segunda-feira, 31 de março de 2014

Sinal Verde

Aprendi a dirigir aos 12 anos. A "guiar", como dizia meu Pai.
Era moda,  quanto mais cedo aprendesse, tanto melhor.
Aos sábados, o grande programa era ir até a fazenda de meu Avô Atílio para novas aulas, até "firmar" a direção.
Sim senhor, com doze aninhos eu dominava o carro do meu Pai que, na condição de instrutor, ensinou-me todas as manhas e manobras que um carro poderia ter.
Para os padrões atuais, seria algo impensável. Em 1973, era bonito, motivo de orgulho: minha filha mais nova já sabe guiar, ele dizia, exibindo-se para os amigos.
Só que não.
A chave do carro, para que eu pudesse me exibir para as amigas, essa ele não frouxava jamais, segurou até meus 18 anos.
Acredito ser daí  a facilidade que tenho em dirigir e sair pela estrada afora, sozinha, acompanhada, não faz a menor diferença.
 Não sinto medo nem cansaço, apenas alegria, chego a abrir um pouco o vidro pra sentir o vento assoviando. Coisas de interiorana.
Tenho absoluta certeza que, em outra encarnação, fui caminhoneira ou algo do tipo, porque a sensação de felicidade que sinto quando tenho uma estrada pela frente é algo!
Liberdade, liberdade, abre as asas sobre mim, é o que me vem à cabeça.
Por essas e outras, nenhum problema vejo em ir daqui até o Portinho dirigindo, e já fui algumas vezes sozinha, para desgosto do maridão e das filhas, mas fui.
Claro que, antes de sair, concordo com todas as ponderações, baixo a cabeça, ouço, faço cara de sexta feira santa. Por dentro, penso: amanhã de manhã, livre, leve e solta por este mundão de Deus, BR 290, me aguarde.
Saio daqui ao raiar das 8, e vou parar lá adiante, em São Gabriel para, 20 minutos depois, seguir viagem até  Pantano Grande, onde costumo fazer um lanchinho inusitado: dois ovos fritos, um cacetinho e uma Coca Cola de garrafinha. Depois, um cafezinho.
Meus amigos, isso é melhor que muito energético que tem por aí, viu! É um espetáculo!
Partimos para o trecho final - Pantano Grande/Porto Alegre, para o qual reservo meu repertório de sambas, boleros, tangos e outras tantas músicas que vão saindo do fundo do baú, e das quais nem eu mesma lembrava e assim, cantando a plenos pulmões, avisto a Ponte do Guaíba e dou por encerrada mais uma odisseia, onde o sinal verde  foi uma constante, graças a Deus!





O Instituto da Sesta

Como boa neta, sobrinha e filha de argentinos, a sesta sempre fez parte da minha vida.
Lembro quando, ainda criança, naquelas tardes de sol insuportavelmente quentes do Itaqui, minha Mãe maravilha me obrigava - sim, obrigava a " dormir un rato", isto é, vamos dormir só um pouquinho, pois neste horário não há nada melhor para repor as energias. Que energia eu, com 5 aninhos, precisava repor?
Antes tinha era energia de sobra pra gastar mas, obedecer era preciso.
A sesta vinha acompanhada de verdadeiro ritual, a Mãe fechava uma porta, que dava para a copa da casa, e instalava-se um silêncio de sepulcro. Estendia esteiras de palha no chão de parquê  encerado,  colocava o travesseiro e estirava-se ali, suspirando de felicidade. Eu, do seu lado, com os olhos enormes tentava, tentava, e nada de vir um pouquinho de sono, que fosse,  mas não tinha saída, ao menor movimento ou tentativa de sair dali, ela me dizia " que pása, nena?"
Adeus, fuga para o pátio...só me restava ficar escutando a orquestra das cigarras, enlouquecidas, agarradas nos galhos dos cinamomos.
Queria ver minha mãe fula da vida, era fazer barulho na hora da sesta, que durava não " un rato", mas umas boas duas horas; ao raiar das 16, 16:30, ela acordava, feliz da vida, para organizar o famoso lanchinho básico da tarde ao qual já me referi numa post anterior, fazer un matecito e sentar com meu Pai na cozinha para tomá-lo, bem devagar.
Depois que fui morar no Portinho, o instituto da sesta foi definitivamente abolido e, até pouco tempo, somente lembrava-me dele -  não sem saudade!
Vejam vocês como a vida é engraçada, o mundo gira e voltamos ao nosso ponto de origem.
Depois de um verão tórrido como foi este último, e de ter (agora) as tardes livres para fazer o que me dá na telha(graças a Deus) resolvi, certo dia, sestear um pouco.
Não vou negar que achei aquilo simplesmente sensacional!
Das 14 às 16, dormi como uma bem aventurada, até sonhar, sonhei!
E, daquele dia em diante, declarei reaberto o instituto da sesta, agora bem mais incrementando: pijaminha, leitura de ZH ou de algum livro qualquer, una galletita e, então, lá pelas folhas tantas, deixo-me arrastar por aquele sono que vem como se fosse uma onda, e ploft...durmo, durmo como uma pedra.
E depois acordo, suspirando de felicidade, como minha Mãe, pois qualquer semelhança não é mera coincidência.
Só não como mais trigo com leite e rapadura!




domingo, 30 de março de 2014

Té de Manzanilha

Hacete un té de Manzanilha
para curar el corazón
de aquel amor que no te quiso
y te despreció.
Hacete un té de manzanilha
y tomatelo despacio,
pensá que todo tiene remedio,
mismo un mal de amor que no sana
nunca.
No te aflijas.
Hacete un té de manzanilha
 y tomatelo despacio...
sentirás la dulzura de una manãna de sol,
y tu alma triste se abrirá para la vida
como una flor de manzanilha.



sábado, 29 de março de 2014

Exibimento de Mãe - III

A Karina, minha filha mais nova é, de longe,  a mais agitada do meu trio parada dura.
Nasceu no finalzinho de outubro e chorou durante o primeiro ano de sua vida, trocando a noite pelo dia.
Imaginem vocês a minha suprema alegria quando meu bebê acordava ao raiar das 5 da matina e o único som que se ouvia era o de um galo cantando ao longe. Sim, aquele ano foi longooooo!!! Mas passou, como tudo passa, e a minha Kikizinha cresceu, cheia de mimos e manias, como é meio regra com os caçulas - olha meu caso aí, e agora começou a trilhar, também, seu próprio caminho.
Como boa escorpiana, é dona de uma vontade de ferro, ou seja, falou, tá falado, quedate tranquilo que ela não arredará pé de sua decisão. Sempre foi assim, desde os 10 meses quando começou a querer falar e no aniversário de 1 aninho, quando soltou a mão de todos e saiu caminhando, bem lampeira, pelo meio do salão.
Muito me acompanhou, esta minha filha mais nova, sempre carinhosa, sempre paciente, muitas vezes quem me deu colo foi ela, e não o contrário.
Por isso, quando a Kiki foi estudar no Portinho, a casa esvaziou de vez.  Até as paredes ficaram emburradas, parece que cobriram-se de cinza, os gatos ficaram de mau humor, e nós, Alberto e eu,  nos deparamos, de repente, com aquela imensidão de tempo só para nós. Terminaram-se as idas e vindas ao colégio, à academia, as buscas nas casas das amigas, os finais de festa.
Demoramos a nos acostumar, mas quando a gente vê um filho crescer e caminhar por si mesmo, ciente do que quer e, principalmente, do que não quer, a saudade melhora grande, sabemos que estamos ajudando aquela pessoa em formação a alcançar seus objetivos e a realizar seus sonhos, e isso nos faz felizes também.
Faz dois anos que a Karina mora longe de nós e, a cada reencontro, vemos as mudanças positivas que vão se operando,  seu crescimento como pessoa,  os novos valores que vem acrescentando a sua vida, num crescimento constante.
Agradeço a Deus todos os dias pela filha que tenho,  motivo de alegria e orgulho para o coração desta mãe!







sexta-feira, 28 de março de 2014

Exibimento de Mãe - II

Minha filha do meio, a Marina, a minha Jijinha, já nasceu a mil por hora e botando ordem na casa.
Tinha os cabelos bem lisinhos e loiros, que depois tornaram-se encaracolados e, mais tarde, novamente lisos...Marina, morena, Marina, você se pintou, era a música que eu cantava quando ela ainda estava na minha barriga.
Mamava desesperadamente e sempre queria mais, com 10 meses engatinhou e antes de completar 1 aninho, caminhou, decidida,  pelo pátio da casa de meus Pais.
Mimosa do Vô Edgard, a  minha Jijinha estava sempre às voltas com um paninho ( que era, na verdade, um lenço do Avô) que ela chamava de trapicho e dele não se desgrudava, olhava-me com seus imensos olhos cor de mel e a única coisa que eu desejava era estar sempre com ela, acarinhando aquela guriazinha linda que ria muito e batia pé, insistindo pelo que queria - prenúncio da força de vontade que norteou sua vida, desde sempre.
A melhor aluna, a Marina gostava também de outras atividades na escola, curiosa, antenada e decidida, pra ela nunca faltava tempo ou tinha tempo ruim.
E assim ela escolheu Engenharia Química, para espanto de todos nós, que somos ligados ao Direito e a Psicologia, e aquele caminho de fórmulas e cálculos intermináveis ela  trilhou com uma dedicação e uma determinação espantosas,  sua marca registrada.
Hoje, a Marina é Engenheira na empresa John Deer, onde trabalha há 8 meses, sai de casa as 6 hs da manhã, volta as 5 da tarde e encontra tempo pra fazer inglês, academia, aula de violão e, a partir de abril, vai começar uma Pós Graduação, com aulas aos sábados.
Para nós, que acompanhamos sua trajetória, é motivo de muito orgulho e alegria saber que ela está realizada na profissão que escolheu, amiga dos seus amigos, senhora de suas decisões e uma pessoa de bom caráter e de bom coração.
Esta mãe tem, ou não tem, motivos para estar feliz?



Exibimento de Mãe - I

Minha filha mais velha, a Rita Helena,  está, neste momento histórico, al mare com seu amor, meu querido genro Adriano, de quem gosto como se fosse o filho homem que não tive.
Considero-me afortunada porque, em matéria de genros, no me puedo quejar, tem também o Pedro, namorado da Karina, que é meu outro filho.
A Rita, o meu Lilinho, nasceu com uma cabeleira meio estilo Mercedes Sosa, segundo falou seu pai, Ruy Armando assim que a viu, e com aquele narizinho arrebitado coisa mais linda do mundo, sem falar nos olhos negros e brilhantes e aquele sorrisão maravilhoso.
Sempre tranquila, companheira de todos os momentos e compenetradíssima, a Ritinha é meu pão de Deus, a primeira dos meus três amores, determinada e sabedora do que quer e para onde vai, "pero sin perder la ternura jamás", carinhosa como ela só!
Ano passado, com apenas ano e meio de formada, passou no concurso para Procuradora da Fase e foi nomeada, e lá deve estar fazendo um trabalho no qual - sei que é assim - dá o melhor de si.
Meu orgulho é poder ver, graças a Deus, minha filha de 25 aninhos caminhando com suas próprias pernas, organizando seu tempo e dona de sua vida, planejando estudos e especializações e buscando melhorar a cada dia, como ser humano e como profissional.
Sei que, sem falsa modéstia, contribuímos para isso, Alberto e eu, Ruy, cada um a seu modo e do seu jeito, mas sempre com o firme propósito de formar uma filha de bom caráter, firme em suas decisões e com os pés no chão.
Hoje ela está curtindo as primeiras férias remuneradas de sua vida, fazendo uma viagem de sonhos que planejou e esperou durante meses, fruto do seu esforço e de seu  trabalho honesto e digno.
Que coisa linda!
Desculpem esta mãe faceira e babona, amigos, extremamente feliz e radiante com a felicidade de sua filha.
Ritinha, meu Lilinho querido, tenho o maior orgulho de você!

 

A Rebelião da Vesícula.

Imaginem que, aos 52 anos, terei que me submeter a uma dieta um tanto quanto rigorosa para os meus padrões, sob pena de ter que operar a bendita vesícula que, há alguns dias, resolveu rebelar-se.
Essa notícia me aborreceu bastante.
Fiquei com tanta raiva que nem sequer me olhava no espelho; só de soslaio, e olhe lá. Cara feia é fome ou dor de estômago - no meu caso, dor na vesícula.E para que eu iria olhar minha própria cara de fúria refletida no espelho? Isso só pioraria a situação! Tentava me acalmar, mas nem uma triste bolachinha para alegrar o ambiente eu podia comer. Coisa desagradável, viu.
Andava há várias semanas - essa é que é verdade, com uma dorzinha incomodativa do lado direito e tanto falei nela e dela que, um dia, um colega de trabalho me deu um ultimato: ou vais ao médico, ou te levarei agora!
A la fresca!
Criei coragem e fui, que tal não era o estado da criatura, no caso, eu, para deixar minhas 1001 atividades e ir ao médico. Claro, meus amigos queridos, eu sei que isso é uma grande ignorância mas, podendo, não vou a nada nunca; minha farmácia caseira consiste em sal de frutas, eparema, aspirina e Ceréus, um remédio de china velha, como dizia meu Pai, muito bom para acalmar os nervos, e nada mais.
Na verdade, não sou afeita a medicamentos. Explico: uma vez, por erro médico, quase fui para o andar de cima, sim senhor, só que não: cheguei a dar uma volta por lá, mas fui barrada e mandada de volta, por isso minha verdadeira ojeriza a remédios.
Por sorte, este médico que me atendeu agora - e a quem passei a amar no mesmo instante, tendo em vista o que me falou, disse-me que não era nada urgente, etc mas... fazer dieta é preciso.
Amigos, a minha Mãe maravilha era argentina, como todos sabem, e cozinhava divinamente. Claro que também importou de allá os melhores ingredientes e receitas de que se tem notícia em matéria de comida caseira.
De outra banda, a família paterna, italiana, em nada contribuiu para que eu me tornasse uma mulher magra e esbelta, muito pelo contrário, como é fato público e notório.
Fui criada na base de muito feijão com arroz, carnes com um suculento molho, massas de um sabor incomparável e sobremesas que só, só a minha Mãe e a Dona Gija, que era a encarregada da cozinha na casa de meu avô paterno sabiam fazer.
Um dia passo a vocês as receitas, mas aviso aos navegantes: comprem antes um salzinho de frutas.
Meus lanchinhos da tarde consistiam em trigo com leite gelado e, para adoçar, pedaços de rapadura que meu pai comprava no mercado, canjica com leite (e dê-lhe rapadura), ou uma xícara de café com leite que equivalia a mais ou menos meio litro, com muito pão d'água com manteiga feita em casa, olha o detalhe.
Aliás, um parentese: você já comeu manteiga feita em casa, batida com a nata que ficou daquele leite purinho que o leiteiro deixou na sua casa à primeira hora da manhã? É, isso existiu!
No inverno, aquelas sopas maravilhosas,  fumegantes, perfumando a cozinha e o fogão a lenha com as brasas ardendo, aquecendo o ambiente e o coração.
Sim, meus amigos, me atracavam comida, e eu, né, fazer o que...comia. Tudo era muito bom!!!
Agora, a sra. vesícula decidiu por um fim a minha orgia gastronômica e simplesmente acabou-se a festa: é verdurinha pra cá, frutinha pra lá, chás, imagínate, nem meu copito de leite de 250 ml que eu costumava tomar antes de dormir, claro que com alguns acompanhamentos tipo bolo de laranja ou bolachinha maria, eu  posso mais!
Se ela está rebelde, eu estou revoltadíssima! Pensem bem, no rigor do inverno, somente um triste pratinho de mocotó, e bem raso, vai ser a dose máxima.
É a treva!
Ao menos, uma notícia auspiciosa: posso tomar mate, que não dá nada.
Sim, porque, sin mi matecito...andáte a la quete, vesícula!


quinta-feira, 27 de março de 2014

Portinho, 242 Anos!

Cheguei em Porto Alegre aos 16 anos, acompanhada pela minha Mãe maravilha que, dois dias depois, considerou que eu estava devidamente instalada no Pensionato Teresiano, me deu um longo abraço, muitos beijos e nadica de nada conseguiu falar além de um sussurrado "cuidate, nena",  sufocada pelas lágrimas.
Ahhh, como hoje, e somente hoje, entendo a minha mãe, hoje, com minhas filhas, meus três amores morando longe de mim...mas isso é outra história.
Refiro-me ao ano de 1978, março, eu, chegada lá do Itaqui, com minha malinha de roupas um tanto quanto bregas, eufemisticamente falando, sem conhecer nada nem ninguém, solta naquela cidade imensa.
Que pavor, viu! Nem de ônibus eu sabia andar. Itaqui não tinha ônibus, ora bolas! E só se aprende tentando, e foi assim que, pela primeira na vida, aos 16 anos, subi num ônibus de transporte coletivo urbano, subi, e não sabia como fazer pra descer: será que peço ao motorista? pergunto para aquele homem estranho, que fica gritando " um passinho à frenteeee"? Precisava ir até a Biblioteca da UFRGS, mas vi o prédio, e  o ônibus se foi, Osvaldo Aranha afora, e eu ali, suando, queria descer e não sabia como, até que lembrei de minha Mãe - como sempre, com seus sábios conselhos, " nenita, quem tem boca vai a Roma", e me atrevi a perguntar, como faço pra descer do ônibus? Ufaaa. Precisei voltar seis quadras, mas aprendi.
O primeiro ano foi muito difícil.
Acostumada a andar livre pelas ruas do meu Itaqui, morando numa casa grande, de repente meu espaço resumiu-se a um pequeno quarto, onde fazia um barulho infernal, e tudo era muito, muito diferente.
Pior eram os domingos, nos quais o povo do Pensionato que morava em cidades vizinhas a Porto Alegre se mandava e ficávamos somente as do Interior.
Quanta solidão!
Saudade, saudade, saudade. Eu chorava horrores, mas quando o Pai e a Mãe me telefonavam - o que acontecia só aos domingos, as 20 hs, eu fingia estar muito bem, afinal, não tinha sido aquele o meu sonho, o de ir estudar em Porto Alegre? Tinha mais era que aguentar.
O tempo passou, e Porto Alegre foi me seduzindo, lentamente, aos poucos. Sua gente,  suas ruas, parques, a vida cultural, a agitação.
Morei três anos no Pensionato e mudei para um apartamento na Av. Independência.
Aí sim, virei gente grande! Estava terminando a faculdade, morava sozinha e o Itaqui era muito bom, sim, mas...a vida no Portinho era muito melhor! O Portinho e eu viramos as melhores amigas de infância, companheiras inseparáveis, nossa cumplicidade era total. Decifrei o mapa da cidade, conhecia todos os lugares, como ir, como voltar.
Meu tempo de Porto Alegre foi de doze anos, um somatório de coisas boas, experiências que carregarei para toda a vida, assim como as amizades que fiz por lá.
Voltei pra Itaqui em 1990 mas, sempre que posso, tomo o rumo do Portinho, e a alegria invade meu coração quando avisto a Ponte do Guaíba, os armazéns do Cais do Porto, as luzes, o barulho, o vai e vem das pessoas.
Obrigada, Porto Alegre, amiga que me acolheu  tão bem, que me acarinhou, que me passou grandes lições!
Te amo, meu Portinhoooo, por isso sempre quero voltar!







quarta-feira, 26 de março de 2014

Caramelito

Eu tinha ( e sempre terei) adoração por minhas tias argentinas, as irmãs de minha Mãe, Maria Luisa e Alba Mercedes.
Maria Luisa, a Tia Mary, era uma pessoa culta, diretora de escola municipal no Alvear, sempre inteirada de todos os assuntos do país e do mundo, lia muito, as estantes e os móveis de sua casa eram cheios de livros dos mais variados tipos, desde os infantis, embora não tivesse filhos, passando pela poesia, indo pelos clássicos e assim por diante. Nós nutríamos grande amizade uma pela outra, uma camaradagem de amigas de toda uma vida, apesar da diferença de idade; ficávamos horas juntas, rindo de qualquer coisa e conversando. Ela me mimava como a filha que não tinha.
Alba Mercedes, a Tia Albita, era uma mulher linda, também era diretora de uma escola estadual em Concordia, onde morava, e pra lá fui muitas e muitas vezes passear, sair com ela para tomar banho de rio, comer um fantástico sorvete de doce de leite,   as noites de verão eram pequenas para tanto assunto e, também,  apesar de nossa diferença de idade, nos dávamos muito bem. Ela me mimava como a filha que não tinha.
O que ficou de tantas vivências maravilhosas com minhas tias maternas?
Ficou um saldo muito positivo de açúcar em mim.
Explica-se: elas me tratavam a pão de ló, me davam colo, saiam comigo, mostravam-me coisa novas, faziam a sobremesa que eu mais gostava para me esperar, como se eu fosse uma visita ilustre, só que não, eu era apenas a sobrinha criança/adolescente que chegava na casa delas com suas pequenas histórias pra contar, e nós, simplesmente, nos amávamos. Nosso convívio era doce, terno, agradável, elas, para mim, eram como um porto seguro ao qual eu podia chegar a qualquer momento e arriar as velas. Os abraços estavam ali, as palavras certas e sábias e carinhosas estavam ali.
E havia, também, entre as duas, um traço em comum:  quando percebiam  algum resquício de tristeza em mim elas, prontamente, perguntavam: " No queres um caramelito? Tomá um caramelito, y quedarás muy bien." Era a forma amorosa que encontravam de dizer " estou a teu lado, toma minha mão."
Por tais razões e tantas outras, meu queridos amigos, tenho uma dificuldade extrema em lidar com pessoas amargas, com pessoas/fel, que se comprazem em estragar o dia do outro, em criar uma montanha de dificuldades, em deixar um rastro de destruição por onde andam.
A amargura estampa o rosto desse tipo de ser humano e deixa marcas profundas, o que é uma lástima, com tantas coisas boas que temos sob este céu que nos protege.
Perdoem-me, amargos, mas não podem me culpar pelo excesso de amor que recebi, graças a Deus, o que me leva a perguntar, não sem uma ponta tristeza:
Será que nunca tiveram uma tia para lhes ofertar " un caramelito?"





terça-feira, 25 de março de 2014

Caravana da Coragem

Tinha cinco anos quando avistei o mar pela primeira vez, na Praia Brava, pela mão de meu Pai e, durante o ano todo, ficava sonhando com os dias que antecediam o veraneio, e assim é, até hoje.
Estar perto do mar, ir à praia, pra mim, é questão de sobrevivência, e explico aos meus amados amigos que, na condição de moradora da Fronteira Oeste onde, no verão, 45 graus é coisa habitual e corriqueira, avistar aquela imensidão azul e sentir a brisa que sopra todo final de tarde é de deixar a alma de qualquer cristão louca de faceira.
Meus preparativos começam lá pelo mês de setembro, quando os primeiros raios de sol um pouco mais forte se fazem sentir, a temperatura ainda está amena, e se pode planejar a viagem, que costumo chamar de " a caravana da coragem",  com calma.
Trabalho o ano inteiro para desfrutar por tão somente 10, 12 dias, as delícias de ficar num dolce far niente, estirada como um lagarto ao sol, sim, sim, eu sei que sou extremamente politicamentiiiii incorrréééétaaa, mas  não uso filtro solar fator 50, não.
Levo Rayito de Sol, um bronzeador argentino que existe há uns 50 anos, mais ou menos, e que me deixa com uma cor fabulosa, até porque uma das grandes alegrias de ir a praia é você voltar com aquele bronzeado de quem passou uma temporada no Saara e ver que suas amigas estão um tantinho mais brancas que você.
E não adianta mentir que não é assim, porque é, que jogue o primeiro tubo de bronzeador a mulher que não adora exibir seu bronzeado pra outra.
Como eu dizia, me viro mais que bolacha em boca de velho durante o ano todo para sair de férias e ir daqui até a praia carregando, na mala, dois chinelinhos, uns vestidos, bermuda, camiseta e fim de linha. E, claro, meu inseparável tubo de Rayito.
Ao raiar das 6 da manhã parte a caravana da coragem, porque dispor-se a viajar 900 km,  sair da sua zona de conforto, do seu pátio, da sua piscina, do dia a dia bem certinho dentro do vidrinho não é lá tarefa muito fácil, mas eu vou, eu vou, pra praia agora eu vou, e nada me ataca.
Afinal, eu me mando: a preguiça, o desejo de ficar em casa muito bem instalada, a distância, ficam  me assoprando, uns três dias antes da viagem: " não vai, bobalhona, fica; olha que pode chover durante os 12 dias, hem; olha que o trânsito atééééé láááá é infernal; olha a trabalheira de arrumar a mala, acomodar os gatos, contratar o guarda, tanquear o carro, calibrar pneus... ufaaaa - muito melhor é ficar por aqui, mesmo!"
Ahhh, mas não me rendo, por mais que essas vozes fiquem me cutucando, eu vou. Eu vou para Maracangalha, com ou sem a Nalha, mas eu vou!!!
E, à primeira visão do mar, faço o que já se tornou um ritual: sento quietinha, sentindo a areia sob os pés, e deixo-me ficar, e a única palavra que me vem à cabeça é: Obrigada!
Sentimento de gratidão por estar ali, no lugar que adoro, com as pessoas que amo, fazendo uma das coisas que mais gosto na vida, que é estar junto ao mar.
Por isso, cada vez que parte a caravana da coragem, estrada afora, sempre penso: lá no final do caminho está teu pote de ouro.
E, já na estrada avisto, sempre, um arco íris lindo à minha frente!

P.s. Ao meu fã clube de  meia dúzia de gatos pingados que ontem reclamou que não postei nada, seguinte: meu final de semana foi algo do tipo Sábado de Aleluia, se é que me entendem...muita corrida de 22 Km, por isso, ontem, tirei o dia pra descansar a beleza e cuidar da pele!
Beijos, até mais ver, fuiiii!!!


domingo, 23 de março de 2014

Amor Louco

Você já teve um amor louco?
Aquela paixonite aguda, agudésima, que te faz sentir febril e flutuando e totalmente, tolamente, completamente envolvida pela outra pessoa?
Nada mais há no mundo, somente aquele amor que você conheceu no lugar mais inesperado, num dia absolutamente normal de sua vida, mas que a deixou de cabeça pra baixo. Assim como deixou todas as suas coisas e interesses e pessoas que te cercam em segundo, terceiro e último plano.Nenhum plano. Não há mais plano. A única coisa que existe é a contagem regressiva para o dia a hora em que você vai ver o seu amor. O amor de sua vida, é o que você pensa.
Sim, aquela pessoa, como ela, como aquela, nunca jamais na história de sua vida haverá outra. Nem melhor, nem pior: igual àquela não terá.
É uma delícia, é uma sensação de que sim, o mundo gira apenas em torno de vocês e para vocês dois, e ninguém mais.Tudo é tão intenso, tão mega, tão super, sim, o amor louco é um superlativo que te faz ver o sol muito mais brilhante, o céu muito mais azul, o mar é incrível, as árvores são mais verdes, as flores muito mais coloridas e você passa seus dias rindo à toa, não consegue parar de sorrir porque pensa na suprema ventura de ter encontrado aquele ser fantástico que te eleva aos píncaros da glória.
E foi amor à primeira vista. Você olhou e pá: apaixonou-se irremediavelmente, e sabe que só tem um caminho: caminhar aquela quadra de sua vida, sob pena de sucumbir ao remorso de não ter se permitido  cair em queda livre do décimo andar sem paraquedas, e aí você pensa... não, você não pensa:você se transformou numa imensa palavra,  a palavra SIM.
Seus amigos estão preocupados: nunca viram você nesse estado de agitação, come pouco, dorme menos ainda, arruma-se todo dia como se fosse tomar chá com a Rainha da Inglaterra, e não liga mais pra nada
e nem pra ninguém, só suas razões importam. Afinal, quem manda mesmo na sua vida?
É seu coração, ora bolas. A razão bem que tenta avisá-la: amiga, olha que pular do décimo andar sem paraquedas é brabooo...
E você liga pra isso? Claro que não! A vida é sua, e nenhum tipo de argumento racional ou conselho será capaz de deter o seu salto.
Você sabe, é, lá no fundinho do pingo de razão que lhe resta, você sabe que aquele amor louco não vai ser pra toda vida. Mas não vai messsmooo. Mas porque? Como assim?
Si, es la dura realidad: o amor louco sucumbe ao primeiro choque de realidade, ao primeiro embate, ao primeiro dia de feijão com arroz. Isso pode levar 1 mês, 1 ano, mas a validade dele acaba com o retorno dos lugares comuns que permeiam nossos dias: acabou-se a novidade, terminou a sensação(gloriosa) de pular do décimo andar sem paraquedas, e a rotina dos dias e das noites instalou-se onde antes só havia um tempo: 24 horas, nem você nem ele sabiam se era dia ou se era noite.
A razão te chama de volta, as demandas que fazem parte de tua vida te reclamam, e você precisa voltar. Você vai voltar.
Você volta.
E o amor louco, aquela experiência maravilhosa de dar um salto no escuro vai ficar só na lembrança, daquelas que farão você sorrir sozinha: afinal, é uma história só sua e dele, porque no amor louco, o espaço é bem exíguo, é o amor pelo amor, a paixão pela paixão.
Se você já teve um amor louco, parabéns!
Se ainda não teve um,  e pode ter, tomara que tenha: ele é uma das tantas coisas que faz a vida valer a pena. Se poderia ter tido um e fugiu, que pena: você não imagina, amiga, como é divino jogar-se do décimo andar sem paraquedas!

Tabela Periódica

Com meu indefectível matecito e minhas elucubrações,  observando o sol e o céu maravilhoso de começo de outono, fiquei pensando na Tabela Periódica, na genialidade da coisa, em como, lá em 1789 Lavoisier conseguiu "organizar,  na forma de uma tabela, a disposição sistemática dos elementos, em função de suas propriedades"...chiquérrimoooo!!! 
Claro que esse conceito eu copiei do Google,  porque nessa matéria sou zero, quem entende disso é minha filha Marina, Engenheira Química. Eu, de fininho, tirei a pontuação mínima na prova de química quando fiz o Vestibular, há dez mil anos atrás, só que ela tinha peso 1, então, tudo certo.
Mas no que eu pensava, exatamente, era em como as pessoas poderiam se parecer a um determinado elemento químico.
Vamos começar pelo melhor, aquele que nunca pode faltar: o Oxigênio.
Imaginem vocês, meus amigos, como seria uma pessoa oxigênio: um ser leve, que te refresca, que deixa todo mundo muito bem, sentindo-se muito à vontade, no seu elemento, ou seja, te dá a seguinte sensação: como é bom estar junto com você, que me deixa respirar, que não me causa nenhuma espécie de sufocamento.
Já uma pessoa Chumbo seria exatamente o contrário:  chumbo vem de " plumbum", e uma  pessoa chumbo seria aquele ser pesado, incomodativo, que te puxa pra baixo,  que te causa a seguinte sensação: tirem-me daqui, socorro, help, lá vem aquele purgante de óleo! Plumbum!
Uma pessoa Nitrogênio é aquela figura fria, gelada, que não se comove com nada e, por ser assim, te causa medo e repulsa.
Ainda bem que, para amenizar bastante a situação, dois elementos resolveram se juntar,  e formaram a água.
E uma pessoa água seria aquele ser fluído, delicado, que te dá passagem e não te amassa, que te proporciona a seguinte sensação: é uma delícia estar com você!
Como vêem, a Tabela Periódica pode ser uma fonte inesgotável de comparações e combinações, isso sem adentrar na questão da tendência de certos átomos, que podem ser extremamente reativos, enquanto que outros são inertes.
 Apenas pensamentos de um dia( água) de domingo...


sábado, 22 de março de 2014

L'Origan de Coty

Toda família tem ditos e expressões que lhe são peculiares, algo assim como um código particular que vai se formando ao longo do tempo,  e quando a ocasião requer.
O Dr. Edgard, quando queria referir que algo era muito fino e chique, dizia, " Huummm, igual a L'Origan de Coty (um perfume francês, caríssimo, da época). Mas o mesmo valia quando alguma coisa dava errado, ou não saía de seu agrado ou, pior ainda, exalava mau cheiro: " Huuuumm, soltaram um  L'Origan de Coty"...
Certa feita, Alberto e eu fomos convidados para um baile em Porto Alegre. Baile de gala, de longos e gravatas pretas, o que me fez correr durante mais de mês atrás do modelito, já que não queria fazer feio.
E lá fomos nós, e mais três casais de amigos aqui da fronteira para o tal do baile, num clube chiquetérrimo do Portinho.
Logo na entrada, via-se que a coisa era pra quem tinha café no bule, o que não era nosso caso mas, já que estávamos ali, iríamos dançar conforme a música. Que por sinal, era fantástica. Uma orquestra de cinema, com uns 40 integrantes, uma decoração linda, só gente bonita e glamurosa.
Estávamos entre umas 12, 14 pessoas em uma mesa finamente decorada, como todas as outras, conversando alegremente e, depois, a pista de dança ficou pequena para nosso grupo que, de longe, era o mais animado do baile. Como já disse: interioranos, sempre nós, agitando na festa.
Em nosso grupo havia, também, casais da Capital, amigos nossos, logicamente que bem mais comedidos, mas de igual modo, divertindo-se muito.
Nas mesas,  canapés e outras iguarias, acompanhando a champanhota, que era servida a todo instante; taças vazias, jamais.
Um baile realmente espetacular, perfeito, que corria normalmente até que, lá pelas 4 da manhã, quando todos os casais já estavam dançando em torno da mesa, aconteceu algo.
Algo saiu errado, não deu certo.
Não era pra ter acontecido, mas aconteceu.
E não tinha nada que se pudesse fazer pra remediar a situação.
Nada.
De repente, um cheiro insuportável espalhou-se pelo ar. Um cheiro fétido, nauseabundo, quente, puro ácido sulfúrico, salada de repolho, o escambau. Se lascassem um fósforo, com certeza pegaria fogo.
Num primeiro instante, todos se entreolharam, meio rindo, meio apavorados, aquela sensação de estar em falso e saber que vai cair e não tem onde segurar.
As madames mimimi não sabiam onde enfiar a cara; as do interior,  fizemos aquela cara de paisagem e olhar idiota, e tentamos seguir dançando, só que não dava. O fedor estava, realmente, insuportável.
Até que um dos que tinha vindo da fronteira sentenciou:
Isso é peido!!!
E, como todo mundo se fez de louco e que não escutou, ele berrou:
ISSOOO  É " CHERO"  DE  PEIIIIDOOOOOO!
Foi a deixa que faltava para a debandada.
Saiu todo mundo empurrando-se porta afora, um verdadeiro tropel, desatinados por ar puro, por uma brisa fresca.
Ninguém se atreveu a olhar pra cara do outro, simplesmente, o povo escafedeu-se.
E assim terminou o baile chiquérrimo, finíssimo, para o qual gastei uma nota preta com vestido, sapato, salão e outros penduricalhos.
No dia seguinte, não pude deixar de rir lembrando do Pai: com certeza, derramaram um litro de L'Origan de Coty naquele lugar.


22 Quilômetros

Quando eu morava no Pensionato Teresiano,onde fiquei por três anos, tínhamos uma turminha que se reunia, invariavelmente nos finais de tarde pra tomar um mate, fazer café e conversar fiado. Eram pessoas dos mais diversos pontos do estado, todo mundo ali fazia cursinho ou faculdade, e foi um período de vivências novas pra mim, e de muita, muita diversão. Riso fácil, graça em tudo, piadas sobre qualquer coisa, de nosso crivo ninguém escapava.
Eu, bacudésima do interior,  achava aquilo tudo lindo demais, aquela reunião de 7, 8 gurias que se formava todo santo dia pra falar abobrinhas e outros afins.
Sábado era o dia D: de comprar vinho de garrafão, o mais barato, claro, porque   ninguém  nunca tinha um centavo sobrando, algumas bolachinhas e marcar a " festa",  pra começar bem o fim de semana. Íamos até um super que ficava perto dali e fazíamos nossas comprinhas, que a gente trazia enroladas em algum moleton para que a freira da portaria não percebesse o que era. Combinávamos no quarto de quem seria a junção, e pra lá carregávamos o rádio de uma, a TV da outra, copos, e o tal do garrafão de vinho, claro.
Vejam vocês, queridos amigos, como o que realmente importa é o espírito da coisa, porque o que sobrava em todas nós era uma vontade louca de falar qualquer quantia de bobagens e rir, rir muito, o vinho era apenas um mero pretexto que usávamos para celebrar nossa camaradagem.
Tínhamos uma colega que era especialmente agitada, sim, ela era muito engraçada. Moradora da região da serra, estudava arquitetura e o noivo, engenharia. Ela jamais faltava a esses encontros, até porque, sem ela, a coisa ficava meio capenga, meio morna.
Ela saía com o noivo às sextas feiras e, geralmente, aos sábados, ficava no Pensionato porque precisava estudar para suas provas - não sem antes, claro, tomar um foguetaço de vinho tinto.
Tomadas as primeira canecas, já começávamos a rir bem mais alto que o permitido e a soltar a língua e a dizer o nos viesse à cabeça, e nossa amiga jogava-se no chão, ou na cama e, rindo muito, anunciava:
" Ontem, eu e o Roberto(vou chamá-lo assim) corremos 22 quilômetros! Que coisaaasa mais boaaaaa!!! E gargalhava, e ria, e dê-lhe vinho.
Eu pensava: nossa, que legal deve ser correr tudo isso, 22 quilômetros!!! e calculava, mentalmente, puxa, da Praça de Itaqui até o Quartel são 5 Km, do Porto até a Tito, mais 4, como eles correm, hem.... e a risada seguia solta, e nossa amiga alardeava aquilo noite afora.
Por vezes, no meio da semana, ela chegava afoita da rua, os olhos brilhando,  e comunicava: acabei de correr 22 quilômetros! Tô poooodreeee!!!
Até que um certo dia, acho que com um pouco de pena de minha ignorância, ela colocou a coisa  assim, direto sem escalas: guria, passei a noite de ontem todinha transando com o Robertãoooo, ENTENDEU? Correr 22 quilômetros foi uma medida que nós inventamos, é uma tabela que foi criada na....mas eu não escutava mais, sufocada pelo riso.
A partir dali, todas nós adotamos aquela expressão.
Lembrei de tudo isso porque, depois de ter ficado cinco dias circulando pelo Portinho e longe do maridão preciso, urgente, correr 22 Quilômetros!




sexta-feira, 21 de março de 2014

Salão de Beleza

Desde que me conheço por gente, sou louca por salão de beleza.
A D O R O!
Nos meus tempos macérrimos de estudante, economizava os parcos pilas que o Dr. Edgard me mandava e ia num salão que ficava na Lima e Silva só para me dar o desfrute de fazer as unhas e arrumar o cabelo.
No dia seguinte, domingo, comia massa miojo e salsicha. Mas de unhas feitas.
O cabelo até nem era o essencial.
A questão, mesmo, eram as unhas.
Eu podia( e posso) ficar sem comer, sem dormir, mas sem fazer minhas unhas, ahhh, não ficava, de jeito nenhum! Acrescente-se a isso que, agora,  pinto o cabelo. Cabelote pintado, e não tenho nenhuma cerimônia em mudar de cor, de corte, já fiz de um tudo neste pobre cabelo que, pelo visto, também adora salão, porque se mantém firme e forte, graças a Deus.
O salão de beleza é um lugar de alegria, para mim. Lá, todo mundo fala bem alto, escuta música e conversa somente abobrinhas: assunto triste fica pendurado num saquinho, do lado de fora.
É uma verdadeira terapia, a terapia da coisa boa, do ficar bem, do sentir-se bem, de ver o tempo passando e a gente está ali, á toa na vida,com um único propósito: relaxar, ficar melhor.
Depois de um dia não tão bom assim, receita de felicidade: vá até o salão de beleza que você costuma frequentar ( antes, claro, coma um ovinho frito com pão). Vai chegar lá meio arrasada, vai sair linda e maravilhosa com seu cabelicho esvoaçante, com suas unhas brilhando, pintadas com aquele esmalte daquela super cor.
Não dá pra ficar triste depois de uma tarde no salão.
Considero-me uma pessoa de sorte, porque tenho amigos no salão que vou, na Vera Beauty. Minha amiga/irmã Vera Lopes Poderosa, meu amigo Fara, tenho a Lurdes, que é em outro local, onde faço as unhas, mas são pessoas que enchem de alegria meu dia, a cada encontro. Convivo há anos com eles, que me conhecem com manha e tudo.
Sábado é dia de ir ao salão de beleza, e amanhã é sábado.
Que maravilha, Carmem Sevilha!!!

Ovinho Frito

O meu Avô paterno, Atílio Mondadori, que Deus o tenha, era uma pessoa boníssima, carinhoso comigo, adorava pescar ali, no cais do Porto e, sempre que podia, levava-me junto.
Ele era um homem alto, grande, forte, mas de fala mansa, e sempre me dizia, com sua fala tão linda" vamos, pequena, vamos dar uma volta". E estendia-me as mãos.
Que pessoa bacana, que ser humano especial era o meu Avô Atílio!
Imaginem vocês, queridos amigos, que ele presidia uma mesa onde, invariavelmente, sentavam-se em torno de 15 pessoas, todo santo dia, sem contar os domingos, é claro, que era uma festa a parte.
Italianíssimo, ele adorava aquela gritaria que se formava durante os almoços e jantares, mas bastava um olhar e todo mundo ficava quietinho, e meu tio Carlos Alberto anunciava, em tom solene: silêncio, que vai começar o Correspondente Renner e o papai não escuta!
Fazia-se um silêncio de sepulcro, e começava aquela musiquinha tátátátá... e, logo a seguir, começava:
" aqui fala o correspondente Renner, editado pelo departamento de jornalismo da Rádio Guaíba, como notícias da Associetd Press, Frans Press, e UPI.."
Ninguém podia dar um pio durante o correspondente Renner,  que começava as 13 horas.
Almoçávamos, sempre,  a partir das 13 horas, nunca antes. Meu Avô ficava uma arara se o almoço fosse servido antes desse horário.
Explica-se: todo dia, ele chegava na cozinha por volta de 11 horas e pedia pra cozinheira: " meus dois ovos fritos, Gija".
E seguia-se todo um ritual: um canto da mesa da copa era arrumado com um guardanapo, um prato raso,
pão d'água, garfo, faca e um copo com água. Meu Avô sentava-se ali como se fosse um rei, diante dos dois ovos fritos, e comia-os  lentamente, bem devagar, saboreando cada pedacinho.
Meu Pai adorado Dr. Edgard, tinha a mesma mania: chegava em casa as 11, e pedia: " dois ovinhos fritos, Comadre", e fazia exatamente a mesma coisa que meu Avô.
Tudo isso para dizer a vocês que, quem sai aos seus, não degenera.
Sempre que posso, como um, é, só 1 ovinho frito com pão. Como bem devagarinho, lentamente, saboreando cada pedacinho, como meu Avô Atílio e meu Pai faziam.
Sou alucinada por ovo frito, fico felicíssima depois que como um ovinho frito com pão e,  sempre que faço isso,  tenho a nítida sensação que o Avô Atílio e o Dr. Edgard estão ali, ao meu lado, sorrindo.
Só não me peçam pra escutar o correspondente Renner!



Soltando a Barra da Saia.

As horas do dia que mais me agradam são cedinho da manhã( lá pelas 7 ), quando sopra aquela brisinha agitando os arbustos e tudo ainda é quietude, e o final da tarde, quando o Sol vai indo embora, despacito.
Nessas horas sempre estou sozinha, tomando meu mate e pensando na vida.
Minhas filhas saíram daqui para estudar em Porto Alegre há 6 anos.
Nos primeiros tempos achei que fosse ter um treco, aliás, tive um treco quando deixei a Rita e a Marina pela primeira vez, com todo este mundão de Deus pela frente. Quando passei a ponte do Guaíba com destino a Itaqui, chorava tanto que nem sei como consegui dirigir aquele pedaço e, por umas boas duas horas, vinha com uma cara muito, muito feia.
A chegada em casa, a uma casa quase vazia, (por sorte a Karina ainda estava estudando aqui)foi motivo de mais choradeira.
Três anos depois foi a vez da Karina, o meu Galinho.
Aí, sim, que a coisa piorou um pouquinho mais.
Eu me sentia tão perdida, tão sem noção de nada, que só tenho a agradecer aos meus amigos e ao marido, que me aturaram naquela quadra da vida, assim como já me aguentaram em tantas outras empreitadas.
Elas, ao contrário, só tinham coisas novas para vivenciar, muito aprendizado, experiências, crescimento.
Foi uma época complicada na minha vida, falando de forma simples.
Mas passou, como tudo passa.
Hoje, tenho o seguinte quadro:
Minha filha mais velha é Procuradora da Fase(RS), aprovada em concurso público de provas e títulos, a do meio é Engenheira Química na empresa John Deer, e a mais nova faz Nutrição.As gurias se viram mais que bolacha em boca de velho, saem de casa cedíssimo, voltam no fim da tarde e ainda sobra tempo para outros tantos afazeres. Cresceram, são donas de seus próprios narizes, se mantém com o que, por  esforço próprio conquistaram, e continuam estudando e subindo, degrau por degrau, a escada que leva à concretização dos seus sonhos.
Eu, depois de todo esse tempo, aprendi - não sem esforço, não sem uma vontade tremenda de não ficar chorando no cantinho, a fazer um novo desenho de minha vida.
Comecei com um rascunho, e fui indo, e hoje olho para trás e vejo o quanto caminhamos - elas, eu, e concluo que, por mais que a gente sinta, os filhos soltam a barra da nossa saia e saem para escrever sua própria história.
Isso é bom, é muito bom, é sinal que o que tentamos passar pra eles, de algum modo, deu certo. Frutificou.
E aí, quando sentimos isso, também soltamos a barra da saia deles, e (re)começamos.
Mais leves, donas e senhoras de nosso tempo, das músicas que queremos ouvir, do volume da TV bem alto, da casa do jeito que era quando não tínhamos crianças, de poder namorar à vontade, de inventar algo novo.
Minhas filhas amadas do meu coração, a mami poderosa(como vocês dizem) largou do pé de vocês (finalmente) e também vai curtir muito!
Não se surpreendam se, qualquer dia desses, eu for parar num baile funk.
Adoro vocês!!!




quinta-feira, 20 de março de 2014

" Runião"

Intimada pela Coordenadora do Setor de Cultura, minha querida amiga e companheira Martha Luzia Delgado, compareci a reunião dos Amigos da Cultura, realizada no final desta tarde, e por ela fui encarregada de congregar os escritores e poetas do nosso Itaqui, a fim de pensarmos e colocarmos em prática projetos como saraus literários, hora da poesia, leitura de contos e troca de experiências entre os que desejam vivenciar e expandir seus horizontes culturais.
Agradeço-te, amiga, pelo convite, o qual me deixou extremamente feliz porque,  como até a torcida do Flamengo sabe, sou rata de livraria desde que me conheço por gente, não dispenso uma boa leitura e penso que o livro é aquele super amigo de todas as horas: sempre à disposição e ao alcance de nossas mãos para nos mostrar novas paisagens e nos fazer embarcar numa viagem rumo a histórias fantásticas.
Por outro lado, saí da reunião com mais dor de cabeça do que quando entrei, face ao tamanho da responsabilidade que agora tenho em mãos e, tomara, me mostre digna dela.
Quando a Martinha me ligou, lembrei de um outro amigo e companheiro de partido de tantos anos, que agora não está mais entre nós, encarregado de avisar sobre reuniões a serem realizadas.
Pois ele chegava no meu escritório, alegremente, com seu sorrisão, e anunciava: " companheira, hoje tem "runião"! A letra "e", ele suprimia, e fim de linha; tinha runião, era a runião, e deu. Só que ele era uma pessoa tão especial, tão bacana, era aquela pessoa agregadora, que acolhia, que a gente ficava louca de vontade de ir logo pra " runião".
Sem a letra "e", que nunca fez a menor falta.

Visita Ilustre

A Ministra Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a gaúcha Maria do Rosário, esteve hoje em Itaqui para, palavras suas " agradecer a medalha que lhe foi concedida pela Câmara de Vereadores de Itaqui ainda no ano de 2013". O motivo de sua ausência, segundo explicou, foi que, no dia da Sessão, encontrava-se em São Borja acompanhando o trabalho de exumação dos restos mortais do ex-Presidente João Goulart.
Em reunião que aconteceu no Gabinete do Prefeito na tarde de hoje, Maria do Rosário me encantou pela educação, simplicidade, firmeza em seus argumentos e profundo conhecimento da diversa gama de assuntos que são abrangidos pela secretaria dos Direitos Humanos.
Articulada, afetuosa, sorriso franco, a Ministra conversou e a atendeu a todos, posou para fotos com uma paciência de Jó, e respondeu a tudo que lhe foi perguntado.
Confesso a vocês, amigos, que não imaginava, nem de longe, que ela fosse assim.
Para Itaqui, é uma honra receber cidadã de tão alto gabarito. Para o Rio Grande, motivo de orgulho. Para o Brasil, uma tremenda sorte, ter uma Ministra que sabe a que veio.
Obrigada, Maria do Rosário, volte sempre!!!

Interioranos

Depois de cinco dias perambulando pelo Portinho, de volta a Itaqui, à casa, ao meu cantinho.
Amo Porto Alegre e isso não é segredo pra ninguém, morei lá por doze anos e criei laços e vínculos que se mantém até hoje.
Entretanto, sim, sim, eu curto muito ir pro Portinho...mas a hora em que revejo os campos, em que desço do ônibus, do nosso glorioso Planaltão - acho que conquistei o direito de me referir assim, carinhosamente,  a empresa Planalto porque viajo e ando por essa estrada Itaqui/Porto Alegre desde, bueno, desde 1978, quando caí de mala e cuia no Pensionato Teresiano ( Av. João Pessoa, 553), então, sou meio sócia majoritária, aquele ônibus verde e branco faz parte do meu show.
Mas o que  quero dizer, mesmo, é que é sempre uma alegria para meu coração voltar pro Itaqui, não interessa a distância, a viagem, o tempo que se leva(9 horas), aquela sensação, meio desesperante, que toma conta da gente quando são umas 4 da manhã e ainda não chegamos  e não se sabe mais que posição adotar.
Nada disso importa, tudo isso desaparece quando chego em casa, quando saio na rua e já avisto vizinhos e conhecidos e colegas de trabalho.
E a função começa na rodoviária de Porto Alegre, onde sempre, sempre,  encontramos pessoas conhecidas que, como boas interioranas que são, cumprimentam-se alegremente e falam sem parar, acho que quem vai a Capital e  vê uma parte de seus conterrâneos é como se já tivesse andado a metade do caminho, como se dissesse " ufa, tô quase chegando em casa".
Pode parecer ingenuidade, mas é assim que sinto, talvez porque adore esta vida simples, onde o contato com as pessoas é quase como um afago. Sempre foi assim, jamais consegui ficar mais que trinta dias longe daqui; as raízes te puxam, te fazem voltar, te acenam o tempo todo na memória, na saudade, na alma.
Por essas e outras, nunca tive problema em afirmar, com muito orgulho, sim, eu sou do Interior do Estado, e  não me deixei contaminar (apesar do tempo vivido em Porto) com seus "tis" e "dis" e aquela fala típica dos Portoalegrenses. Até acho graça, digamos assim, quando vejo uma pessoa do interior falando " boa tardiii", ontem à noitiii", com uma afetação que, definitivamente, não combina com quem é daqui, só que isso é de cada um, que fala do jeito que lhe apraz.
Interioranos, pessoas simples pero, ojito: não significa que sejamos simplórios.
Até mais ver, beijooooo!!!




terça-feira, 18 de março de 2014

Cheirinho de Bolo

Uma casa que exala aroma de bolo é um lar. Ali, enquanto o bolo assa lentamente e o perfume vai se espalhando pelo ambiente, certamente encontrarás alegria e pessoas conversando animadamente, até que o mesmo fique pronto.
Depois de um dia inteiro de curso, produtivo e interessante, é verdade, mas cansativo, porque despejam matéria na cabeça da gente, leis, resoluções, decretos, final de tarde com um trânsito complicado, chuvinha fina e fria caindo no Portinho eu, já no táxi, vinha pensando que a melhor maneira de relaxar seria fazendo um bolo de chocolate e uma jantinha no capricho para minhas filhas, coisa que faço com o maior prazer e carinho.
Como boa descendente de italianos, adoro casa cheia e o burburinho enquanto estou na cozinha, às voltas com panelas, formas e ingredientes.
Foi o que fiz.
Passei a mão no meu avental (bá, sou antiga, gente), e até a gata das gurias, a Laila, se abancou na cadeira da cozinha para acompanhar a função.
Primeiro, o bolo:  uma nega maluca que, modéstia à parte, saiu espetacular, dela só restou um mísero pedacinho; até meu genro Pedro, fanático por dietas e por aquela alimentação saudável que tento adotar há 10 mil anos e não consigo - como fica óbvio pra quem me conhece, não resistiu e se atracou, se atirou como burro no azevem  (como diz um velho amigo), sem contar que as filhas davam uma voltinha e pá - outro pedacinho, mãe...só mais outro...
Depois, estrogonofe, arroz branco e salada. Foi um arrasa quarteirão!
A felicidade de quem cozinha é ver que seus afetos comem, se lambuzam e repetem o que foi feito, por mais trivial que seja, e o segredo é simples: tudo que se faz com amor fica bom. Fica bom demais!
Han visto que buena chica soy?

Beijo a todos, fuiiii!!!

segunda-feira, 17 de março de 2014

Eu sou lá do Itaqui!

Amigos e Amigas, hoje estou realizando um dos tantos sonhos que embalam meus dias: ter um espaço para poder escrever sobre assuntos diversos, compartilhar opiniões e dividir um pouco do cotidiano, daquilo que me move...
O título é uma homenagem à memória de minha Mãe Maravilha, a Dona Kila, argentina e, por tal razão, o espanhol é a língua que me emociona e me traz as mais lindas recordações, a língua materna, para mim, é sempre um afago. E, claro, homenageio a memória do meu Pai Adorado, o Dr. Edgard que, se aqui estivesse, tenho absoluta certeza que estaria bem do meu ladinho espiando e louco para ver o resultado de mais uma arte de sua filha mais nova, agora não tão nova assim, que lá se vão 52 anos a maioria deles, eu diria, felizes, graças a Deus.
E, claro, não poderia deixa de referir minha terra natal, o meu Itaqui.
Pra você que não sabe onde fica esse lugar, te aviso: Meu amigoooo, Itaqui é lá na Fronteira Oeste, divisa com a República Argentina, e dista 730 de Porto Alegre, nada que a gente não esteja acostumado a andar, seja de ônibus, seja de carro, pra nós, Itaquienses, 9 horas de viagem é algo banal, tá, claro, chega-se levemente liquidado, mas nada que um cochilo não resolva. Ademais, Itaqui é banhada pelo Rio Uruguai e possui uns 38 mil habitantes. Nós, no verão, sentamos na calçada, conhecemos todo mundo que circula por lá e as noites são embaladas pelo som do vento nas árvores, alguns grilos, e era isso.
Poderia ficar bastante tempo discorrendo sobre  minha terra e suas peculiaridades, mas isso será objeto de outras tantas posts que virão.
Por eso, te hago una invitación: vení, acercate y vamos, juntos,  a tomar un matecito. Te puedo asegurar que pasarás momentos agradables y divertidos.
Grande abraço,super beijo, até qualquer hora!