de maio de 2014

Ellos Quieren

Sou fã de carteirinha do ator e diretor Ricardo Darín. Como se não bastasse ser un muchacho argentino, o que, por si só, já é garantia de sucesso, o cara é lindo e escandalosamente charmoso, com um olhar de tirar o fôlego, mesmo com aquele nariz um pouco torto, não importa, até porque el hombre es como el oso, cuánto mas feo, mas hermoso!
É, Ricardito é tudo de bom, tanto quanto os filmes que já fez, O Segredo dos Seus Olhos, Un Cuento Chino, Tesis Sobre Un Homicidio, e por aí vai.
O homem argentino, perdoem-me os brasileiros...
Namorei dois argentinos, por supuesto, e nem teria como ser diferente, minha Mãe Maravilha era argentina e tinha do outro lado do Rio Uruguai  - cidade de Alvear, muitas amigas que, por sua vez, tinham filhos, por sinal  muy lindos.
Fato é que eles tem, indiscutivelmente, um charme a mais, não sei se é o cabelo com  aquela melena que costumam jogar para o lado, se é o jeito de falar, os hermanos são galanteadores e educados, dançam bem, sabem como tratar uma mulher.
Namorei um argentino quando tinha dezesseis aninhos - outro amor bom e alegre, meu argentino bailava un chamamé como ninguém, amanhecíamos nos bailes do Club Social de Alvear, o mesmo clube onde, em 1943, meus pais se conheceram e se apaixonaram. Namoramos ano e meio e nunca brigamos, o motivo do fim do namoro foi que eu espichei o olho para...outro argentino.
Ele era da Marinha, tinha 24 anos e era um moreno de parar o trânsito! Passei um dos melhores verões de minha vida e, como sempre digo, meus queridos amigos, quando estamos felizes, tudo fica lindo, até o Alvear, com suas ruas de terra,  a ausência de lugares para diversão, nada disso importava. Estávamos no período de férias, eu, da faculdade, ele, do trabalho. Pegávamos uma chalana e saímos, cedo da manhã, singrando as águas do Rio Uruguai e parávamos numa ilha de pedregulhos e água cristalina, com um cesto de sanduíches, uma térmica com suco de pomelo e nada mais.
E precisava algo mais?
Apenas o céu, o sol, as águas do rio e o vento balançando as folhas das árvores eram nossos companheiros.
À noite, sentávamos na calçada da casa de minha tia Maria Luisa com a mosquitama zunindo a nossa volta, mas nós não prestávamos atenção a isso,  somente víamos o brilho das estrelas e a faceirice da Lua.
Amores lindos, amores bons, amores que recordo com alegria porque somente me trouxeram felicidade.
Minha Mãe, claro, ficava meio de cara comigo, achava que a fila estava andando rápido demais. O que dizer, então,  do meu Pai, o Dr. Edgard? Ele  tinha um chilique por semana e, entre um sermão e outro, perguntava-me: Lia Helena, já mudou de  namorado? De novo?
Pois é.
Parafraseando meu saudoso tio Antônio, irmão de minha mãe que, segundo reza a lenda, teve três noivas ao mesmo tempo, eu respondia, solertemente:
Y que puedo hacer, papá? Ellos quieren...






Una Piccola Confusione

Foi uma das raras ocasiões em que os Fernández e os Mondadori juntaram-se para ir ao um badalado casamento na cidade de Concórdia, Província de Entre Rios, na Argentina, onde morava minha tia Albita,  irmã de minha mãe.
Dois dias antes para lá acorremos, " en caravana", como dizia um outro parente, a fim de participarmos do casório ilustre.
Veio toda a parentela  de Buenos Aires, gente de Posadas, outros de Apostoles, além do sem fim de amigos e conhecidos argentinos convidados para o verdadeiro acontecimento que estava por vir.
 Minha mãe, feliz que nem  pinto no lixo,  não fechava a boca e ria alto, tal a suprema alegria que aqueles encontros lhe proporcionavam.
Uma parte do grupo ficou hospedada na casa da tia Albita, o restante do povo foi para o hotel, incluídos aí meus tios paternos, Carlos Alberto e Maria Alba.
No dia da festa, a agitação na casa da tia Albita era geral porque, muito embora ela morasse numa casa enorme, a mesma não tinha sido feita para abrigar as vinte pessoas que se aglomeraram ali, só que ninguém se importava com isso, o que valia era a gritaria e as conversas que  ecoavam por todos os cômodos.
Minha tia Dora, mulher de um irmão de minha mãe, era, sem sombra de dúvidas, a mais divertida. Ela era alta e bem magrinha, dona de uma voz sensacional e,  nos encontros familiares, costumava cantar a plenos plumões, para felicidade geral.
Da igreja onde transcorreu a belíssima cerimônia do casamento rumamos para a festança de arromba, patrocinada pelos pais da noiva e um show à parte em matéria de decoração, iguarias finas, bebidas, músicas escolhidas a dedo: uma festa impecável.
Imaginem uma mesa onde italianos e argentinos estejam juntos. Uns 15, aproximadamente, fora os que estavam nas mesas vizinhas.
Um escândalo, se é que me entendem.
A festa corria solta e a champanhota mais ainda, o som da música aumentou e a maioria já começava num embalo tremendo quando, de repente, minha tia Dora ficou muito séria e,  com um grito,  exclamou:
Alllbaaaaaa!
Minha tia Albita, chique como sempre, apavorada, respondeu:
Pero que te pasa, Dora, que tenés?
" Hace un tiempo que te estoy mirando e ahora veo, te pusiste el vestido al revés."
Minha tia Albita ficou vermelha como um camarão e prontamente olhou para baixo, para a barra de seu vestido ali, bem à mostra, assim como todas as costuras laterias.
" No es posible" .... e desatou a rir, incontrolavelmente, assim como todos nós. Todos ríamos desatinadamente, muito pela bebida e pouco pela questão do vestido do avesso, fato é que estávamos todos naquilo, e a tia Dora sacudia-se a gargalhar quando pláááá: sua dentadura saltou longe, indo parar na pista de dança.
Meu tio Carlos Alberto, um gentleman, levantou-se rapidamente e foi buscar a dentadura da tia Dora, que não sabia onde se esconder de vergonha e outra saída não teve a não ser pedir que a levassem dali o mais depressa possível, no que foi seguida pela tia Albita. 
Saíram as duas da festa, sob o protesto de alguns e as risadas da maioria, somente o tio Carlos Alberto permaneceu sério, pedindo a todos: parem, por favor, foi somente una piccola confusione! mas ninguém lhe deu ouvidos pois não controlávamos mais nada e a comédia bufa, protagonizada pelas duas respeitáveis tias Fernández,  entrou para os anais das histórias familiares.
A cada festa, não faltava quem lembrasse à  tia Albita, olha bem o vestido, vê se não está do avesso...ou à tia Dora, não ri muito, cuidado para não perder a dentadura!
Minhas tias lindas, que momentos fantásticos passei com vocês. 
Ainda bem que o amor não termina!