sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O Livro, Esse Personagem

Já escrevi sobre o fascínio que os livros exercem sobre mim.
Provavelmente escreverei mais vezes,  pois esse é um assunto que não se esgota.
 Não me canso de discorrer sobre a maravilha que é poder ter, à mão, um bom livro para ler.
Para mim, é como se fosse uma espécie de bênção, sinto uma alegria que não consigo e nem quero esconder, assim fico quando adquiro um livro.
Se preciso escolher entre comprar um sapato novo ou um livro,  a segunda opção vencerá, disparado.
Imagina que vou estar no Portinho e não vou passar numa livraria.
De tantas me salvaram meus livros que vocês, queridos amigos, nem calculam.
Sim, por que o livro, esse personagem que faz parte de mim, é aquele amigo silencioso, fidelíssimo, que está sempre à mão para prestar o socorro necessário, nas horas alegres e naqueles dias negros em que alma da gente fica cinza e pesada.
Eu nasci e me criei e meio aos livros, tenho amor por eles, conheço-os pelo tamanho, pela cor da capa, pelo cheiro.
Cada livro conta uma história para mim, e de mim também diz muito, pois os títulos que leio retratam assuntos que me interessam e emocionam.
A curiosidade me vez adquirir, recentemente,  um livro escrito por Leonardo Padura, escritor cubano, nascido em Havana em 1955.
Quando vi a capa e dei uma olhada rápida no prólogo, senti que tinha em mãos uma joia, uma daquelas raríssimas combinações de talento, muita pesquisa histórica e um enredo envolvente.
Não me enganei, fiquei fã desse escritor!
Tão bem ele escreve e descreve lugares e fatos que vou dar um jeito de ir a Cuba, pois preciso ver com meus próprios olhos as realidades ali apontadas.
Ele é mestre no ofício da escrita!
Um livro abre janelas para paisagens insuspeitas, lança novos olhares sobre conceitos antigos, e nos faz ter vontade de sair do nosso pequeno mundo, despertando outros "eu" interiores.
Como disse no início desta post, este é um tema que não se esgota aqui.
Até o próximo livro!


Obrigada, Prefeito Gil Marques Filho.

Dia seis de janeiro de 2009 recebi um telefonema da então Secretária da Administração, Ana Lúcia Cabreira a qual, por pedido do Prefeito Gil Marques Filho, me chamava para integrar a Administração Municipal no cargo de Assessora Jurídica.
A partir dali, um novo mundo mostrou-se para mim, egressa da advocacia privada, e agora voltada ao Direito Público, completamente diferente, em todos os sentidos.
Mas, tive a felicidade de estar cercada de colegas advogados e de servidores estatutários que, sem exceção, muito me ajudaram.
Foram solícitos, pacientes, houve coleguismo e muito afeto.
Entretanto, por trás de tudo isso estava a pessoa do Prefeito Gil.
Antes de mais nada, um ser humano de grande coração e serenidade.
Não fosse assim, teria me exonerado no primeiro semestre, eis que não nego meu sangue argentino e italiano.
Nesses quase oito anos de convívio, muito aprendi.
Participei de inúmeros treinamentos, cresci profissionalmente, conheci pessoas diferentes, fiz muitas amizades, vivi ótimos momentos.
Foram anos profícuos, em todos os sentidos.
E o Prefeito Gil foi sempre aquele Chefe tranquilo, equilibrado, brincalhão,  sem deixar de ser sério quando deveria ser, aquela pessoa que compartilhava uma bolacha, um mate, um café.
Podia ter o maior abacaxi para descascar, e lá vinha ele com aquela firmeza na voz e a certeza no olhar.
Sempre procurando ajudar.
Resolver.
Solucionar.
Buscava a paz, jamais a guerra.
Estimado Prefeito Gil, sinto muito orgulho por ter integrado teu governo e ter feito parte de tua  Administração.
Acima de tudo, tenho imensa gratidão a tua pessoa pelo trabalho que me proporcionaste, pelo estudo, pelo aprendizado.
Encerra-se um ciclo e não teremos mais aquela convivência diária, mas o afeto e o carinho permanecerão.
Do lado de fora da Prefeitura, esta que foi tua Assessora Jurídica e, no último ano de mandato, Assessora Especial de Gabinete estará sempre te desejando  " todo o bem que houver nesta vida".
Um grande abraço, Prefeito Gil, obrigada por tudo!



terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Entrelinhas

A cada dia que passa, mais  me convenço de que as pessoas não mudam, ou a soberba de que são feitas não conhece limites.
Fingem ser o que não são quando pretendem conquistar algo, ou alguém que não está ao alcance de suas mãos.
Impulsionados pela facilidade proporcionada por uma conversa através de meio eletrônico, outorgam-se liberdades que seriam impensáveis se tivessem de ser ditas cara a cara.
Presume-se, ao menos, para quem tem educação - aliás, artigo raríssimo nos dias que correm.
Aquele(a) que deseja ter para si determinada pessoa perde, completamente, a noção de tempo, modo e lugar e, como dizíamos há  mil anos atrás, " se encarna", isto é, não larga do pé da criatura, e não se flagra do papel ridículo que está desempenhando.
A outra pessoa, de começo, sorri.
Nada melhor para o ego que saber-se objeto do desejo de alguém.
Num segundo momento, o alvo do assédio começa a sentir-se ligeiramente inquieto: ...mas, afinal de contas...
A pessoa sem noção prossegue em seu patético monólogo, com elogios e declarações de amor e não se dá conta - ou se dá, mas não dá o braço a torcer, de que aquela é uma via de mão única.
Não há reciprocidade.
Tão simples!
Caso houvesse, estariam sob lençóis de cetim,  ou em algum paraíso tropical ou, quem sabe, observando a neve cair.
Andando de mãos dadas pela praia, com a maravilhosa água do mar sob os pés.
Tomando um matecito.
Não há tempo ruim, nem lugar feio quando estamos enamorados.
Eu que o diga: com 15 anos, me arrumei de um namorado argentino e passava os finais de semana no Alvear, sob um calor de 40 graus e, a noite, sentava na calçada da casa de minha tia Maria Luisa, sob o incessante zunido dos mosquitos, e nem bolas dava, pois os beijos trocados era o que importava!
Entretanto, vale registrar que isso acontece somente quando há uma integração de almas e de corpos - sim, nessa ordem, caso contrário, que diferença teríamos dos animais irracionais?
Quando um ser humano não está a fim de outro ser humano, tudo constitui impedimento.
Tudo.
Trava-se, então, uma guerra surda entre um e outro, mas o perdedor será aquele que não souber ler  as sutilezas ditas - ou não, nas entrelinhas.
É só prestar atenção:  as respostas estarão todas lá.





Senhora Vassourinha

Com a proximidade - espantosamente rápida do final do ano, começo a ter meu ataque de São Francisco de Assis, o qual se apresenta assim, sem dia nem horário marcado.
Pura verdade.
Um dia acordo e penso: hoje, impreterivelmente, darei início às arrumações.
Roupas que não uso há mais de dois anos, louças empilhadas nos armários, como aquele bule tão lindo, mas sem serventia...claro, sempre penso, vou usá-lo para colocar um arranjo de flores, mas esse dia nunca chegou e nem chegará, então, que vá ser útil em outro lugar.
De igual modo, livro-me de jornais, revistas, daquele saco de lenha para lareira que sobrou, da bolsa de cimento, de algumas lajotas,  do que for.
A gama de objetos que não utilizo mais é grande e, nessas horas, vejo e concluo como me faz bem poder dividir com os demais aquilo que, para mim, perdeu a importância.
Quem é generoso em doar, obtém grandes colheitas, esta, uma das máximas que rege minha vida.
Tudo o que possuo, utilizo.
Quanto ao restante, tem passe livre e terá novo destino, a fim de que a energia acumulada se liberte e novos ares possam circular.
Eu me abro, sinceramente, para quem guarda quinquilharias: tampinhas de garrafa, copos de requeijão, garfinho plástico, o potinho do iogurte, a garrafa pet.
Admiro.
Essas pessoas reutilizam tudo.
Acho fantástico,  mas reconheço que sou uma nulidade para isso e, por tal razão, passo adiante as sobras.
A toda certeza, mãos habilidosas e criativas saberão fazer maravilhas com meus descartes
Esse hábito, o de faxinar tudo antes do final do ano, herdei de meu Pai, fanático com seus livros, e de minhas tias Mondadori, eis que minha Mãe Maravilha não era lá muito dada a tais arrumações.
Ao contrário, irritava-se.
Muitas e muitas vezes ela me perguntou, nena, no te cansás de arreglar roperos y armarios?
Pois não me canso, Mãezinha.
O que me cansa é ver a inutilidade de certas coisas e o acúmulo sem sentido de bens materiais que não  trazem nada de bom, estão ali apenas para encher nosso coração de nostalgia e daquela saudade que abruma e aplasta.
As minhas filhas amadas me apelidaram de sra. Vassourinha, dada minha mania de querer organizar as coisas.
E eu varro mesmo: antes do final de cada ano, ponho para fora o que não tem mais sentido e, com isso, purifico meu entorno, tornando-o mais leve.
Ano Novo, coisa boa.
Que venha 2017!!!





sábado, 3 de dezembro de 2016

Jogo De Espelhos

Nada como um belo CD de Paul McCartney para nos fazer recordar que ainda somos românticos, que acreditamos no amor.
Naquele amor!
Será aquele que ainda virá, depois de uma longa, longa estrada.
The long and winding road.
Aquele amor!
Um amor bom, e amor bom é amor alegre.
Por que amor é sinônimo de brilho no olhar, de banho de chuva, de observar o entorno e ver que tudo, absolutamente tudo,  é leve e colorido.
Aquele amor, especialíssimo, não deixa espaço para que as mazelas do dia a dia interfiram na sua magia.
Ao contrário: quando ele chega, todas as questões parecem estar, de imediato, resolvidas.
Nós nos empenhamos tanto em atender a anseios que não são nossos, que não nos damos conta de que, na verdade, a alegria e o prazer do encontro ficaram lá atrás.
Pior, perderam-se na long long road  que as circunstâncias da vida, muitas vezes, nos impõe.
Mas chega o dia glorioso, sim, glorioso, em que olhamos para trás e enxergamos, embora desfocado pela poeira das desilusões, o romantismo.
Ele está lá, acenando, nos chamando para as coisas nas quais sempre acreditamos e que ficaram adormecidas.
É muito difícil ultrapassar todos os obstáculos que insistem em permanecer à nossa frente e que acinzentam nossas crenças, que nos deixam cheios de culpas que não temos, criando expectativas falsas, como se estivéssemos em um jogo de espelhos que, ora nos reflete nitidamente, ora turva completamente nossos sentimentos, a tal ponto que já nem sabemos, afinal, quem realmente somos.
Entretanto, importa frisar que nossa essência jamais se perde.
Jamais.
Poderemos ficar andando em círculos feito cegos tentando vislumbrar o que não vemos mais, pois a estrada ficou longa demais, porém nosso eu interior, a matéria da qual somos feitos - nosso carimbo, nosso jeito de ser e de ver a vida, esse não muda.
Fica apenas como um expectador dos caminhos tortos que percorremos mas permanece lá, aguardando nosso retorno.
Voltar para si mesmo e para aquilo em que acreditamos -  para as nossas verdades,  é como estar à beira de um penhasco e saltar de paraquedas com todas as cores do arco íris, voando outra vez em direção à nossa alma que ficou, lá atrás, perdida, parada naquela longa estrada.
Reencontrar-se consigo mesmo é uma dádiva,  é um presente que a vida insiste em nos entregar.
A nós cabe recebê-lo e abraçá-lo, agradecer muito e celebrar os novos começos.
Todos os sentimentos que ficaram naquela long long road,  empoeirados, voltaram para seus devidos lugares.
Sem jogo de espelhos: a imagem que vemos, agora, refletida, é a nossa.
A real.
A verdadeira.
Não há mais lugar para concessões inúteis.
Estas foram carregadas pela poeira da estrada e se esfumaram, para não mais voltar.
.







quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Para Onde Vai a Cidade?

Eu gosto de viajar de dia, um verdadeiro exercício de paciência, muita imaginação e nove horas de pensamentos que correm para lá e para cá.
Há tempo para pensar em vários assuntos mas, via de regra, imponho-me uma certa disciplina, a qual não me permite pensamentos tristes ou chatos.
Eu mando na minha cabeça e ela me obedece.
Antes de subir no nosso glorioso Planaltão, que paticamente atravessa o estado até Itaqui passo na banca de jornais e revistas, imagínate uma viagem de tal porte sem um mísero texto para ler.
Bem acomodada em minha poltrona observo, satisfeita, meu pequeno farnel de porcarias: pastelina, uma coca cola, uma barrinha de chocolate branco, um pastel de rodoviária - delicioso!, e passo a mão no jornal.
Creiam, amigos, essas viagens tem o poder de me deixar feliz, alegre e grata.
Gratíssima!
Não dá pra ficar triste quando a gente tá saboreando uma pastelina bem fritinha  com uma coca gelada.
Azar pro resto!
Chamou minha atenção a entrevista de Zero Hora a um arquiteto dinamarquês e ele, em síntese, alega que o urbanismo deve ser feito para as pessoas, do qual é exemplo Copenhage, eleita a melhor cidade no mundo para se viver.
Ainda, diz Jan Gehl, que as cidades deveriam ser pensadas não em termos de prédios e carros, mas de como as pessoas se locomovem nela e, nesse sentido, aduz que um bom lugar é aquele que concentra, ao seu redor, comércio, bancos, parques, prestadores de serviços, a fim de que o cidadão disponha de tudo ao alcance de suas mãos, caminhando ou, no máximo, fazendo uso de bicicleta.
Fiquei pensando naquilo.
Pensando.
Ontem, já em Itaqui, fui atrás de um pedreiro que reside em um bairro afastado do centro.
Fui bem devagar, observando as significativas mudanças naquela avenida e não pude deixar de passear pela nostalgia, lembrando de minha infância quando meu Pai, sempre aos sábados à noite, dizia para minha Mãe: Kilazinha, vamos dar uma volta?
Íamos nós três no carro, eu encolhida no banco de trás, ele dirigindo e minha Mãe tecendo um que outro comentário.
Ele ia bem devagar - assim como eu, ontem e, lembro-me bem, a iluminação da rua era fraca e triste, lâmpadas nos postes de madeira, longe longe; um que outro cachorro acoava, distante, pessoas, quase que não as havia, comércio, nem pensar.
O grade programa era ir até o Regimento e, ali, dar a volta.
Uma coisa meio soturna, aquela avenida, com suas casas fechadas e feias, a rua poeirenta, sem calçamento.
Que tempos! 1967, por aí.
Volta para 2016.
Esta avenida, hoje, parece ter absorvido, mesmo sem saber, por óbvio, o conceito de arquitetura humanista de Jan Gehl.
Logo que entramos nela, verificamos pujante comércio, onde há de tudo: revenda de carros,padarias, lojas, serralherias, farmácia, escritórios, floricultura e consultórios de profissionais liberais.
Mas, não se engane, achando que tudo é uma mistura esculhambada.
O crescimento do lugar parece ter seguido uma lógica em relação à estética das casas, que são simples, mas de muito bom gosto. As vitrines das lojas são muito bem arrumadas.
Pessoas circulam, há movimento, tem vida.
Tão linda está nossa Avenida Tito Correa Lopes, iluminada, vibrante e colorida.
Para onde vai a cidade?
Para onde há desejo de crescimento, de mudança, onde as pessoas têm criatividade: " basta investir nas coisas certas e pensar a logo prazo", conforme o já citado arquiteto.





quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Quem Me Ensinou a Nadar?

Minha Mãe Maravilha me ensinou a nadar.
Eu tinha apenas sete aninhos e já nadava, lépida e faceira, nas águas do meu amado Rio Uruguai.
A paixão pela água vem de longe: minha Avó materna, Adelaida, nadava muito bem, e ensinou a seus filhos.
E minha Mãe, tão logo mudou- se para a casa nova, a qual distava três quadras do Rio Uruguai, logo tratou de inventar um programa que parecia, até então, inusitado: uma senhora da "sociedade" ir até a beira do rio, com seus filhos, banhar-se e nadar por ali, desfrutando das maravilhas daquelas águas límpidas.
Mas ela nem tava, ela era uma mulher independente e de muita personalidade. Sabia o que queria e, principalmente, o que não desejava. Não gritava e nem era de brigas escandalosas; simplesmente calava-se, e, como ela dizia, " a procissão caminhava por dentro" e, ao fim e ao cabo, com seu jeito doce mas firme, sempre acabava fazendo o que queria.
A minha infância foi rica de amores e de muitos passeios, viagens e prazeres que a simplicidade traz, enchendo nossa  alma de alegria.
Um banho de rio, por exemplo.
Sensação espetacular é poder sair assim, nadando calmamente, observando a margem do rio que se distancia e vendo, a nossa frente, apenas a água, o céu, e nada mais.
Um prazer inenarrável.
Já adolescente saíamos, minha irmã e eu, rumo ao rio.
No lugar chamado " Dois Umbus", pois, antes de chegarmos na beira d'água, passávamos por umas árvores imensas, dois umbus, um de cada lado da rua e, logo abaixo, descortinava-se o Uruguai, verde escuro, brilhando ao sol do verão.
Entravamos na água e saíamos nadando, bem devagar, uma braçada, outra braçada, uma, outra...
Praticamente não havia correnteza, apenas a magia do rio,  e a liberdade intensa que aqueles momentos nos proporcionavam.
Depois de termos nadado por uns quinze minutos, chegávamos a uma pedra imensa que ficava bem no meio do rio, e ali parávamos para descansar. Era uma pedra que parecia uma mesa, tão grande era.
Recuperado o fôlego, partíamos na direção da outra margem, na cidade de Alvear.
Nada havia lá, a não ser barro e pedregulho, acrescidos do calor infernal.
Ali ficávamos, sentadas, felizes com nossa façanha e, passado um tempinho, lá estávamos, outra vez, naquela água fria, nadando calmamente de volta para o Itaqui.
Que tempos!
Fizemos isso algumas vezes, mas foi suficiente.
Muitas vezes as pessoas se admiram do meu jeito alegre.
Amigos, quem teve um Rio Uruguai à disposição para nadar, por incontáveis verões, não tem como ser uma pessoa triste.
Minha Mãe Maravilha me ensinou a nadar...obrigada, Mãezinha.
 Braçadas de amor te mando, onde estiveres!







domingo, 9 de outubro de 2016

Árvores Cortadas

Sinceramente, não consigo entender o que leva as pessoas a cortarem uma árvore.
Sou alucinada por plantas de todos tipos, eis que me criei num casa onde havia um pátio enorme, cercado de árvores e pequenos arbustos, flores em profusão, uma parreira maravilhosa, laranjeiras, bergamoteiras, bananeira, goiabeira, limoeiro.
Num canteiro, plantados com esmero, derramavam-se morangos, rubros e perfumados.
As calçadas que me viram crescer tinham flamboyaans alaranjados e vermelhos, lindos demais!
Não sem tristeza, observo árvores que levaram anos para crescer sendo cruelmente arrancadas, delas ficando, apenas, os troncos sem vida.
No dia da eleição, fui votar na Escola Estadual de Ensino Fundamental Felipe Nery de Aguiar, o meu amado Grupo Escolar Felipe Nery.
Ali é minha seção eleitoral e nem poderia ser diferente: escolhi a dedo onde iria exercer minha cidadania, e teria de ser onde fui alfabetizada, estudei por quatro anos e, diga-se de passagem, vivi os melhores anos da minha infância.
Não há lugar mais simbólico, para mim, que o Felipe Nery!
Mas, disto não se trata.
Evidentemente que os olhos infantis enxergam magia nos lugares mais feios, disso tenho certeza.
Mas também é verdade que a beleza não tem como não ser notada.
E a minha escola, a primeira da minha vida, era de uma simplicidade encantadora.
Era bela, limpa, perfumada, com canteiros floridos e, por óbvio, tinha uma árvore, a árvore dos meus encantos.
No meio do pátio ela se debruçava, sacudindo levemente os galhos, as folhas muito verdes brilhando sob o sol.
No inverno, era cuidadosamente podada para logo ali, na primavera, cobrir-se de flores.
Um flamboyant de flores encarnadas, imenso, sombreando a metade do pátio, sempre disponível para qualquer brincadeira, fosse para subir nos galhos mais altos, ou simplesmente pendurar nele um balanço.
Pois bem.
Fui dar uma volta pelo colégio, espiando por um lado, observando por outro...tentei não chorar, pois não havia como não lembrar da merenda da Dona Geni, servida em copos de alumínio - carreteiro, sopa de trigo, ensopadinho de massa, arroz doce...esse era o nosso lanchinho básico, servido pontualmente às 15 horas; das professoras maravilhosas, da sala da direção; dos colegas.
Fui indo e fui chegando até o fundo do pátio, e eis que me deparo com o que restou daquela árvore fantástica: um troco enorme, escuro e retorcido.
E por ali, onde outrora crescia a grama verde, construíram uma quadra, com aquele piso de concreto horroroso.
Que contraste!
Fiquei olhando aquele tronco feio e, mesmo sem querer, vieram as comparações.
Volto ao começo desta postagem, onde questiono a razão que leva as pessoas a cortar uma árvore.
Levantou a calçada, dizem algumas.
Faz muita sujeira, alegam outras.
Cresceu demais...
Para mim, nenhuma desculpa é válida.
Mais ainda quando vejo, no lugar da árvore, uma calçada de concreto, duro, frio, seco. E, no verão, sem uma mísera sombra, queimando ao sol.
Não consigo entender, não aceito, acho de uma ignorância atroz.
Talvez eu seja uma romântica incurável, ou uma saudosista, não sei.
É...
Perdão, amigos.
Mas a conclusão a que chegamos é que, lamentavelmente, a rudeza substituiu o encanto!







segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O Preço da Agressividade

Ponho-me a observar as condutas das pessoas nestes tempos de política, e na fala que adotam para defender seus candidatos.
E confesso que até para mim, uma pessoa agressiva por natureza, causa estranheza e, por que não dizer, um certo temor quando leio os comentários que inundam as redes sociais, e os há de todo tipo: irônicos, debochados, desrespeitosos, furiosos, ameaçadores.
Em todos, contudo, verifica-se uma constante: a absoluta e total falta de respeito para com a vítima do ataque,  o qual é perpetrado independentemente  da posição social, do nível de instrução, de cultura e de conhecimento de seu(s) autor(es).
Quem sou eu para criticar, se fiz e faço a mesma coisa em relação ao sacrossanto Partido dos Trabalhadores e seus " ínclitos" líderes e representantes?
A facilidade de entrar numa rede social e lascar uma monte de barbaridades leva-nos a uma pseudo sensação de impunidade pois se, de um lado, as redes sociais parecem ser terra de ninguém, onde escrevemos quase tudo o que nos vem à cabeça nos momentos de extrema raiva por uma derrota sofrida, ou de euforia por vitórias alcançadas, não podemos olvidar que, logo ali, à meia quadra, poderemos esbarrar naquela pessoa que foi alvo de nossa crítica feroz, do comentário deselegante, do pré julgamento.
E  aí, o que fazer?
O preço que se paga por ser agressivo é bem salgado.
Para bancar a boca suja e o extremo deboche, para manter os juízos de valor que, por vezes, restam completamente equivocados, para isso é preciso ter muito café no bule e, acima de tudo, convicção e coragem para encarar aquele ou aquela que viraram alvo.
De igual modo há, também, a reação da vítima, ou sua completa indiferença, o que não deixa de ser uma forma de agressão.
Enfim.
O fim de um ciclo leva-nos a refletir e a ponderar sobre atitudes dantes adotadas, e a pensar até onde nos leva o calor da paixão político-partidária.
Não deveria ser assim, mas é.
A política tem disso, não há meio termo.
Entretanto, pelo caminho percorrido entre a campanha eleitoral,  a eleição e o resultado final vão ficando  colegas de trabalho, amizades, companheiros de partido, desafetos políticos.
Pessoas que agredimos, e que nos agridem.
Uma lástima que seja dessa forma.
Entretanto,  uma vez  terminado o pleito e proclamados os vencedores, deve-se ter, no mínimo,  a decência de estancar o processo agressivo, em nome da democracia, em respeito à vontade da maioria dos cidadãos, exarada nas urnas e, também, em respeito aos vencidos.
É assim que deve ser, é o correto.
O que se almeja de um novo governo é que o mesmo seja excelente para a comunidade como um todo,  que busque atender as necessidades dos munícipes e que trabalhe em prol de toda a sociedade, independentemente de cores partidárias.
E que as agressões que permearam, por todos os lados, a campanha política  fiquem para trás e caiam no esquecimento, pois somente o respeito, a união e a paz podem gerar crescimento e felicidade para todos.










sábado, 6 de agosto de 2016

Gente Invejosa

Como abomino gente invejosa!
Tipo assim, a pessoa não tem competência para realizar alguma coisa e fica  com uma raiva mortal daquele outro que, inobstante as dificuldades, vai em frente e realiza.
Fico fula da vida e, no fundo, triste, quando vejo um invejoso em ação.
Primeiro, porque sinto,  nitidamente, a inveja escorrendo dos seus olhos, tal qual uma baba.
Lamentavelmente para ele, o invejoso é traído pelo próprio olhar e, muito embora tente disfarçar, através de um sorriso falso, a inveja sentida vem à lume: os olhos tornam-se escuros, negros, opacos e estáticos.
Em segundo lugar, a tristeza me abate pois tenho a convicção de que o sol nasce para todos, mas o que decidimos fazer sob ele é problema exclusivamente nosso.
O invejoso, a toda certeza, viu o cavalo passar encilhado a sua frente e não montou.
Perdeu a chance de falar o que deveria ter sido dito naquele exato momento, mas deixou pra lá.
Precisava fazer uma mudança de rumo, mas se acomodou.
Por tais razões, sente uma raiva surda daquele que ousa sair de sua zona de conforto e decide desbravar,  trilhar um caminho novo e ir em busca daquilo que almeja.
O invejoso é um covarde, cheio de medos e achaques, que não tolera e muito menos suporta a força e a audácia de quem, somente, pelo fato de tentar, já merece crédito.
O invejoso não fala, rumina; não opina, agride; tem prazer em falar mal do outro, criticando incansavelmente, eis que ninguém é bom  e inteligente o suficiente, salvo ele próprio.
Penso que a grande saída para um invejoso contumaz é ir lá e fazer exatamente aquilo que a pessoa, objeto de sua inveja, faz.
Pois nisso reside, ao fim a e ao cabo, a inveja: a cruel constatação, pelo invejoso, de sua incapacidade, da sua preguiça, da falta de iniciativa, e a terrível certeza de que ele também poderia ter sacudido a poeira, para realizar um sonho e bancar um desejo e não o fez.
O destino do invejoso não é alvissareiro, eis que ficará só, com seu linguajar ferino e o fel que lhe é peculiar.
Digno de pena, no final, é o invejoso.
Será?
Não creio.
O invejoso sabe o que fala, e o que diz tem endereço certo.
Inveja não é doença, inveja é sinônimo de maldade.
O invejoso não merece perdão, mas o esquecimento e, este  último sim, é o pior dos castigos!








quinta-feira, 28 de julho de 2016

Mentiras Eleitorais

O inverno convida à introspecção. Mesmo que a gente não queira, tanto a paisagem externa quanto interna predispõe a um mergulho nas ideias, um olhar diferente sobre fatos e questões.
Avizinham-se as eleições municipais e, com elas, começam a pulular os candidatos e suas soluções mirabolantes.
Mentem que dá gosto, e o povo, ingênuo, insiste em acreditar, pois anda de braços com  a famosa Esperança, essa dama encantada.
Pode ser que trovejando chova...
Entretanto, considerando que sou filiada a um partido político há mais de vinte anos, e há oito trabalho no serviço público exercendo cargo de confiança, não acredito naquele(a) candidato(a) que vem com velhos chavões e discursinho pronto pra lá de demagógico de que irá  trabalhar de sol a sol, enxugar secretarias municipais, cortar gastos, trazer muitos investimentos, não terá CCs, e cujo  governo será pautado pela estrita observância dos princípios que regem a Administração Pública.
Talvez isso valha para algum lugar perdido, onde a maldade política ainda não tenha aportado e se aplique o velho ditado de que " em terra de cegos, o torto é rei".
Se não, vejamos:
Você poderá ganhar as eleições, mas se você não tiver maioria na Câmara de Vereadores, estará frito, já que seus projetos não andarão.
Essa de cortar secretarias, meu amigo, é só no começo. Deixa o camarada tomar pé da situação e encontrará a necessidade de ampliar o quadro.
Em relação aos gastos, idem. Ninguém governa sozinho, e os servidores tem deveres, é verdade, mas também tem direitos. Isso passa por reposição salarial, treinamentos e outros quetais, e nada disso é baratinho.
Em relação aos CCs, beira às raias da idiotice aquele candidato(a) que diz que vai reduzir CCs.
Não vai, não senhor!
Pois não se esqueça que, se o senhor(a) se elegeu, foi graças ao trabalho dos seus cabos eleitorais, dos seus simpatizantes e daquelas pessoas que o(a) apoiaram e, desde a indicação do seu nome, batalharam por ele na convenção, analisaram documentos, bateram de porta em porta com a bandeira do seu partido e levaram seu nome adiante como o grande salvador(a) da Pátria.
E aí, depois de eleito(a), vai esquecer dos companheiros?
Não vai agradecer o apoio recebido,  o trabalho desenvolvido? As horas gastando sola de sapato, comendo poeira por todas as ruas sem calçamento - que, aliás, agora,  o senhor(a) irá asfaltar?
Ah....então, vai ter que ter um CC...
Um não, vários!
Outra coisa: se o senhor(a) residir longe de Porto Alegre, ou de Brasília, vai precisar ir até lá.
Vai viajar  a serviço do seu município sem receber diária?
Ah....ué, mas e o corte de gastos?
Não ia trazer fábricas? Indústrias? Gerar emprego e renda?
Sem sair do município, as coisas não acontecem.
E as costuras políticas?
Após a vitória nas urnas, aparece a fatura.
A conta sempre é alta e salgada.
Ademais, não se pode olvidar que o Tribunal de Contas, a Câmara de Vereadores, a oposição e a comunidade estão todos olhando para o senhor(a).
Então, candidato(a), faz assim: não mente.
Faz um trabalho digno e limpo e sem falsas promessas que, por força  das disposições vertidas na Constituição Federal,  na Lei de Responsabilidade Fiscal, na Lei de Licitações e em outros diplomas legais, não terás como cumprir.
Não ilude o povo.
Não te pinta de Messias, pois não és.
És um ser humano dotado de caráter,  ambição, vontade de trabalhar pela tua comunidade, disposição, ideias novas.
Bem.
Excelente.
Só não te transformes num mentiroso(a), no descobridor da roda, pois o eleitor é um ser insaciável, embora digam que o povo sempre esquece...
Esquece, talvez.
Mas perdoar, não perdoa.




    

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Que Tonteria!

Custei  a crer quando o médico que me atendeu disse-me que por, no mínimo trinta dias, eu não poderia sair para a estrada, dirigindo.
Como assim? Que tonteria es esto?
Resulta que faz mais de mês um zumbido tem me atucanado os ouvidos, desses que a gente sente após uma noitada de música alta.
Algo pelo estilo.
Então, em pleno meio dia de um domingo,  senti tudo girando a minha volta, e não consegui enxergar  o chão.
Fiteira de carteirinha, em meio ao verdadeiro caos que se instalou no meu ser, de  cara pensei: tô indo pro andar de cima, vou fazer a passagem; aqui, sozinha na sala de casa, sem testemunha alguma.
 Ciao, mondo cane.
Mas como sou metida a esperta e não me entrego asi no más,  fui indo do jeito que deu até a porta da rua, pensando, e agora José, eu vou é sair daqui e gritar por socorro, minha adorada vizinha haverá de escutar, e pouco me importa que estou de pijama e completamente escabelada, sem uma gota de nada no rosto já nem tão viçoso que dispense um mínimo de make,  mas vá lá, que importância tem isso agora, trata logo de abrir a porta e de sair, te mexe...
Mexer como?
As pernas não me obedeciam, eu queria ir para a direita e saía para o outro lado, enquanto  na cabeça pipocavam sons estranhos, como de água borbulhando, estalos e apitos.
Que sensação terrível, a de não conseguir visualizar o chão.
Eis que cheguei à porta da rua e, abrindo-a, nela me escorei, olhando o dia lindo que girava doidamente a minha frente, sem conseguir chamar por ninguém, apenas esperando o marido chegar do super, e esse tempo me pareceu enorme, embora tenha sido de poucos minutos.
Fui parar no Hospital São Patrício e lá, disse-me a médica,  teria que ficar fazendo uma medicação diluída no soro.
Que desastre!
Fiquei bem quieta.
Obedeci.
Mas, tão logo me colocaram o soro, comecei a me rebelar: a troco de que santo preciso ficar aqui com esta agulha espetada no braço? se minha pressão está ótima, batimentos, açúcar...
Vou sai daqui!
Enfermeira!
Por favor, amiga, tira este negócio do meu braço. Já me sinto bem. Vou embora.
Ela me olhou, um misto de espanto e pena, e disse: mas a senhora está com o soro faz 5 minutos...
É, eu sei, mas estou bem, pode tirar.
Ela tirou.
Mas me disse: fique aqui que eu já volto.
E voltou.
Com a médica.
Que, de cara, foi mandando, coloca de volta o soro, e a senhora fica aí bem quietinha e vai fazer to-
da essa medicação até o final. Não vai sair agora de jeito nenhum.
Aquilo foi uma ordem e eu me entreguei.
Estendi meu braço com cara de ré para a enfermeira que, triunfante, recolocou tudo no lugar outra vez.
Desaforo!
Inferno!
Odeio isto!
Quem sabe eu mesma arranco este negócio? E a voz interior "...tu não sabe fazer isso, idiota.Vai que entra ar na tua veia e aí, sim!"
Tenta pensar em coisas boas.
Na praia! Areia, sol, calor, céu azul, mar...
Respira...
Tá melhorado...
Pensando bem, sou uma pessoa de sorte.
Moro em uma cidade pequena, o nosso Hospital é ótimo, fui prontamente atendida, estou medicada, então....acho que vou dormir um pouco...
Saí de lá duas horas depois.
E aí voltamos ao começo desta postagem, onde o médico que consultei na segunda feira me sentenciou:  nada de dirigir, etc, etc.
É triste isso.
Voltei para casa e por mais que tentasse me consolar, dessa vez não rolou.
O que rolou foi muita lágrima, isso sim.
Pois não poder sair por aí cuándo se me antoje soou à prisão, à controle, a todas essas coisas impostas que detesto.
Entretanto, é algo temporário.
Trinta dias. Apenas trinta dias!
Dos quais passaram-se três.
Enquanto isso, vamos driblando o tempo, curando a labirintite e dando uma gambeta na vontade de tanquear o carro, calibrar os pneus e zarpar, rumo à estrada, só o som do vento e a imensidão dos campos que se estendem a perder de vista...espetacular!
Ainda bem que os dias passam, céleres.
Ainda bem!












quarta-feira, 20 de julho de 2016

Quo Vadis?


Quo Vadis?
" Pra Onde Vais?"
Que maravilha seria se soubesse a resposta.
Pois eis que, nesta quadra da vida, me deparei com uma estrada que se abre ante meus olhos e, logo ali, bifurca-se em várias direções.
Vejo-me em meio aquele lugar, olhando para todos os lados e sem saber para onde devo ir. 
Não bastasse a onipresente dualidade que me é peculiar, como boa geminiana que sou, surgem questões que precisam ser resolvidas e, sim, para tudo há uma solução, mas nada é fácil, muito menos de graça.
 Ponho-me a pensar e,  ultimamente, confesso que tenho feito isso em demasia.
Nestes anos de orfandade - treze anos sem meu Pai e sem minha Mãe, aprendi a reconhecer determinados sinais que eles me mandam ou, talvez, não seja nada disso, apenas um exercício da imaginação e um profundo desejo de alma, o de ouvir aquele conselho amigo, sem qualquer nuance de interesse.
Um abraço apertado como só meu Pai sabia me dar, um abraço terno e açucarado, do qual só minha Mãe detinha a fórmula: às vezes, precisamos desesperadamente de alguma coisa que nos faça lembrar que essas pessoas estão perto de nós.
Hoje, durante o café da manhã, lembrei do meu Pai, como sempre lembro; mas hoje,ainda  mais.
Saudade, e ponto.
Pensava eu: quanta falta me fazes!
E agora, Pai, estou há meses perguntado a mim mesma: " quo vadis"?
Saí para o trabalho e, em meio à correria e análise de documentos, um colega, da maneira mais inesperada possível, plantou-se ao meu lado e disse: 
" Lia Helena" - esse é o teu nome, não? Lembro-me de quando vieste um dia aqui na Prefeitura, no ano de 1984. Eras recém formada e teu Pai, o Dr. Edgard, entrou aqui e nos disse: " quero apresentar a vocês a minha filha Lia Helena, que agora é, como eu, Advogada."
" Lembras disso, Lia Helena"? perguntou-me o colega.
Sim, claro que eu lembrava.
Como poderia esquecer do sorriso lindo do meu Pai, de sua extrema alegria e orgulho, apresentando sua " colega"? Ele ria de puro contentamento, e eu também, andando, os dois, de braços dados por todos os setores da Prefeitura, num esplendoroso dia de verão.
Voltei aos meus 22 anos, quando o mundo era meu e tudo parecia possível.
Depois desse fato inusitado, levantei-me e fiquei um bom tempo ouvindo a voz do meu Pai.
Escutei  seu riso, senti seu olhar amoroso.
 Acima de tudo, escutei sua mensagem.
Quo Vadis?
E, de imediato, soube a resposta, o caminho e a direção.





terça-feira, 3 de maio de 2016

Estofado

Por que se aproxima o Dia das Mães, hoje resolvi, dando início à série de memórias afetivas, saudade sem fim e sem cura e sem remédio que me acomete, fazer um prato típico da culinária da Família Fernández: un estofado.
E por isso entende-se que vamos precisar de um quilo de carne para bife, cebola, pimentão, tomate, batata e cenoura.
Un poquito de sal y pimienta.
Acrescento à receita algo que aprendi com a melhor cozinheira que já conheci, e que viveu toda sua vida na casa de meus Avós paternos: Heloísa Chavaré, a Mãe Gija: uma pitada de canela em pó, e um cravo da índia.
Passemos ao modo de preparo:
Tempere os bifes e doure-os em um fio de azeite;
acrescente uma camada de cebolas, cortadas  em rodelas, uma camada de pimentão, uma camada de tomate, uma camada de batatas e uma de cenouras, fatiadas;
cubra tudo um pouco de água, coloque a pimenta, a canela em pó e o cravo, baixe o fogo, tampe a panela e deixe cozinhar por uns 40 minutos.
Você vai obter um molho espesso e muito saboroso.
Sirva com arroz branco e delicie-se con una copita de vino tinto, para arrematar.
Enquanto cozinhava, meu pensamento voou atá a grande cozinha da casa que um dia foi  minha mas, principalmente, viajei até o Alvear, direto à casa de minha Avó Adelaida, a que adorava gatos, a que sabia preparar delícias em seu fogão à lenha e que ensinou tudo para minha Mãe, que me ensinou.
Não pude deixar de pensar, meu Deus, há quanto tempo não as vejo?
Que falta me fazem seus abraços e beijos,  e aquele amor desinteressado que jamais em tempo algum voltei a experimentar.
Pois saibam, amigos que, apesar da saudade  y de la nostalgia  que me invadem nestas datas faço de tudo para viver com alegria e determinação, olhando sempre para a frente.
E é bem verdade que consigo, pois o que me sustenta e mantém é o amor que recebi daquelas mulheres que fizeram parte de minha vida e às quais devo tudo o que hoje sou: minha Avó Adelaida, minha Mãe, minhas Tias...
No me puedo quejar, pois fui muito amada por todas elas.
E esse legado de afeto o tempo não corrompe, a distância não tem o poder de desbotar, a separação física não consegue apagar, uma vez que a memória do coração não falha e nem esquece e a tudo recorda, nos mínimos detalhes: os lugares, a luz, as cores, os sons, o cheiro.
Sei que, de algum lugar, todas elas, as muitas mães que tive, estão sempre segurando minha mão.
Hoje, me levaram até a cozinha para fazer un estofado.
Uma forma de tê-las mais perto de mim, de evocar os momentos fantásticos que com elas vivi.
Tantas lições venho aprendendo nesta caminhada solitária sem minha Mãe e sem as mulheres da minha vida que até Deus duvida.
Uma coisa, porém, tenho sempre presente: por elas e por mim mesma, esmorecer, nunca!
Há muitas  formas de cultivar os amores e uma delas, por mais simples que possa parecer, é preparar uma receita de família, aquele prato que, quando saboreado, te fará suspirar e pensar que, afinal de contas -  e não me canso de repetir, o amor é o sentimento maior, é o que permanece e perdura.






terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Um Dia de Brucutu

Ontem foi um dia em que desejei ser, ardentemente, um homem de 1m90 e 120 kg.
Um verdadeiro brucutu, um homem daquele tipo que bate e depois vê o que acontece.
Aquele tipo de pessoa que não se importa, a bem da verdade: passa de trator, depois dá uma olhadinha  para trás, só pra ver o resultado.
Pois  creiam, amigos que eu, uma pacata cidadã de 1m64 e 70 kg, que adora salão de beleza, cremes, perfumes, sapatos e bolsas, livros, música, cinema, cristais e porcelanas, ontem eu teria dado tudo para, por um par de segundos - tempo suficiente para resolver a questão, ter me transformado em um brutamontes.
Certo é que avaliei as possibilidades, mas a chance de dar uma tunda de laço no verme que tem a ousadia de me atazanar era ínfima.
Ainda mais agora, com o cóccix quebrado.
É, porque se eu não estivesse quebrada, não sei não.
Eu tenho um desafeto.
Uma pessoa desprezível que, sempre que pode, faz um gesto de desdém em relação a minha pessoa.
Larga uma piadinha.
Ri, debochadamente.
Balança a cabeça quando me enxerga, e sorri, de forma irônica.
Ou, o que é infinitamente pior, sob o ângulo que se analise, persigna-se.
Faz o sinal da cruz, vejam!
Logo ele, esse ser do mal.
Sei, também, que anda por aí, fuçando, qual porco no meio da sujeira, procurando algum fato de minha vida, perguntando.
Sei de tudo, de tudinho.
Pueblo chico, infierno grande.
Pensa ele, quem sabe, que sou um lixo, uma pessoa solta no mundo, indefesa, uma completa imbecil.
Pois não sou, e talvez aí resida a origem para tanta bronca: uma inveja insuportável deve corroer o traste, um completo ignorante, burro de dar dó, esse ser  opaco e insignificante.
E ontem, estando eu na casa dos meus Pais - porque é, e sempre será a casa dos meus Pais e, por tabela, a minha casa, embora a documentação diga o contrário, e já afirmo também que não estou nem aí para o que dizem os papéis...pois bem, eis que surge este Lúcifer.
Primeiro, a surpresa e o olhar de ódio, pois não esperava me ver ali, pachorrentamente sentada na cozinha, conversando e rindo.
Seus olhos soltavam faíscas.
A boca, retorcida, não conseguia articular palavra.
O ar ficou tão pesado que chegava a doer.
Então, balbuciou algumas palavras para os demais que ali estavam e,  para não perder o costume, largou uma farpa na saída.
Falou baixo, o desgraçado, o covarde, o alcaide.
Falou baixo.
Quase um resmungo.
Mas ouvi, eis que ouço muito bem, graças a Deus.
Ouvi, e não gostei, e me estragou a tarde e a noite e a madrugada, pois não há coisa pior que dormir com raiva entalada.
Ali, num átimo, eu teria dado tudo, mas tudo, para voar sobre essa asquerosa cria de Satanás  e surrar muito o ordinário, pois tenho certeza que lhe faltou foi laço, quando era criança.
Freio, quando era jovem.
E vergonha na cara e falta de caráter, agora que é homem.
Homem?
Não, aquilo ali pode ser qualquer coisa, menos um homem.
Homens com H, que fazem jus ao que tem no meio das pernas não se comprazem em infernizar alguém pelo simples prazer de infernizar.
Não mesmo!
Homens com H são dignos.
Respeitam.
Sabem o que precisam fazer, onde e quando, e de que forma.
Aquilo não é homem.
É, no máximo, um homúnculo.
E nem isso não é!
Como sempre, senti uma saudade insuportável do meu Pai.
Chorei muito.
Hoje cedo, entretanto, recuperada ( pela milésima vez), retomei a antiga e saborosa ideia de comprar um relho.
Um relho...
Como aquele que meu Pai tinha.
Eu vou comprar um relho.
Porque da próxima vez -  que espero, ardentemente, que não aconteça -  que esse muquirana de quinta tiver a audácia de me perturbar, eu vou me transformar num brucutu.
Vou ter 1m90 de altura e 120 kg.
Vou esquecer os perfumes e os cristais, a cultura e a finesse.
Anos a fio aturando deboche, fofocas, intrigas e maledicências desse  jumento recalcado e maligno precisam ter um fim.
Terão.
E seremos, eu e o meu relho, os que iremos colocar o ponto final.








quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Contra as Probabilidades

Certa feita, eu  precisava resolver um assunto delicado.
Algo assim como decidir entre ir ou ficar, abrir o verbo e falar tudo o que via e sentia, ou optar por uma outra via de acesso.
Quem sabe, fechar todas as vias e selar um determinado período de minha vida profissional.
Angustiei-me com tais pensamentos durante meses, não vou mentir a vocês.
Cedinho, com meu inseparável companheiro de tantos carnavais - meu tradicional matecito, pensava, pesava, media, mas conclusão que é bom, nada.
Apelei, por óbvio, aos meus Santos e Santas, que a fé não costuma falhar.
E, vendo aproximar-se a data em que precisaria dar meu veredicto resolvi, de cuia e terço em punho, ter uma conversa franca com meu Deus, Aquele que tudo pode e que me fortalece; primeiro para agradecer, pois assim me foi ensinado, agradecer sempre, para depois pedir.
Chegado o dia da reunião, depois de uma noite mal dormida, levantei-me de madrugadinha e ali, no silêncio da manhã, reforcei minhas preces.
Minha cabeça estava vazia, creiam-me.
Não pensava em nada, nem sombra de discurso ou atitude a tomar apareciam.
Saí, rumo à reunião.
Eis que, no meio do caminho, precisei parar pois o trânsito havia sido interrompido por uma caminhão, no qual lia-se, em letras garrafais, a palavra mudança.
O rumo e o norte para minha fala veio num átimo, como se fosse um raio.
Senti, nitidamente, meu Pai, meu amado Pai, o meu Dr. Edgard, de um lado e, de outro, meu tio Carlos Alberto o qual, no último ano de sua vida, me fez sofrer, o que não vem ao caso agora, apenas vejo que o amor e o perdão são infinitamente mais fortes e supremos que a maldade, então, também ele, meu tio, estava ao meu lado, aconselhando-me.
Entrei para a sala da reunião e não pude deixar de notar os olhares curiosos - o que será que vai acontecer?
Eis que, contra todas as probabilidades, palpites furados e apostas, minha fala enveredou pelo lado oposto do que era esperado: o do diálogo, da união, da gratidão e do afeto.
Aqueles que foram armados até os dentes, renderam-se.
A outra banda - a podre, a maligna, essa levou uma bofetada com luvas de pelica que até os dias atuais deve estar sem entender patavina do sucedido.
Não existe coisa melhor para o ego de alguém que dar uma surra de relho nos desafetos!
Aquele episódio foi uma recolocação das coisas em seus devidos lugares, um novo desenho de forças.
Saí do local renovada e leve, com a sensação de ter atravessado uma tormenta e de ter chegado ilesa, sem nenhum arranhão.
Já na rua, não senti mais a presença dos meus seres de luz, que tinham ficado ao meu lado o tempo todo naquela manhã memorável.
Compartilho esta vivência com vocês, queridos amigos, para dizer-lhes, primeiramente que a fé, a toda certeza, remove montanhas: as montanhas da vida.
Em segundo lugar,  que a força e o caráter legados por nossos antepassados emerge, nos momentos de crise, qual estrela luminosa a nos apontar o caminho.
Por fim, repriso: ante o poder do amor e do afeto,  depõe-se as armas.








quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Memórias Afetivas

Eu não estava nem um pouco a fim de ir a Santa Catarina, uma vez que, de lá, tenho péssimas recordações, e as memórias afetivas, embora guardadas em algum cantinho do coração, um dia ressurgem.
As razões pelas quais eu não gosto mais de ir a Santa Catarina , bueno, isso é outra história.
Ficou curioso?
Quem sabe um dia eu escreva sobre isso.
Mas o fato é que, como sou altamente democrática e não me agrada fazer o papel daquela que põe areia nos planos, fui.
Em nome da parceria e da unidade, fui.
Mas confesso que fui de má vontade, com o pezinho atrás.
Tanto falaram sobre Bombinhas, alçada à categoria de nona maravilha do mundo que não seria eu, uma reles mortal, a dizer o contrário.
Então, sucedeu-se isto:
Saímos de Porto Alegre pela manhã cedinho, até chegarmos, no início da tarde, a Bombinhas.
Aí começou o suplício: carros, carros, carros e mais carros; primeira, segunda, pára; primeira, segunda, pára. E eu ali, firme na paçoca,  mas a procissão ia por dentro, isto é,  comecei a xingar mentalmente aquele trânsito todo e a mim mesma, por ter a mania de ceder quando não estou a fim de ceder.
Lá pelas folhas tantas, chegamos.
A pousada, belíssima, realmente. A vista, idem.
Mas a praia, meu amigo, a praia, a praia é uma bomba!
Corta: eu, quando vou à praia, gosto de ir à praia, ou seja, quero andar pela areia, sentindo-a sob os pés, quero me estirar numa cadeira e me torrar ao sol, quero, mais tarde, bem mais tarde, saborear uma caipirinha, quero entrar e sair da água. Não sou como algumas mulheres que vão à praia para ficar plantando flores em seus jardins ou recebendo no final da tarde, cheias de jóias e penduricalhos, cabelinhos escovados.
Na praia, torno-me um bugre, não sei que horas são e nem tampouco me interessa, sei lá que roupa vestirei, aliás, levo pouquíssimas, haja vista que irei comprar, sem dúvida, uns vestidinhos floridos do primeiro ambulante que passar.
Feitos os esclarecimentos, vamos aos fatos:
Faixa de areia estreita, e aquilo já me deixou meio assim, afinal, veraneio no Rio Grande do Sul há décadas, com seu marzão e sua faixa de areia enorme, larga, fresquinha.
Completando o quadro, havia uma horda de hunos modernos - os argentinos, que fumavam um cigarro atrás do outro, como se estivessem na sala de suas casas, soltando aquela fumaça fétida de cigarro mata rato.
E o mar?
Bem, eu tinha a memória de um mar azul, transparente e convidativo, mas o que vi foi uma água marrom esverdeada, igualzinha a do meu amado Rio Uruguai viejo.
Ué, mas Bombinhas não era uma maravilha? eu pensava, quieta, ruminando, sob o calor abafado, que nem ventinho fresco soprava.
Nem tudo foi ruim.
No dia seguinte, fomos para Quatro Ilhas, esse sim, um lugar lindo, agradável, uma praia com cara de praia.
No quinto dia, deu-se que amanheci enjoada e aí começou o vomitório e não parou mais.
Resumo da ópera, voltamos para Porto Alegre, eu com febre e devolvendo até a água mineral que tomava e, claro, jurando a pies juntilhos que nunca jamais em tempo algum retornaria a Bombinhas, mas vão para o diabo que os carregue, praia suja, forrada de coliformes fecais, barulhenta, poeirenta, enfim, um nojo.
Dias depois, já recuperada, fui para Capão da Canoa.
No hotel que conheço, na praia que adoro.
Quando, no final da tarde, sentada num banco de uma pracinha senti aquela brisa maravilhosa vinda do mar, concluí que a intuição não falha e que as memórias afetivas, também não.
Não tinha como dar certo a minha ida a Santa Catarina.
Já em Capão da Canoa, só coisas boas vivi,  momentos espetaculares passei, junto com amigos, família, conhecidos, enfim.
E ali, tudo fluiu.
Estava tão bom, que até o mar vestiu-se de um azul transparente para me esperar.
Uma semana deliciosa, que me fez esquecer Bombinhas, a bomba, e me fez prestar muita atenção àquela vozinha interior que, muitas vezes, teimo em não querer atender.
Essa foi a primeira lição de 2016: ouça mais a si mesma, menina.
Separe o joio do trigo.
Abrace suas memórias boas.
E as ruins, que se explodam.
Como Bombinhas, a bomba.








quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

La Espiral

Lembro que, nas noites de verão na casa de minha avó materna, Adelaida, que ficava em Alvear, usavam um repelente para mosquitos chamado Espiral.
Era uma espiral verde,  pequena, engatada num pedacinho de metal. Acendiam a ponta daquela coisa fedorentíssima, a qual transformava-se em brasa e passava a queimar, lentamente, durante toda a noite.
Era um cheiro insuportável, mistura de flit com cheiro de queimado , e meu nariz, imediatamente, entupia.
Tá aí uma coisa que sempre detestei, dormir longe de casa.
Mas minha mãe maravilha adorava.
Para ela, era um programa e tanto ir passar unos dias en Alvear, en mi casa paterna, como ela dizia, à guiza de explicação.
Ocorre que não há, efetivamente, lugar melhor de se estar que na casa que nos viu nascer, crescer e embalar sonhos.
Eu, na condição de filha mais nova, criança ainda, com meus sete, oito anos, era arrastada, a contragosto para aquela
temporada, só que nada podia fazer.
Meu pai ficava no Itaqui, fulo da vida, mas não dizia nada, e nem precisava, apenas olhava para minha mãe com olhos de fogo.
O Alvear de minha infância era triste e poeirento, com seu silêncio de sepulcro na hora da sesta, momento venerado pelos argentinos mas por mim detestado, eu queria brincar, correr, nadar, mas precisava ficar quietinha, estirada sobre uma colcha que minha mãe colocava sobre o chão de ladrilhos vermelhos do corredor de entrada da casa da avó, el saguan.
Não se podia dar um pio, ou apareceriam Carlanco e Cambireca,  um casal que ficava andando sob o sol escaldante do verão apenas para levar consigo crianças teimosas que não queriam sestear.
Passava o dia, naquela base, mas o brabo, mesmo, era a noite.
Sentavan -se todos na calçada sob a luz da lua e das estrelas, pois havia uma única lâmpada no meio da rua, destinada a iluminar toda a quadra.
Os mosquitos zuniam adoidado, mas ninguém parecia se importar com eles, a conversa e as risadas ecoavam, minhas tias Alba e Maria Luísa, a avó Adelaida e minha mãe, uma alegre reunião das mulheres Fernández.
Chegava a hora de dormir e o tormento começava, lembro-me tão bem da voz de minha avó para minha mãe,  Kila, prede la Espiral.
Noite dos infernos, eu passava, chorando baixinho, louca de saudades do meu pai, da nossa casa, da minha cama.
Passados dois ou três dias, voltávamos para Itaqui.
Eu chegava e me atirava nos braços do meu pai, chorando e reclamando muito, e ele ria, ria a bandeiras despregadas, uma vez que ele, por seu lado, igualmente detestava o cheiro de espiral.
Muitos anos depois, me apaixonei por um argentino e aí, o Alvear transformou-se na cidade mais linda do mundo, e o cheiro de espiral ou de flit que minha tia Maria Luísa colocava no quarto usado por mim em nada me incomodava.
Eu chegava ao raiar do dia e, depois de ter dançado a noite inteira nos braços de aquel morocho divinome jogava na cama e dormia sorrindo, inebriada com tanta felicidade.
O que não faz o amor, hem?
Mas essa é uma outra história.