terça-feira, 30 de setembro de 2014

La Depresión

Minhas tias maternas Alba Mercedes e Maria Luisa sofriam de depressão.
Minha Mãe sofria de depressão.
E eu me pelo de medo de sofrer de depressão.
Fiquei anos e anos escutando aquela frase que me parecia fatídica, quase uma sentença de morte, que minha Mãe pronunciava num tom de voz baixo, solene: Albita está con depresión. Maria Luisa tiene depresión.
Eu não entendia, ou me fazia de louca para não entender a razão daquele sofrimento todo pelo qual minhas tias passavam.
Choravam por tudo e por nada.
Andavam caminhando pela casa feito zumbis, o olhar triste e mortiço, o sorriso de canto de boca, sem vontade. O riso, antes torrencial, transformara-se apenas num murmúrio sem graça, murcho.
Nada agradava, nada era bom.
Depois, minha tia Albita foi embora e minha Mãe se viu sem sua grande amiga e parceira de tantas viagens que fizeram juntas.
Caiu em depressão.
Dois anos depois, ela foi embora.
Um ano depois dela, minha outra tia, Maria Luisa.
Hoje me vejo pensando no dilema daquelas mulheres que tanto amei, minha Mãe e minhas duas tias, e, sinceramente, é coisa que não gostaria que me sucedesse.
Conclui que as atividades funcionam como um antídoto para esse mal, ao menos no meu caso.
Mente desocupada, mente preocupada, diz o ditado.
Não é tão simples assim, mas a vida tem me mostrado que, do outro lado da família - minhas tias paternas, essas não sofreram de depressão.
Mantinham-se em atividade constante, envolvidas com os mais diversos afazeres, que iam desde a pintura de imagens da Igreja ao plantio de rosas ou à fabricação caseira de vinho de laranja.
Estavam muito bem obrigada até o dia em que, bem velhinhas, foram observar novas paisagens.
Talvez por isso, com tais exemplos, eu fuja do ócio.
O ócio não me faz bem.
Quando me pego triste ou pensando sobre questões que fogem de minha alçada, trato logo de sair por aí, inventando coisas.
Para mim movimento, novos desafios e projetos são remédio.
No fundo,  o que a gente quer,  e precisa, é de uma reafirmação da vida.
Mesmo que já tenhamos trilhado um bom pedaço do caminho.



quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Pequenos Traumas

A vida, e devo dizer, de antemão, que de nada me puedo quejar, embora tenha passado por fases pesadas, vai te deixando, além de experiências enriquecedoras e alegres, outras  nem  tanto.
E, com isso, as marcas vão ficando.
Umas maiores, outras de menor potencial, mas elas estão lá, em algum lugar, quietas, como que esperando o momento certo para se manifestar.
Eclodir.
E eclodem.
Nós precisamos aprender a lidar com isso, que requer um esforço tremendo de autodeterminação e vontade de superar o cansaço e a desilusão que as muitas pontes que precisamos atravessar ao longo do tempo nos causaram.
 A repetição de certas cenas e palavras nos causam pequenos traumas.
Ou grandes, depende.
Muitas vezes, são questões que, de modo geral, vem de quem mais nos conhece e, sendo assim, quem agride sabe perfeitamente como ferir e atacar no ponto que faça o maior estrago possível.
E quem sofre as palavras duras, os gestos medonhos nunca, jamais esquece.
Entretanto, entendo que, embora nada saiba de psicologia - atrevo-me a dizer que de algumas coisas sei bastante, aliás, melhor dizendo,  sei o suficiente, para o bem estar de nossa saúde mental, um dia é aquele dia em que colocamos o ponto e viramos a página.
Por tais razões, há que se fechar a porteira para que o veneno destilado por outrem não invada nossa casa, nossa alma, nossa vida.
Deixemos os venenosos e os recalcados de lado e sigamos em frente, sempre em frente.
Colocar um cadeado em volta da porteira é difícil, eu sei.
Buscar reconhecer nossos traumas, aquilo que nos afeta profundamente e que nos faz mal, suas causas e, sobretudo, procurar afastar vigorosamente as consequências que deles advém é tarefa árdua.
Mas o outro lado da paisagem é extremamente compensador: ar puro, leveza e liberdade.
As melhores sensações que um ser humano pode usufruir!


Falta de Ética

Muitas vezes, fico me perguntado porque razão têm  pessoas que precisam pisar nas outras para se sobressair.
Isso, realmente, é algo que não consigo entender, e tenho observado que, nos mais diversos setores, a história se repete.
Você chega em uma determinada empresa e é bem recebida, até o momento em que começa a crescer e passar anos luz à frente, e pronto, está feito: não passa muito tempo, e logo vem aquela pessoa tentando te puxar o tapete ou, como diria meu tio Carlos Alberto, colocar a casca de banana pra ver se a gente pisa.
Eu, particularmente, detesto gente assim, e até chego a dar uma certa chance, no seguinte sentido: inicialmente me faço de morta, a fim de que a criatura pense que está mandando no pedaço e sou sua serva.
Ah, Ah, Ah....
É assim que fico, rindo por dentro.
E, lenta mas firmemente, começo a por as coisas na devida ordem, isto é, cada um no seu quadrado, cada macaco no seu galho, e por aí vai.
No segundo tempo, começam os cochichos e olhares velados, os quais, para infelicidade geral de quem faz isso, também percebo.
Percebo, e deixo passar pois, verdade seja dita, no fundo no fundo, estou me divertindo às custas da ingenuidade alheia.
Aparentemente parece fácil que alguém engane ou submeta você a alguma situação de assédio moral.
Esse é o nome que dão a isso, sim, um nome politicamentiiii corrréééto, mas o certo mesmo seria safadeza pura.
Falta de ética.
Gente que não confia no próprio potencial de caga de medo do brilho do outro.
Gente louca por um carguinho, ou por um grande cargo, que usa de quaisquer ardis para tirar do caminho quem tem talento.
A pessoa que faz isso talvez saiba muito, mas de ética não entende nada.
E, lá adiante, cairá de beiço no chão.
Ploft!
Tem gente que tem tudo para se dar bem, mas se suja só para mostrar serviço.
E esse tipo de pessoa me enoja profundamente.
Como disse antes, no início até me divirto com tantos salamaleques.
Coisa de amador, de puxa saco de quinta.
Entretanto, um belo dia, quem não tem respeito algum pelo colega de trabalho precisa levar um puxãozinho assim, bem de leve, só pra entender como é que a banda toca.
A diferença é que, dependo do ângulo, a puxadinha pode ser fatal.
É...
Não se deve mexer com quem está quieto.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A Toalha da Vó Adelaida

Minha Avó materna Adelaida tinha uma toalha de mesa de linho branco, toda bordada em Richelieu, uma técnica de bordado aberto criada pelo Cardeal Richelieu, que integrava a Corte do Rei Luis XIII, da França.
Muito fina, a tolha branca de linho de minha Avó Adelaida.
Chiqérrima!
Contava-me ela que aquela toalha havia sido confeccionada por las monjas del colegio de Buenos Aires, para mi casamiento, nenita.
Vejam, queridos amigos, quanto tempo essa toalha circulou pela família Fernández e, depois, pela família Mondadori.
Ela ficava guardada dentro do aparador da sala de jantar da casa da Vó, no Alvear, um móvel de madeira escura que tinha quatro gavetas imensas no meio, com seus puxadores dourados,  e duas portas de cada lado, aliás, umas senhoras portas.
Dali, a toalha só saía para ser  usada  em ocasiões especiais: um almoço de batizado, um noivado, casamento, o almoço do Domingo de Páscoa e a Noite de Natal.
Havia todo um ritual que precedia seu uso: tiravam-na da gaveta, e a empregada de minha Avó lavava-a, delicadamente, enxaguava sem torcer e estendia-a no varal, num dia de sol, para que saísse o cheiro de guardado.
Quando a toalha estava ainda úmida, era passada com aqueles ferros pesadíssimos, nos quais se colocava a brasa do fogão à  lenha dentro.
Logo após, a toalha era colocada na mesa de jantar, e aí fechavam-se as portas para ninguém tivesse acesso à sala.
Não se podia correr o risco de sujar a toalha antes da festa.
Participei de incontáveis festas familiares onde a toalha de renda de minha Avó era uma das artistas principais, tão linda era.
Até que, quando minha Avó foi embora, a toalha passou às mãos de minha Mãe, que também seguia o mesmo ritual de sua mãe e, assim, a toalha foi uma das protagonistas da festança de Bodas de Prata de meus Pais, depois, de noivados, do meu casamento civil, das festas de final de ano e de tantas outras.
Minha Mãe foi embora, e a toalha passou às minhas mãos, que também sigo o mesmo ritual de minha Avó Adelaida e de minha Mãe.
E a toalha de linho branco com bordados Richelieu continua saindo à baila para enfeitar a mesa de aniversários, de Páscoa, de Natal e de Ano Novo.
Ela é o símbolo de momentos felizes!
Lembrei-me dela enquanto arrumava mi valija para, amanhã, rumar a Santa Maria a fim de participar do casamento da filha de amigos queridos.
A felicidade deles contagia, e se torna também a nossa, pois é muito bom poder compartilhar  tão alegres e abençoados momentos.
Esses objetos - toalhas, cálices, taças, talheres, sempre evocam as mais belas lembranças e, por isso, são tão bem guardados.
A toalha de linho branco com bordados Richelieu de minha Avó Adelaida, sinônimo de alegria está lá, na gaveta do meu aparador.
A espera da próxima festa!

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Autossuficiente

É pecado ser autossuficiente?
É ruim para uma mulher ser dona de seu próprio nariz e não depender de nada,  ou de alguém para mantê-la e dizer a que horas ela precisa voltar, o quanto tem que beber, a razão social desta ou daquela roupa e mais mil e uma explicações?
Algo a ver com os conceitos de posse e propriedade do Direito Civil?
Houve um tempo em que  o modelito feminino determinava que  deveríamos ser a meiguinha, a bobinha, a burrinha, apenas bonitinha e nada mais.
Bá, que coisa terrível! acho que uma boneca de matéria plástica talvez cumprisse melhor o papel que se esperava de uma jovem mulher: que tivesse um cérebro de ervilha.
Na sala uma dama e na cama, uma prostituta.
Cruz credo!
Enfim...
Rótulos.
Abomino rótulos e frases feitas, pois eles nos aprisionam como seres humanos.
Decididamente, nunca consegui entender essa  submissão ao outro(a), como se não fossemos detentores de uma vontade própria, particular, só nossa, como se nossa vida somente fizesse sentido a partir do outro, e não, com o outro.
As mulheres chegaram até onde queriam?
Acho que sim.
Mas olha só o que aconteceu:
Em nome da famosa igualdade, uma parcela significativa de homens passou a enxergar mulheres autossuficientes como pessoas que tem que fazer isto ou aquilo, ou seja, já que pretendem ser iguais, então, que façam trabalhos masculinos também.
E muitas mulheres se tornaram um pouco homens.
Ora, isso vai de encontro à natureza feminina, e o que sempre se questionou foi uma igualdade de direitos e deveres, mas sem perder a condição de mulher.
E muitos, vários homens, quando se deparam com uma mulher independente, tratam-na como se a mesma tivesse hormônios masculinos.
Não há mais gentileza.
Gentileza? Artigo em extinção.
Cavalheirismo? Ué sais, que bicho é esse?
Romantismo? Mas sai pra lá, que coisa mais antiquada.
Resultado: os homens, ultimamente, tem  tratado muito mal as mulheres.
Como se a mulher fosse fisicamente igual ao homem,  e não o é.
Como se a mulher tivesse obrigação, sempre, de dividir a conta, de ir à oficina, de descarregar a lenha para a lareira, de fazer e acontecer.
Não.
Há tarefas que são inerentes a quem pertence ao sexo masculino, outras, a quem é do sexo feminino, e outras, comuns a ambos.
Essa inversão de valores tem gerado mulheres solitárias e insatisfeitas, em busca de um modelo de homem que está em extinção: aquele cara bem humorado, educado, que abre a porta para a mulher passar, que acolhe, que protege.
Proteção afetiva.
Afago.
Abraço apertado.
Cumplicidade.
Afeto.
Mulher autossuficiente não deixa de ser mulher apenas por ser independente.
Tem gente que não entende esse porém, de jeito nenhum.















sábado, 13 de setembro de 2014

Para Graciela, Minha Amiga Flor

Tenho uma amiga argentina que conheci quando tinha 16 anos, e foi mais ou menos assim:
Num dia lindo do mês de dezembro de 1977, fui ao Alvear com minha mãe e, lá chegando,  minha tia Maria Luisa me convidou para ir até a casa de uma amiga sua, chama Mabel, para encomendar uma torta doce para o Natal, que se aproximava.
Como lembro tão bem daquele dia de calor, eram umas 11 da manhã e nós duas saímos por aquelas ruas poeirentas do Alvear, caminhando devagarinho, de braços dados, sob a sombra das árvores, pois Alvear era assim, não tinha calçamento nas ruas mas as árvores sombreavam todos os espaços, e o calorão diminuía com o ventinho fresco que soprava.
A casa de dona Mabel, a amiga de minha tia, distava apenas três quadras dali, uma casa antiga, grande, de paredes imensas e largas, típica moradia argentina com seu saguán (corredor) e, logo à direita, uma sala espaçosa.
Dona Mabel era linda, tinha olhos castanhos grandes e brilhantes, boca carnuda e um sorriso maravilhoso, voz clara e forte, cabelos castanho claros, curtos. Abriu a porta com um avental e um vestido estampado, vestido de verão e, sorridente, nos fez entrar.
Ela olhou para mim e falou, mas que menina bonita, es la hija de Kila? Tu es muy bonita, falou, com aquela mistura encantadora de espanhol e português.
Nos serviu um suco de pomelo bem gelado e ficou acertando os detalhes da torta com minha tia.
Lá pelas tantas, surgiu à porta da sala aquela que seria minha grande amiga, aquele tipo de pessoa que a gente conhece, convive um tempo, a vida separa mas o coração não esquece, porque o amor não tem tempo, o amor é imortal e a amizade sincera também.
Graciela é seu nome, mas todo mundo a chamava de Cotita ou Coty, e assim foi que nos conhecemos.
Começamos a conversar e minha tia perguntou, não queres ficar um pouco mais por aqui?
Eu fiquei, encantada com minha nova amiga, tão bonita e charmosa que a gente não se cansava de olhar para ela: cabelos longos, passando, e muito, dos ombros, magra, não muito alta, olhos castanho claro, a mesma boca de sua mãe, dona Mabel, um narizinho pequeno, fininho e levemente arrebitado, aquele nariz era muito show!
A Cotita parecia uma flor,  de tão delicada!
Minha amiga Cotita arrasava corações no Alvear, e logo nos enturmamos que tal maneira que, parecia, éramos amigas de infância!
Convidaram-me para almoçar.
E aí, meus amigos, eis que, quando me sento à mesa, apareceu aquele que seria meu namorado por dois anos, o irmão da Cotita, recém formado na Marinha Argentina, um moreno de arrasar, de tão lindo que era, e que grudou o olho em mim e eu nele, nem me lembro, a bem da verdade, qual  foi o cardápio do almoço, só tinha olhos para Leon, esse era o nome dele.
Dali por diante, para resumir, foi o seguinte: o verão mais fantástico que passei em minha juventude, perdidamente apaixonada pelo irmão da minha melhor amiga, mimada pela sogra e cercada de amor, afeto e carinho por todos os lados.
Sexta feira à tarde eu me mandava para o Alvear e ficava na casa de minha tia Maria Luisa, e a programação começava cedo: à tarde, íamos tomar banho no Rio Uruguai,  Leon nos levava numa caminhonete, aos solavancos, numa estradinha de terra completamente esburacada, e quem dava bola para isso?
A tardinha voltávamos, para logo mais, à noite, nos reencontrarmos num barzinho horroroso que tinha em Alvear, era o único, eu acho, mas quem dava bola para isso?
É como eu digo, quando estamos felizes e com pessoas verdadeiras ao nosso lado, todos os lugares são belos.
Fiz muitos passeios  de chalana com meu amado Leon, fui a muitos bailes com minha amiga Cotita e passei momentos extraordinariamente felizes com aquela família que tão bem me recebeu: dona Mabel, seu Leon, o pai, minha amiga Cotita e seu irmão Leon.
Esses amores, a gente carrega no peito para o resto da vida, e não há distância capaz de esmaecer ou apagar o que nos fez felizes.
Há tempos eu queria escrever para ti, minha amiga Cotita, apenas para te dizer que guardo todos vocês num lado muito especial do coração.
Apenas para dizer-te, minha amiga querida, que te amo muito!




Hipocrisias Socias

Tá tudo virado, ultimamente.
Nem ia falar sobre tais assuntos, mas é tal o volume de aberrações que vem se sucedendo que não se pode calar.
Primeiro, a questão do racismo.
Sim, nada a ver o que fez aquela jovem durante o jogo.
Agora, usar essa próxima para servir de exemplo é de uma tal hipocrisia que enoja.
O que ela fez é grave e fora de propósito.
Tá.
Mas o que vem sendo feito contra ela, de maneira sistemática, é infinitamente  pior!
Eu, sinceramente, se tivesse que ver o rosto de uma de minhas filhas, banhado em lágrimas,  estampado na capa de um jornal de grande circulação pedindo perdão, perdão, por um ato que teve muito de ingenuidade, e pouco de crime, morreria de desgosto!
Perdão?
Perdão, somente se pede a Deus, e fim de linha!
Para o resto, existe a Justiça, e ela que se encarregue.
O que ela fez foi errado, mas nada justifica o tamanho do escândalo em torno do fato, até porque tais
situações existem desde o tempo do Brasil Colônia,  e agora é essa jovem a que tem que pagar.
E pedir perdão.
E o povo todo acossando, pressionando,  julgando.
Joga pedra na Geni, joga bosta na Geni...
Essa situação já passou de todos os limites do aceitável, mas é que sempre tem um grupito que toca a manivela, e se encarrega de que  ela não pare de rodar.
Essa pessoa tem 23 anos, e garanto que muitos, muitos estavam gritando coisas até piores, mas ela foi o bode da vez.
Cambada de hipócritas, isso sim!
Na frente das câmeras, todos politicamentiiii corrrééétos; em casa, entre quatro paredes...
Ninguém discorda que essa jovem agiu mal.
Agora, esfolar a menina em praça pública é muita sacanagem.
Será que ela vai ter que ir embora do Brasil?
De sua cidade?
Do seu Estado?
Para aprender?
Para aprender o quê?
Que ela, e somente ela serviu de bode expiatório para um montão de gente reacionária, hipócrita e racista?
Agora, o casamento gay.
Mas casem, gays!
Amem-se, e vivam felizes para sempre!
O amor é um sentimento sublime, e não importa se ele se dá entre homem/mulher, duas mulheres, dois homens.
É amor, e toda forma de amor vale a pena.
Agora, a troco de que santo inventaram de fazer essa celebração - celebração, e não guerra, dentro de um Centro de Tradições?
O nome já diz tudo: Centro de Tradições, de costumes do tempo da pedra, tais como não poder dançar de saia curta e blusa decotada, e outras bobagens mais.
Querem enfiar, goela abaixo, dentro de um Centro de Tradições aquilo que vai de encontro a tudo o que ali é apregoado.
Não pode. Não dá.
Não é a união que não pode, é o local que é impróprio.
Até agora, estou sem entender qual é o papel da ilustre Magistrada que teve essa ideia, e depois andava lá, olhando os estragos provocados pelo incêndio.
Sempre aprendi que o juiz de direito tem que ser imparcial, e a ele cabe aplicar a lei ao caso concreto.
Vai ver que isso também mudou.
Tá tudo errado.
Tá tudo virado.
Assim como não se pode subir na torre da igreja e pintar a bunda de vermelho, e a ninguém é permitido ingressar numa sala de audiências de bermudão e chinelo de dedos, não dá para interferir em uma sociedade que possui um estatuto que, por seu turno, foi elaborado pelos associados.
Isso não é preconceito.
Isso são regras que foram feitas por uma entidade privada. 
Que, como tal, tem que ser respeitada.
Por que, se assim não for,  vou querer entrar numa audiência de biquíni e, se me tirarem, alegarei que estava com calor, que sou livre, que o Brasil é nosso, que estão tolhendo meus direitos de cidadã...chamem o pessoal dos Direitos Humanos, a imprensa e o síndico.
O circo estará formado.
Nós vivemos em uma sociedade organizada, e organização não é preconceito.
Mesmo que existam normas antiquadas e fora da casinha,  precisam ser respeitadas e, para mudá-las, a sociedade como um todo tem que ser consultada.
A vida em sociedade exige  limites e respeito.
Acima de tudo, coragem para deixar de lado a hipocrisia social e encarar as mudanças de frente.
Libertar-se de  tantos  pré conceitos sobre o que é, de fato, preconceito.














quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O Relho

O meu pai, meu adorado pai,  Dr. Edgard, tinha um relho.
Aliás, um não.
Eram dois, lembro-me bem.
E costumava guardá-los, postos em pé, atrás da porta da lavanderia.
Nunca entendi qual  era o sentido de guardar dois relhos atrás da porta da lavandeira, que ficava fora do corpo da casa, até um tanto distante mas, vá lá, isso era com ele.
Fato é que, volta e meia, o Dr. Edgard ia  lá, passava a mão nos dois relhos e trazia-os para a cozinha.
Sei lá...
Ele gostava dos relhos de tamanho médio que mandara fazer sob medida, de um couro fininho e trançado e cabo de madeira.
E eles intimidavam.
O cachorro, só de olhar para eles, parava de acoar e deitava-se, mansinho, aos pés do meu Pai.
A gurizada da rua, que adorava jogar pedras no portão da garagem e ficava espiando pela fresta, quando via  o Dr. Edgard levantar de sua cadeira de balanço e sair na calçada com seu relho em mãos, disparava.
Inclusive, tinha uma história que ele contava:
Quando namorava minha Mãe e ia ao Alvear, precisava  ir do Porto até o centro da cidade de carruagem, a qual era puxada por dois cavalos magros. O cocheiro surrava os pobres bichos sem dó nem piedade embora, por diversas vezes, meu Pai tivesse pedido a ele para que parasse. Lá pelas folhas tantas, furioso com a situação, mandou o cocheiro parar, e descer. E deu uma surra de relho no cocheiro que, segundo dizem, apanhou mudo, e foi tamanha a repercussão do fato que o mesmo desapareceu do mapa e foi embora do Alvear.
Acredito que, de tanto ver e ouvir contar histórias com os tais relhos, também passei a nutrir por esses objetos uma especial predileção.
É que eles me fazem lembrar do meu Pai, e de uma lição que aprendi com ele e carrego comigo: não se leva desaforo pra casa. Dá de relho...
Isso me marcou, meus amigos queridos.
Essa frase, trago-a gravada no peito.
Para escândalo do poliiiitiicamentiiii corréééétos, obviamente.
Então, certa feita, tinha uma criatura que andava infernizando minha vida.
Eu pensei, pensei, pensei...
Engoli.
Mas, um belo dia, a frase, a famosa frase do meu Pai ficou bailando na minha frente: não se leva desaforo pra casa. Dá de relho...
Eu sorri, ri alto para os meus botões.
Um relho, um simples relho, foi o que resolveu a questão.
Apenas mandei um recadinho: me deixa em paz, ou vais apanhar de relho...
Como todo covarde, que na hora do pega, dispara, essa pessoa nunca mais me incomodou.
Se assustou com a possibilidade de levar uma tunda de laço, aliás de relho, de uma mulher: eu.
É.
Tomara que não.
Mas, vai que um dia...



sábado, 6 de setembro de 2014

A Sombrinha Vermelha

Lisiane tinha uma sombrinha vermelha, pela qual nutria especial predileção. Comprara-a nas Lojas Renner num dia de sol mas, da vitrine, a sombrinha estava ali, olhando para ela, e não importavam nem a hora - imprópria, estava com os minutos contados, nem o valor -  longe do final do mês o dinheiro era curto, mas ela precisava comprar aquela sombrinha.
Aquela.
Entrou na loja, pediu para vê-la e, de perto, encantou-se ainda mais, pois a sombrinha vermelha parecia ter vida própria, tão exuberante era.
O cabo era de madeira, firme, forte. O tecido era um misto de gabardine com seda,  um tom de vermelho perfeito, nem muito claro que beirasse o laranja, nem muito escuro que parecesse vinho.
Não.
Era vermelho.
Encarnado, a cor predileta de Lisiane.
Olhou, abriu e fechou a sombrinha e ali mesmo decidiu: iria comprar aquele objeto do seu desejo.
Saiu dali radiante, empunhando sua nova aquisição como se a mesma fosse uma joia de incomensurável valor.
É que, na verdade, a sombrinha, embora linda, era o de menos.
O importante era que Lisiane havia bancado seu desejo.
E, naquele gesto simples, ela entendeu tantas coisas de sua vida...
Era infeliz, e sabia, mas não tinha coragem de mudar e chutar o pau da barraca.
Não gostava da profissão, mas lhe faltavam forças para colocar um ponto e começar algo novo.
Queria sorver da vida até a última gota, mas tinha medo de voar.
A compra da sombrinha vermelha foi uma carta de alforria para Lisiane.
Ela saiu da loja decidida a mudar e mandar para longe tudo o que atravancava seu caminho e terminava com sua alegria.
Foi lá,  e fez.
Hoje, um dia chuvoso e cinza,  lembrei dessa história que me foi contada.
Associei o tempo à sombrinha vermelha mas, sobretudo, àquilo que ela simbolizava: o poder ser, o querer, a liberdade, o fato de andar sobre as próprias pernas e ser dona de si.
O poder da escolha.
Pois, embora sejamos seres com plena capacidade de discernir o que é bom e o que é ruim, o que nos agrada e o que nos faz feliz, muitas vezes  precisamos de algum objeto que nos faça enxergar tais valores.
Algo que nos sirva de amparo em dias de chuva.
Mesmo que seja uma simples sombrinha vermelha!



quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Edegariana

Edegariana é um estado de espírito que me é peculiar, isto é, aplica-se àquele dia em que acontecem determinados fatos que me tiram do sério.
E digo, quando tenho uma reação edegariana, que a mesma é uma maneira de homenagear meu Pai que, quando provocado, era um Deus nos acuda.
Nisso, em parte, diferimos.
Importante que se diga, e se frise, que não costumo reagir na hora h.
Não.
Quando sou agredida, de modo geral, me calo.
É que me pega de surpresa, de onde não espero, e minhas reações, invariavelmente, são as seguintes: primeiramente, fecho a boca, o sorriso é o primeiro a debandar.
Em segundo lugar, sinto que minhas narinas de abrem, tal como um bicho acuado quando sente o cheiro do perigo.
Por derradeiro, passo a olhar bem para o meu interlocutor, presto muita atenção naquele ser que sofrerá, oh, sim, será vítima de minha vingança maldosa e maligna.
Sou exatamente assim, mas também sei ser imprevisível, como costumam ser os geminianos autênticos, e é preciso um pouco de manha para saber lidar com estes e outros detalhes tão pequenos do meu ser.
Pois tenho sempre um sorriso largo e um abraço à disposição dos meus amigos e dos meus afetos.
Entretanto, também é verdade que  guardo um cantinho especial para aquelas pessoas que pensam que me conhecem e vem me cutucar com vara curta.
E o que viria a ser uma vara curta?
A lista é longa.
O que me  tira do sério é a mentira.
Aquela falsidade toda escorrendo, feito uma baba nojenta pelo canto da boca, delatada pelo olhar.
Quer saber se alguém está sendo verdadeiro? Olhe no olhos da pessoa, e você terá sua resposta.
Dois pesos, duas medidas, outro item de minha lista.
Pois se é assim, por que, um tempo depois, tem que ser assado?
Tampouco me agradam os invejosos - bueno, isso merece uma postagem à parte.
Gosto das coisas claras e ditas olhando no meu olho, pois respostas dúbias dão margens a interpretações errôneas.
Dissimulação, outro item da listinha básica que me deixa possuída.
Fiz todo esse floreio para falar que meu Pai, o Dr. Edgard, era afável, risonho e extremamente companheiro, para ele não havia tempo ruim.
Mas quando saía do sério...
Depois que ele foi embora - e hoje faz 11 anos e, não por casualidade, eu estava pensando na melhor forma de traduzir meu aborrecimento com algumas circunstâncias quando me veio à cabeça sua presença num dia de temporal, sempre penso nele en las buenas y en las malas, fiquei pensando o que ele faria se estivesse no meu lugar.
Então, respirei fundo e sorri.
Senti, dentro de mim, uma força muito grande, a força do Dr. Edgard.
Senti-me completamente Edegariana.
E aí, tudo clareou, algo como abre alas, que eu quero passar.
Eu vou passar.
De trator.
Por cima de você!






segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Em Setembro, A Primavera!

Eis que, finalmente, chegou Setembro com toda a força da alegria que lhe é peculiar.
O vento, levemente Norte, não pode faltar, fazendo cair sobre nossas cabeças as folhas das árvores e fazendo redemoinhos entre as sujeiras das ruas.
Nada disso importa a nós, mortais, que estávamos esperando, ansiosamente que agosto,  o mês aziago, o mês do cachorro louco e do desgosto fosse embora de vez.
E foi.
Para brindar  nossa paciente espera, Setembro chegou soberano, trazendo um sol imenso e um céu azul, dia mais que perfeito para dar início às comemorações da Semana da Pátria.
Não há cristão que resista a um rufar de tambores, aos clarins e às saias esvoaçantes das balizas.
É tudo muito lindo, é sinônimo de alegria, ver toda aquela juventude postada em frente a Praça, engalanados com seu melhor uniforme, as botas brilhando, as luvas, os quepes com seus penachos vermelhos, brancos, azuis, verdes, amarelos.
Todas as cores de nossas bandeiras, todas as cores do Itaqui, do Rio Grande e do Brasil ali representadas.
Fomos submetidos, os Itaquienses, a um longo inverno, que trouxe a enchente do Rio Uruguai e causou tantos estragos e tamanha desolação que a gente sentia vontade de chorar ao deparar-se com aquele quadro.
As águas foram embora e restou aos Itaquienses limpar a sujeira, o barro, reconstruir, lavar, pintar.
Que mês longo foi agosto, com sua carranca.
Hoje, finalmente, chegou Setembro!
E veio a pleno, como um cavaleiro da esperança, arauto de boas novas e de dias melhores e mais felizes.
Os pássaros, já no alvorecer, deixaram seus ninhos cantando, loucos de felicidade com a temperatura amena e quando o primeiro raio de sol apareceu, todas as flores se abriram para saudá-lo.
Setembro chegou, graças a Deus.
Semana da Pátria, Semana Farroupilha e a gauchada se assanhando novamente, pois a vida segue e a Primavera está quase aí, com seus perfumes e seus dias coloridos.
Novos ventos soprando, gente nos parques, praças e nas ruas, saudando a nova estação.
Terminou nosso longo inverno, graças a Deus.
Que Setembro nos seja propício!

Uma semana maravilhosa a todos!