terça-feira, 28 de outubro de 2014

A Patrulha da Elite Xenofóbica

Das eleições para presidente da república que ocorreram dia 26 de outubro próximo passado, dentre tantos conceitos e palavras de ordem, duas emergiram: elite e xenofobia.
O que é elite?
É pertencer a um grupo dominante, etc...o conceito está em qualquer site, vá lá pesquisar, eu não vou facilitar as coisas.
O que é ser xenofóbico?
Idem, procure e pesquise.
Altamente antipática, dirão que sou, meus queridos amigos.
Não.
É que me causa um certo enfado - para não dizer nojo, que pessoas ditas esclarecidas venham com esse papo pra lá de furado de que, quem é da elite é contra o povo e, por tal razão, quer o retrocesso do Brasil, isto é, não vota no sacrossanto PT.
Quando postei no Facebook que, enquanto o povo da região Sul trabalha o Nordeste se embala na rede, portanto, não são chegados ao trabalho, muitos se ofenderam e me taxaram de xenofóbica, e que eu estaria destilando ódio.
Saliento, de início, que não odeio ninguém, graças a Deus.
O ódio faz mal a minha cútis...
O povo nordestino é sofrido e, por tal razão, vem sendo usado há séculos por políticos sem nenhum escrúpulo de lançar mão de quaisquer artifícios para se manter no poder a qualquer custo.
O partido da hora, de se aproveitar daquelas pessoas, é o PT.
Aliás, está nessa há 12 anos, agora mais quatro.
Mas que também é verdade que muitos gostam de ficar se embalando na rede à espera das benesses do governo, é um fato inegável.
Benesses essas bancadas por nós,  trabalhadores da região Sul do Brasil.
É assim há décadas.
Nós trabalhamos, enquanto eles esperam.
Por  externar minha opinião que, pelo que se vê, é, também, a de 50 milhões de brasileiros, sinto ódio e melhor seria que ficasse bem quietinha, antes de ser detonada pelos politicamentiii corréétos.
A patrulha comunista está a mil por hora nestes dias pós eleição.
Mas comigo não, violão.
Os que apoiam e votam nesse partido,  cujos maiores expoentes estão vendo o sol nascer quadrado, esses acusam os que são contrários ao seu projeto de governo de ser elite, de ser xenofóbico.
Digam, amigos, quem foi a maior incentivadora dessa onda de xenofobia?
Quem, durante a propaganda política, veiculava o eles, o nós, o antes e o depois, os ricos, a elite, e os pobres?
Quem estimulou essa separação toda entre eles, os coitados cuja salvadora da pátria vai atender, e nós, a elite que é contra o povo?
Mais uma manobra desse partido que domina o Brasil e que vem repetindo tantas mentiras, tantas vezes, que as mesmas se tornam verdade - velha e manjada prática comunista.
Chegou-se ao cúmulo de partidários do PT ameaçaram pessoas em redes sociais de denunciá-las ao Ministério Público, caso continuem falando mal do governo.
Caso externem suas opiniões, seria a correta tradução desse atropelo.
A sra. presidente está descansando da campanha eleitoral mais cara da história da república.
Estará junto com o povo, em uma favela com esgoto a céu aberto?
Tá!
Quer dizer, os outros são elite.
Os outros são xenofóbicos.
Eles, os do PT, são os seres perfeitos, e que ninguém ouse dar um pio sobre nada.
Eles, os da esquerda caviar,  que defendem a distribuição de renda( mas não a deles, a sua), a invasão de terras( mas não a deles, as suas), a depredação de prédios públicos e privados( mas não o prédio deles, o seu), a roubalheira institucionalizada e os escândalos diários patrocinados por seus pares, eles pertencem a uma elite diferente da outra elite: eles podem, e andam, em carros cujo valor, nem em dez anos um trabalhador assalariado conseguirá comprar; eles moram em mansões, que nem em mil anos as pessoas conseguirão adquirir; eles viajam para o exterior com o papai, a mamãe, a titia, o papagaio e o periquito, hospedam-se em hotéis cujo valor da diária é impublicável; eles tomam vinhos importados cujo preço de uma garrafa é maior que um ano de salário de um trabalhador que percebe salário mínimo.
Quem é elite, aqui?
Façam o que eu digo, mas com o chapéu de vocês, porque o meu está bem guardadinho em um paraíso fiscal.
Jamais fui e nunca serei contra o povo, contra o trabalhador, contra a melhoria da qualidade de vida para todos, sem exceção.
Sou é contra essa ideologia desses comunas do PT   que querem, a pau e corda,  que as pessoas que também trabalham e que, se tem o que tem, se estão aonde estão, é graças ao suor de seus rostos e não às migalhas do governo,  distribuam seus bens a outros menos beneficiados.
Enquanto isso, quem não canta essa música é taxado de xenofóbico e elitista, e é contra os pobres.
E eles, onde estão numa hora dessas?
Eles também são elite, mas isso  ninguém diz, ninguém aponta.
Deveriam não apenas dizer, mas levar à cabo o que tanto pregam: abram suas mansões, disponibilizem suas contas bancárias, convidem os pobres a dar uma voltinha em seus carrões importados e blindados.
Eu não sou e nunca fui contra ninguém.
Sou é contra a vagabundagem.
Sou a favor do trabalho, de que se criem postos de emprego, que haja investimentos na educação, no saneamento, na saúde, na segurança.
Menos corrupção, mais trabalho.
Menos xenofobia, mais trabalho.
Menos discursinho hipócrita, mais trabalho.
Abaixo o assistencialismo do PT, que escraviza e aliena as pessoas, que joga os brasileiros que tem parcas condições de vida contra os que tem melhores condições de vida, como se isso fosse crime.
Crime é mandar os filhos estudar na Europa, como se sabe que muito esquerdista caviar faz.
Por que não deixa seus filhos aqui  no Brasil, fazendo um cursinho do Pronatec?
E os que não votaram no sacrossanto PT é que são elite xenofóbica.
Falam tanto que os que votaram contra o PT são coxinhas...pois eu, que nunca votei nesse partido que prega essa moral de cuecas, nem pra coxinha sirvo: sou coxão!






















Enquanto Você É Útil

Enquanto você é útil e tem serventia na sua casa, junto a sua família, no seu trabalho e na sociedade, tudo anda bem.
Há uma (falsa) ilusão de que tudo está certo,  e que você tem o domínio e o controle dos fatos.
Mas há um determinado momento em que percebemos, nitidamente, que as coisas mudaram.
É um processo que não acontece de repente, de inopino.
É uma mudança gradual, lenta mas persistente, como um pingo de água que cai, quase que imperceptivelmente quando a torneira está mal fechada; vai pingando tão devagar e silenciosamente que, no início, você nem percebe.
Um dia, subitamente, você acorda, e se dá conta que, dependendo do lugar e das circunstâncias, passou de protagonista a mera figura decorativa.
Como um enfeite antigo, posto ali, num lugar onde será visto apenas parcialmente, e talvez chame mais a atenção devido à poeira que acumula que a tudo o que, efetivamente, você é.
Quando isso acontece, vislumbro dois caminhos:
O primeiro é sucumbir a uma avassaladora depressão, que o levará a lugares escuros nunca antes percorridos, a pensamentos e sensações de angústia e desamparo inimagináveis.
Perdido na aridez de um deserto sem fim, onde não se vislumbra um oásis, você poderá deixar como está pra ver como é que fica e permanecer observando,  num marasmo profundo,  a vida escorrer, ir embora e nada será capaz de deter o fluxo da sua tristeza,  uma vez que a sua presença perdeu o sentido, pois não é mais necessária e, muito menos, indispensável.
Há outras pessoas que atropelaram o seu modo de ser e a sua maneira de fazer as coisas e de ver o mundo e esse processo é irreversível, o trem saiu, você ficou parado na estação e nem que corra muito, não será capaz de alcançá-lo.
Essa dolorosa constatação poderá levá-lo  a  acreditar que você se tornou um completo inútil.
Afinal, seu ambiente de trabalho está tomado por pessoas que não estão nem aí para o fato de você ter experiência, tanto profissional quanto de vida, a eles somente importa o momento presente e os velhos como você, melhor será que peçam as contas e se mandem para casa, dar alpiste aos passarinhos.
Seus filhos cresceram e foram embora, e, por mais dura que seja esta assertiva, a conclusão é uma, e única: eles não precisam mais de você.
Você não é mais útil, meu camarada!
O segundo é, a meu modo de ver, bem mais interessante: você se deparou com a realidade nua e crua das suas circunstâncias, e precisa - e vai, segurar as rédeas de seu próprio destino, aceitando aqueles erros tolos que cometeu e aprendendo com eles, arrependendo-se de outras tantas cabeçadas e fazendo-se o firme propósito de tentar não repeti-las; vai olhar de frente e reconhecer que já dobrou o cabo da boa esperança, afinal, tem mais de cinquenta anos e não foi bolinho o tanto que viveu, mas conclui que a vida é uma janela aberta para o imprevisível, para o frescor das manhãs e para o frio do inverno, que dispor do seu tempo é um luxo que poucos, hoje em dia, detém, e que o único chefe que possui é o seu desejo.
Maior leveza e novos projetos, nem tão mirabolantes e um tanto quanto utópicos como os anteriores...
Apenas viáveis.
Reconhecer suas limitações e acordar, a cada manhã, bem ciente de quem você é, daquilo que quer mas, fundamentalmente, do que não quer, numa espécie de inversão do processo pois,  agora,  é você quem decide e determina o quê, e quem, é útil para a sua vida.
Você continua útil, antes de mais nada, para si próprio, dono de si mesmo, com  plena capacidade de discernimento de suas decisões e escolhas.
Essa conquista,  só adquire aquele que, num dia qualquer, sentiu-se inútil e teve a força e a coragem suficientes para seguir percorrendo o restante do caminho.


























































































































sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Conversando Com Meus Botões

A minha Mãe maravilha, a dona Kila, que sabia das coisas, tinha um hábito que carregava desde os tempos de internato no Colégio do Sagrado Coração de Jesus, em Buenos Aires: acordava por volta de 6, 6 e meia da manhã.
Aquilo era costume seu,  do qual não abria mão.
Eu ficava abismada com aquilo, não entendia a razão que levava uma pessoa a sair da cama tão cedo, inclusive nos finais de semana.
Ela me dizia, nena, es la hora del dia que mas gosto. Fico sozinha, escutando el canto de los pajaritos, rezo, leio, penso na vida...es una hora que tengo solo para mi.
As mães são sábias.
A minha era.
Eu tive a suprema ventura de ter uma Mãe tão linda, que me ensinou tantas coisas que, cada vez que sinto saudade dela, e isso ocorre sempre, ponho-me a pensar que ela cumpriu, magistralmente, sua missão de mãe, e que não tenho o direito de ser egoísta a ponto de querer tê-la para sempre: os anjos, a toda certeza, precisam muito mais dela do que eu.
Me acolheu e me amparou sempre que precisei, o que não a impediu de ter puxado minhas orelhas e de ter sido dura comigo quando precisei.
Arrependo-me das vezes que a fiz chorar, com discussões inúteis.
Lembro-me de todas aquelas brigas tolas e que, por sorte, não foram muitas, não fecho os dedos de uma mão para contá-las.
Hoje, aos 53 anos, vejo que Minha Mãe maravilha, a que sabia de todas as coisas, tinha razão, e eis-me aqui, a imitá-la: acordo cedinho, 6 e meia, 7 horas, faço meu matecito e, escutando o canto dos pássaros, ponho-me a pensar na vida, numa conversa solitária com meus botões, solitária mas altamente produtiva, pois aquela horinha em que estou só é a que serve para repor minhas energias, a que uso para meditar, para respirar fundo e encarar mais um dia.
Nas coisas mais simples, vejo uma extrema beleza: o jasmim encantado carregado de flores, dançando ao toque da brisa matinal, a orquídea que acabou de florescer, o beija flor que vem, todas as manhãs, exibir-se para o sol que recém começa a surgir, os canários e sua música, as árvores, saudando a manhã...
Minha Mãe maravilha, a que sabia de todas as coisas, me transmitiu o amor à natureza e à contemplação, e a tudo o que alimenta nosso espírito e nutre nossa caminhada diária: a fé, a sintonia com as energias positivas,  a alegria, o bom humor.
Obrigada, Mãe!
Longe dos meus olhos estás, mas sempre perto do meu coração!



quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Eleições

Evito falar sobre política, religião e outros afins pois, dependendo da vontade - ou da má vontade do leitor, muitas vezes somos mal interpretados.
Mas não tem como não falar sobre o assunto que mais palpita: o das eleições presidenciais.
Falta pouco mais de uma semana para que nós, brasileiros, decidamos quem vai governar o Brasil pelos próximos quatro anos.
Eu não sou e nunca fui PT.
Nunca votei no PT.
Eu sou PDT, e o meu Partido, embora coligado, ou ligado, ou aparentado, não é o PT!
Não gosto do PT, do seu discurso politicamentiiii corrréto enquanto, na porta ao lado,  roubam adoidado e seus dirigentes fingem que não é com eles.
Não gosto da forma como eles colocam as questões, como se fossem verdades absolutas, que somente eles sabem de tudo e o resto é um monte de gente incompetente que não tem a mínima noção de nada.
Essa postura mentirosa me enoja, essa coisa de jogar os brasileiros uns contra os outros não me cai bem, esse discurso de ricos e pobres, da elitiiiii contra os coitadinhos...
O Brasil é rico.
Riquíssimo!
Tanto é assim que, com tamanhos desmandos, ainda continua a produzir e a avançar.
Não gosto desse discurso esquerda caviar, onde somente os de outros partidos políticos são abonados, são ricos, e eles, os pobres do PT, são os pais da pátria.
Isso é um baita engodo, e o  povo, mais uma vez, cai direitinho nesse conto do vigário.
O que existe, de fato, é que os que assumem o poder não querem mais largar o osso.
E o povo fica aí, morrendo nas filas dos hospitais, passando fome, sem luz, sem água, sem saneamento, sem nada.
Fica recebendo migalhas.
Mas chega no dia da eleição, vão lá e votam na mesma situação.
Que a qualidade de vida das pessoas melhorou, e muito, é inegável.
Mas será que somente o PT detém o monopólio de fazer a coisa certa?
Eu não suporto aquele papinho do estamos investigando, estamos punindo, nunca antes na história deste país...
E os escândalos se sucedem, dia após dia.
E os ilustres pensadores das políticas do PT estão na cadeia!
Enquanto não tiver um governo que pare de roubar e dê comida e educação para o povo, o Brasil não terá jeito.
Mais saúde, mais educação.
Com muito trabalho - que não é privativo do PT, com muita seriedade - que não é privativa do PT, talvez nos reste um fio de esperança de ver a coisa melhorar, e de a atual esculhambação acabar.
Uma coisa, porém,  eu digo a vocês, meus amigos queridos: o  PT não solta o osso, não larga a teta, tá agarrado na barra da saia deste país e não quer arredar pé do poder.
Está apelando pra tudo.
Jogando pesado, jogando sujo.
Dia 26, votemos com os olhos voltados para o futuro, de mãos dadas com a esperança.
Chega de tanta corrupção, de tanto desmando, de tanta bandalheira.
Que Deus nos ajude!





sábado, 11 de outubro de 2014

Novas Histórias de Lucrécia, a Peidorreira - Parte 2

Após quatro horas na clínica de beleza em Santo Tomé, Lucrécia e suas amigas precisavam, urgentemente, de um lanche.
Tinham saído de Posadas pela manhã cedinho, o almoço fora frugal, quase nada, considerando a necessidade premente de emagrecer e, ainda, porque os tratamentos da tarde não requeriam estômago cheio.
Foram parar numa lancheria que ficava na rua principal da cidade onde, depois das 6 da tarde, costumavam reunir-se estudantes, aposentados e grupos de amigos, a fim de apreciar o final do dia saboreando una cerveza helada.
Escolheram uma mesa e abancaram-se, pedindo o menu ao garçom que, de início, já achou estranho o modelito de Lucrécia, em plena luz do dia vestindo uma saia de couro preta e uma blusa de renda da mesma cor, brincos dourados e grandes e um cabelo escovado, lisérrimo, fruto da escova progressiva que há pouco fizera.
Ali ficaram as três amiga, empanturrando-se com pães de queijo e torradas de presunto e queijo regadas a Coca Cola.
Eu mereço, pensava Lucrécia, comendo vorazmente a meia dúzia de pãezinhos que chegaram.
Mexia-se todo o tempo na cadeira, louca de dor nas pernas e no abdômen, fruto da criolipólise e das massagens absurdamente fortes a que se submetera para melhorar o visual.
Por la belleza, todo!, sentenciara  la senõra Babú, e Lucrécia, embora obediente aos conselhos da mãe, jurara a si mesma: criolipõlise, nem em mil anos!
Nunca mais!
Comia e peidava solto e bem como ela gostava, o som alto da música não deixava ninguém escutar nada e, se por acaso ouvissem, pouco se lhe dava.
Afinal,  era conhecida em toda aquela região e sua fama, divulgada pelas redes sociais, era objeto de permanentes comentários.
No fundo, ela adorava tudo aquilo.
Andava pensando, inclusive, em candidatar-se à vereadora nas próximas eleições a fim de levantar  a bandeira dos pobres e oprimidos peidorreiros, discriminados em todos os locais.
Como se o povo não peidasse!
Terminado o lanche, quase uma hora depois, dirigiram-se à farmácia, a fim de completar o tour de beleza.
Lá chegando, Lucrécia entrou porta adentro e nem ligou para o fato de a farmácia estar apinhada de gente e, ao lado, precisar pegar uma ficha para ser atendida.
E foi logo perguntando, moço, tem betacaroteno? e ômega três? e chia, tem? Quanto custa a caixa? Quero a maior, com 60 comprimidos...e, sem esperar a resposta, já lascava outra pergunta: quanto custa aquele pote de Nívea para pele extra seca?
A expressão do funcionário da farmácia era a de um misto de sufoco com riso e, sem saber ao certo o que fazer, apenas disse: usted tiene que aguardar, hay personas que llegaram primero...
Lucrécia riu alto, mas por dentro.
Esperar, ela?
Sabia uma maneira infalível de botar todo mundo pra correr dali, e rápido.
Tinha comido muito pão de queijo com Coca Cola, a pressão estava grande.
Pssssssssss....
E soltou um surdo poderoso e insuportavelmente fedido.
Recostada no balcão com cara de otária, ficou observando de soslaio o povo que debandava sem entender de onde vinha aquele cheiro nauseabundo.
Sorria,olhando para os produtos das prateleiras, nem era com ela.
Por fim, ficaram apenas as três amigas e o funcionário, que tratou, rapinho, de entregar a Lucrécia tudo o que ela queria para poder, ele também, rapar fora dali.
E foi assim que Lucrécia, a peidorreira, deu por encerrado seu  périplo na clínica de beleza em Santo Tomé, onde não pretendia mais voltar, pois sentira muita dor e o resultado não fora tudo aquilo que tinham alardeado.
Chegando em casa, encontrou la senõra Babú em polvorosa: tinham recebido um convite para ir ao casamento de uma afilhada, uma festança de arromba no Rio de Janeiro.
Prepará-te Lucrécia! Nos vamos a Brasil! A mi me encanta!
Um novo capítulo começava: era preciso programar a viagem à cidade maravilhosa.
( continua num outro dia qualquer).

Um final de semana maravilhoso a todos, queridos amigos!







quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O Lado Negro da Alma

A escrita é caprichosa: você está disposta a continuar escrevendo sobre  determinado tema quando aparece um fato novo, inusitado, e tudo muda,  o foco e a direção.
Assim foi hoje, quando deveria seguir com as peripécias de Lucrécia, a peidorreira, mas surgiu um assunto sobre o qual não posso me calar, sinto uma necessidade premente de dividir com meu querido fã clube de meia dúzia de gatos pingados o que me vai na alma.
Há pessoas que tem o condão de extrair o pior de mim, de provocar dentro do meu ser um sentimento tão primitivo quanto ruim: raiva.
A raiva faz mal à saúde.
A minha saúde, faz, pois me provoca suor excessivo, taquicardia e uma vontade incontrolável de sair de minha zona de conforto e dizer tudo, absolutamente tudo o que está entalado há vários anos.
Entretanto, após incontáveis exercícios de tolerância e auto controle, aprendi a respirar, a sair de perto,  a olhar de longe para o cenário, pois a raiva nunca é boa companheira.
Hoje, por esses caprichos do destino, me vi  diante de uma situação que me deixou completamente fora da casinha.
Pela manhã, precisando ir até o prédio da Receita Federal, deparei-me com o portão da casa de meu Avô Atílio Mondadori - parêntese: aquela sempre será a casa de meus Avós, sempre será a casa dos Mondadori, embora, documentalmente, pertença a outras pessoas(que, graças a Deus, não tem meu sobrenome!) - e vi o muro que antes separava a casa do jardim completamente derrubado, que não dizer das grades de ferro torneado.
Apenas um monturo de escombros, foi o que vi pela abertura do portão.
Obras.
São apenas construções de mais de cem anos que vem abaixo, que é que tem?
Os novos donos estão pouco ligando para a história do lugar, para o verdadeiro sentido do legado, cultural e familiar, para a noção de continuidade, de preservar sem destruir, de inovar sem arrasar.
Por mais que me digam, jamais aceitarei, sem protestar,  que arrasem com a história que também é minha.
Minha e de todos os outros netos de Atílio e de Mathilde.
Não, não aceito.
Respeito as decisões e os papéis, entendo disso perfeitamente, aliás,  sou Advogada há mais de trinta anos - ao contrário de muitos burros que dão pinta de inteligentes mas nunca conseguiram passar no Exame de Ordem.
Isso é uma coisa.
Mas contra o que me insurjo, na verdade, é em como a vida é caprichosa e irônica.
Pois, a toda certeza, se meus Avós vissem tamanho descalabro naquilo que, ao longo de suas vidas, cuidaram e zelaram,  revirar-se-iam  na tumba.
Muito doloroso ver aquele espetáculo de destruição!
Estragou minha manhã, minha tarde e um pedaço da noite, até que cheguei em casa, fiz meu matecito sagrado e me pus a pensar.
Pensei no meu Pai, como sempre.
Pensei nos meus Avós.
Refiz toda a história de minha vida junto com eles, até o dia de hoje.
Não há o que fazer, a não ser rezar, como me disse, hoje, um Colega, à guiza de consolo, quando viu meu desamparo.
Rezar para que o lado negro de minha alma receba um facho de luz.
Fui informada que ali, naquele lugar onde antes era o jardim mágico de minha Avó Mathilde,  será erguida uma clínica para cachorros.
Considerando o atual contexto, não poderia haver nada mais adequado!










quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Novas Histórias de Lucrécia, a Peidorreira - Parte 1

Para felicidade geral da nação e, muito especialmente de la senõra Babú, Lucrécia, a Peidorreira, casara-se com pompa e circunstância com Gerardo, seu amigo e colega de faculdade mas, acima de tudo, companheiro de peidos e fedentinas.
La senõra Babú nem ligava mais para aquela mania esquisita dos dois, até se acostumara aos campeonatos de peido que ambos promoviam quando o Boca Júniors, o time da loucura de ambos jogava.
Quando tinha jogo, a dupla instalava-se no sofá da sala da casa de la senõra Babú e não tinha para mais ninguém, a não ser para o cachorro Asdrúbal que, de tão velho, mal cabia sobre as próprias patas, mas não deixava de acompanhar Lucrécia em suas esquisitices.
Aliás, Asdrúbal, para não ficar atrás e talvez movido por um sentimento de cumplicidade, soltava lá seus peidos, que eram, diga-se de passagem, bem piores que os de Lucrécia e Gerardo juntos.
Fato é que Lucrécia, certo dia, encasquetou que estava ficando velha e, assim sendo, precisa de alguns retoques com urgência.
Ela era exagerada, claro, mas as ruguinhas estavam ali e não havia lugar a dúvidas: a casa, ou melhor, o corpicho estava começando a cair.
La señora Babú, tão velha quanto Asdrúbal, falava todo santo dia: Si seguis asi, Gerardo te va a dejar! Movéte, Lucrécia!
Então, Lucrécia descobriu uma clínica milagrosa em Santo Tomé.
Inteirara-se de tudo pelo Facebook, pois vivia pendente das redes sociais.
A cada comentário, um peido, e vice versa.
Marcou hora e convocou duas amigas de confiança para a jornada de beleza e foi assim que, num dia lindo de Primavera, o trio rumou para Santo Tomé, sem hora para voltar.
Claro que, durante a viajem Lucrécia controlou o quanto pode sua tendência a peidar sempre que lhe aprouvesse mas, as descer do carro, já na frente da clínica, largou, sem a menor cerimônia,  tudo o que estava preso: prrrrrrrrrrrr!!!
Eram somente gases, não havia cheiro.
As amigas, acostumadas àqueles disparates nem deram bola, mas vários passantes viraram suas cabeças, escandalizados com tamanha desfaçatez.
Como sempre, ela nem tava.
Peidava, ué sais! Estava sempre com gases, o que podia fazer?
Entraram na clínica.
Foram duas horas que valeram por uma sessão de tortura, com aplicações de botox no rosto e na boca enquanto, no abdômen e na parte superior das coxas, fazia criolipólise, um método para sugar a gordura.
Uiiiiiiii!!!
Imobilizada naquela caminha, Lucrécia foi pegando pressão e tentou, de muitas formas, não peidar, afinal,  a sala estava apinhada de mulheres cravejadas de agulhas por todos os lados, só que não adiantou.
Lá pelas tantas, começou a soltar devagarinho, sem alarde.
Ela sabia que eram os piores...
Logo o fedorão se espalhou pela sala, e todo o mulherio se entreolhou, apreensivo:  algum aparelho teria queimado?
Seria o tanto de gordura sugada que fedia daquela forma?
Terminada a sessão, Lucrécia e suas amigas estavam loucas de fome e ainda precisavam passar na farmácia. A jornada de beleza incluía a compra de chia, ômega três, betacaroteno e o que mais precisasse para melhorar o visual.




segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O Jasmim Encantado

Há muitos anos, uma pessoa de  bom coração presenteou-me com uma muda de jasmim.
E aquele jasmim era especial, pois fora colhido do jardim da casa de meu Avô paterno, Atílio Mondadori.
Minha Avó Mathilde, a quem meu Avô chamava de ricura, era a que cuidava do jasmim, que se esparramava, soberano, sobre as grades que separavam o jardim do restante da casa.
Ali, naquele espaço mágico, minha Avó plantava rosas, gerânios, amores perfeitos, lírios, margaridas...tinha um canteiro todinho de margaridas!
No meio do jardim, um chafariz, que fazia borbulhar a água, refletindo o brilho do sol.
Como era lindo o jardim da casa de meus Avós paternos!
Há uns 15 anos, aproximadamente, ganhei uma pequena muda daquele jasmim encantado, que já durava tantos e tantos anos e, creio eu, ressentido com a falta das mãos de minha Avó, mostrava-se velho e cansado, dando mostras evidentes de que desejava ir embora, pois não florescia mais com antes quando, todos os meses de outubro, cobria-se de flores, cujo perfume sentia-se da rua.
Então, outro remédio não teve, a não ser retirar o jasmim dali.
Foi uma operação triste, pois ele fazia parte da história da casa, dos dias em que minha Avó podava-o, do tempo em era preciso regá-lo e também, dos dias felizes em que, tão carregado de flores estava que havia-as para encher todos os vasos de minha tia Alba, que fazia arranjos com flores como ninguém.
Foi-se embora o jasmim da casa de meus Avós, mas sobrou uma pequena muda para mim, que me foi dada por Adalgisa Chavaré, a Mãe Gija, como era chamada por todos.
Trouxe-a para minha casa e, por vários dias, mantive-a num pote de vidro com água, trocada todos os dias, até que criasse raiz e, depois, plantei-a num canto da área.
Os dias e meses e anos se passaram e ali, naquele local, o jasmim encantado floresceu, e tornou-se um arbusto forte, grande d formoso, que proporciona uma cortina de sombra a uma parte da área no verão, e perfuma a casa, o pátio e as redondezas todos os meses de outubro e novembro com tantas flores, que consigo enfeitar todos os vasos que possuo.
As mãos que, durante anos a fio cuidaram daquela planta, me repassaram, ao que tudo indica,  a tarefa de fazer com que ele continuasse florescendo.
Desde que o plantei, o jasmim encantado e eu mantemos uma relação de amor, cuidado e muita cumplicidade: eu ajeito seus galhos retorcidos quando é necessário, molho suas folhas quando sinto que ele está com sede, e ele me retribui com flores verdes e brilhantes, flores de delicioso aroma e com ninhos de pequenos pássaros, que cantam o ano inteiro.
Agradeço tanto aos meus Avós paternos, que um dia plantaram uma pequena muda de jasmim, que era encantado e, desde o início, veio para ficar nas mãos de nossa família por várias gerações.
O amor, em suas mais variadas formas, sempre permanece!




quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Muitos Caciques

Essa velha máxima nunca esteve tão atual nos dias que correm: muito cacique para pouco índio.
Tem tanta gente opinando sobre o que não sabe, dando palpites infelizes e mega furados pensando que sabem de alguma coisa, com suas culturas de almanaque, que fico bege, só observando.
Só no sapatinho.
E, como não poderia deixar de ser, quando acontecem coisas escabrosas, estarrecedoras para quem tem um pingo de boa educação, sempre penso no meu Pai.
Se o Dr. Edgard estivesse aqui, de há muito teria me dito: larga essa merda!
Sim, seria isso o que ele teria me dito, com certeza absoluta.
Saudade do meu Pai é pouco!
Daria tudo, tudinho para poder estar com ele e dividir as aflições, os pensamentos, as ideias, ouvir suas opiniões e conselhos.
Ele, e mais ninguém, saberia o que me dizer numa hora dessas, embora eu tenha 53 anos, mas conselho de pai sempre é bom.
Algo isento e imparcial, dito por uma pessoa que somente te deseja o bem.
E isso sim é difícil, dificílimo! Alguém que te deseje o bem, sem nenhuma espécie de interesse ou mutreta.
São tantos os fatos que têm acontecido ultimamente bem ali, nas minhas barbas, que ponho-me a pensar onde diabos se meteu a educação e o caráter de certas gentes, e concluo: escafederam-se, foram plantar batatas.
Não tem e nunca tiveram nada de nada.
O custo emocional de alguém que precisa submeter-se a certas violências morais é imenso, e não paga a pena.
Mais vale um dia como um leão que cem anos como um carneiro, isso meu Pai sempre me dizia e, efetivamente, concordo.
Mais vale um dia como um leão que cem dias como um carneiro, ou seja, de que vale viver tanto, e mal, a ponto de ter que aturar baixarias atrás de baixarias, que sentir o prazer de dar uma patada com a força que somente um leão pode ter?
A resposta está dentro de cada um, e nossa tábua axiológica nos dá a medida da suportabilidade.
Enfim, resumindo: tenho nojo de gente grossa e mal educada que trata mal os outros, que se aproveita da fragilidade para destratar, que se mostra politicamentiiii corrrééétoo para esculhambar.
Entretanto, também é verdade que, se permitimos certos desmandos em relação a nossa pessoa, algo está mal dentro de nós.
Mais vale um dia como um leão que cem anos como um carneiro!