quinta-feira, 31 de julho de 2014

Salto Alto, Meia Calça e Batom

Elegância deveria ser um quesito obrigatório para quem trabalha na TV, fazendo a exposição da figura.
Não é isso que tenho visto.
Ultimamente, tem chamado minha atenção o fato de algumas mulheres  aparecerem na TV como se estivessem indo à padaria da esquina comprar meio quilo de bolacha ou um pacote de erva.
São artistas,  jornalistas, apresentadoras, e todas, mas todas, aparecem na telinha sem meia calça, sem batom - ou melhor, com um batom cor de boca, isto é, aquilo que é qualquer coisa menos um batom, porque te deixa com cara de morta, e vestindo sapatos de salto baixo, tipo vovó, ou uma sapatilha,  muito bonitinha, é verdade, mas que acaba com o visual.
Com uma TV de alta definição a gente vê tudo, até o que não seria prudente enxergar, e a ausência desses itens que citei acima arrasa qualquer produção.
Se é que há alguma, chego a pensar.
Sim, porque aparecer em horário nobre com as pernas mais brancas que as de uma barata descascada, os joelhos alvos à mostra, batom cor de boca e sapatilha, é pra matar.
É a treva!
Dia desses, uma apresentadora estava com um vestidinho florido com  saia godê,  acho que saiu direto dos anos 50( eu nem era nascida, ahahahaha!) para estar ali, na poderosa Globo, pagando aquele mico.
Como se não bastasse, estava com um rabo de cavalo, um toquinho, pois o cabelo da criatura é curto.
Francamente!
Por mais que os entendidos digam que é bonito,  acho um vestido vintage o cúmulo de feio, nem sob tortura eu usaria um modelito desses.
Assim como nunca jamais passaria um simples batom cor de boca, para ficar com cara de múmia paralítica.
Eso, jamás!
Que não dizer, então, de usar uma  saia sem meia calça e com um sapato de salto médio, igualzinho ao que minha avó Adelaida usava?
Mas tô louca! Nunquinhas!
Aliás, não tenho um único sapato sem salto, e nem pretendo ter.
Posso estar morrendo de dor no tornozelo, como estou há dois dias e tenho certeza, embora não tenha  ido ao médico ainda, que rompi algum ligamento, tendão, desconheço o nome correto, e tudo é culpa dos saltos altos que uso.
E que não deixarei de usar, mesmo que ande meio capenga!
Não, não senhor, me rebelei contra isto e que Deus me ajude e não permita tamanha judiaria, logo eu, ter que andar com sapatito de vieja.
O primeiro sapato de salto alto que vesti foi um scarpin de veludo preto que minha Mãe tinha e usava quando ia a festas.
Que sapato!
Salto alto - 10 centímetros - um salto de fundamento, bico fino e nada mais, e nem precisava.
Eu tinha tara por aquele sapato, deveria ter uns 7, 8 anos, e ele ficava nadando no meu pé mas, sempre que podia, eu tirava ele do armário e saía pela casa afora, batendo salto.
Depois dos 13, ninguém mais me segurou, saltos pra que te quero.
Vejam que meu caso de amor com o salto alto já dura 40 anos, e um amor assim não será um reles tendãozinho rompido que irá abalar.
Pernas brancas, boca nude e salto baixo é para as fracas.
Entonces, empoderáte,  põe uma cor na boca e sobe no salto.
Depois me conta...
















Viagens de Trem

Viajar é uma delícia, e quando vou de trem, melhor ainda.
Um espetáculo!
Tenho o espírito de viajante e herdei de minha Mãe Maravilha, que sabia de tudo, o gosto por uma boa viagem.
Só o fato de quebrar o circuito a que estamos acostumados e sair já vale o esforço de arrumar tudo, bater a porta y tchau, Perico!
Desligar-se.
Melhor ainda se levar o mínimo, fica  mais divertido, a gente se vira com aquela roupa,   improvisa e põe a imaginação para funcionar.
Minha Mãe e eu viajamos muito juntas, e  nossa parceria funcionava divinamente.
Tinha uma tia que morava na cidade de Concordia, Província de Entre Rios, e para lá íamos de trem.
Uma aventura e tanto!
Saindo de Itaqui na última lancha para atravessar o Rio Uruguai até a outra margem, onde fica Alvear, esperávamos até as 22 horas o trem que saía diariamente com destino a Buenos Aires ( para onde também fomos várias vezes)e chegava em Concordia às 7 da manhã.
Aquele trem, que era enorme, tinha diversos tipos de acomodações: simples, o que equivale a uma poltrona de ônibus, executivo - somente um único vagão com poltronas estofadas e imensas, e o carro leito, com cabines onde havia um beliche, uma mesinha de canto e uma pia.
Aquelas viagens costumavam ser maravilhosas, nós entrávamos e, após acomodar a bagagem de mão, íamos até o vagão restaurante, para cenar. Havia diversas opções de pratos, com carne, com  frango, e a indefectível ensalada rusa, uma delícia!
Após a janta, voltávamos aos nossos lugares e logo, logo, estávamos dormindo, pois àquele balanço suave do trem, aliado ao som, não tem cristão que resista.
Acordávamos às 6, 6:30, e tomávamos um excelente café e, mais meia hora, avistávamos a estação de Concordia, linda, antiga mas muito bem cuidada, e minha tia Albita, parada na plataforma, com as chaves do carro na mão, observando ansiosamente as janelas dos vagões que se aproximavam.
Saudade imensa sinto dessa minha Tia tão amada, que nos recebia naquela fantástica casa que possuía,  a três quadras da praça de Concordia, um casarão de cinema, de tão lindo que era!
Amavam-se tanto, ela e minha Mãe, que não paravam 1 minuto sequer da falar, de rir, de trocar abraços.
Domingo era o dia de voltar e, no mesmo horário - 22 horas, lá estávamos outra vez, eu e a Mãe, esperando o trem que nos traria para Alvear; abria o Porto, e vínhamos para Itaqui.
Quando estive na Europa  também andei de trem, subi em Frankfurt e desci numa cidade do interior da Alemanha.
Não foi a mesma coisa, pois ele andava tão rápido que não se podia ver a paisagem, que era apenas um borrão verde. Fiquei tonta e, quando desci, não me senti nada bem.
Já fui de trem de Uruguaiana a Porto Alegre, acreditem! Que viagem!
O trem me fascina, os ruídos, os vagões, os trilhos e, claro, a paisagem.
Sem pressa, sem estresse, sem empurrões ou passageiros mal humorados.
Afinal, estamos viajando, e é aí que está a graça de uma viagem: acrescentar bons momentos à vida da gente.






quarta-feira, 30 de julho de 2014

O Formal de Partilha

Muitas vezes lutamos, denodadamente, por algo que almejamos.
É o que nos faz mover céus e terras, pois queremos crer que o objeto do nosso desejo, e somente ele, será capaz de aplacar as faltas e as ausências.
Durante cinco longos anos, lutei muito para ficar com a casa de meus Pais. Chorei, briguei, fiz as propostas mais absurdas e até as que, economicamente, não me favoreciam.
Sempre ouvi um rotundo não.
Um dia, tive que optar entre seguir guerreando ou manter minha saúde, e escolhi esta última.
Mas não foi fácil.
Posto assim, dessa forma simples, fica tudo tão pequeno...
Em minha vida, renunciar à casa paterna foi uma hecatombe emocional e, ainda hoje, muitas perguntas permanecem sem resposta.
Deus quis assim, pois foi Nele que me amparei e foi Ele que me mostrou tantas coisas que eu não entendia.
Por isso, cada vez que esse assunto me assombra, procuro logo deixá-lo para trás, pois Deus decidiu, punto i basta.
Após dez anos e sete meses, recebi  meu Formal de Partilha.
Olhei aquele documento e nem sequer o abri, não senti alegria e nem tristeza, apenas um imenso cansaço.   Recordei de tantas coisas desagradáveis que vivi que, mais vale, melhor seria se ele não existisse.
Ao vê-lo, sentei num cantinho e chorei.
Chorei por tudo e por todos, por mim mesma, pelos anos de batalhas travadas, algumas úteis, outras tantas inúteis.
Que lições tirei de tudo isso?
Muitas.
A primeira é a de que a paz não tem preço.
Então, antes de ir para a guerra, pense bem.
Entretanto, si vis pacem, para bellum, diz o provérbio latino.
É verdade.
Nada vem assim de mão beijada, não para mim, nunca veio.
Sempre tive que lutar muito para defender o que por direito me pertencia,  e as minhas filhas.
Lutei e baguncei o coreto nestes anos todos, talvez pudesse ter ficado sentada sem fazer nada,  mas isso seria ir contra minha própria natureza.
Talvez pudesse ter me conformado.
Nunca me conformo com nada, este é meu maior defeito! Depois que embesto e sinto que tenho razão vou até o fim, ainda que me custe, como me custou.
Optei pela guerra, e a guerra deixa marcas: no rosto, no coração, na alma.
Não é fácil enfrentar um conjunto de forças, mas eu enfrentei, e a sensação que sinto é a seguinte: nadei, nadei e, graças a Deus, não morri na praia.
A vida se encarregou de afastar de mim pessoas que não me queriam bem, e eu também aprendi a me afastar delas.
Um exercício dificílimo, mas extremamente necessário.
Segunda lição: a amizade é um caminho de duas vias, um vai e o outro vem.
Quem fica meses sem te dar notícias e só se lembra de Santa Bárbara quando troveja é porque não te ama.
Terceiro: encare o touro de frente e pegue-o à unha!
E, finalmente, quando Deus fecha uma porta - e, no meu caso, a porta da casa paterna se fechou para mim, te compensa regiamente.
De outras formas, com outros desenhos, pintando um quadro novo.
Ou deixando a nossa frente uma imensa tela em branco e uma paleta de cores, para que possamos pintá-la e colorir a vida outra vez.




Fotografias

Sou apaixonada por fotografia!
O ato de fotografar capta o momento, a emoção, a expressão, a luz e, dependendo da foto, dá até para sentir o cheiro do perfume, das flores, das iguarias, o cheiro fétido, a falta de tudo, o vazio.
Lembrei-me disso quando ontem, no Caderno Viagem de ZH, vi a foto de uma pessoa parada na calçada do Moulin Rouge, sorridente e feliz, como se costuma estar em Paris.
Tem até uma piadinha velha que diz o seguinte: dinheiro não traz felicidade, por isso, decidi ser infeliz em Paris...
Fotografias,  tenho-as aos montes, centenas delas, desde o dia em que completei 1 aninho onde, apesar de ser preta e branca, a foto retrata à perfeição o sorriso de minha Mãe, a alegria de meu Pai, o bolo em formato de piano, os doces, os presentes e os convidados.
Belíssima foto, tão linda quanto a que tenho com meu irmão Caito, às margens do Rio Uruguai, aos 2 anos, igualmente preta e branca, mas de uma expressividade enorme.
Tenho fotos de todos os momentos importantes da minha vida e com as pessoas que amo, ou que um dia amei e com quem não convivo mais, mas elas estão lá.
Registro, esse é o nome.
A feição e olhar de cada um, naquele dia, naquela hora, não deixa dúvidas sobre o sentimento que estava dentro do coração.
São tantas as fotos que tenho que, num dia qualquer, quando decido vê-las, misturam-se as emoções, pois ali estão, fielmente retratados família, amigos, amores, colegas, viagens, paisagens.
Um verdadeiro passeio pelo tempo.
Em suma, momentos únicos.
Por isso, ao ver a foto daquela mulher sorridente, em frente ao Moulin Rouge, não pude deixar de lembrar que, há muitos anos, quando fui a Europa pela primeira vez, posei nesse mesmo local e, depois de revelada, minha foto ficou tão parecida com a que vi no jornal de ontem que lembrei, não sem uma ponta de raiva, de um fato que me aconteceu.
Ninguém tem o direito de roubar nossas fotos.
Ninguém!
As fotos fazem parte da vida da gente, e a ninguém é dado ficar com o que não lhe pertence.
Relato isto porque, 4 anos depois daquela viagem, durante uma mudança, meus dois álbuns de fotos e um diário de viagem - um caderno pequeno de capa laranja que comprei tão logo cheguei a Lisboa, onde escrevi tudo, tudinho - um tesouro, na verdade, sumiram do mapa.
Evidentemente, alguém surrupiou meus álbuns e meu caderno, disso, tenho absoluta certeza.
E para que?
Quem ficou com minhas lembranças sabia muito bem que elas me pertenciam, pois estava escrito, tanto nos dois álbuns quanto no caderno, meu nome e sobrenome.
Então, daquela viagem de dois meses pela Europa, ficaram somente as lembranças.
Uma pena, mas não para mim.
Tenho é lástima de alguém que deveria ser  tão pobre e miserável,  que precisava roubar as  fotos dos outros para sentir, quem sabe, um pouco de prazer.
Hay de todo en la viña del Senõr!

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Rábulas

O mundo está infestado de rábulas!
Estamos rodeados de pseudo advogados, gente que não tem formação, não entende um pito de nada mas opina.
Opina mucho.
Se mete demais.
E, metendo a colher onde não deve, entorna o caldo ou, definitivamente, deixa-o azedo.
Como vemos esse tipo de gente se imiscuindo nas lides que são típicas dos Advogados.
São pessoas bem intencionadas?
Apenas metidas?
Se acham a última bolachinha recheada do pacote?
Ou, simplesmente, são tão arrogantes que pensam que os Advogados são um bando de otários e que somente aquela pessoa, inteligentíssima e altamente esperta será a salvação da lavoura?
Seja lá como for, entendo o seguinte: quem não tem formação para, não se meta, pelo amor de Deus!
Cada leitão com sua teta, para usar uma expressão grosseira que li, dia desses, o equivalente a cada um no seu quadrado, cada macaco no seu galho, e por aí vai.
E os grandes causídicos, que nunca, em tempo algum tiveram uma triste aulinha na Faculdade de Direito, dizem cada asneira que dá vontade de sair correndo.
Fato, meus ouvidos começam a doer e meu cérebro não consegue registrar o volume de sandices e afirmações que beiram às raias do ridículo.
São assertivas que não tem qualquer fundamento, mas são postas de tal modo que parecem verdades.
Essas pessoas esquecem de alguns detalhes.
Detalhes ínfimos, é verdade, mas são eles que fazem a diferença.
Ou melhor, graças a eles, o cidadão se torna um Advogado.
Olha que listinha básica:
Concluir o ensino médio;
fazer vestibular;
passar;
cursar 5 anos;
cursar ao vivo e a cores, à distância não vale;
fazer a monografia;
apresentar a monografia;
ser aprovado em todas as matérias;
colar grau;
levar o Diploma a registro;
fazer o Exame de Ordem;
passar;
receber a Carteira da Ordem dos Advogados do Brasil.
E então?
Viu como é fácil?
Pois é.







Mudança

Na contramão da humanidade, adoro mudança.
Assim como acho o máximo quando termina o domingo e começa a segunda feira, onde tudo se reinicia.
Quero dizer, com isso, que nada que fica igualzinho dentro do vidrinho me completa e me faz feliz, ao contrário: o marasmo me deprime, enquanto que o movimento, para mim, significa evolução.
Avanço.
Hoje, para inaugurar minha segunda feira, recebi, com imensa alegria, duas propostas.
Propostas, apenas.
Ideias que, do sonho à realidade, passarão por diversos crivos, quem sabe nem se concretizem.
Mas o mais importante de tudo,  realmente, é não parar de sonhar, é  firmar o pensamento naquilo que tanto desejamos que as coisas irão, mesmo que lentamente, tomando forma.
Imaginem vocês, meu amigos queridos, a felicidade desta geminiana ao ouvir tantas coisas boas e, no fundo, a palavrinha mágica: mudança.
Mudança de rumo, de ramo, de direção, novos ares, outros nortes.
Que espetáculo!
Apenas ouvi, e confesso que me deliciei com o que estava sendo posto, em questão de minutos meu pensamento foi e voltou diversas vezes,  pois aí está uma coisa que não me causa temor nem preguiça: mudança.
Seja para embalar meus incontáveis badulaques,  ou sair e deixar tudo para trás, ir apenas com a roupa do corpo, como se diz, e começar do zero, e encontrar um espaço vazio a ser preenchido com o tamanho dos sonhos e de acordo com os projetos e possibilidades.
Isso é mudança, mudança é movimento, movimento é vida.
Não há, portanto, frase melhor para definir meu jeito de ser, e é a que está ali no alto, no meu perfil: a vida é uma janela aberta para o imprevisível.
E quero pensar e crer nas coisas boas que somam e acrescentam, e que nos tornam melhores.
Segunda feira, 28 de julho de 2014.
Que dia incrível!

Uma semana maravilhosa a todos!

domingo, 27 de julho de 2014

Empezando a Caminar

Percorrer o Caminho de Santiago de Compostela é um sonho que há muito venho acalentando.
Dizem que, quando você começa a pensar em fazê-lo,  é porque já começou a caminhar.
Não duvido dessa assertiva, considerando que, até chegar a Espanha e, efetivamente, receber o Passaporte do Peregrino e o cajado que o ajudarão a percorrer os quase  800 quilômetros de Roncesvalles até Compostela, muito precisa ser pensado e preparado.
Confesso que sinto medo.
Primeiramente, da viagem de avião, que não me agrada para nada, mas será necessário enfrentá-la para chegar a Espanha ou a França, pois são várias as alternativas para a primeira etapa dessa peregrinação.
Segundo, deixar tudo para trás e sair apenas com uma mochila nas costas é fascinante, só que não deve ser fácil.
Entretanto, o Caminho vai te dando forças para começar a contornar e a superar os obstáculos que se apresentam.
E como acredito que nada é por acaso, quando li os livros sobre a vida de Santa Teresa de Ávila, da qual sou devota e que me ajudou diversas vezes a percorrer veredas difíceis, ficava pensando de que forma Ela, no ano de 1550, em que começou com suas Fundações, andava por aqueles caminhos da Espanha.
Sem medo, apenas com o desejo de deixar aquelas obras feitas.
Realmente, um verdadeiro milagre.
Creio ter surgido daí  a ideia de fazer o Caminho de Santiago de Compostela, uma coisa levou a outra, eu pesquisava sobre as Fundações de Teresa de Ávila e o Caminho surgiu a minha frente...
Talvez eu nem faça essa viagem.
Ou sim, não sei.
Fato é que as coisas estão se encaminhando para isso, despacito pero no mucho, para não perder o embalo e, a cada dia que passa, mais e mais a ideia de ir vai tomando corpo.
Também penso que Deus sempre nos mostra o que é melhor e, desta feita, não será diferente pois, além Dele, terei o Apóstolo Tiago a guiar meus passos.
Então, Ultreya e Suseya!




sábado, 26 de julho de 2014

Infusão de Alecrim

Pegue um maço de alecrim, coloque num grande panelão com bastante água e deixe-o ferver em fogo baixo, por algum tempo, uma meia hora, pode ser.
Aquele perfume se espalha pela casa toda, purifica e manda os maus fluídos para bem longe, deixando o astral do seu doce lar leve e agradável, pois o alecrim, dizem, é uma erva que traz alegria.
Também dá para colocar, junto, um galho de manjericão e um ramo de hortelã, e o perfume ficará ainda melhor.
Levo muito a sério essa questão dos bons e mais fluídos, principalmente quando alguém muito negativo se aproxima de mim.
Notável é que, quase que de imediato, começa a doer meu estômago e na cabeça principia um martelar leve, lá no fundo que, dependendo do caso, poderá aumentar ou evaporar-se.
As pessoas carregam suas energias, disso não me cabe a menor dúvida.
Aliás, nem sei de onde vem isso, jamais fiz qualquer  estudo sobre o tema, mas fato é que sinto as vibrações.
Talvez fosse melhor ficar na ignorância...
Têm pessoas que são tão pesadas que, mesmo estando em plena luz do dia e sob o sol, cerca-as uma aura escura e densa como uma neblina.
Com o passar do tempo, vamos nos tornando mais seletivos, e a medida de nossa paciência vai diminuindo consideravelmente, ao contrário do que muitos erroneamente pensam.
O tempo vai se encarregando de filtrar o que nos interessa,  e aquilo que é supérfluo e que nada acrescenta, a não ser chatice e, pior ainda, amargura, bom será que mandemos embora.
Quando fiz 40 anos, prometi a mim mesma que não faria mais nada que eu não tivesse vontade, desde que aquilo não prejudicasse ninguém.
E tal promessa se deu em razão de minha imensa dificuldade em dizer não, em ser ríspida,  e de não conseguir ficar muito tempo séria.
Muitas pessoas confundem simpatia com idiotice, boa educação com propensão à síndrome do capacho, solicitude como uma constante permissão para invadir a praia do outro sem pedir licença.
Até que consegui algumas vitórias, mas ainda não estava do jeito que eu entendia que deveria estar.
Aos 53 anos, decidi radicalizar, especialmente em relação aos casos crônicos de gente grossa e mal educada.
Simplesmente, não tolero mais.
Talvez por isso eu ande,  ultimamente,  fervendo braçadas de alecrim... 
Sempre ajuda.



sexta-feira, 25 de julho de 2014

Mateando Solita

Ah, se não fosse este amigo fantástico que possuo chamado mate, não sei o que seria de mim!
Parceiro de todas as horas, meu matecito me acompanha há muitos anos, en las buenas y en las malas.
Sem ele, meus dias e noites e madrugadas de estudo não teriam sido levados a cabo, pois o sono teria me vencido.
Com ele, meus primeiros tempos de Porto Alegre ficaram menos difíceis, eu pegava minha cuia e ficava ali, lembrando do meu Itaqui e todas as pessoas que estavam longe de mim, com uma saudade infernal mas, lá pelas tantas, depois de uma meia dúzia de mates, a coisa ia melhorando.
O meu amigo sempre conseguiu me acalmar.
A cuia é como um abraço que me acolhe.
Meu companheiro fiel e inseparável, alegra minhas manhãs de sábado e de domingo, pois, nesses dois dias, não preciso sair de casa cedo e por isso com ele me deleito, observando o dia que recém está começando.
Reinam, absolutos, o silêncio e a paz.
É a hora do dia que mais aprecio e na qual costumam surgir as ideias e soluções.
Nos fins de tarde ele me recebe, a cuia posta sobre o balcão da cozinha, a erva, a bomba e a chaleira e, enquanto preparo aquela delícia, espio pela janela o sol indo embora, os pássaros voando para seus ninhos, as flores, que também vão se recolhendo.
Meu mate, meu grande amigo!
Ele me ouve, aquece minhas mãos quando está frio, esquenta minha alma, observa quando estou triste e deixa que minhas lágrimas caiam sobre a erva sem reclamar, ao contrário, parece dizer, chora que eu te consolo, enquanto estás aqui, mateando solita.
Quando estou longe dele, sempre costumo pensar: porque não veio comigo? Quanta falta me fazes, matecito!
Posso estar com um problema grande para resolver ou uma vitória para comemorar, ali estará meu mate, a toda certeza, celebrando ao meu lado.
Por ser tão especial para mim, dediquei a ele o nome deste blog.
O mate faz parte da minha vida e conta, junto comigo, a minha história.
Entonces, matecito amado, vamos, una vez más, a sentarnos calmamente para una charla: tengo muchas cosas para contar-te!

Desejo a todos os queridos amigos um fim de semana hermoso!





quinta-feira, 24 de julho de 2014

Limão Azedo.

Ele ainda é um homem bonito.
Lindo, poderíamos dizer, do alto de seus 65 anos.
Fora um morenaço em sua juventude, aquele tipo de cara com quem todas as meninas sonhavam, queriam namorar, noivar e casar.
Inteligente, bem nascido, curso superior, muito bem empregado, ganhava uma nota preta.
Tinha o carro do ano e, nas férias, ia para Cancún, pois refrescar-se nas águas do mar do Caribe era a pedida.
Excelente família, bela casa, pais amorosos, irmãos, idem.
Mas, havia um porém.
Sempre tem um porém...
O mau humor.
O gênio era, e é,  atroz.
Sempre gritando com as pessoas e tratando-as com arrogância.
E, digam-me, em sã consciência, quem suporta uma pessoa arrogante?
Pois ele era assim, ao tempo em que ainda convivíamos.
Impunha sua presença aos gritos, com um olhar por vezes tão duro que aos mortais nada mais restava, a não ser baixar a crista e sair de fininho.
E ele ficava lá, com sua empáfia, muito bem instalado na poltrona importada de seu escritório, observando o tamanho do estrago.
O mau humor e a prepotência beiravam às raias da estupidez, e assim ele agia, de modo permanente.
Nada estava bem, nada era bom o suficiente para satisfazer, bem, satisfazer não é a palavra adequada, certo mesmo seria dizer, nada nunca era suficiente para deixá-lo feliz
Leve.
Pergunto-me onde, em que parte do caminho, o meu amigo perdeu a alegria e o savoir vivre?
Lástima grande é que o mau humor colou de tal forma em seu modo de ser que  faz parte dele, e a tal ponto que poder-se-ia defini-lo assim: o sujeito é um limão azedo.
Como Deus é infinitamente bom e justo, para minha felicidade, essa criatura mora bem longe de mim e raríssimas vezes falo com ele, salvo extrema necessidade.
Como foi o caso, hoje.
O fel vertia pelo telefone e eu, após ter desligado, deixei cair algumas lágrimas.
E  por que chorava eu?
De pena!



Bom Dia, Deus!

Talvez tenha sido o frio, quem sabe a chuva.
Na verdade, o dia estava cinzento.
Gris.
E como não gosto dessa cor, que para mim é sinônimo de tristeza, conforme referi em outra ocasião, senti meu coração tão apertado que decidi recorrer a Ele.
Ele, aquele que me fortalece.
Estava tomando café quando escutei sua voz, alta e clara:
O que pretendes?
Foi como o despertar de um sonho, e todas as perguntas e repostas convergiram para um único verbo: agradecer.
A partir dali, as palavras brotaram aos borbotões, e formaram frases, e essas, meus queridos amigos, quero partilhar com vocês:
Deus, que habitas em todos os lugares e estás sempre no coração dos homens que acreditam em Ti, neste dia, mais um dia, venho a tua presença para agradecer todas as coisas magníficas que me proporcionaste, e as bênçãos que continuamente envias a mim, e a minha família.
Obrigada, Senhor, pois colocaste em meu caminho tantas flores lindas, coloridas e perfumadas que não há como não pensar que estás sempre ao meu lado.
Agradeço-te, Deus, pois colocaste em meu caminho tantas pedras e obstáculos, foram tantas as estradas tortuosas que tive que percorrer, os atalhos íngremes que precisei vencer, que não há como não pensar e crer que, para conseguir transpô-los e não cair nos precipícios que se apresentavam, tive sempre, em todos os momentos, Tua mão poderosa a me guiar e a me segurar.
Obrigada, Senhor, pois todas as vezes que tropecei,  Teu braço forte me levantou e Teu abraço de pai amoroso me acolheu, dando-me uma força tão grande que nem eu mesma conhecia e supunha ter.
Obrigada, Deus, pela energia positiva, pelo Sol, pelo ar que respiro, pelas pessoas que me cercam, pelos amigos que conquistei, pela família que construí.
Obrigada, Deus, por teus Santos e Santas,  que jamais deixam de interceder por mim.
Obrigada por tua Mãe, minha doce Mãe, Virgem Maria, que sempre vem secar minhas lágrimas com seu amor maternal e sua ternura sem fim.
Obrigada!
Bom dia, Deus!
Sei que, contigo ao meu lado, nunca estarei só.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Leitura Urgente

Comecei a ler o livro ao qual me referi na postagem de ontem - a Verdade Sobre o Caso Harry Quebert.
São 562 e já estou na página 102 e não consigo parar de ler, simplesmente dei uma de louca e cancelei todos os compromissos da tarde para poder me jogar no sofá com o livro em mãos para devorá-lo.
Lá pelas folhas tantas, abateu-se sobre mim um sono tal que, quando me dei conta, estava caída sobre uma parte do sofá, acho que sonhei que ainda estava no ônibus mas, assim que me orientei, tratei logo de fazer um cafezinho preto, o qual saboreei com alguns biscoitos que estavam dando sopa no armário e me refiz para prosseguir na leitura.
Quando tenho um livro assim eu, que sei o total de páginas, fico pensando que ele vai terminar e ainda bem que falta bastante, afinal, 450 páginas não são qualquer folhinha.
Vejam a que ponto cheguei, o de ficar contando as páginas que faltam para o final.
É a treva!
Que programa fantástico, perdoem-me, amigos, se sou repetitiva ou, como diz minha filha Rita, cansativos repetecos, mas sou simplesmente alucinada por livros.
O livro te faz viajar e visitar lugares, conhecer costumes de outros povos e até repensar certas coisas da vida da gente.
Eu, por exemplo, que adoro livros de suspense - que leio desde que o Alberto esteja em casa e depois de ter conferido que as portas estão fechadas, muitas vezes me pego pensando no quanto gostaria de ter trabalhado na Polícia, mas logo me convenço que não.
Com este gênio mezzo italiano mezzo argentino, tenho certeza que rodaria já no psicotécnico, pois paciência com gente mentirosa e bandida não faz, definitivamente, parte do meu eu.
De igual modo, como nasci e me criei no Bairro Cerrinho Dois Umbus e estudei no Grupo Escolar Felipe Néry de Aguiar, onde resolvíamos nossas pequenas escaramuças a pedradas, sou um ser um tanto quanto selvagem e isso, a toda certeza, refletir-se-ia no trato com a bandidagem, que eu não levaria de compadre de jeito nenhum.
Seria, portanto,  constantemente perseguida e processada pelo pessoal dos Direitos Humanos.
Não daria certo.
Vejam vocês, meus queridos, como viajo na maionese com meus livros, já estou vivendo na pela as delícias e agruras do personagem, e mais não vou contar para não perder a graça, apenas recomendo que se tiverem a oportunidade de adquirir esse livro, façam-no.
Tenho muitos temas pendentes, escritos enfileirados, opiniões que gostaria de dividir com meu fã clube de meia dúzia de gatos pingados, mas tudo isso terá que esperar.
O livro - sempre ele,  agora é a prioridade número um.
Todo o restante pode, e  ficará para depois, mas essa leitura precisa ser feita.
Agora!




segunda-feira, 21 de julho de 2014

Viajante

Depois de um final de semana espetacular com minhas filhas, mimada que fui pelas três, volto pro meu Itaqui com as energias renovadas.
Não existe programa melhor que viajar e, mais ainda, quando estamos junto com aquelas pessoas que são tudo em nossas vidas.
Mas o que realmente soma a cada viagem é que podemos observar de longe as aflições que nos cercam e, geralmente, concluímos que o bicho nem é tão grande assim quanto parece.
Novos ares, pessoas diferentes, outros temperos e sabores.
Percorrer livrarias é algo que me encanta e,  se estou no Portinho,  não abro mão de uma volta pela Cultura ou pela Saraiva, pois sempre há um novo lançamento ou mesmo algum título escondido, uma surpresa agradável, uma obra posta ali, à espera de um leitor voraz.
É uma delícia estar em uma livraria e, depois, sair com a sacola cheia e sentar, calmamente, para tomar um bom café expresso, outra parada obrigatória.
Ficar observando as pessoas, espiando de vez em quando para dentro da sacola e já saboreando, de antemão, a leitura.
São encantos que somente um grande centro pode proporcionar e eu, como sou 100% urbana, adoro.
Não fui feita para curtir paisagens bucólicas, nem gosto de estar em lugares isolados, longe de tudo e de todos.
Por tal razão não vou, de jeito nenhum, para o campo: aquele silêncio me oprime e me deixa triste, mesmo que a paisagem seja linda, da mesma forma que não curto praias desertas, ou durante o inverno.
As multidões me agradam, o barulho, o entra e sai de gente de todos os tipos, a variedade de programas culturais.
Para mim, isso é vida.
Começo a semana radiante, com muitas ideias e um livro novinho em folha,  minha mais recente aquisição: A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert: 562 páginas de puro suspense me aguardam.
Se for bom, recomendarei.

Uma semana feliz e alegre para todos!



quinta-feira, 17 de julho de 2014

Alegria Intensa

Basta começar a tirar a mala do lugar e começar a arrumar as roupas, e a felicidade invade este ser, que anda alucinado de saudade de suas filhas.
Faz 1 mês e 17 dias que não as vejo, e isso, para mim,  é um tempo enorme.
Muito tempo.
Tempo demais.
Não fez bem a minha saúde, nem física e muito menos mental essa ausência tão prolongada, e olha que faz 6 anos que meus amores moram no Portinho, mas não adianta.
Não me acostumo com a ausência delas, nem quero.
A melhor sensação deste mundo é poder estar junto dos filhos, abraçá-los.
A saudade é diária, mas a gente vai engambelando, uma semana, duas, três...aí começa a doer.
Dói a cabeça, o coração, nada é bom, tudo fica feio e a gente continua de teimosa, porque é um sentimento que te pega em cheio e não tem para onde correr.
Por isso ontem, quando comprei a passagem e dei início aos trabalhos de arrumação de mala e outras ervas, uma intensa alegria tomou conta de mim, e acordei com uma dor de cabeça descomunal, fruto de tantas semanas de correrias e incômodos, mas cantando.
Cantei durante o café da manhã e enquanto me dirigia para o trabalho, e confesso que não consegui me concentrar em nada, olhava para o relógio e pensava, amanhã, a esta hora, estarei com meus amores, e é isso que importa, então, vamos lá, mais uma hora, mais duas, e assim passei até o final do expediente.
Não bastasse o fato de ficar com elas, irei  rever  meu adorado Portinho.
Hoje estou tão feliz com essa viagem maluca de Itaqui a Porto Alegre, que nem vou sentir os 730 km que me separam da felicidade.
Muito beijos, muitos abraços e bastante colo das filhas, esse é o remédio que vai curar minha dor de cabeça y otras cositas más..
Obrigada, Deus, por mais esta bênção!




quarta-feira, 16 de julho de 2014

Correntinos

Com o final da Copa e a vitória da Alemanha sobre a Argentina, pululam contra os hermanos grosserias de todo tipo nas redes sociais.
Ninguém se lembra de nada sobre a Argentina e seu povo, apenas referem que os alemães deram show de simpatia, construíram sede, deram um cheque de 10 mil euros aos índios, etc, etc...
Tirando noves fora zero o fato de eu não simpatizar com os alegres alemães, aliás, até vou mandar um mail pra Fifa e sugerir que na próxima Copa do Mundo também outorguem o Troféu Seleção Simpatia...ficaria tão meigo, não?, o que realmente me incomoda é o ataque sistemático contra os argentinos.
Evidentemente, o time da Alemanha era melhor, isso não se discute.
Um futebol bonito de se ver, ganhou merecidamente.
Entretanto, confesso que nem eu, moradora da Fronteira, imaginava que boa parcela do povo nutrisse uma raiva assim tão grande contra nossos vizinhos, raiva esta muito bem escondida num cantinho escuro do armário,  até que veio  a chance de deixá-la sair,  e a derrota da Argentina no jogo de domingo foi a senha que abriu a porteira pra botar pra fora todo o nojo que sentem.
Que coisa feia!
As ofensas começam quando se referem aos argentinos como correntinos, o que demonstra uma ignorância tão grande quanto a bronca que expressam na expressão pejorativa.
Correntino, na verdade, é a pessoa que nasceu na Província de Corrientes, assim como nós, nascidos no Rio Grande do Sul somos gaúchos, os nascidos no Rio de Janeiro são Cariocas, e assim vai.
Portanto, quando as pessoas falam esses correntinos pensando que ofendem os argentinos estão redondamente enganadas.
Seria o mesmo que dizer esse gaúchos, referindo-se ao povo brasileiro.
Tudo isto seria apenas conversa jogada fora, não fosse um fato que aconteceu ontem, em plena Berlim: o time alemão, dançando sobre um palco, abaixava-se e cantava, numa língua incompreensível, gâúcthos, referindo-se aos argentinos; depois, levantavam-se e, erguendo os braços, diziam, não, nós somos alemães!
Ali, com aquele gesto horroroso e nojento,  terminou a simpatia e todos mostraram bem a cara.
Que, diga-se de passagem,  nunca me enganou!







segunda-feira, 14 de julho de 2014

Certidão de Casamento

Que dias tenho vivido!
Hoje me tocou retirar a Certidão de Casamento de meus Pais.
Tudo calmo até aí, não fosse pelo fato de que ambos casaram na Argentina, em 1945 e, depois de vários trâmites, conseguiram fazer valer aquele ato aqui no Brasil.
Três páginas, o conteúdo da certidão que me fez viajar para um tempo em que eu ainda não existia, apenas o conheço porque Mãe contava, com riqueza de detalhes e olhos iluminados por um amor que nunca terminou, o venturoso dia de seu casamento.
Foi na cidade de Alvear, no dia 8 de setembro do já citado ano, as 11 da manhã de uma sexta feira.
Fico a imaginar minha Mãe, que era e sempre foi linda, com seus olhos castanho escuros brilhantes como duas estrelinhas, o nariz reto, o sorriso estampado no rosto, os dentes parelhos e branquinhos como pérolas, de braço com meu Avô materno, Antônio( que não conheci)entrando na  pequena Iglesia Matriz de Alvear repleta de amigos e parentes, ela deveria estar belíssima em seu vestido de noiva, trazido de Buenos Aires, com aplicações de renda, cetim e seda, um anjo, um espetáculo de jovem mulher, com seus 23 anos.
Meu Pai, um moreno lindo de olhos esverdeados,  esperava sua amada no altar,  num terno de linho branco, gravata borboleta e sapatos tão lustrosos como um espelho, a toda certeza, nervoso e suando, apesar do cálido dia de sol que fazia.
Um coro cantava, ao som do órgão( que existe até hoje) as tradicionais músicas de casamento.
Depois da cerimônia, o casamento civil, na sacristia e, logo após, uma festança de arromba oferecida por meus Avós en el Club Social de Alvear.
Em tudo isso pensei quando tive em mãos a certidão.
E uma saudade avassaladora abateu-se sobre mim, quando me dei conta, estava chorando dentro do carro, segurando aquelas páginas que certificavam um momento lindo vivido pelos dois.
Meus dois amores.
Senti uma vontade louca de ir até a casa deles, que agora não me pertence mais, abrir o portão e entrar cozinha adentro,  encontrá-los, abraçá-los, sentar para tomarmos um mate.
São 11 anos longe.
Sem ver, sem tocar, sem ouvir suas vozes, apenas em sonhos, mas os sonhos são tão fugazes...
Acho que foi a derrota da Argentina que me deixou  nostálgica,  sy los hermanos tivessem ganho, hoje o papo era outro.
Claro que não.
Essa saudade eu vou carregar sempre no meu coração, alguns dias com mais intensidade, em outros,   com menos.
E, como diz o Cazuza, O Tempo Não Pára.
Ainda bem!

Desejo a todos uma semana maravilhosa!

domingo, 13 de julho de 2014

Soy Loca Por Ti, Argentina!

Por que torço desbragadamente para a Argentina?
A primeira resposta é óbvia: porque minha Mãe era argentina.
Mas isso é apenas a ponta do iceberg, o primeiro dos incontáveis motivos.
Minha Mãe era argentina, nascida no Alvear, Província de Corrientes, cidade que fica do outro lado do Rio Uruguai e faz fronteira com Itaqui.
Meu pai foi a um baile em Alvear, isso lá em 1944, caiu de amores por minha Mãe e, em 1945, casaram-se.
Ali começou uma história de amor que durou 59 anos, até que os dois foram embora;  ele, em 3 de setembro de 2003, ela, dia 11 de novembro do mesmo ano.
Como duas almas gêmeas poderiam viver longe uma da outra?
Então me criei aqui no Itaqui mas em estreito contato com minha família de allá, com os que estavam do outro lado do rio.
Com 7, 8 anos, eu sabia de cor o Hino Nacional da Argentina, sabia o dia da Independência, o Hino da Bandeira, quem foi Belgrano, quem foi San Martín, o nome de todas as Províncias e suas capitais, o número de habitantes.
Minha Mãe e minhas tias maternas, Alba Mercedes e Maria Luisa, ambas professoras, me ensinaram tudo.
Tudinho.
Minha Mãe me ensinou o que não estava nos livros que minhas tias me davam para ler: o amor pela Argentina, sua Pátria.
Que coisa maravilhosa, como aprendi tanto com ela, aquela pessoa doce e fantástica que era minha Mãe.
Pois ela me ensinou a nadar no nosso Rio Uruguai, que ela adorava, me levou para conhecer Concórdia, Buenos Aires e seus bairros, Santa Fé, Apostoles, Posadas, Córdoba, Corrientes e tantos outros lugares.
Com ela eu ia para o Alvear assistir aos desfiles do 9 de Julio, a data da Independência.
Frequentava a Missa, onde cantavam o Hino da Bandeira.
Com ela sofri quando houve aquela repressão tremenda dos militares e não podíamos ir visitar os parentes, era muito perigoso, meu pai não deixava, recebíamos notícias através de cartas que levavam meses para chegar.
Minha mãe chorava baixinho.
Chorava de saudade e de pena de sua Pátria.
Como não vou amar, apaixonadamente, a Argentina?
Só isso bastaria, mas tem mais, muito mais.
Os amigos, os amores, a comida, a música.
A história da minha vida!
A Argentina, sem sombra de dúvida, está tão dentro do meu coração e é tão minha quanto o Brasil.
Por isso hoje, nesta final de Copa do Mundo, vou parafrasear o Colunista Moisés Mendes (ZH, 11 de julho de 2014):
Sim, eu torço por ti, Argentina!





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sábado, 12 de julho de 2014

Livros Queimados

Meu Avô paterno Atílio Mondadori, italianíssimo, embora nascido em Brusque(SC), cujos pais vieram da região de San Benedetto Po,  Província de Mantova, na Lombardia, tinha uma história de vida como somente os descendentes de imigrantes costumam  ter.
Com ele não foi diferente.
Meu tio Carlos Alberto, seu filho, guardava, entre as tantas relíquias da família, dois livros que contavam e retravam, fielmente, a saga familiar, que começou no final do Século XIX com a vinda de meus bisavôs ao Brasil, e o estabelecimento definitivo do Avô Atílio por estas bandas do Itaqui, não sem antes ter passado por Buenos Aires, La Cruz e Alvear, esta última, cidade fronteiriça a Itaqui.
Em razão de altos interésses, ou melhor, do dinheiro e da cobiça incomensurável de quem nunca foi parente e caiu de paraquedas na família, considerando que meu tio era solteiro e não tinha filhos eu, na condição de sobrinha  a quem ele, ao que tudo indicava, professava uma grande afeição fui, habilmente, afastada de seu convívio por pessoas que se incomodavam com minha presença.
Eu era um estorvo para o futuro: a herança do tio.
Mal sabiam esses vermes que jamais, em tempo algum, minha aproximação visava esse fim, longe disso: adorava meu tio, éramos extremamente parecidos, ambos geminianos que partilhávamos dos mesmos gostos, ríamos juntos, apesar da diferença de idade, ele do alto de seus 80 anos, eu com a metade de sua idade, fato é que nos dávamos muito bem.
Uma lástima grande é que nem sempre reconhecemos as cobras.
Se disso eu soubesse ao tempo em que meu tio era vivo, teria pedido a ele os livros que contavam a história de meu Avô, e de meus antepassados.
Uma história incrível, diga-se de passagem.
Meu tio morreu, não sem antes ter perpetrado contra mim e contra a memória de meu Pai, seu irmão, um ato ignominioso, digno do mais rocambolesco folhetim, mas isso é outra história.
Mesmo assim, o que foi bom não se apaga.
Tempos depois, pedi a um dos herdeiros, emprestado, os dois livros, a fim de levar adiante uma pesquisa, e recebi a resposta mais cretina que alguém pode obter:
Esses livros não existem mais, tia. Queimei...
Como pode?
Como pôde?
Queimar livros é igualar-se aos queimadores de livros da História, que envergonham a humanidade.
Essa besta quadrada fez isso.
Queimou.
Queimou a história de uma família inteira, não a da sua, obviamente, pois sequer o sobrenome Mondadori esse ser ignóbil ostenta.
Ainda bem!
Nada é por acaso, nada vem sem ter uma explicação previamente traçada,  que nem sempre conseguimos captar os desígnios de Deus, que são insondáveis.
Apenas observo.
Livros queimados nunca foram um bom sinal...


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O Sonho

Ontem eu tive um sonho, e foi mais ou menos assim:
Estava no interior de um lugar amplo e claro.
Um templo, uma Igreja.
O piso era de mármore branco, e sobre ele eu estava deitada.
Nas mãos, tinha um livro enorme e muito antigo, com as páginas amareladas pelo tempo.
E, naquele livro, aberto na página 11, estavam escritas muitas palavras que não consegui identificar, exceto duas: Noé e Reconstrução.
Antes de chegar até aquele espaço, eu precisei transpor diversos obstáculos, tais como escadas e caminhos estreitos e, ao lado destes últimos, viam-se abismos, eu olhei várias vezes para baixo, mas não caí, segurei-me em uma espécie de corda grossa que balançava muito, mas me sustentava.
Permaneci um bom tempo com aquele livro nas mãos e, durante a leitura, passavam por mim imagens de minha casa paterna e de minha Mãe; eu não a via, apenas sentia sua presença.
Ao mesmo tempo, flutuavam no espaço, sobre minha cabeça, palavras como lindo, divino, maravilhoso.
Acordei com uma sensação de alegria e muita paz, e com a absoluta certeza de que receberia uma notícia extremamente auspiciosa.
Contei o sonho para o Alberto e ele, dali uns poucos minutos, voltou com um livro em mãos.
Um livro enorme e muito antigo, de páginas amareladas pelo tempo: a Bíblia.
A Bíblia que era de meus Pais e que eu trouxe para minha casa.
Lentamente, abriu-o na página 11, no Livro do Gênesis, e ali estavam as palavras do meu sonho, Noé, Reconstrução.
Não posso deixar de dizer a vocês, meus queridos amigos, que fiquei muito impressionada com tudo aquilo e também fiz algumas associações, tais como: o número da casa paterna, 353, somado, se transforma em 11; minha Mãe foi embora no dia 11 do mês 11; tive o sonho num dia 11.
Muitas questões vieram a minha cabeça com esse sonho.
Uma coisa, porém,  eu sinto, claramente: Deus, o Deus para quem sempre rezei, que me amparou e me ampara em todos os momentos da minha vida, me mandou uma fantástica mensagem de esperança.
Pois a reconstrução nada mais é que a esperança e a busca por dias melhores, usando o aprendizado que os caminhos íngremes que tenho percorrido me ensinaram.
Acredito piamente que, assim como o pássaro trouxe para Noé a notícia de dias claros e campos verdejantes, também para mim virá um tempo de dias coloridos e de grandes colheitas.

Um final de semana espetacular a todos!







sexta-feira, 11 de julho de 2014

Homens Com H.

Increíble, pero real: a Argentina está na final da Copa do Mundo de 2014!
Que jogo, o de quarta feira!
Depois daquele fiasco escandaloso protagonizado pela  Seleção, acrescido das explicações ridículas do técnico e seus comandados, a gente não sabia muito bem onde enfiar a cara, mas como somos todos brasileiros e era a nossa seleção,  em nosso País, restou  tentar digerir o prato indigesto dos famigerados 7x1.
Haja sal de frutas!
A Alemanha só não fez mais gols porque ficou com pena daqueles pseudo jogadores, tenho certeza absoluta disso.
Mas aquelas carinhas alemãs de bons moços não me enganam, não.
Eles virão com tudo, com  força total contra la Celeste y Blanca, o intuito é obter um resultado de arrasar quarteirão.
Entretanto, talvez não conheçam a Argentina e, principalmente, seu povo.
Eu conheço e encho a boca para dizer que amo, adoidado, a Argentina, que perto de mim ninguém fala mal dos hermanos, mas nem inventa uma bobagem dessas, vou pra cima na hora!
Meu sobrenome materno é Fernández.
Então, está tudo dito.
Talvez percamos, mas creio - quero crer,  que não de 7x1 como o Brasil, que parecia um bando de chinas velhas correndo em campo.
Os jogadores argentinos demonstraram, no jogo contra a Holanda, que são homens com H.
São machos.
Lutam,  dão o sangue em campo, basta ver que um saiu com o lábio cortado, outro, com uma tala no antebraço mas, em momento algum, deixaram de jogar.
De lutar para defender sua Seleção, a camisa, la Pátria, como eles dizem.
Que exemplo!
Já estou numa baita pressão, desde agora, esperando o jogo de domingo torcendo, ardentemente, para que a Argentina ganhe.
Se não ganhar, vai cair com honra.
Isso eles têm de sobra!












quinta-feira, 10 de julho de 2014

Sádicos e Masoquistas

Têm pessoas que se comprazem em amolar a vida dos outros.
Amolar é um eufemismo.
São pessoas que sabem perfeitamente onde é que te aperta o sapato, em qual dos dedos está o calo para poder pisar melhor, e por aí vai.
Gostam, sentem prazer em provocar, causar sofrimento, irritar o outro.
Ficam esperando, ansiosamente, a chance de atacar.
São sádicos  aqueles que se sentem muito bem, obrigado, quando sabem que causaram um desconforto em alguém, por ínfimo que seja.
Mas se o sádico existe, é porque tem um masoquista de plantão, pronto para sofrer.
O masoquista é aquele que também sente um prazer - totalmente absurdo, diga-se de passagem, em ser pisoteado como se fosse uma barata ou coisa que o valha. Sofre e se submete às taras do sádico.
O sádico faz o outro sofrer e pensa que abafa, acha que está coberto de razão.
O masoquista tenta, muitas vezes com sucesso, outras tantas não, livrar-se daquele jugo, e vai empurrando sua auto estima cada mais para o fundo.
É muito tênue a linha que separa o sádico do efetivamente mau, arrisco-me a dizer que sádico e mau são sinônimos, considerando que provocar sofrimento proposital em alguém não pode denotar boa índole.
E a saúde de que vem tudo isto?
É que o limite entre uma brincadeira aparentemente ingênua ou um comentário sarcástico, e o sadismo, também é tênue.
Entretanto, para quem não é masoquista e conhece o outro lado da moeda, tudo fica muito claro.
Em relação a sádicos, e considerando que não sou masoquista, tenho uma filosofia: tolerância zero!





terça-feira, 8 de julho de 2014

Serviços Cartoriais

Alô, alô, você aí que precisa ir ao cartório do registro de imóveis ou ao tabelionato,  prepare o seu coração, vou te dar esta dica preciosa,  e é de graça: toma um calmante antes de ir, e outro depois que sair de lá.
Também aviso que remédio de china velha não serve, tem que ser aqueles faixa preta que ainda não comprei, portanto, meus Cereus Purpúreos de nada me valeu, nem ontem,  nem hoje.
E na semana passada também não.
Precisei organizar uma documentação e, para tal, tive que ir, obrigatoriamente, nos dois cartórios, no registro civil e no de imóveis.
Nem preciso dizer, pois é o óbvio ululante, que até o suspiro que a gente dá, tem que pagar.
São os emolumentos.
Tá.
Fui ao cartório num dia em que me sentia muito bem, porque me conhecendo como me conheço, podes crer que, após tais diligências, o mau humor pega.
Por tal razão,  me preparo psicologicamente com algum tempo de antecedência,  amanhã preciso ir ao cartório...e já começo a sentir, de antemão, um certo incômodo.
Quando dou por mim, estou suando, a menopausa me adora, ela se instalou neste corpo e não quer sair daqui de jeito nenhum.
A gente entra no local, pega uma ficha e espera.
Enquanto isso, portas batem com estrondo; gozado isso, as pessoas entram e saem e plá, plá, plá.
Continuo esperando.
Lá pelas cansadas vem o servidor atender, muito gentil e educado, devo registrar.
Mas, como aquela piadinha infame que minha tia Albita contava, de um célebre pintor que recebera uma encomenda de uma madame e nada ficava bem, ela sempre queria que acrescentasse algo mais na tela, até que um dia  pegou o pintor com a guampa virada e ele tascou, senõra, no quiere que le pinte un pajarito cagando? assim é a documentação que você precisa juntar: sempre falta acrescentar algo, falta a merdinha do passarinho, entendeu?
E aí, ficamos andando de um cartório para o outro, pois num nos dão a lista, em outro, reconhecem a firma, depois você volta com a lista e...bom, faltou a notinha e o parafusinho da ribomboca da parafuseta.
A estas alturas, vocês, meu queridos amigos, já estão cansados de ler esta postagem.
E eu?
E eu, hem?
Pois é.
Eu contei até 100 para não dar um chute na parede(por sorte me controlei  e pensei que  não iria estragar minhas belíssimas botas novinhas em folha), ou  parar na porta do cartório e gritar manhêêê, socorroooo.
Não, nada disso.
Segui impávida, embora suando como uma condenada, peguei os papéis, assinei tudo, sempre sorrindo, mudinha da silva, devem ter pensando, que pessoa mais gentil...pobrezinhos.
A procissão ia por dentro.
Depois de tudo que passei  precisaria, urgentemente, de uma banheira de sais!
Só que não tenho banheira.
É como eu digo, pobreza é fogo!
Mas, como sou uma otimista inveterada e acredito, piamente,  que poucas lágrimas são derramadas com o estômago cheio, passei na padaria, comprei um pãozinho estalando de novo, cheguei em casa e tomei um lauto café com leite, muito bem acompanhado de um ovinho frito.
Preciso ir ao cartório?
Tomara que seja só na próxima encarnação!



segunda-feira, 7 de julho de 2014

Solidariedade Digital

Muito se tem comentado,  e criticado acidamente,  a postura de pessoas que, carregando mantimentos, fabricando alimentos, distribuindo-os e até andando de chalana nas áreas mais alagadas de nosso município para alcançar algum bem material aos desabrigados, postam fotos e mais fotos no Facebook, o que gera manifestações de todos os tipos.
Falam de tudo e todos.
Talvez um que outro tenha alguma segunda ou terceira intenção, mas isso sempre tem, lamentavelmente.
De minha parte, tenho a dizer o seguinte: parabenizo a todos os que ajudam, independentemente de ficarem postando fotos, ou não.
O que vale, neste momento terrível que atravessa nossa cidade onde, por onde se anda, enxerga-se a desolação e a marca das águas, é a mão estendida.
Digno de aplausos é o gesto humanitário, é aquele ímpeto de ajudar, de sair com chuva e frio e tentar trazer um mínimo de consolo às pessoas.
Fato é que a esmagadora maioria dos Itaquienses, de perto e de longe,  tem prestado sua solidariedade, cada um dentro da forma que lhe é peculiar, uns de maneira comedida e quieta, outros, como referido, postando fotos de sua boa ação.
Entretanto, creio que o exibimento através das redes sociais, como muitos estão chamando tais atitudes, é secundário, pouco interessa.
Importa é o gesto de sair de sua zona de conforto e encarar uma realidade duríssima, posta há três, quatro quadras de sua casa, que não pegou enchente e está seca e quentinha, para onde você retorna no final do dia e encontra tudo nos devidos lugares, ao contrário dos flagelados, com seus pertences quebrados, morando de favor na casa de parentes ou amigos, reunidos ali, à espera da notícia que todos queremos ouvir: o Rio Uruguai está baixando...baixou...amanhã poderei voltar para casa.
E outra tarefa gigante se avizinha, a de limpar toda a sujeira deixada pelas águas, o barro, os pedaços de madeira, as paredes manchadas e ensopadas pela excessiva umidade.
Por isso, meus queridos amigos, acho a coisa mais linda do mundo quando alguém, seja de caminhonete ou de carroça., a pé ou a cavalo, de lancha ou de chalana, chega para um conhecido(ou não) e lhe entrega um lanche, uma cesta básica, um cobertor, roupas, sapatos, material de limpeza.
Belíssimo gesto!
Nem 1 milhão de fotos no Facebook conseguirá manchar a real intenção dessas criaturas: ajudar o próximo, e nada mais.

Excelente semana a todos, e que nossos conterrâneos possam voltar o mais breve possível para seus lares.




sábado, 5 de julho de 2014

Interésses

Não me sai da cabeça o que aconteceu com o Neymar, acordei no meio da noite, sobressaltada,  fiquei pensando no sofrimento desse atleta, não só o  físico, que restou evidente na expressão estampada em seu rosto quando saiu do campo, mas pela dor de não poder mais jogar pela nossa Seleção, por ver um trabalho de tanto tempo interrompido bruscamente, por ver um sonho acalentado terminar assim, do jeito que acabou.
Uma pancada maldosa, ainda quero crer que não foi proposital, mas fica difícil.
São os interésses, diria o Brizola.
E não é que ele tinha razão?
Quem pode duvidar que esses figurões do futebol não tenham feito alguma coisa para o árbitro ladri não ter se posicionado de maneira firme, durante todo o jogo, permitindo uma falta após a outra,  finalizando a péssima arbitragem sem punir o autor da falta, que nem cartão amarelo levou?
Um escândalo, até para mim, que não entendo patavina de futebol.
E, pelo que vi até agora, a Fifa não fez absolutamente nada, parece que o episódio vai passar in albis.
Enquanto isso, vamos enfrentar a Alemanha sem Neymar e Tiago Silva, e a Argentina vai se virar contra a insuportável Holanda e seu técnico pedante sem o Di Maria.
Vai ser um duelo e tanto, estou bem preocupada e acho que nem vou assistir a tais jogos, primeiro porque, notem bem, restaram dois times da América contra dois europeus e, segundo, não tem Cereus Purpúreos que me acalme num jogo desse porte.
Casualmente, o Neymar está fora e, pelo lado da Argentina, Di Maria também está fora.
É muita coincidência e, embora me acusem de elucubrar teorias conspiratórias, sou levada a pensar que não é possível isso, sendo que Holanda e Alemanha seguem, impávidas, com seus antipáticos mastodontes completamente ilesos.
Não adianta querer me convencer, jamais conseguirei torcer para Holanda e muito menos para a Alemanha, antipatizo profundamente com ambas as seleções e seus jogadores convencidos, mais ainda, não suporto o técnico alemão, o comedor de tatu, e o da Holanda, cara de porquinho da índia.
Desculpem-me pelo desabafo, mas estou sentindo que a final será entre Alemanha e Holanda.
Quero, ardentemente, errar.
Se forem para a final, juro que,  na hora do jogo,  irei ao cinema.
E aí, sim, acreditarei piamente que tudo foi um jogo de interésses.

Beija Flor de Inverno

O dia amanheceu cinzento e com um vento norte soprando por todas as frestas existentes, fazendo redemoinhos, levantando poeira e carregando folhas para todos os lados, como se não fosse suficiente a desolação da paisagem proporcionada pela enchente, as centenas de pessoas desabrigadas amontoando-se nos casebres arrastados para o meio das ruas, as crianças descalças e o cheiro nauseabundo trazido pela água suja.
Que direito tenho, pensava eu, de me sentir triste quando, tão perto de mim pessoas estão passando por tão maus momentos?
Como se a tristeza distinguisse isso, como se possuíssemos um relógio regulador que marcasse:  agora, mesmo triste, fica bem; agora, para de chorar; agora, não sintas mais saudade, pois faz muito tempo e está na hora de estancar esse sentimento.
Seria fácil, não?
Esses, os pensamentos que andavam pela minha cabeça quando escutei um barulhinho no vidro da janela.
Um sonzinho que, apesar de fraco, conseguia  se sobrepor ao ruído da ventania.
Olhei e vi um belíssimo beija flor que, com seu bico, batia no vidro, insistentemente.
Se a janela estivesse aberta teria entrado, a toda certeza.
Ficou parado ali, por alguns instantes, beijando os gerânios da floreira, olhou para mim mais uma vez, e sumiu..
Que mensagem fantástica recebi!
Acredito muito naquilo que alguém, de algum lugar invisível aos nossos olhos, mas não a nossa alma, nos envia.
Minha Mãe adorava beija flores, dizia sempre que eles são sinal de boas novas e de muita sorte e felicidade quando aparecem.
Portanto, concluo que o beija flor encantado que veio bater na minha janela em pleno inverno, certamente é mensageiro de grandes alegrias que se avizinham.
Tomara.
Assolado pela enchente, meu adorado Itaqui precisa, urgentemente, de um afago dos céus e de uma trégua da natureza, contentamento e bem estar para nossa gente.
De uma revoada de beija flores de inverno, é do que estamos precisando!



quarta-feira, 2 de julho de 2014

A Enchente do Rio Uruguai

Nasci e me criei no bairro Cerrinho Dois Umbus, essa denominação dos bairros em Itaqui é coisa recente, quando eu era criança e jovem não tinha isso.
Quando me perguntavam onde eu morava, serviam como referência o Hospital São Patrício, este sim, há muito tempo transferido para outro local, e o Rio Uruguai.
Nós morávamos perto do Rio Uruguai, a casa dos meus Pais distava somente duas quadras e, antes de iniciar  uma descida íngreme e cheia de pedras grandes e irregulares que levava até a água havia plantado, um de cada lado, no final da rua,  dois pés de umbu, árvores enormes, de raízes imensas, cuja sombra alcançava o meio da rua e onde, no verão,  gritavam as cigarras.
Que árvores maravilhosas!
Depois da descida, descortinava-se o rio, majestoso e imponente, com suas águas que iam de um verde musgo até o marrom, dependendo do dia.
Nesse rio aprendi a nadar, aos 7 anos, pelas mãos de minha Mãe, até atravessá-lo a nado consegui.
Esse mesmo Rio Uruguai que nos encanta, e a todos os que aqui aportam, pela beleza de suas águas que refletem o sol e o brilho da lua, palco de tantas aventuras e momentos felizes, é o mesmo que hoje castiga centenas de famílias, desabrigadas pela enchente.
Tal é o volume de água, que chega a ser assustador.
Já fui vítima de uma cheia do Rio Uruguai em 1997, fazia três meses que tínhamos alugado uma casa, ela havia sido reformada e estava linda.
De repente, veio a enchente, e veio rápido e em tal velocidade que funcionava mais ou menos assim: pela manhã, a água estava na esquina de casa; ao meio dia, ultrapassara a rua: no fim da tarde,  já chegara na calçada e, de noite, começara a entrar pela garagem.
Que sufoco passei para retirar todos os móveis, roupas e outros tantos badulaques, e aquela água vinha e vinha, avançando e engolindo tudo o que via pela frente.
Um pavor.
Metade de minhas coisas quebraram, devido à pressa,  outras tantas ficaram pelo caminho caídas e ninguém nem viu ou se prestou para recolher pois os desabrigados eram muitos e não havia tempo a perder com objetos materiais, a gente queria tirar os filhos e ficar em algum lugar seco e quentinho.
A enchente sempre aparece no rigor do inverno e geralmente desata a chover cinco, seis dias de enfiada, aquela chuva gelada, e as águas vão subindo sem parar, 9, 10, 12 metros.
É muito triste ver a desolação das pessoas desmontando e carregando o que, certamente, amealharam à custa de trabalho e sacrifício.
Passei a manhã com o pensamento no meu bairro do coração, o Cerrinho Dois Umbus, e nas pessoas com as quais convivi desde sempre.
É pra lá que eu vou agora, ver em posso ser útil, sempre se pode prestar auxílio, de uma forma ou de outra.
Indiferente à desgraça alheia é que não pra ficar!



terça-feira, 1 de julho de 2014

O Sócio do Messi

O Alberto, meu maridão de muitas Copas do Mundo e de outros tantos Carnavais é sócio do Messi.
Explico.
O Alberto é como o Messi, nestes jogos da Argentina: quase mata a gente do coração mas, na hora H, lá está ele para salvar a pátria.
Meu companheiro de 22 anos de caminhada esteve ao meu lado nos dias ensolarados, nas horas negras, nos tempos em que nosso dinheiro era curto e fazíamos malabarismos para manter as contas em dia, e muitas vezes não dava e não deu, cuidou das duas filhas do meu cassamento anterior, deu remédio, foi à reunião da escola, segurou a mão da Marina  no hospital quando eu desmaiei porque ela tinha que levar pontos no queixo em virtude de um tombo que levara, dançou a valsa dos 15 anos com elas, ajudou nos temas, vibrou com as aprovações nos vestibulares, correu comigo para organizar as formaturas.
Quanta estrada!
Dito assim parece simples.
Nunca foi simples.
Ontem eu tinha um abacaxi para descascar, nada demais, mas era um abacaxi, e têm dias que a gente quer colo, afago, arrego e não quer, de jeito nenhum, descascar o abacaxi.
O Alberto, vendo tudo aquilo, mudo, como sempre, deu uma de Messi: pegou o abacaxi, correu, driblou, descascou e voltou para casa lépido e faceiro.
Resolveu para mim, assim como o Messi resolveu para todos os hermanos.
O sócio do Messi acabou com o problema, se é que existia algum.
Gracias, pibe!




O Pedante

O pedante é assim: acha que sabe tudo, que pode tudo e que, azar do guarda, vai passar de trator por cima de tudo.
E de todos.
Tanto quanto não suporto pessoas invejosas, a meu ver, o pior defeito que alguém pode carregar,  de igual modo não me agradam as pessoas pedantes.
Quando está por baixo e precisando desesperadamente dos outros, o pedante chega de mansinho, com cara de cachorro molhado, com um sorrisinho melecado e uma voz meio de além túmulo, e você quase cai na sua lábia.
Aliás, você cai, cai como um pato, pois o pedante, embora possua uma cultura de almanaque, não costuma ser burro, ao contrário, é louco de esperto e ladino.
Entretanto, basta que ele alcance o seu intento ou que obtenha o que pretende para subir no salto.
E aí ele vem, pode contar certo, jactar-se e fazer com que você sinta o seguinte: independentemente de você, que não apita nada, eu consegui.
E mostra aquele arzinho superior.
Assopra-o em direção a você.
Tem um ínfimo detalhe, porém: o pedante, geralmente, é esquecido.
Olvida-se rapidinho do que faz e, dali a pouco, volta outra vez, e é aí que vem a grande sacada: o troco.
Todo pedante tem seu dia de levar um não bem redondinho, de ficar se mordendo de raiva e sentir que está de mãos e pés atados.
Quem está do outro lado fica rindo por dentro, deleitando-se com aquele momento, vendo o pedante estatelar-se e cair de beiço no chão, botar a viola no saco e ir cantar em outro lugar.


Comilanças

Assistindo aos maravilhosos jogos da Copa do Mundo, lá pelas tantas cheguei a uma triste conclusão: jamais serei uma mulher magra.
A combinação de sangue italiano com argentino deu nisto, uma pessoa que simplesmente adora cozinhar e faz de cada refeição uma liturgia.
Lembro-me de um namorado que tive que comia extremamente rápido, sentava-se à mesa, dava duas garfadas e liquidava a fatura.
 Um verdadeiro sacrilégio!
Enquanto isso eu ali, remando.
Comendo lentamente, uma garfada, outra, pausa para o vinho, otro bocadito...
Imaginem a alegria do camarada.
Mas, voltando à constatação de que nunca na história deste corpo habitará uma mulher esbelta, uma verdadeira sílfide, devo dizer que só nascendo outra vez ou, quem sabe,  uma internação de um mês em alguma clínica estética para uma repaginação dos pés à cabeça resolva.
É, quem pode afirmar que um dia eu não acorde com o outro Gêmeo extremamente incomodado com os quilos a mais e aí,  estará feita a rebelião, voltarei, um tempo depois magra, seca em vida, loira e siliconada.
Hay de todo en la viña del Senõr, diria minha Mãe.
Fato é que me gusta mucho la buena mesa, o que combina demasiado com os dias frios e nublados, típicos do nosso inverno.
Não dá vontade de sair para caminhar com uma neblina gelada e um vento cortante.
A ginástica, a gente pensa, pode ficar pra semana que vem.
Esteira em casa nem morta, nem sob tortura!
E assim vão passando os dias, e as comilanças vão trazendo seu indesejado efeito.
Por sorte, a Copa do Mundo está terminando.
Enquanto isso não acontece, tenho me virado nos trinta em minha pequena cozinha preparando algumas receitinhas simples, mas muito boas, aliás, um dos meus sonhos é ampliar o espaço que divido com o fogão e ficar ali me divertindo, às voltas com temperos e especiarias.
Doces e salgados.
Pero que divino!
O único consolo que me resta é que, dizem, quando a gente cozinha ou faz a sobremesa, perde o apetite, enjoa e nem sente vontade de comer.
Bueno, meus queridos amigos, essa receita eu ainda não aprendi!