quinta-feira, 28 de julho de 2016

Mentiras Eleitorais

O inverno convida à introspecção. Mesmo que a gente não queira, tanto a paisagem externa quanto interna predispõe a um mergulho nas ideias, um olhar diferente sobre fatos e questões.
Avizinham-se as eleições municipais e, com elas, começam a pulular os candidatos e suas soluções mirabolantes.
Mentem que dá gosto, e o povo, ingênuo, insiste em acreditar, pois anda de braços com  a famosa Esperança, essa dama encantada.
Pode ser que trovejando chova...
Entretanto, considerando que sou filiada a um partido político há mais de vinte anos, e há oito trabalho no serviço público exercendo cargo de confiança, não acredito naquele(a) candidato(a) que vem com velhos chavões e discursinho pronto pra lá de demagógico de que irá  trabalhar de sol a sol, enxugar secretarias municipais, cortar gastos, trazer muitos investimentos, não terá CCs, e cujo  governo será pautado pela estrita observância dos princípios que regem a Administração Pública.
Talvez isso valha para algum lugar perdido, onde a maldade política ainda não tenha aportado e se aplique o velho ditado de que " em terra de cegos, o torto é rei".
Se não, vejamos:
Você poderá ganhar as eleições, mas se você não tiver maioria na Câmara de Vereadores, estará frito, já que seus projetos não andarão.
Essa de cortar secretarias, meu amigo, é só no começo. Deixa o camarada tomar pé da situação e encontrará a necessidade de ampliar o quadro.
Em relação aos gastos, idem. Ninguém governa sozinho, e os servidores tem deveres, é verdade, mas também tem direitos. Isso passa por reposição salarial, treinamentos e outros quetais, e nada disso é baratinho.
Em relação aos CCs, beira às raias da idiotice aquele candidato(a) que diz que vai reduzir CCs.
Não vai, não senhor!
Pois não se esqueça que, se o senhor(a) se elegeu, foi graças ao trabalho dos seus cabos eleitorais, dos seus simpatizantes e daquelas pessoas que o(a) apoiaram e, desde a indicação do seu nome, batalharam por ele na convenção, analisaram documentos, bateram de porta em porta com a bandeira do seu partido e levaram seu nome adiante como o grande salvador(a) da Pátria.
E aí, depois de eleito(a), vai esquecer dos companheiros?
Não vai agradecer o apoio recebido,  o trabalho desenvolvido? As horas gastando sola de sapato, comendo poeira por todas as ruas sem calçamento - que, aliás, agora,  o senhor(a) irá asfaltar?
Ah....então, vai ter que ter um CC...
Um não, vários!
Outra coisa: se o senhor(a) residir longe de Porto Alegre, ou de Brasília, vai precisar ir até lá.
Vai viajar  a serviço do seu município sem receber diária?
Ah....ué, mas e o corte de gastos?
Não ia trazer fábricas? Indústrias? Gerar emprego e renda?
Sem sair do município, as coisas não acontecem.
E as costuras políticas?
Após a vitória nas urnas, aparece a fatura.
A conta sempre é alta e salgada.
Ademais, não se pode olvidar que o Tribunal de Contas, a Câmara de Vereadores, a oposição e a comunidade estão todos olhando para o senhor(a).
Então, candidato(a), faz assim: não mente.
Faz um trabalho digno e limpo e sem falsas promessas que, por força  das disposições vertidas na Constituição Federal,  na Lei de Responsabilidade Fiscal, na Lei de Licitações e em outros diplomas legais, não terás como cumprir.
Não ilude o povo.
Não te pinta de Messias, pois não és.
És um ser humano dotado de caráter,  ambição, vontade de trabalhar pela tua comunidade, disposição, ideias novas.
Bem.
Excelente.
Só não te transformes num mentiroso(a), no descobridor da roda, pois o eleitor é um ser insaciável, embora digam que o povo sempre esquece...
Esquece, talvez.
Mas perdoar, não perdoa.




    

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Que Tonteria!

Custei  a crer quando o médico que me atendeu disse-me que por, no mínimo trinta dias, eu não poderia sair para a estrada, dirigindo.
Como assim? Que tonteria es esto?
Resulta que faz mais de mês um zumbido tem me atucanado os ouvidos, desses que a gente sente após uma noitada de música alta.
Algo pelo estilo.
Então, em pleno meio dia de um domingo,  senti tudo girando a minha volta, e não consegui enxergar  o chão.
Fiteira de carteirinha, em meio ao verdadeiro caos que se instalou no meu ser, de  cara pensei: tô indo pro andar de cima, vou fazer a passagem; aqui, sozinha na sala de casa, sem testemunha alguma.
 Ciao, mondo cane.
Mas como sou metida a esperta e não me entrego asi no más,  fui indo do jeito que deu até a porta da rua, pensando, e agora José, eu vou é sair daqui e gritar por socorro, minha adorada vizinha haverá de escutar, e pouco me importa que estou de pijama e completamente escabelada, sem uma gota de nada no rosto já nem tão viçoso que dispense um mínimo de make,  mas vá lá, que importância tem isso agora, trata logo de abrir a porta e de sair, te mexe...
Mexer como?
As pernas não me obedeciam, eu queria ir para a direita e saía para o outro lado, enquanto  na cabeça pipocavam sons estranhos, como de água borbulhando, estalos e apitos.
Que sensação terrível, a de não conseguir visualizar o chão.
Eis que cheguei à porta da rua e, abrindo-a, nela me escorei, olhando o dia lindo que girava doidamente a minha frente, sem conseguir chamar por ninguém, apenas esperando o marido chegar do super, e esse tempo me pareceu enorme, embora tenha sido de poucos minutos.
Fui parar no Hospital São Patrício e lá, disse-me a médica,  teria que ficar fazendo uma medicação diluída no soro.
Que desastre!
Fiquei bem quieta.
Obedeci.
Mas, tão logo me colocaram o soro, comecei a me rebelar: a troco de que santo preciso ficar aqui com esta agulha espetada no braço? se minha pressão está ótima, batimentos, açúcar...
Vou sai daqui!
Enfermeira!
Por favor, amiga, tira este negócio do meu braço. Já me sinto bem. Vou embora.
Ela me olhou, um misto de espanto e pena, e disse: mas a senhora está com o soro faz 5 minutos...
É, eu sei, mas estou bem, pode tirar.
Ela tirou.
Mas me disse: fique aqui que eu já volto.
E voltou.
Com a médica.
Que, de cara, foi mandando, coloca de volta o soro, e a senhora fica aí bem quietinha e vai fazer to-
da essa medicação até o final. Não vai sair agora de jeito nenhum.
Aquilo foi uma ordem e eu me entreguei.
Estendi meu braço com cara de ré para a enfermeira que, triunfante, recolocou tudo no lugar outra vez.
Desaforo!
Inferno!
Odeio isto!
Quem sabe eu mesma arranco este negócio? E a voz interior "...tu não sabe fazer isso, idiota.Vai que entra ar na tua veia e aí, sim!"
Tenta pensar em coisas boas.
Na praia! Areia, sol, calor, céu azul, mar...
Respira...
Tá melhorado...
Pensando bem, sou uma pessoa de sorte.
Moro em uma cidade pequena, o nosso Hospital é ótimo, fui prontamente atendida, estou medicada, então....acho que vou dormir um pouco...
Saí de lá duas horas depois.
E aí voltamos ao começo desta postagem, onde o médico que consultei na segunda feira me sentenciou:  nada de dirigir, etc, etc.
É triste isso.
Voltei para casa e por mais que tentasse me consolar, dessa vez não rolou.
O que rolou foi muita lágrima, isso sim.
Pois não poder sair por aí cuándo se me antoje soou à prisão, à controle, a todas essas coisas impostas que detesto.
Entretanto, é algo temporário.
Trinta dias. Apenas trinta dias!
Dos quais passaram-se três.
Enquanto isso, vamos driblando o tempo, curando a labirintite e dando uma gambeta na vontade de tanquear o carro, calibrar os pneus e zarpar, rumo à estrada, só o som do vento e a imensidão dos campos que se estendem a perder de vista...espetacular!
Ainda bem que os dias passam, céleres.
Ainda bem!












quarta-feira, 20 de julho de 2016

Quo Vadis?


Quo Vadis?
" Pra Onde Vais?"
Que maravilha seria se soubesse a resposta.
Pois eis que, nesta quadra da vida, me deparei com uma estrada que se abre ante meus olhos e, logo ali, bifurca-se em várias direções.
Vejo-me em meio aquele lugar, olhando para todos os lados e sem saber para onde devo ir. 
Não bastasse a onipresente dualidade que me é peculiar, como boa geminiana que sou, surgem questões que precisam ser resolvidas e, sim, para tudo há uma solução, mas nada é fácil, muito menos de graça.
 Ponho-me a pensar e,  ultimamente, confesso que tenho feito isso em demasia.
Nestes anos de orfandade - treze anos sem meu Pai e sem minha Mãe, aprendi a reconhecer determinados sinais que eles me mandam ou, talvez, não seja nada disso, apenas um exercício da imaginação e um profundo desejo de alma, o de ouvir aquele conselho amigo, sem qualquer nuance de interesse.
Um abraço apertado como só meu Pai sabia me dar, um abraço terno e açucarado, do qual só minha Mãe detinha a fórmula: às vezes, precisamos desesperadamente de alguma coisa que nos faça lembrar que essas pessoas estão perto de nós.
Hoje, durante o café da manhã, lembrei do meu Pai, como sempre lembro; mas hoje,ainda  mais.
Saudade, e ponto.
Pensava eu: quanta falta me fazes!
E agora, Pai, estou há meses perguntado a mim mesma: " quo vadis"?
Saí para o trabalho e, em meio à correria e análise de documentos, um colega, da maneira mais inesperada possível, plantou-se ao meu lado e disse: 
" Lia Helena" - esse é o teu nome, não? Lembro-me de quando vieste um dia aqui na Prefeitura, no ano de 1984. Eras recém formada e teu Pai, o Dr. Edgard, entrou aqui e nos disse: " quero apresentar a vocês a minha filha Lia Helena, que agora é, como eu, Advogada."
" Lembras disso, Lia Helena"? perguntou-me o colega.
Sim, claro que eu lembrava.
Como poderia esquecer do sorriso lindo do meu Pai, de sua extrema alegria e orgulho, apresentando sua " colega"? Ele ria de puro contentamento, e eu também, andando, os dois, de braços dados por todos os setores da Prefeitura, num esplendoroso dia de verão.
Voltei aos meus 22 anos, quando o mundo era meu e tudo parecia possível.
Depois desse fato inusitado, levantei-me e fiquei um bom tempo ouvindo a voz do meu Pai.
Escutei  seu riso, senti seu olhar amoroso.
 Acima de tudo, escutei sua mensagem.
Quo Vadis?
E, de imediato, soube a resposta, o caminho e a direção.