quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Gerúndio E O Tempo

Vento norte assoviando
temporal se aproximando
tudo se movimentando
E Gerúndio só olhando
Pensando que era passado
E por isso acomodado
Inerte só observando
Ficava ali bem sentado
Parado sem se mexer
Não sabia o que fazer

E o Tempo disse a Gerúndio
Estou aqui observando
A medida que vou passando
O quanto você se detém
Num chatíssimo vai e vem
Procurando e indagando
Enquanto isso vou passando
E até zombando de você

Vá achando
Que é meu dono
Não é não!

E Gerúndio despertando
Desafiou o Tempo
E pensando
Viu passar
A tempestade
Concluindo que a bondade
O afeto
E o amor
Afastando todo o mal
Mudaram o tempo verbal

O Tempo, admirado
Curvou-se ante Gerúndio
E para ele falou
Você não está passando
Tampouco você passou
Estou do seu lado agora
Vamos passear mundo afora
E ver que tudo mudou


















quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A Lagartixa do Teatro

Manu nasceu e se criou no Teatro Prezewodowski.
Desde pequena, embrenhava-se pelas cortinas do palco e passava despercebida das pessoas que, diariamente, apareciam por ali.
Não que ela sentisse medo, mas sua mãe, a lagartixa Tibérei, que viera do mundo das fadas, dissera-lhe que deveria ter muito cuidado com os humanos, para que estes não a machucassem.
Entre luzes e sombras Manu passava seus dias, encerrada em seu pequeno mundo, caçando mosquitos, moscas e outros insetos que habitavam por ali.
No verão, dona Cotinha, a encarregada da faxina, abria todas as janelas e a luz do sol e a brisa do dia inundavam todos os espaços, trazendo uma sensação agradável que fazia Manu suspirar, e sonhar.
Sonhar, era o que ela mais fazia.
Acreditava que lá fora, para além do Teatro, certamente descortinava-se um outro mundo.
Entretanto, sentia medo.
Ficava insegura pois não sabia o que poderia haver para além das cortinas, que a deixavam invisível, o que não deixava de ser confortável; de suas velhas conhecidas, as paredes, nas quais dependurava-se quando queria; dos estofados onde, no inverno, petiscava uma que outra baratinha.
Entretanto, Manu cresceu e aquela inquietação só fez aumentar, e chegou ao ápice no dia em que, deslumbrada, assistiu a um espetáculo de balé, um show de luzes e cores que fez seus olhinhos arderem, mas ela não conseguiu parar de olhar.
Colada na cortina do palco, viu toda a movimentação dos bailarinos, as entradas e as saídas, os passos, os giros, os saltos.
Escutou a música inebriante, os aplausos e a alegria ao término do espetáculo e ali, naquele instante, resolveu que desceria da cortina, caminharia até a porta e iria embora do Teatro.
Passara toda sua vida sem correr qualquer risco.
Por um lado, pensava ela,  isso era muito bom: a previsibilidade dos dias.
Por outro lado, tal inércia não lhe permitia conhecer novos palcos e, via de consequência, comungar de outros espetáculos.
Quando se fecharam as cortinas, Manu permaneceu ali, quieta.
E, à primeira claridade do dia que nascia, esgueirou-se Teatro afora, e saiu.
A luz do dia quase a cegou, mas logo ela encontrou o tronco de uma árvore e, dali, abraçou o mundo.
Adaptou-se às mudanças, e quando sentiu o gosto incomparável da liberdade, jurou para si mesma que nunca mais permaneceria escondida pelas cortinas: nascera para ser protagonista, e não coadjuvante!






segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Outra vez, é Primavera!

Depois de um tempo fora,  período que entendi necessário para conseguir lidar com questões de difícil trato, eis-me aqui.
Eu sei que neste mundo virtual a medida do tempo é feita de forma instantânea.
Paciência.
Antes de mais nada, agradeço a minha meia duzia de fãs de gatos pingados que, insistentemente, me cobravam postagens, fato que me deixa feliz.
Mas a minha escrita é assim, geminiana como eu: dias em que está a fim, horas em que se recolhe para elucubrações e movimentos internos.
Refugia-se em algum lugar onde o acesso está interrompido e somente os pensamentos podem entrar, estes últimos nem sempre bons.
Pesados, tristes, lúgubres e sem encontrar a porta de saída, perdidos em labirintos escuros.
Em nada combinavam, tais pensamentos, com minha forma de encarar a vida.
Entretanto, há momentos em que precisamos mergulhar e ir até o fundo, onde há areia, ou sedimentos, ou pedregulho.
Ou o nada.
Ou o vazio.
Mas a descida é inevitável, um processo onde não há controle e nem deve haver, pois para que possamos novamente ver a luz,  é necessário mergulhar nas profundezas.
Desnuda-se a alma, sente-se o frio da incerteza, da falta de respostas, das indefinições.
E a gente segue descendo, de início distanciando-se da luminosidade, que está logo ali, acima, mas continuamos a descida rumo às respostas que desejamos ter, ou ver.
Há um momento libertador em que, chegados ao final dessa trajetória, há dois caminhos: permanecer no escuro, ou buscar a luz.
Esse tempo de reclusão e de busca, de auto conhecimento foi fundamental para mim.
Divisor de águas.
Muito mais fácil seria permanecer em minha zona de conforto, sem questionar nada,  contentando-me com a falta do riso escancarado, da alegria.
Mas quem disse que a vida é fácil?
Quem afirmou que viver não implica desafios constantes, e uma coragem que muitas vezes não temos e nem sabemos de onde tirar?
Eu, quando me deparo com situações complexas, me recolho.
Recolho-me a minha insignificância.
Vou até o fundo do poço, desço, me rebento toda, me debato com um sem número de fatos, com uma lista de cobranças internas as quais somente eu tenho acesso.
Como disse, esse processo faz parte do meu "eu".
Não sei vivenciar mudanças apenas movimentando móveis e adornos, pois o primeiro movimento há de ser - e é, o interior.
Feito isso, zeradas as pendências, retorno.
E, não por acaso, findou o inverno e começou a primavera.
As estações do ano, neste ano, me acompanharam.
Após um outono gris e um gelado inverno, volto na estação das flores, onde tudo renasce e floresce novamente, sob a luz mágica do sol.
Minha alma e meu coração reencontraram-se outra vez e,  ao olhar para trás, dou-me conta do quanto caminhei e do esforço que fiz para nadar, nadar, e chegar outra vez na praia.
Por que sou assim: " aprendi, com as Primaveras, a me deixar cortar, e voltar sempre inteira."
Então, queridos leitores, me aguardem, pois muitas histórias virão por aí.
Um beijo em cada um de vocês!