quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Quem Me Ensinou a Nadar?

Minha Mãe Maravilha me ensinou a nadar.
Eu tinha apenas sete aninhos e já nadava, lépida e faceira, nas águas do meu amado Rio Uruguai.
A paixão pela água vem de longe: minha Avó materna, Adelaida, nadava muito bem, e ensinou a seus filhos.
E minha Mãe, tão logo mudou- se para a casa nova, a qual distava três quadras do Rio Uruguai, logo tratou de inventar um programa que parecia, até então, inusitado: uma senhora da "sociedade" ir até a beira do rio, com seus filhos, banhar-se e nadar por ali, desfrutando das maravilhas daquelas águas límpidas.
Mas ela nem tava, ela era uma mulher independente e de muita personalidade. Sabia o que queria e, principalmente, o que não desejava. Não gritava e nem era de brigas escandalosas; simplesmente calava-se, e, como ela dizia, " a procissão caminhava por dentro" e, ao fim e ao cabo, com seu jeito doce mas firme, sempre acabava fazendo o que queria.
A minha infância foi rica de amores e de muitos passeios, viagens e prazeres que a simplicidade traz, enchendo nossa  alma de alegria.
Um banho de rio, por exemplo.
Sensação espetacular é poder sair assim, nadando calmamente, observando a margem do rio que se distancia e vendo, a nossa frente, apenas a água, o céu, e nada mais.
Um prazer inenarrável.
Já adolescente saíamos, minha irmã e eu, rumo ao rio.
No lugar chamado " Dois Umbus", pois, antes de chegarmos na beira d'água, passávamos por umas árvores imensas, dois umbus, um de cada lado da rua e, logo abaixo, descortinava-se o Uruguai, verde escuro, brilhando ao sol do verão.
Entravamos na água e saíamos nadando, bem devagar, uma braçada, outra braçada, uma, outra...
Praticamente não havia correnteza, apenas a magia do rio,  e a liberdade intensa que aqueles momentos nos proporcionavam.
Depois de termos nadado por uns quinze minutos, chegávamos a uma pedra imensa que ficava bem no meio do rio, e ali parávamos para descansar. Era uma pedra que parecia uma mesa, tão grande era.
Recuperado o fôlego, partíamos na direção da outra margem, na cidade de Alvear.
Nada havia lá, a não ser barro e pedregulho, acrescidos do calor infernal.
Ali ficávamos, sentadas, felizes com nossa façanha e, passado um tempinho, lá estávamos, outra vez, naquela água fria, nadando calmamente de volta para o Itaqui.
Que tempos!
Fizemos isso algumas vezes, mas foi suficiente.
Muitas vezes as pessoas se admiram do meu jeito alegre.
Amigos, quem teve um Rio Uruguai à disposição para nadar, por incontáveis verões, não tem como ser uma pessoa triste.
Minha Mãe Maravilha me ensinou a nadar...obrigada, Mãezinha.
 Braçadas de amor te mando, onde estiveres!







domingo, 9 de outubro de 2016

Árvores Cortadas

Sinceramente, não consigo entender o que leva as pessoas a cortarem uma árvore.
Sou alucinada por plantas de todos tipos, eis que me criei num casa onde havia um pátio enorme, cercado de árvores e pequenos arbustos, flores em profusão, uma parreira maravilhosa, laranjeiras, bergamoteiras, bananeira, goiabeira, limoeiro.
Num canteiro, plantados com esmero, derramavam-se morangos, rubros e perfumados.
As calçadas que me viram crescer tinham flamboyaans alaranjados e vermelhos, lindos demais!
Não sem tristeza, observo árvores que levaram anos para crescer sendo cruelmente arrancadas, delas ficando, apenas, os troncos sem vida.
No dia da eleição, fui votar na Escola Estadual de Ensino Fundamental Felipe Nery de Aguiar, o meu amado Grupo Escolar Felipe Nery.
Ali é minha seção eleitoral e nem poderia ser diferente: escolhi a dedo onde iria exercer minha cidadania, e teria de ser onde fui alfabetizada, estudei por quatro anos e, diga-se de passagem, vivi os melhores anos da minha infância.
Não há lugar mais simbólico, para mim, que o Felipe Nery!
Mas, disto não se trata.
Evidentemente que os olhos infantis enxergam magia nos lugares mais feios, disso tenho certeza.
Mas também é verdade que a beleza não tem como não ser notada.
E a minha escola, a primeira da minha vida, era de uma simplicidade encantadora.
Era bela, limpa, perfumada, com canteiros floridos e, por óbvio, tinha uma árvore, a árvore dos meus encantos.
No meio do pátio ela se debruçava, sacudindo levemente os galhos, as folhas muito verdes brilhando sob o sol.
No inverno, era cuidadosamente podada para logo ali, na primavera, cobrir-se de flores.
Um flamboyant de flores encarnadas, imenso, sombreando a metade do pátio, sempre disponível para qualquer brincadeira, fosse para subir nos galhos mais altos, ou simplesmente pendurar nele um balanço.
Pois bem.
Fui dar uma volta pelo colégio, espiando por um lado, observando por outro...tentei não chorar, pois não havia como não lembrar da merenda da Dona Geni, servida em copos de alumínio - carreteiro, sopa de trigo, ensopadinho de massa, arroz doce...esse era o nosso lanchinho básico, servido pontualmente às 15 horas; das professoras maravilhosas, da sala da direção; dos colegas.
Fui indo e fui chegando até o fundo do pátio, e eis que me deparo com o que restou daquela árvore fantástica: um troco enorme, escuro e retorcido.
E por ali, onde outrora crescia a grama verde, construíram uma quadra, com aquele piso de concreto horroroso.
Que contraste!
Fiquei olhando aquele tronco feio e, mesmo sem querer, vieram as comparações.
Volto ao começo desta postagem, onde questiono a razão que leva as pessoas a cortar uma árvore.
Levantou a calçada, dizem algumas.
Faz muita sujeira, alegam outras.
Cresceu demais...
Para mim, nenhuma desculpa é válida.
Mais ainda quando vejo, no lugar da árvore, uma calçada de concreto, duro, frio, seco. E, no verão, sem uma mísera sombra, queimando ao sol.
Não consigo entender, não aceito, acho de uma ignorância atroz.
Talvez eu seja uma romântica incurável, ou uma saudosista, não sei.
É...
Perdão, amigos.
Mas a conclusão a que chegamos é que, lamentavelmente, a rudeza substituiu o encanto!







segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O Preço da Agressividade

Ponho-me a observar as condutas das pessoas nestes tempos de política, e na fala que adotam para defender seus candidatos.
E confesso que até para mim, uma pessoa agressiva por natureza, causa estranheza e, por que não dizer, um certo temor quando leio os comentários que inundam as redes sociais, e os há de todo tipo: irônicos, debochados, desrespeitosos, furiosos, ameaçadores.
Em todos, contudo, verifica-se uma constante: a absoluta e total falta de respeito para com a vítima do ataque,  o qual é perpetrado independentemente  da posição social, do nível de instrução, de cultura e de conhecimento de seu(s) autor(es).
Quem sou eu para criticar, se fiz e faço a mesma coisa em relação ao sacrossanto Partido dos Trabalhadores e seus " ínclitos" líderes e representantes?
A facilidade de entrar numa rede social e lascar uma monte de barbaridades leva-nos a uma pseudo sensação de impunidade pois se, de um lado, as redes sociais parecem ser terra de ninguém, onde escrevemos quase tudo o que nos vem à cabeça nos momentos de extrema raiva por uma derrota sofrida, ou de euforia por vitórias alcançadas, não podemos olvidar que, logo ali, à meia quadra, poderemos esbarrar naquela pessoa que foi alvo de nossa crítica feroz, do comentário deselegante, do pré julgamento.
E  aí, o que fazer?
O preço que se paga por ser agressivo é bem salgado.
Para bancar a boca suja e o extremo deboche, para manter os juízos de valor que, por vezes, restam completamente equivocados, para isso é preciso ter muito café no bule e, acima de tudo, convicção e coragem para encarar aquele ou aquela que viraram alvo.
De igual modo há, também, a reação da vítima, ou sua completa indiferença, o que não deixa de ser uma forma de agressão.
Enfim.
O fim de um ciclo leva-nos a refletir e a ponderar sobre atitudes dantes adotadas, e a pensar até onde nos leva o calor da paixão político-partidária.
Não deveria ser assim, mas é.
A política tem disso, não há meio termo.
Entretanto, pelo caminho percorrido entre a campanha eleitoral,  a eleição e o resultado final vão ficando  colegas de trabalho, amizades, companheiros de partido, desafetos políticos.
Pessoas que agredimos, e que nos agridem.
Uma lástima que seja dessa forma.
Entretanto,  uma vez  terminado o pleito e proclamados os vencedores, deve-se ter, no mínimo,  a decência de estancar o processo agressivo, em nome da democracia, em respeito à vontade da maioria dos cidadãos, exarada nas urnas e, também, em respeito aos vencidos.
É assim que deve ser, é o correto.
O que se almeja de um novo governo é que o mesmo seja excelente para a comunidade como um todo,  que busque atender as necessidades dos munícipes e que trabalhe em prol de toda a sociedade, independentemente de cores partidárias.
E que as agressões que permearam, por todos os lados, a campanha política  fiquem para trás e caiam no esquecimento, pois somente o respeito, a união e a paz podem gerar crescimento e felicidade para todos.