terça-feira, 10 de novembro de 2015

A Sapatilhazinha

Então, eis que a  a criatura não pensa no óbvio: que, ao ladear o corpicho de muitos quilos a mais, fatalmente, cairá!
Um tombo estúpido, aquela queda inocente que, num primeiro momento nos faz rir para, logo após, chorar.
Chorar de dor.
Há exatos 21 dias, caí da cadeira da cozinha.
Brincando com o gato fui, sem perceber, ladeando o corpo para um lado até que a cadeira foi para outro.
Pá!!!
Caí sentada, com toda esta almofada que carrego há dez mil anos, senti que bati forte, ouvi o barulho e pensei, te ralaste, amiga, que a pancada foi grande.
Mas, como sou uma pessoa teimosa e ignorante e acho que me curo sozinha, fui procurar o médico somente quinze dias depois, já pedindo água.
Resultado:
precisei fazer um raio x, que ainda não está pronto e, provavelmente, terei que fazer uma ressonância magnética.
Esse, o preço da glória.
Haja paciência para suportar a dor mas, acima dela, estar sem poder fazer tudo o que gosto: andar, pular, arrastar meus potes de plantas, ir ao Pilates, voltar à mil e dar uma corridinha, não está sendo nada fácil este repouso forçado.
Ponho-me a pensar nas pessoas que precisam ficar meses a fio fazendo tratamento.
Elas são um monumento à coragem e à força de vontade.
Também conclui o que todos sabemos mas que, na prática, adquire outra conotação: saúde é tudo.
Sem ela, não fazemos nada.
É, tenho pensado muito.
Penso, inclusive, nas coisas que são, para mim, urgentes: amor, carinho, afeto, amizade, companheirismo.
Considero-me afortunada, pois meu maridão faz o que pode para me agradar e levantar o astral, um tanto quanto baixo, pois não se pode pretender que uma geminiana fique lá muito alegre, olhando a caravana passar.
Soma,  para meu quase ataque histérico - eufemisticamente falando, claro, sou extremamente calma...o fato de estar longe das minhas filhas: meus três amores no Portinho e eu aqui e, numa hora destas, eu quero e preciso de um colinho de filha.
Entretanto, como não tem tu, vai tu mesmo, então, dou uma de Poliana e procuro contentar-me com o que tenho à mão, e que também não é pouco: um ótimo livro, um filme, a parceria dos amigos e, claro, meu indefectível matecito.
O pior de tudo, entretanto, é que fui obrigada a comprar um sapato sem salto: uma sapatilha.
Mas é a treva!!!
Que coisa feia e sem graça inventaram, esse tipo de calçado só fica bem para quem tem 1,70m e 60 quilos, e está na faixa dos quinze aos trinta e cinco anos.
Depois, fica estranho, e por favor, não me apedrejem, estou impossibilitada de reagir.
É brincadeira, amigos!
Ocorre que eu não tinha, até a semana passada, um único sapato que não tivesse salto e agora, obrigada a usar a sapatilhazinha infame, desejo, ardentemente, poder voltar aos meus gloriosos saltos.
Quando chegar esse dia maravilhoso que, espero, seja em breve, levarei a sapatilha para lugar incerto e não sabido e que, Deus me ajude, não precise mais dela.
Porque machucada, ainda passa.
Mas ter de usar sapatilha...aí já é castigo!






segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Abotoadinha

Às vezes, um par de dias e uma mudança de ambiente costumam fazer milagres.
Passar por situações que nunca imaginou vivenciar, conhecer pessoas diferentes daquelas com quem convive há tempos levam você a pensar que, se faltava alguma coisa para fazê-lo sair de sua zona de conforto e mudar de atitude em relação à vida, pronto, esse era o impulso necessário.
Durante anos, ficamos num emprego onde não nos valorizam, num relacionamento médio, numa cidade que nos deprime,  aturando o vazio em que se transformou nossa vida, até perceber  que as oportunidades são infinitas, desde que haja, fundamentalmente, duas coisas:vontade e coragem para mudar.
O que virá depois, só Deus sabe, mas tudo é melhor que viver estagnado e com a terrível sensação de que você é uma pessoa descartável, dispensável, e que deve ficar bem quietinha ouvindo pito e opiniões de quem pensa que está por cima só porque grita mais.
Quando você tem o prazer de rebentar a corda que está te enforcando e coloca um ponto de basta no tempo que passou abotoadinha, presa a circunstâncias que um dia foram ótimas mas que, por uma ou outra razão, deixaram de sê-lo e poder voltar a ser quem você realmente é, resgatando a si mesma é como respirar um ar novo e puro.
Poder mirar -se no espelho e enxergar a sua imagem verdadeira, livre daquela roupagem velha, incômoda e bolorenta é uma sensação de leveza indescritível.
Que tenhamos, sempre,  a ventura de poder abraçar o novo!

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

E O Cordão...

Quando estava no quarto ano da faculdade de Direito, fui falar com um professor sobre uma nota.
Questionei-o sobre a pontuação obtida na prova e ele, com um sorriso de orelha a orelha, tascou: com esse sorriso e essas tuas covinhas, não precisas te preocupar com nota!
Nos tempos atuais, uma atitude assim, tão descarada, seria impensável.
Certamente a história iria parar nas redes sociais e aí, seria um salve-se quem puder,  ou melhor, o professor estaria sumariamente reduzido a pó de traque.
E minha resposta, qual foi?
Do alto de meus vinte aninhos, encarei o professor figurão, quarentão, bonitão, e falei: sim, mas minhas covinhas, e todo o resto, não são para o teu bico! Quero saber a razão de ter tido minha nota alterada.
Bueno.
Com isso quero dizer que, desde sempre, nunca fui puxa saco.
E, quando vejo alguém que tem esse hábito, primeiro sinto nojo.
Depois, raiva.
Por último, pena.
Não há necessidade alguma de puxar o saco do chefe para manter o cargo.
Pois o que, de fato, faz diferença, é o potencial de cada um.
Ainda hoje observo, abismada, como tem gente que se presta para fazer qualquer coisa, a fim de manter o status quo.
Como é possível?
Pior é que o puxa saquismo é tão evidente que todos, absolutamente todos, se dão conta da situação.
Mas, enfim, caráter não se aprende na Faculdade.
Entretanto, embora em um primeiro momento o puxa saco pareça estar por cima da carne seca, olhando para os demais como se fossem uma bolachinha quebrada, outros olhos o observam, e veem suas deploráveis atitudes.
Melhor dizendo, a falta de.
Portanto, quando me deparo com um puxa saco, sinto pena: de tão incompetente,  precisa estar sempre bajulando o superior, senão, balança e cai.
Ainda não me convenceram de que o estudo, a dedicação e o trabalho técnico valem menos que uma boa puxada de saco.
Não me convenceram!
Lamentavelmente, o que se vê é que o cordão dos puxa saco cada vez aumenta mais.
Sorte que - podem me taxar do que quiserem, dele nunca fiz, não faço e, se Deus quiser, não farei parte.





terça-feira, 18 de agosto de 2015

Réquiem Para os Livros

Como disse Santa Teresa, tudo passa.Só Deus não muda.
Quero crer que sim, adorável Santinha.
Tocou-me a triste tarefa de separar os livros que eram de meu Pai, documentos de antanho, pastas, fotografias, notas, bilhetes, recibos.
Foram dias separando tudo e, se não fosse pela ajuda que recebi do marido e de três fiéis funcionários, não teria conseguido, devido à extraordinária carga emocional que aquilo me trouxe.
Passei mais de semana chorando e pensava, queria escrever sobre tudo aquilo mas não tinha coragem, pois seria pesado demais.
Doloroso é ter que dar um fim a objetos que simbolizaram parte da história de nossas vidas mas que, por força das circunstâncias e do decurso do tempo, tornaram-se obsoletos e sem serventia.
Acumulavam pó, nada mais.
Simples assim, e extremamente triste, pois todos aqueles livros, coleções inteiras cuidadosamente enfileiradas nas estantes,  um dia foram úteis e tiveram seu passado de glória, lidos à exaustão, horas e horas de pesquisa, para que pudéssemos apresentar um trabalho digno e limpo.
Um trabalho bom.
Meu Pai, a toda certeza, logrou êxito em sua missão de operador do Direito.
Sobre a minha pessoa, o tempo dirá.
Mas o fato é que havia a necessidade de tirar todos os livros daquele local onde um dia foi o escritório de advocacia do Dr. Edgard.
Não foi possível fazê-lo de maneira rápida, o que talvez deixasse o processo menos dolorido.
Foram necessários vários dias e muitos ajustes, até que a última caixa saiu, e fechei a porta.
E como doeu!
Foi muito, muito difícil ver todos aqueles livros sendo tocados por mãos que não as do meu Pai, pois ele foi quem os adquiriu, cuidou, colecionou, limpou.
Livros de toda a vida!
Religiosamente, uma vez por semestre, ele contratava uma pessoa que ia lá para o escritório limpar os livros, um a um.
Que tarefa!
Ele tinha adoração por aqueles livros e eis que a mim, justo a mim, que amava e amo e sempre amarei meu Pai, e adoro livros, a mim coube tirá-los de circulação.
E, ao passo que via como iam sendo levados, vinha a minha cabeça, de maneira recorrente,  uma cena triste daquelas carruagens de antigamente, carregando pessoas.
Um réquiem para os livros.
Chorei uma semana, chorei no cantinho, na sala, da rua, na chuva e na fazenda, antes de dormir, e até dormir de tanto chorar, chorei no café da manhã, chorei tudo o que tinha para chorar.
Mas aí, como é de minha natureza, um belo dia eu acordei muito bem, e com uma energia nova.
Havia passado por mais uma prova, dessas que Ele me manda, e eu passo, pois não sou de fugir.
Fiz novos arranjos, perfumei a casa.
Levantei a cabeça e saí, para seguir em frente.
Sim, adorável Santinha, tens razão: tudo passa. Só Deus não muda.







segunda-feira, 27 de julho de 2015

De Mão No Bolso

Eu gosto de observar pessoas e lugares.
Quem assistiu ao filme Para Sempre Alice, agora também pelo Netflix, não ficou imune àquela história, baseada em fatos reais.
Alice, uma Professora universitária de renome depara-se, aos 50 anos, com um diagnóstico de Alzheimer e o que se vê, da metade do filme em diante, é uma história triste, deveras mas, acima de tudo, de superação e dos novos arranjos familiares que, necessariamente, tiveram de ser feitos.
Triste e muito real, pode acontecer com qualquer um de nós.
Saí pensativa do cinema, pois o filme nos leva à reflexão e não há como não imaginar-se em um quadro como o dela.
Cinquenta anos e eu, 54.
Nada me assusta mais que perder a compostura.
A lucidez, esse seria o termo correto.
Depender da bondade e da paciência dos demais para realizar as mais triviais tarefas deve ser algo muito aterrador para alguém acostumado a caminhar com as próprias pernas.
Por isso eu, que observo muito o que me rodeia, fico deveras impressionada com algumas pessoas que conheço e, depois que se aposentam, parece que também deixaram de lado a vida.
Explico-me.
Eu vou para o trabalho todos os dias e, num determinado ponto do caminho, passo por um senhor, recostado  no muro de sua casa, parado, mãos nos bolsos das calças, observando o vai e vem das pessoas e dos carros.
Quando chego no trabalho, deparo-me com um outro cidadão, recostado no muro da Prefeitura, parado, com as mãos nos bolsos das calças, observando o vai e vem das pessoas e dos carros.
Eu sinto uma vontade incomensurável de gritar, tiraaaaa a mãoooo do bolsssooo, e vai arrumar um pátio pra capinar!!!
Meu Deus do céu., como é possível que um ser consiga ficar parado, olhando, numa posição de completa inutilidade, a vida passar?
Os modelos que carregamos nos fazem criar imagens do que é certo ou errado e isso, definitivamente, não está correto.
Eu tenho um modelo familiar de avós, pais, tios e irmãos altamente produtivos.
Portanto, causa-me espécie quando vejo um homem paradito, olhando...
Sim, isso me dá vontade de gritar: tiraaaaa...
Por sorte, o mecanismo de controle que me foi ensinado ainda funciona e fico a pensar, cada vez que observo ditas cenas - todos os dias, por sinal, que nada, absolutamente nada tenho a ver com a atitude de contemplação de tais pessoas.
Nadica de nada.
Porém, rogo a Deus (além de não perder a compostura):
Ó Senhor, não deixes que me transforme em uma senhora aposentada, parada, recostada  numa parede, olhando a vida passar. Livrai-me do mal da inutilidade.
Amém!  





Gavetinhas

Eis-me aqui, depois de horas.
O meu fã clube de meia dúzia de gatos pingados, não raro, vêm se insurgindo com a escassez de publicações o que, por um lado, me honra e envaidece mas, por outro, preocupa-me.
Ocorre que tive a ideia de criar um blog e fiquei meses a fio ruminando qual seria o título, os temas que abrangeria, a forma da escrita, enfim.
Conclusão: a forma de escrever é a minha e não há cursinho ou dica que me faça mudar o jeito e o modo de fazê-lo.
Não sei se isso é bom ou ruim, fato é que não há como dissociar o meu eu e a forma como encaro a vida, o trabalho e as relações pessoais daquilo que escrevo.
A raiz disso, aliás,  lembrei-me que, aos  nove, dez  anos, costumava escrever redações e hoje, por incrível que pareça, quando recordo dos conteúdos, vejo que nada mudou.
Por tais razões, este meu jeito não irá sofrer alterações uma vez que, para mim, escrever é um ato sublime, recuso-me  a fazê-lo sem vontade ou apenas para, com o perdão da expressão, encher linguiça, que pese as reclamações do meu fã clube às quais, comovida, agradeço.
É que a escrita é caprichosa, fato que já comentei em postagem anterior, ela não é um botão automático que ligado, dá início a uma produção em série.
Ao menos para mim, não é assim que funciona.
Por outro lado, preciso registrar que,  ocupada com tantos assuntos, as postagens começaram a empilhar-se num escaninho da mente há dias, e ali ficaram, me cutucando...e aí, não vai escrever hoje? como assim? ué, sais, abandonou o barco?
Algo como se meu cérebro fosse composto por gavetinhas que se abrem e se fecham e, ali, as ideias vão se misturando e se sobrepondo, caso não decida colocá-las no papel.
Um inferno na torre!
Confesso que, em determinados momentos, aí sim, eu gostaria que minha mente tivesse um botãozinho de desligado.
Não tem.
Para evitar que as gavetinhas fiquem por demais bagunçadas,  tomei uma decisão. a fim de por ordem na coisa, ou melhor, na mente,  vamos esvaziar as gavetinhas!
E o resultado dessa movimentação interna, espero, para o bem dos queridos leitores, e para o meu próprio, que nos seja propício.

* Uma feliz e abençoada semana a todos!!!


quinta-feira, 2 de julho de 2015

A Vaga Comprada

Tempos atrás me contaram uma história.
Certa pessoa não conseguia, de jeito nenhum, entrar na Universidade e a abastada família, cansada de ver, ano após ano, seu rebento tomar ferro no vestibular, decidiu dar uma tenteada e foi lá, levar um papo reto com o reitor.
Lá chegando, disse-me essa pessoa, tomou um chá de banco daqueles, mas não se intimidou e permaneceu na sala de espera da reitoria por horas a fio, até que foi atendida.
O resultado de tal conversa não me foi contado, mas o fato é que, um par de meses depois, o jovem que queria entrar na Universidade mas não conseguia passar no vestibular estava lá, lampeiro da silva.
Eu não sei se isto é mentira ou é verdade.
O que me causou espécie é que, na época,  seu nome não constava na lista dos aprovados, nem na lista do remanejo.
Entretanto, atenho-me a comentar o fato de um pai ou uma mãe se prestarem para ir até uma reitoria para tentarem comprar uma vaga para o(a) filho(a) burro.
É preciso ser, além de cara de pau, extremamente mau caráter.
Esta historieta que me foi contada e, repriso, desconheço se é verdadeira ou falsa, causou-me verdadeira repugnância pois, ao ouvi-la, não pude deixar de lembrar do tanto que ralei para passar no vestibular.
Concluí o ensino médio aqui, no Itaqui e, com 16 aninhos, cheguei de mala e cuia em Porto Alegre.
Não sabia nada de coisa alguma, como aliás, já postei  anteriormente, mas isso não foi empecilho para que eu buscasse, a cada dia, aprender.
Um dia, outro dia.
Semanas.
Meses.
Um ano inteiro!
Enquanto os demais estavam na praia, eu estava ali, estudando, de manhã, de tarde, de noite.
Eu queria passar no vestibular!
E passei.
Não nego que uma das maiores emoções que senti na vida foi quando escutei meu nome sendo pronunciado pelo repórter da Rádio Guaíba.
Aquela conquista era minha, e somente minha.
Todos me ajudaram a chegar lá, mas se eu não tivesse me esforçado muito, não teria tido aquela alegria.
Bueno, então, eu posso dizer, de boca cheia, que entrei na Universidade pela porta da frente, e de lá saí, após os cinco anos de curso regular, igualmente pela porta da frente, com meu precioso Diploma em mãos.
Não houve necessidade de o Dr. Edgard, meu amado Pai, ir até a reitoria pedir penico e vender meia dúzia de cabeças de gado puro de pedigree para comprar uma vaga para mim.
Em tudo isso eu pensava, escutando aquele papo brabo de compra de vaga.
No começo, incrédula.
Depois, com nojo.
Agora, passados mais de quinze anos desta história, o resultado: a pessoa para quem, supostamente, foi comprada a vaga na Universidade, tornou-se um profissional movido apenas pela ganância e pelo dinheiro, sem ternura e compaixão.
Não estranho: se você tem um pai e uma mãe que vão até uma universidade tentar comprar uma vaga pra você, o que eles estão dizendo? que o dinheiro compra tudo.
Mas será que compra mesmo?
A suprema ventura de entrar e sair da faculdade pela porta da frente, sem nunca ter precisado valer-se de qualquer ardil para conseguir o ingresso, ah, isso, o vil metal não compra!










Pensando No Meu Pai

Quando estou alegre, lembro-me do meu Pai.
Quando estou triste, idem.
E quando preciso, desesperadamente,  de um ombro amigo e de um conselho daqueles que recebemos só de quem nos ama muito, sem pedir contrapartida,  penso nele.
Aliás, dias há em que consigo senti-lo tão perto que poderia, quiçá, tocá-lo, chego a ouvir sua risada alta, alegre, que não deixava dúvidas, sim, ele estava de bem com a vida.
Hoje lembrei-me dele logo que acordei, saí para o pátio gelado, cedinho da manhã, para observar o dia e o céu lindo do meu Itaqui.
Parêntese:
Eu ando, viro, vou e volto, e sempre vejo-me a pensar no quão ligada estou a esta terra.
Adoro viajar, é verdade, é um privilégio poder visitar lugares, conhecer novas paisagens, rever amigos, fazer programas diferentes.
Mal chego, ponho-me a matutar sobre o próximo destino.
Só tem uma coisa: lá pelas folhas tantas, eu quero voltar.
Quero voltar para o Itaqui.
Preciso rever a Praça com suas árvores majestosas, olhar para o prédio da Prefeitura, passar pela Igreja Matriz de São Patrício, encontrar meus amigos e afetos, conhecidos, ir até a padaria, ao Salão de Beleza que frequento há mais de 12 anos, eu preciso.
Cada vez que volto do Porto Alegre, o povo de lá me questiona: por que não vem de muda para cá?
E eu, realmente, sinto-me tentada, não vou mentir.
Entretanto, há algo que não me deixa partir: são minhas raízes.
Eu nasci e me criei no Itaqui, aqui criei minhas filhas,  a maior parte de minha história de vida está aqui.
Tudo isso veio à baila por uma razão mui simples: preciso tomar decisões e não posso errar.
Não devo errar, isso é um luxo permitido a quem tem 20 anos, não a quem está com 54.
Será?
Fecha parêntese.
Voltemos ao início: quando estou alegre, lembro-me do meu Pai.
Quando estou triste, idem.
Ao ter que decidir sobre determinada questão, pensei nele ainda mais, em sua figura ímpar, no seu abraço.
Que falta tremenda me faz o seu abraço!
Vejam vocês, queridos amigos, como são as coisas.
Eu saí para o trabalho matutando, falando mentalmente com ele, contando a ele de algumas amarguras e aborrecimentos, e dessa forma fui indo.
Quando desci do carro, quase de imediato, um amigo me avistou e veio ao meu encontro, de braços abertos, e me deu o popular abraço de urso, tão apertado que quase sufoquei, e ali ficamos conversando, na calçada da prefeitura, por alguns minutos.
Não pude deixar de pensar que aquele abraço do meu amigo era muito parecido com o do meu Pai.
Quem sabe um recado...
E, como já postei aqui outras vezes, o poder do abraço e sua força são como um remédio para a alma e para o coração.
E, de acabrunhada que vinha, passei a sentir uma grande alegria.
Um par de horas depois, eis que surge a resposta para minhas dúvidas e questionamentos, tão fácil e simples que até me pareceu um verdadeiro milagre.
E o notável é que, a todo instante, sentia a presença do meu Pai do meu lado, a me amparar e confortar, como nos velhos tempos.
Há certas coisas que não conseguimos explicar.
Apenas sentimos.
O que posso dizer, então, é que há uma energia, emanada do amor, que permanece e, de alguma forma, se comunica, não importa o tempo ou o lugar.
E hoje pela manhã, recebi uma mensagem muito clara dele: primeiro, através do abraço do meu amigo e, depois, pela notícia, há meses esperada.
Também pensei em sua tenacidade e perseverança, nos tempos difíceis de sua vida, na força com a qual enfrentava ventos e tempestades.
Ele era um lutador, portador de uma fé inquebrantável.
Aprendi tanto com meu Pai.
Continuo aprendendo.
Grandes lições trouxe-me o dia de hoje.
Encerro, alegre e, como não poderia deixar de ser...pensando no meu Pai.


















terça-feira, 23 de junho de 2015

O Senhor Inverno

O Inverno convida à introspecção.
A gente senta na frente da lareira con un matecito, fica observando as chamas, as brasas que vão se formando, e o pensamento viaja.
Não raro, quando dou por mim estou novamente na sala da casa que era dos meus pais e que um dia foi minha, a embalar-me suavemente na cadeira de balanço do Dr. Edgard, colocada ao lado da lareira, como minha mãe gostava, sentindo o calor quase a queimar-me as pernas.
Vou até a cozinha imensa onde, sobre o fogão à lenha, um panelão de sopa de cheiro e sabor inigualáveis vai se virando, lentamente.
O Inverno me faz nostálgica, estado de alma do qual procuro fugir pois não me agrada e menos ainda me alegra, ao contrário, sinto um tal aperto no peito que quase me sufoco, quero chorar e sei que não devo, devo chorar mas não quero,  pois é preciso seguir vivendo e andando para a frente.
O passado, embora tão vívido, é um tempo que acabou e jamais voltará.
Antes, eu gostava do Inverno.
Dos dias gelados em que saía para a escola, a pé, sentindo o vento no rosto, e nada me abalava.
Das travessias de chalana até o Alvear, com minha mãe, para visitar minha avó Adelaida e minhas tias Maria Luisa e Alba Mercedes, fartando-me com doces em calda e pão caseiro.
De ajudar meu pai a fazer fogo no fogão à lenha e na lareira, e de ir até os fundos do pátio carregar os troncos no carrinho de mão.
Antes, eu gostava do Inverno.
Agora, não mais.
Ele me deixa irremediavelmente nostálgica e não, não quero sentir o coração apertado como um novelinho de lã.
Definitivamente, troquei o frio e a geada pelo calor e pelo sol, a lareira pelo mar, as janelas fechadas por persianas abertas, as silenciosas noites invernais pela alegria escandalosa das noites de verão, com suas estrelas, lua cheia, grilos e vagalumes.
Quem diria!
 Logo eu, nascida no rigor do Inverno, estou agora trocando-o pelo Verão.
Eterna caminhante, é o que sou.
E, em relação a isso, não transijo e nem desisto: sigo, sempre,  em busca de lugares musicais e coloridos, de dias enfeitados, atraída pela luz e pelo perfume das flores.
Onde meu coração fica leve, é aí que quero estar.




sexta-feira, 19 de junho de 2015

Matecito de Inverno

Cadeira de balanço a postos para un matecito na frente da lareira
P
...observando o dia indo embora.

A Questão Do Nome

Pensei bastante sobre a questão do nome, algo que está tão ligado ao nosso ser e a maneira como encaramos a vida quanto o ar que respiramos.
O nome e o sobrenome que carregamos pode ser como uma grande bandeira, hasteada bem no alto de um mastro, tremulando altiva, e não é qualquer ventania ou batalha que possui o condão de despedaçá-la.
Você tem um orgulho imenso daquele sobrenome, desenho perfeito de suas origens e de toda a sua história, e da de seus antepassados, e isso é motivo de grande satisfação interior e é o que faz você acordar todo santo dia, faça chuva, faça sol, com calor, com frio, e enfrentar, de cara limpa e fronte erguida, o que o dia tem a lhe oferecer, e você, a ele.
Uma troca.
Muitas vezes, a vida lhe dá algumas gambetas, mas você continua lá, e quando está quase esmorecendo e pensando em mandar tudo para o alto, lembra do seu nome e do seu sobrenome, e ergue a bandeira outra vez.
Assim ensino, diariamente, as minhas filhas: honra o nome e o sobrenome que teus avós e teus pais te deram.
Eu, particularmente, tenho minha bandeira: o sobrenome que meus avós e meus pais me deram: Fernández de Mondadori.
Não há nada mais sagrado para mim, neste mundo, que esses dois sobrenomes, pois neles se encerra, repriso, a história daqueles que me antecederam,  a minha e a de minha família.
Por tais razões, fico fula da vida quando vejo uma pessoa que não é detentora do meu sobrenome vangloriar-se com ele, como se propriedade sua fosse, e não é.
São aqueles parentes que saíram da ribomboca da parafuseta, nunca tiveram participação alguma nas histórias familiares, aliás, nem nascidos eram, e utilizam os feitos de um antepassado distante para mostrar que são alguém na ordem do dia.
Isso, realmente, me deixa muito chateada, eufemisticamente falando.
Ora bolas, se eu não sou Fernández de Mondadori, por exemplo, a troco de que santo quero usar esse sobrenome, a não ser para vangloriar-me?
Por que?
Teria, por acaso, vergonha do nome e do sobrenome que detém?
Seriam eles, ao serem pronunciados, motivo de vergonha e opróbrio?
Será que aquele sobrenome é tão insignificante, a tal ponto de que não há como hasteá-lo?
Pareceria ele uma flâmula, daquelas da década de sessenta que meus irmãos colecionavam e penduravam na parede do quarto?
A questão do nome é complexa.
Você conhece uma pessoa rato?
Isto é, aquela pessoa que vai lá, pega um sobrenome que não é o seu, uma história de vida que não é a sua, de pessoas que ela sequer conheceu, e usa como se fosse um comercial de ração para cachorro?
Repugnante!
A pessoa rato se imiscui em uma história  da qual nada sabe - sim, porque, por mais que a pessoa rato detenha o título de propriedade do bem, há coisas que jamais serão suas: os momentos felizes, a trajetória da infância, da juventude, da idade madura, os valores, os hábitos, os fatos  e os caminhos trilhados por aquelas gentes que, um século antes de a pessoa rato existir, já estavam neste mundo e que, nem em seus piores pesadelos, poderiam imaginar destruição de tal envergadura - e faz de tudo o que foi construído ao longo de mais de cem anos, terra arrasada.
A pessoa rato não tem o menor pudor em mostrar sua prepotência que, ao fim e ao cabo, nada mais é que a falta de caráter que permeia a sua trajetória.
Sua, e não daqueles que a precederam.
Repulsivo!
Mas usa o nome e o sobrenome de outrem, e o que outros construíram para justificar seus feitos.
Feitos?
Que feitos?
Nada há de louvável em apoderar-se de uma história familiar que é composta por um sem número de pessoas com seus afetos, amores, decepções, vida, enfim,  e na qual a pessoa rato não teve a mínima participação  e adonar-se dela como se tudo tivesse passado a existir de um tempo para a frente, o seu tempo, e o tempo dos demais não existisse.
As pessoas rato são assim: começam a corroer, bem devagar, um pedacinho aqui, uma lasquinha ali, uma fatia acolá...até apoderar-se do bolo inteiro.
Nada sabem construir por esforço próprio, precisam da escora que os pedaços roubados lhes proporciona.
Uma coisa, entretanto, esse tipo de gente pilantra desconhece: nada do que se constrói usurpando aquilo que, de forma legítima e incontestável pertenceu a alguém, vinga.
Pois, tão certo quanto o mundo é redondo e nada fica nos cantos, igualmente correto é afirmar que a pessoa rato, por mais astúcia que imagine possuir, um belo dia cai na ratoeira.
Pláft!
















sexta-feira, 12 de junho de 2015

Cielo de Otoño

É Uma Cilada, Bino!

As vezes a gente cai como um patinho numa conversa mole e pláft, estatela-se, dá com a cara no chão, ou melhor, bate de frente com nossa ingenuidade.
Não sei se esse é o termo correto, ingenuidade...tá bem que errar uma vez ... é humano; mas insistir no erro é a suprema burrice.
Fato é que, após tantas e tantas ocorrências, que nos levam a optar por outros caminhos, não temos mais o direito de cair na mesma esparrela.
É uma cilada, Bino!
Esta pequena introdução é para dizer que as pessoas não mudam, mas não mesmo!
Se o camarada é cafajeste e mentiroso, vai continuar sendo.
Se a pessoa é falsa e cínica, vai continuar sendo.
O que ocorre é alguns se travestem de cordeirinhos para, logo ali adiante, deixar a máscara cair e dar o bote.
E isso acontece em todos os segmentos, no trabalho e nos relacionamentos pessoais.
Assim é que, se aquele colega de trabalho te puxou o tapete uma vez, aguarda que vai te puxar outra, e mais outra, a menos que se coloque um freio.
Aquele cara que te mentiu, enganou, te fez sofrer e te torrou a paciência com suas lorotas, nem em mil anos mudará.
Mas, aí,  vem o tal do coração.
Este, ao mesmo tempo em que nos traz grandes e incontáveis momentos de felicidade, é o mesmo que nos faz cair na armadilha. O filme é o mesmo, mas com nova roupagem.
Depurar tudo isso não é fácil, a menos que nos tornemos extremamente céticos e amargos.
Entretanto, para o bem de nossa saúde mental é de bom alvitre que deixemos de ser tão crédulos e passemos a ler todos os avisos luminosos, piscando a léguas, a nos avisar:
É uma cilada, Bino!







Sábado no Vale dos Vinhedos

Sábado passado fui presenteada com um passeio até o Vale dos Vinhedos e, cedinho, minha filha Rita e eu começamos a subir a serra, com um dia de temperatura amena que convidada a passear. 
Como é prazeroso viajar com os filhos!
Um pedacinho curto de estrada, apenas uma hora e meia levamos, para mim é nada, acostumada a percorrer 730 km de Itaqui a Porto Alegre, fomos ouvindo música e conversando sem parar, mãe e filha, bom demais, e assim chegamos a Farroupilha, onde mora meu genro Adriano, que já nos esperava na calçada, junto de seus pais, Marlize e Neto.
Foi uma festa, a nossa chegada.
Até o cachorro ria.
Pouco depois saímos em direção a Bento Gonçalves, e paramos para almoçar no restaurante S'Borneas: um almoço digno de um rei, com todas as delícias da culinária italiana e eu, como boa descendente que sou, parecia estar em casa, feliz como pinto no lixo, e eu gosto desses restaurantes onde as pessoas falam e conversam e riem, não me agrada ir a um lugar onde só se ouvem sussurros, pois me dá a impressão de estar em um velório e não, celebrando a dádiva de poder comer e beber à vontade.
De lá continuamos nosso périplo, visitamos a Vinícola Miolo, a Casa Valduga, paramos para observar a paisagem do vale, e arrematamos com uma degustação de vinhos e espumantes no Hotel Spa do Vinho, um lugar que posso resumir com apenas um adjetivo: espetacular!
Voltamos para Porto Alegre à noitinha com iguarias serranas, depois de um dia feliz.
Pois não há alegria maior que poder estar ao lado de quem amamos!

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S
                     



quinta-feira, 21 de maio de 2015

A Sacola que Virou Pluma

Escrever traz grande alegria a minha alma, adoça meu dia e suaviza qualquer dor, se a houver.
É como se, dentro do meu coração, um longo e invisível fio começasse a se desenrolar, carregado de memórias, sensações, rostos, vivências e um sem fim de sentimentos que saem à baila cada vez que me deparo com um pedaço de papel em branco. 
Não há nada capaz de parar esse fluxo, o desejo intenso de exprimir emoções, impressões, palpites furados, velhas histórias, fotos, viagens e tudo que há neste mundão de Deus.
Escrever é um dom que carrego no peito e que me foi dado por Deus, tenho consciência disso pois, dentre tantas coisas que gosto de fazer, esta é uma das que mais me dá prazer.
Poderia escrever páginas e páginas sobre isto, mas rumei, hoje, em direção à folha em branco para falar sobre um tema que me deixa curiosa.
Vocês, eu não sei, queridos amigos, mas eu não costumo me apichar diante de qualquer obstáculo, não.
Com isto,  não pretendo dizer que sou uma uma valentona, incapaz de suspirar com um afago nos cabelos, ou deliciar-me com um abraço apertado.
O que realmente digo é que precisa ter muito café no bule para me tirar do prumo ou acabar com a minha alegria.
Não adianta tentar tirar leite de pedra, e é assim que penso em relação àquelas pessoas que insistem em querer me fazer sair da casinha.
Ledo engano.
Não é qualquer cara feia ou canto de sereia que me abala ou comove.
Por essas e outras, fico extremamente feliz comigo mesma quando consigo controlar a vontade incomensurável que às vezes sinto, de mandar quem se atravanca na minha frente sem pedir licença lamber sabão, quem sabe comer um pedaço de pedra pensando que é rapadura, ou ir até a esquina, ver se estou por lá.
A lista de lugares comuns é extensa...
Quando consigo suplantar tais desejos, os mesmos se esvaem através da escrita, da amada folha em branco, a qual exerce sobre mim um fascínio e detém o poder de me acalmar, de me fazer olhar para todas as coisas sob um ângulo novo, reavaliando situações.
E a minha curiosidade reside, justamente, nisso: será que as pessoas, por qualquer coisinha, costumam ter um chilique? E quando digo qualquer coisinha, refiro-me a coisas banais - o carro que emperrou, o salário atrasado, o dinheiro que acabou, as contas pendentes, os relacionamentos chatos, o acúmulo de trabalho... seriam esses, motivos para deixar de lado a delícia que é a aventura da vida,  e permitir o mau humor tomar conta?
A quem outorgamos o direito e a pretensão de acabar com a nossa festa interior, isto é, de tentar fazer murchar a alegria de ver o dia nascer e a noite chegar, de saber que, para todas as coisas (exceto uma) há solução?
Pois eu não dou a ninguém esse direito.
Não há acordo que me faça agir ou pensar de forma diferente, a não ser que alguém me prove que cara feia e mau humor são sinônimos de solução.
Há algum tempo eu tinha uma sacola grande, muito grande.
Nela, eu costumava por as coisas que me incomodavam e, por vezes ela estava tão, mas tão pesada, que seu conteúdo me fazia andar vergada.
Agora, não.
Decidi abrir a sacola e retirar de dentro dela  todos os pesos, até que ela ficou leve como uma pluma.
E, sendo pluma, saiu voando.
Assim encaro a vida: de frente, aberta, e com agradecimento.
Os ataques e os achaques alheios que, por vezes, tentam me fazer carregar novamente a sacola deparam-se apenas com minha cara de paisagem, observando a sacola que virou pluma e saiu voando.










  

terça-feira, 19 de maio de 2015

Noches de Verano

Talvez seja o veranico de maio, com dias espetaculares de temperaturas amenas, muito sol, brisa suave, céu limpinho e azul, talvez porque aproxima-se a data do meu aniversário, sei lá...hoje lembrei tanto de minha Avó materna, Adelaida, pessoa de uma doçura como jamais conheci outra, salvo minha Mãe adorada.
Pois minha Avó Adelaida tinha uma cadeira de balanço que, por essas voltas que a vida dá veio parar aqui em casa e, não por acaso, considerando que ela adorava gatos e os tinha em grande profusão, nunca menos que sete ou oito, meu gato Bibo tem predileção por esparramar-se nela.
Cada vez que olho para a cadeira de balanço, ponho-me a pensar no quão feliz e abençoada foi a minha infância, uma verdadeira ilha, eu era, cercada de amor e de afeto por todos os lados.
E minha Avó Adelaida era o símbolo máximo daquela ternura que somente as avós sabem ter.
Não são nossas mães, mas sabem muito mais que elas, pelo tanto que já viveram.
Não tem mais aquela ansiedade de ensinar (e aprender) ao filho as coisas de todos os dias.
Estão ali, disponíveis para amar.
Sem pressa, sem cobrança, sem nada.
Apenas amor, e somente ele, esse sentimento poderoso que cura tudo!
E não há nada mais fantástico que o amor  sincero e desinteressado, onde apenas o verbo gostar se faz presente e importa.
Pois a minha Avó Adelaida,  com seu amor sem fim, deixou-me a sua marca.
A marca da alegria e da suavidade, pois nunca ouvi dela um só grito ou qualquer palavra áspera.
Era carinho puro, a minha Avó.
Cada vez que lembro dela, vem a minha cabeça um ramalhete de flores coloridas.
Com ela aprendi tantas canções infantis, cantadas em espanhol, naturalmente, mas lembro-me de todas a letras e melodias, das histórias que me contava, eu, no seu colo, e ela a embalar-me, suavemente, na cadeira de balanço posta na calçada de sua casa, no Alvear ( aos amigos que me leem e não são da Fronteira, lembro que Alvear ( Argentina)é a cidade fronteiriça a Itaqui que fica do outro lado do Rio Uruguai, e cuja travessia se faz de lancha ou de balsa).
Noches de verano, noites mágicas em que ficávamos ali, sentados em círculo.  minha mãe, minhas duas tias, Maria Luisa e Alba Mercedes, minha avó e eu.
Uma reunião das mulheres Fernández, de onde saía muita conversa fiada e muitas, muitas risadas.
Era escuro, pois em toda a extensão da rua havia uma única lâmpada, posta bem no meio, com a pretensão de  iluminar toda a quadra.
Ninguém se importava com isso, nem com os mosquitos que nos charqueavam as pernas, pois muito mais interessante era olhar para o céu carregadinho de estrelas, escutar a brisa quase que imperceptível do verão, e o trec, tc, trec da cadeira de balanço.
Não sentíamos o passar das horas e nem pensávamos no tempo, afinal, era verão.
Hoje, aos 53 anos,  ponho-me a pensar que fui extraordinariamente feliz na minha infância, e, sim, sinto saudade, claro que sinto, não há como não sentir, e dias há em que tudo o que mais desejo é o regaço de alguém que me ponha no colo e me embale suavemente, ao som de velhas canções infantis.
Veranico de maio, noches de verano, e uma prece de agradecimento para minha Avó Adelaida e para seu colo encantado, para as porções de amor que dela recebi, verdadeiro tesouro que trago guardado dentro do coração.


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Interioranos II

 Eu adoro vir ao Portinho, até porque minhas filhas moram aqui. Houve um tempo, inclusive, que cheguei a pensar seriamente na possibilidade de me mandar de mala e cuia para a Capital, de tanta saudade que sentia dos meus três amores.
Minhas filhas, a melhor coisa que me aconteceu, presentes que a vida me deu.
Mas, assim como elas cresceram e se tornaram mulheres independentes e bem sucedidas, graças a Deus, também eu dei o meu grito do Ipiranga, no sentido de que não tenho mais obrigações que antes me tomavam o tempo todo:  levava e buscava da escola e, nos intervalos comerciais, tinha o inglês, o ballet, a natação, as festinhas e, mais tarde, as baladas, as saídas de baile, e lá ia eu, atravessando o Itaqui às 3, às 4, às 6 da manhã pra buscar, nunca deixei que viessem de carona, salvo com alguma outra mãe ou pai. Muitas vezes, aliás, era minha vez de deixar as amigas em suas casas, levava quatro, cinco meninas antes de chegar em casa e, aí sim, dormir a bandeiras despregadas, sabedora que o trio parada dura estava ali, no quarto ao lado.
Foram tantas as madrugadas que passei dormindo um sono de passarinho, acordando de hora em hora, até o momento de ir buscá-las que perdi a conta, lembro-me do quanto resmungava ao ter que sair da cama quentinha, abrir o portão, tirar o carro, mas bastava avistar as carinhas sorridentes que um imenso alívio me invadia.
O tempo passou e agora elas vão e vem em seu próprio carro e, embora me preocupe, até que consigo dormir melhor, moram distantes de mim, nos vemos uma ou duas vezes ao mês por, no máximo três ou quatro dias e era isso, cada uma volta aos seus afazeres e as suas rotinas.
Claro que eu gostaria de morar perto delas, não a 730 Km, mas Itaqui é longe, então, assim tem sido os últimos seis anos de nossas vidas.
Digo a vocês, entretanto, que a cada visita ao Portinho amado mais me convenço de que o meu lugar é, de fato, no meu Itaqui.
Não tem jeito.
O interior está tão dentro de mim, arraigado, enraizado no coração, que de lá não vai mais sair.
Tanto que, após cinco dias na Capital já ando suspirando de saudade dos meus gatos, do  pátio de casa, das plantas, que conheço uma a uma, do Rio Uruguai ...ah, o Rio Uruguai é lindo demais!
Eu sou, e sempre serei uma interiorana  apaixonada pela minha terra e suas gentes, pelos dias e noites  em que ouço apenas o som do vento nas árvores que ficam na frente da janela do quarto, do canto dos pássaros, meu despertador de todos os dias quando salto da cama pra fazer meu doce amargo e abrir a casa, olhando  o céu que ainda no clareou, de sair à rua e encontrar, a cada tanto, um conhecido, um amigo, um colega de trabalho.
Eu sou, e sempre serei uma interiorana apaixonada pela minha terra e suas gentes!
Itaqui é o meu  lugar e, esteja onde estiver,  é para lá que sempre quero voltar. 



sexta-feira, 8 de maio de 2015

O Prato Quebrado

Eu tenho uma empregada doméstica que quebra objetos.
Já quebrou diversos copos, tirou lascas de pratos rasos, de pratinhos de apoio para pão, quebrou uma tampa de uma bomboneira de cristal que era de minha Mãe, o que me fez ter um pequeno chilique, mas colei a tampa, partida ao meio, e, bom, somente eu sei que aquela parte está quebrada, posto que tenho-a colocada sobre uma estante mais alta.
Mas hoje, hoje foi o fim da picada.
Eu tinha um prato pequeno, que era de minha Mãe que, por seu turno, comprou-o em uma viagem aos Estado Unidos.
Não interessam nem a viagem e nem o valor do prato, mas sim, que ela de minha Mãe, que não está mais comigo e dela guardo apenas os objetos que lhe eram caros e, não vou mentir a vocês, sou mesquinha em relação a eles, não gosto que ninguém toque, nem mexa, nem mude de lugar, porque eles são, a par de todas as incontáveis lembranças, o que restou do que ela gostava, daquilo que gostava e cuidava, cuidava muito.E não tô nem aí se me taxarem de materialista ou qualquer outro besteirol, tenho 53 anos e não ligo a mínima para o que pensam ou dizem de mim, sigo minha vida dia após dia, esforçando-me para fazer o bem, ou não fazer o mal, o que entendo ser uma grande coisa.
Mas já estou fugindo do assunto, que é o prato quebrado.
Pois não é que chego do trabalho e, arrumando uma coisa e outra, nada notei, até o momento em que, perambulando pela sala, dei pela falta do prato.
Me deu um aperto, uma raiva surda, de imediato pensei: ela quebrou o prato da Mãe!
E pus-me a procurá-lo - em vão, porque eu já sabia que ele estaria quebrado, até que fui fuçar no saco de lixo, displicentemente pendurado na grade do muro.
Aí eu já estava falando alto, não era mais um resmungo, era a raiva saindo pra fora e desatei o lixo e não me importei com os pedaços de cascas de tomate, nem com os restos de erva mate, apenas procurando, procurando.
Teria, talvez, se partido em tão poucos pedaços que eu não encontraria nem um farelinho dele?
Até que achei uma folha de jornal amarrotada.
Tinha que estar ali.
E estava!
O prato da minha Mãe, de 21 anos de idade ali jazia, sujo de erva e enrolado numa folha úmida de jornal.
Juntei os cacos, não sem ter tido um acesso de fúria e de ter dito todos os impropérios contra a criatura.
Sim, digam o que quiserem de mim, mas tudo que é de minha Mãe e de meu Pai, de minhas tias e de minhas avós eu guardo e procuro preservar, com unhas e dentes, até vir uma porra louca e quebrar o prato, e toda sua história junto.
Ontem vi no JN os novos direitos dos empregados domésticos, e agora estou a questionar: tá, e os meus direitos, onde estão?
Me quebra um negócio de imenso valor sentimental e lá está ele, jogado no lixo, enrolado num pedaço de jornal como se fosse uma casca de banana.
Disso ninguém fala, sobre isso ninguém se posiciona.E se a gente reclama, chamam de louca pra baixo.
Assim estão as coisas.
Invertidas.
Agora o empregado tem tantos direitos que manda mais que o empregador, e a nós só cumpre baixar a crista e pagar.
Pagar e pagar.
Só que não.
Mais ridículo ainda eu acho aquelas empregadoras que posam de mãozinha com sua empregada doméstica e ainda dizem " ai, tô super feliz com essa conquista, agora sim, estamos bem"!
Ou é muito hipócrita ou é muito burra!
Enfim, também existem empregadoras politicamentiiiii coorrréééétas!!!
E a minha querida empregada doméstica, sobre o prato quebrado, não falou nem um pio, foi embora como se nada tivesse acontecido.
Quer dizer, além de me causar prejuízo, me toma por tonta.
Isso sim, é demais para os meus combalidos nervos.
Bueno, ainda bem que hoje me vou pro Portinho ficar com minhas filhas amadas, espantar a tristeza que esta data de Dia das Mães me causa, sair, passear, não pensar.
Na volta, resolverei a questão do prato quebrado, e de outras tantas quinquilharias.
Tem horas que sinto vontade de morar num apartamento onde tenha um sofá, uma cama, uma TV, livros, fogão, geladeira, e deu.
Nem plantas quero ter, porque este ano, quando voltei das férias, minhas plantas estavam mortinhas da silva: ninguém molhou.
E reclamar para quem?
Não temos para quem reclamar!
Empregador que reclama demais é processado por dano moral.
Então, bico calado.
É ruim, hem...










terça-feira, 5 de maio de 2015

En La Boca Del Lobo

O título acima é o mesmo de uma série que assistimos, Alberto e eu, no Netflix.
E é tão interessante quanto perturbador, porque te faz pensar, e muito.
Foram 80 episódios, com média de 45 minutos de duração cada um, uns mais, outros menos, mas o caso é que ficamos presos à história do começo ao fim.
Baseada em fatos reais, relata o caso de um jovem militar colombiano que, atraído por uma proposta de trabalho ligada à área de segurança e levado pela lábia de um velho amigo, dá de cara com nada mais nada menos que os chefes do Cartel de Cáli.
E cai, direto e sem perceber, en la boca del lobo.
Interessante como o autor desenrola a trama ao longo de seis anos e meio e, de tal forma o faz que não se consegue arredar o pé, fica-se louco para ver o que acontecerá no capítulo seguinte, o que é raro, conseguir passar o conteúdo de um livro para a telinha e fazê-lo de forma tão magistral.
Notável, também, é a maneira como o personagem vai se enredando com as questões dos senhores do Cartel, confrontando-se diariamente com o bem e com o mal.
Com o bem, pois o dinheiro sujo procedente da comercialização das drogas atrapa muitos inocentes ignorantes, que mal suspeitam sobre a origem daqueles valores recebidos. São pequenas lojas, farmácias, restaurantes, carros para locação, agencias de viagens e um sem fim de prestadores de serviços que trabalham, muitos, indiretamente para o Cartel, na medida em que servem para limpar o dinheiro e sequer tem a mais leve suspeita sobre isso.
O mal está em que há um sistema viciado e corrupto, onde o dinheiro fácil é a mola mestra que move aquelas pessoas, capazes de deixar para trás todos os seus valores e não pensar em nada mais, a não ser que, efetivamente, os senhores da droga podem tudo.
Até um determinado momento, realmente, eles podem: compram tudo, políticos, amores, servidores públicos.
Quando começa a derrocada daquele império construído sob a égide de tantos crimes, o lado negro e cruel daquela máfia emerge com tudo e eles vão pra cima, sem dó nem piedade, no afã de tentar manter o status quo.
Enquanto isso,  nosso personagem se vê cada dia mais envolvido con los senõres y sus trampas e quer, desesperadamente sair daquela situação.
Mas não é tão simples assim.
Suspense, traições, amores, e um retrato sem retoques de alguém que viveu seis anos e meio de sua vida convivendo com  Cartel de Cáli.
Prepare a pipoca, o refri, uns docinhos, deixe a janta semi pronta e, no final de semana, apronte-se para um madrugadão, porque, simplesmente, não dá pra parar de assistir: você vai ficar hipnotizado e, líquido e certo, também vai cair En La Boca del Lobo.



segunda-feira, 27 de abril de 2015

O Preço da Liberdade

Paga-se um preço alto por ser livre.
Livre para agir de acordo com nossos valores e princípios, aqueles que aprendemos lá, em algum lugar do passado mas que estão sempre presentes em nossas vidas, como um eterno lembrete para que não esqueçamos quem somos, de onde viemos e em que acreditamos.
Muitas vezes, as circunstâncias da vida praticamente nos obrigam a tolerar certos locais, pessoas e fatos, e assim vamos vendo o tempo a esvair-se, qual fina areia por entre nossos dedos, e a gente ali, ouvindo, aturando, um dia sim e outro também, aquele desenrolar de cenas desagradáveis.
Entretanto, como tudo na vida tem limite, chega o dia em que, pluft, todo explota.
E aí, olhamos para o céu de um azul ímpar, para o qual nem costumávamos prestar a devida atenção em razão da pressa, e concluímos que tudo pode mudar e ser diferente.
Que não há razão alguma - embora o sem número de razões que ficamos elencando no decorrer dos anos tenha servido de pretexto para adiar decisões há muito acalentadas,  para continuarmos com aquilo que nos faz mal.
A sensação de ver-se livre do verdadeiro fardo que é tolerar situações que vão de encontro a tudo que somos e no que acreditamos é tão mais forte e benfazeja que nada mais importa.
E, sim, o preço da liberdade é alto.
Mas infinitamente maior é o preço que pagamos quando somos subservientes, e omissos em relação a nós mesmos e aos nossos desejos correndo, inclusive,  o risco de, em algum ponto do caminho, não nos reconhecermos mais.
Para ser livre é preciso ter coragem.
E essa, graças a Deus, nunca me faltou!




sábado, 11 de abril de 2015

O Poder da Música

Enleva, eleva, alegra.
Faz a gente chorar, pra logo sorrir.
A música é assim, sublime expressão
do que nos vai
no coração.
Se pararmos uns poucos minutos, conseguiremos ouvir a música de todas as coisas.
O silêncio é música, pois traz, em seus braços, todos os sons que nos rodeiam.
Agora, não há nada melhor que poder escutar aquele som que, naquele dia e hora, a gente está muito a fim de ouvir.
E eu, que vou de tangos e boleros ao samba e por aí escuto um pouco de música erudita pra depois curtir os embalos de sábado à noite e, logo ali, atacar de Simply Red, não consigo imaginar a minha vida sem aquele sonzinho básico.
Por isso, a par de livros, os discos também me acompanham e, do mesmo modo que me perco numa livraria, perambulo sem pressa em meio aos CDs, atrás daquela música especial.
E, por especial entendo aquela que é adequada ao meu momento.
Entretanto, uma coisa que costumo cuidar muito é o ouvido dos outros, isto é, tento não impor a ninguém meu eclético gosto musical.
Agora, bom, mas bom mesmo, é aquele som que me faz balançar, dançar e sacudir até o dia amanhecer: samba, é claro!
Tenho a suprema felicidade de ter uma família que também gosta de samba,  então, sendo assim, só me resta dizer que na minha casa todo mundo é bamba,  todo mundo bebe, todo mundo samba, e ninguém se cansa, pois minha casa é casa de bamba!
ADORO!!!
Minha mais nova aquisição é um CD da Mart'Náilia, simplesmente o máximo!
Com ele vou até meu trabalho, escutando aquela batida maravilhosa, e esse fato que me levou a uma curiosa situação: saí do carro cantarolando " ...um abraço negro, um beijo negro, traz, felicidade...", quando avistei um cidadão com quem mantive estreitas relações de amizade ( considerando que ex parente não existe) e, ao passar por ele, cumprimentei-o alegremente, esqueci por completo que não nos cumprimentamos há uma década e ele, obviamente, não só não me respondeu como lançou-me um olhar carregado de raiva.
Que pena.
Pois eu, graças a Deus, como não ligo a mínima para pessoas amargas e ressentidas, continuei meu caminho, a legítima que ia caminhando e cantando e seguindo a canção.
Como hoje é sábado, já estou aquecendo os tamborins e daqui a pouco vou sair, rumo a uma festa na qual vai rolar de tudo um pouco, até o sol raiar.
Que espetáculo, maravilha total, a música e seu poder transformador!




quarta-feira, 1 de abril de 2015

Rata de Praia

De onde virá esta minha fixação pelo mar?
Simples:  tinha apenas cinco anos quando, pelas mãos de meu Pai,  vi o mar pela primeira vez.
Foi em Piriápolis, no Uruguai. Uma praia com um mar sem ondas, como se fosse uma grande piscina, de cor esverdeada e temperatura cálida, areia fofa e muito quente e uma costanera fantástica.
Estávamos a uns 40 km de Punta del Este, então, em um dia qualquer, rumávamos para lá.
Destino, Playa Mansa e, depois, La Brava.
Foram dias simplesmente fantásticos, aqueles.
Saíamos de Itaqui no carro do meu Pai, um Opala branco com capota preta, zerinho, presente de Natal para minha mãe, que ia com ele no banco da frente e, atrás, meu irmão Caito e eu.
Comíamos sem parar durante todo o trajeto, pernoitávamos já no Uruguai e, no dia seguinte, bem cedinho já estávamos novamente na estrada.
A gente chegava em Piriápolis por volta de 10, 11 da manhã e era só o tempo de abrir a mala, colocar o biquíni e sair, hotel afora, rumo ao mar.
Foram anos e anos fazendo isso, praticamente toda minha infância.
Lá estavam também minhas tias maternas, Maria Luíza e Alba Mercedes, minhas primas argentinas e alguns amigos de meus pais.
Fato é que, à mesa do restaurante escolhido para o almoço ou para o jantar reuniam-se 15, 20 pessoas.
Uma festa!
O veraneio durava, em média,  trinta dias.
Trinta dias de pura beleza, alegria, sem relógio, sem nada, onde o único compromisso era o de gozar a vida e desfrutar as belezas e delícias do mar.
Então, quer me ver muito triste e aborrecida é eu não poder ir à praia durante o verão, aliás, férias, para mim, é sinônimo de praia no mês de janeiro.
É, tem mais essa, tem que ser junto ao mar, tem que ser no mês de janeiro.
Este ano, lá em Pernambuco, voltei a sentir a mesma alegria dos veraneios dos tempos de criança.
Naquele lugar fantástico não havia a menor possibilidade de se pensar, nem remotamente, em algo ruim ou triste.
Águas cristalinas, mornas, areia fininha, brisa suave, sol forte, céu escandalosamente azul...será que precisa mais alguma coisa?
Para mim, não.
Naqueles dias, egoisticamente falando, não senti falta de nada e nem de ninguém, pois a magia do lugar era tão arrebatadora que supria tudo.
O inverno nem começou e já estou suspirando pela praia.
Que venga janeiro de 2016!!!

O Retrato do Brasil

Têm criticado acidamente a novela das nove da TV Globo,  alegando que a mesma está, dentre outras coisas, destruindo os valores da família brasileira, tudo porque mostra duas mulheres idosas beijando-se na boca, um jovem de classe média alta agenciando garotas para velhotes tarados, e vigarices cometidas por profissionais e donos de empresa sem escrúpulo algum.
O que eu não entendo, realmente, é o motivo da surpresa das pessoas, do assombro fingido, da falsa e hipócrita moral e da pseudo defesa dos bons costumes.
Pois não foi esta mesma sociedade a que, há pouquíssimo tempo elevou a audiência dessa mesmíssima emissora e parou tudo para ver o famoso beijo gay do Félix, a biba que saiu do armário?
Não foi esta sociedade, agora tão ofendida com os selinhos entre duas mulheres, que vibrou com a loucura e a maldade do personagem Carminha, de Avenida Brasil?
É que novela é assim, quando cai no gosto do público, podem aparecer pelados que ninguém acha ruim, ao contrário, aplaudem, postam nas redes sociais e ficam horas tecendo comentários sobre esta ou aquela cena.
Veja-se, por exemplo, a minissérie Felizes Para Sempre?, que foi ao ar em janeiro deste ano.
Uma putaria total, ampla e irrestrita que começava com o pai da família, passava pela mãe e se estendia aos filhos do casal, suas noras e seu neto, este último viciado em drogas.
Formação de quadrilha, corrupção, homicídio, tinha de tudo na minissérie.
Mas foi um sucesso retumbante e todos pararam para olhar pra bunda da Paolla Oliveira que, depois da cena, foi declarada a nona maravilha do mundo!
Eu não entendo de que, afinal, o povo se queixa.
Esta novela nada mais é do que o reflexo da sociedade em que vivemos: permissiva, hipócrita, com pessoas que acham que podem fazer absolutamente tudo, e transgridem à vontade.
Pois se assistimos, todo santo dia nos telejornais que depredaram o patrimônio público.
E daí?
Dilapidaram e continuam  roubando bilhões.
E daí?
Num cansativo repeteco, os envolvidos falam, como que recitando uma espécie de mantra: eu não sabia, eu nunca vi, eu não sei de nada, desconheço esses fatos...
Tem filho agredindo pai e mãe, tem aluno agredindo professor, e fica tudo por isso mesmo.
Não há respeito, não há limites.
Palavra em desuso, essa: limite.
Fazem as leis, mas não é preciso cumprir a lei, essa é a mensagem que fica.
Para tudo, dá-se um jeito.
Há tanta liberdade que o caldo entornou e a coisa toda virou uma grande esculhambação, onde imperam o clima de caos, a falta de valores e o salve-se quem puder.
Quanto mais grito e agito, melhor.
Então, não se espantem com uma reles novelinha da Globo que mostra, cruamente, como é que a banda toca.
Aliás, quem não é assim já anda sendo taxado de otário, ridículo e antiquado, digno até de lástima.
Sim, tudo está mudado,  e está mudando o tempo todo.
Entretanto, um pouco de ordem e de enquadramento não faria mal a ninguém.
Como talvez isso demore um bom tempo ou, quiçá, nunca aconteça, aos que não querem ver cenas tão chocantes, sugiro o seguinte: desliga a TV e observa o entorno.
Porque ainda há vida lá fora...


segunda-feira, 23 de março de 2015

A Coxinha da Fronteira

Em tempos de coxinhas e outros epítetos,  usados pelos que apoiam incondicionalmente o grupo de sem vergonhas que governa o Brasil para designar os bens nascidos - como se isso fosse crime, e todo o resto, não, tenho observado algumas curiosidades.
Tenho uma amiga que é PT.
Fanática.
Tudo que o PT fez e faz é extraordinariamente bom e encontra-se mais que justificado, aliás, ela sequer menciona a ladroagem sem fim na Petrobras a qual, sabemos todos, é apenas o início do fio da bomba que explodirá o Brasil e, nessa onda sísmica iremos todos, os coxinhas e os Pts da vida.
Eu fico só olhando.
Urubuservando.
Procuro não ler o que ela escreve, menos ainda, as idiotices que posta no Facebook, mas dia desses, não me contive.
Pois é, vocês sabem que eu tenho aquele ladinho Edegariano que fica adormecido até o dia que decide sair e bradar.
Tudo começou com uma, aparentemente inocente, postagem sua.
Uma foto de um prato repleto de finas iguarias, frutas exóticas, muito bem postas sobre uma bela travessa de porcelana, a qual repousava sobre toalha de linho.
Abaixo, o comentário sobre aquele saboroso lanche.
Aquilo me deu raiva.
Ué, coisa fina não é exclusividade de coxinha?
Confesso que fiquei tentadíssima a postar um comentário pra lá de irônico, mas me contive, pois não costumo gastar pólvora com chimango e com gente desse naipe, melhor mesmo é não falar nada, pois eu seria muito capaz, dependendo da resposta, de sair da Internet e começar uma discussão ao vivo e a cores, e sei bem onde iríamos parar: na DP.
Bonito papel!
Fui na manifestação em Porto Alegre dia 15 de março.
Uma maravilha.
Cem mil coxinhas juntos gritando e gesticulando não é pra qualquer um, e isso, a toda certeza, irritou profundamente os defensores do status quo, tanto é assim que não faltaram, de lá até esta data, crônicas, mensagens, postagens e outras tantas bobagens, escritas por aqueles que só enxergam o lado vermelho das coisas.
Teve até uma colunista que escreveu que os coxinhas éramos um bando de ignorantes, nada sabendo sobre a realidade política do país.
Pra ver o tamanho do desatino da cachorrada!
Porque, convenhamos, ter a coragem de defender esse governo que aí está alegando, entre outras, a defesa da jovem democracia brasileira, faça-me o favor!
De igual modo, enoja-me a alegação de que os coxinhas são ricos e eles, os que apoiam os saqueadores da República, são os defensores dos pobres que, por sua vez, serão arrasados pelos coxinhas.
É o cúmulo da falta de argumento!
Aí lembrei da minha amiga PT fanática, com seu belo prato de iguarias finas, sentada na sua sala de 100 metros quadrados do seu ap. na Bela Vista, um dos bairros mais caros de Porto Alegre, me taxando de coxinha e defendendo os pobres e oprimidos, tão bem atendidos pelo seu idolatrado governo alcaide do PT, e ignorados e maltratados por nós, os coxinhas.
Também lembrei que dou emprego para três pessoas, que trabalho desde que tinha 19 anos, e que o que possuo é fruto do meu trabalho e do que herdei de minha família coxinha a qual, por seu turno, também empregava pessoas,  no campo e na cidade.
Em suma, avaliando friamente, quem é a coxinha?
Já que é assim, deveria ela doar, integralmente, seu apartamento nababesco às desafortunadas vítimas dos coxinhas,  e andar escabelada e mal vestida, a fim de parecer politicamentiii corrrééééta.
Deveria parar de frequentar o melhor cabeleireiro de Porto Alegre, afinal, isso é coisa de coxinha e não condiz com sua posição de defensora dos oprimidos e de crítica contumaz dos que detém melhor condição financeira.
Récula de gente hipócrita!
A coisa está de tal monta que, ao menor sinal de descontentamento, o sujeito é rotulado: aquela ali é coxinha.
Pois é, se é assim que é, é assim que vai ser: sempre digo e repito, alto e bom som, que nunca antes na história da minha vida votei nessa naja do PT.
Nunca acreditei nesse canto da sereia do PT.
Não gosto de quem acena com chapéu alheio.
Não gosto do PT e vou gritar, enquanto tiver voz, contra esse partido que pensa que é dono do Brasil,  e contra seus sequazes.
Por fim, para  não dar chance ao azar, deletei a minha amiga PT poliiiticamentiiii corréééta.
Ela não curte coxinha, eu não curto gente alcaide.
Melhor assim...













sábado, 21 de março de 2015

A Solitária do Domingo

Venho de uma família grande, tanto pelo lado materno quanto paterno.
Os Mondadori, juntos, somavam mais de trinta pessoas.
Os Fernández, em igual número.
Mesmo quando meus avós já não estavam mais aqui, meus Pais mantinham o hábito de juntar toda a família para almoçar aos domingos, um almoço tão espichado que terminava de noite quando, então, todos voltávamos para nossas casas.
Nossas casas que pareciam sem graça, comparadas à casa paterna, onde tudo era iluminado.
Sim, o amor acende luzes, mesmo no meio de um dia de sol radiante.
Meus Pais também foram embora, e eu fiquei, juro a vocês, meus queridos amigos que têm uma paciência de Jó ao ler o que escrevo, eu fiquei conhecendo o que é solidão.
Não há coisa mais triste, para mim, que um almoço de domingo sem pessoas em volta da mesa.
Eu queria, e ainda quero, descobrir uma fórmula mágica que me faça transpor, apenas e tão somente, aquele par de horas que vai do meio dia às 14, tempo em que ficávamos todos juntos, invariavelmente na enorme cozinha, observando minha Mãe a enrolar nhoques e, após passar levemente o garfo, para que ficassem com aquele enroladinho na massa.
Eu sonho com o dia em que terei, novamente, a casa cheia de filhos, meus genros amados e muitos, muitos netos a correr e a gritar pelo pátio, para depois nos sentarmos à mesa e dividirmos um grande prato de talharim acompanhado de uma carne com molho - o prato tradicional dos domingos na casa de meus Pais.
Poderemos mudar o cardápio, sem problemas, afinal, o que realmente importa são as pessoas, todas juntas, dividindo afetos, risos, palavras, conversas fiadas e apenas deixando o domingo passar, lentamente.
Não teremos pressa alguma, ao contrário, estaremos pensando " tomara este dia custe a passar, de tão bom que está".
É o amor que faz tudo isso, só o amor.
Por enquanto, me encontro na fase do sonho, aguardando, ardentemente, o dia em que ele se tornará realidade.
Até lá, continuarei a ser a solitária do domingo.


terça-feira, 10 de março de 2015

Perdas

Quando sento diante desta tela vazia, pronta para escrever o que me vai no coração e me inquieta a alma, suspiro de alívio.
Escrever, para mim, é remédio, é um ato libertador de tensões que vão se acumulando e somente uma folha em branco tem o condão de tirar pra fora.
Dias negros, os desta semana.
Aliás, este ano de 2015 me dá a impressão de já ter transcorrido, tal o volume de fatos acontecidos, todos de grande potencial emocional, uns mais, outros menos, mas todos, sem exceção, envolvendo pessoas do meu afeto.
Primeiro, foi a cedência do meu Colega/amigo/irmão/camarada, o Dr. Roger, para a Câmara de Vereadores.
Eu fiz de tudo para disfarçar a tristeza que senti quando, ao retornar das férias, me deparei com sua mesa vazia.
Não foi legal.
Mas eu administrei aquela perda como pude, afinal, ele está do outro lado da rua, basta um par de passos para que possamos dividir um café ou os mais variados assuntos.
Isso foi na segunda quinzena de janeiro.
Em fevereiro, minha colega e amiga Tarciani foi de muda para Santa Catarina.
Novamente, fiz de tudo para disfarçar a tristeza de ver a minha amiga querida indo embora para outro estado, tão longe daquele convívio diário, das nossas conversas e risadas, dos almoços...
Ela foi embora mas falo com ela, sempre que possível,  pelo whatsapp, ou pelo Facebook, e sei que no feriado de Páscoa ela estará aqui no Itaqui.
Dia 06 de março, a filha de grandes amigos foi embora.
Tinha 35 anos e era uma pessoa linda por dentro e por fora.
Com ela, não poderei mais falar.
Apenas sua imagem fulgurante ficará na minha retina.
Administrar as perdas é um exercício difícil, exige tanto de nós...
Hoje senti um cansaço muito grande, e uma irritação ainda maior, mas não devemos nos irritar com os desígnios de Deus, que são insondáveis.
Este ano de 2015 já poderia ter terminado!




segunda-feira, 2 de março de 2015

O 1º Dia Do Ano

Brasileiramente falando, hoje é o primeiro dia útil do ano de 2015.
Acabaram-se as férias, foi-se o Carnaval e os  preparativos que o antecederam estes, por si só, uma festa à parte, estudantes voltaram às aulas, e rotinas estão, outra vez, presentes.
Que chatice!
Nem eu mesma consigo acreditar no que estou escrevendo.
Algo aconteceu comigo nas últimas férias.
Não, a coisa começou mais cedo, quando fui ao Rio de Janeiro em outubro.
Quatro dias de sol, de mar, de alegria.
E, claro, no meio de tudo, a quadra do Salgueiro.
Sim, ali foi o início de uma nova visão sobre tudo e sobre todos.
Um novo mundo existia e, por mais que me dissessem que estar um par de dias, como turista,  era uma coisa,  e morar lá era outra muito diferente, bueno, tá, fiz de conta que acreditei.
Voltei a meus afazeres cotidianos e, pois é, não queria falar mas, comparados àquela magia toda, ficaram extremamente sem graça.
Trabalhei a pau e corda até o final do ano de 2014, não sem pensar, diariamente, no Rio de Janeiro e seus encantos.
Na leveza dos dias, no colorido da cidade.
Eis que me vejo, então, dia 5 de janeiro (olha o janeiro aí de novo...) de 2015 rumo a Pernambuco e àquelas férias de sonho que minha filha Marina me proporcionou.
Oito dias no Paraíso.
Oito!
É uma miséria, é uma ofensa, até, passar apenas oito míseros dias contra o restante dos dias do ano.
Isso não seria nada, se eu voltasse de Pernambuco e já parasse no Rio de Janeiro, só que não, vim voltando, voltando, até a sobriedade de Porto Alegre e, dias depois, até Itaqui.
Escondi todos os objetos com os quais poderia me cortar os pulsos (brincadeira).
Parêntese: eu adoro o Portinho, todos sabem, mas quando entrei no táxi fiquei olhando a paisagem até chegar em casa e achei tudo tão cinza, tão escuro... sem contar o mau humor do motorista.
Coisas...
Talvez eu tenha chegado sorridente demais.
Alegre demais.
Feliz demais.
E, como vocês sabem, meus queridos amigos,  se um pouco de felicidade incomoda muita gente, felicidade demais incomoda muito mais!
Sim, é bom voltar para casa.
Entretanto, um pedaço do meu coração ficou por lá: uma parte no Rio de Janeiro, naquela Copacabana maravilhosa, na quadra do Salgueiro; a outra em Porto de Galinhas, outra em Olinda, e o restante voltou pra cá.
O ano recomeçou, trabalhar é preciso, focar nas questões objetivas que se impõe, idem, encarar o Outono que se aproxima, enfrentar o Inverno e aguardar a Primavera para, finalmente, chegar até o Verão outra vez.
Nunca tinha me acontecido isso antes...
Pela primeira vez em 53 anos, senti uma vontade danada de largar tudo e sair por aí e cair na gandaia, me acabando de rir, como diz a música.
Hoje é segunda, dia 02 de março de 2015.
Nove meses me separam das férias.
O tempo de uma gestação.
Quem sabe, o tempo necessário para implantar tantas mudanças que rondam minha cabeça,  e voltar ao  Rio de Janeiro, a Porto de Galinhas e a Olinda em busca dos pedaços de coração que por lá deixei.

Boa semana, ótimo retorno às atividades!





sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Voando Por Aí...

Rio de Janeiro, adoro!!!

Maragogi, Alagoas.

Brincando...
Olhando o dia que vem vindo...
É só felicidade!
E lá vou eu...
...rumo às piscinas naturais.
É tanta beleza...

Eu lembro da moça bonita da Praia de Boa Viagem...

O Passado Que Assombra

Há dias em que o passado vem bater à nossa porta.
E é bom.
Outras vezes, ele chega sem ser convidado e entra, escancarando tudo,  abrindo janelas feito ventania no prenúncio do temporal.
E é péssimo.
O passado encerra o que somos.
O passado é um tempo que já foi vivido, mas que é tão presente...
Nas memórias afetivas, nas histórias que vivemos, nas marcas que nos deixaram e naquelas que também deixamos nos outros.
Há o passado alegre, dos momentos doces, da ternura sem fim, do colo, do afago, do amparo, da sensação de estar completa e nada faltar, dos dias que,  se olhados num conjunto, são uma tela colorida.
Também faz parte do acervo o passado negro, de outras trajetórias que não gostaríamos de ter percorrido.
Um e outro estão ali, dentro da alma.
Dependendo da situação, vêm à baila o passado fantástico, tão lindo que talvez  sido um sonho...
Ou o passado que assombra pelo excesso de feiura: ganância, inveja, traições e mentiras.
A grande sacada é buscar o equilíbrio e tentar conviver com os dois.
Ao deleitar-se com a viagem no tempo que foi de muitas alegrias, há que se estar  atento a que, embora aquele tempo não volte mais, o fato de ter existido serve como fonte de inspiração, bálsamo curativo, verdadeiro sustentáculo para as horas mais amargas.
A mera lembrança faz o sorriso voltar ao rosto, ainda que de forma tímida: sim, houve um tempo de amores!
Por outro lado, quando o vendaval do passado que assombra começa a soprar, ou encaramos, ou fechamos as janelas.
Há um tempo em que fazemos questão de enfrentar o passado negro;  se ele não vem  saímos atrás dele, para que aquilo que é tão doloroso nos dilacere até deixar a alma num estado deplorável.
Tempo, tempo, tempo...
O tempo nos mostra que, tão necessário como ir até o fundo do poço para ficar cara a cara com o passado que assombra, de fundamental importância para nossas vidas é saber - e conseguir voltar.
É um tour de force, uma luta entre luz e escuridão, avanço e estagnação, leveza e peso.
O passado bom pode vir e chegar, delicadamente, para tomarmos un té, o una copita de vino!
O passado que assombra, quando tentar entrar, dificilmente conseguirá: meu coração está em lugar de difícil acesso.














terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

As Praias do Rio Grande

Estão trucidando o jornalista Marcos Piangers  porque o camarada ousou falar (mal) das praias gaúchas.
Do nosso Litoral Norte.
Pois eu concordo com ele em gênero, número e grau.
Sejamos francos e respondamos às seguintes questões:
O nosso mar é cristalino? Via de regra, não. Em Torres, é. Em Capão da Canoa e adjacências, é chocolate.No máximo, acinzentado.Com muita sorte, encordoa uns quantos dias azul.
Água fria, praticamente gelada? Sim.
Tem repuxo? Sim
Tem buracos? Sim
Tem Nordestão? Sim
Tem esgoto a céu aberto? Sim. Bueno, isso, acho que em quase todas as praias brasileiras tem.
As ruas são cheias de buracos e alagam quando chove? Sim.
Você gasta todinho o seu dinheiro pra veranear quinze dias e chove doze dias? Simmmmm!!!
Salvo ir à praia de manhã com sua espreguiçadeira,  guarda sol, chimarrão e Zero Hora, tomar caipirinha, comer milho com muita manteiga e sal, um queijinho coalho com orégano e, à tarde, entupir-se de churros ou crepes ou sorvete ou croissant, caminhar pela orla - se não estiver chovendo, tem algum passeio, digamos assim, um tanto quanto menos tedioso pra fazer? Não! ( Saltar de paraglider não vale)!
Verdade ou mentira?
Então, a troco de que santo tanta indignação?
La verdad no ofende a nadie, dizia um amigo argentino.
Eu não me senti ofendida.
As críticas servem para possamos olhar melhor as coisas.
Avaliar.
Reclamar.
Exigir.
Sim, exigir.
Paga-se uma nota em tributos, cadê o retorno?
A cada ano melhora, isso também é verdade.
Só tem uma coisa, no nosso litoral, que não tem como mudar, não vai mudar nem em mil anos: o mar.
No mais, o que temos é um estilo de veraneio, um modo de passar as férias, os feriados prolongados...
Belos hotéis, excelentes restaurantes.
O que explica levarmos até seis horas para percorrer um trecho de 100km?
O que me leva a sair de Itaqui e dar uma puxada de quase 1.000km até Torres?
Nós gostamos!
É a nossa terra, é a nossa gente, é o nosso jeito!
E tão bom quanto poder desfrutar do mar de Maragogi (AL), que é lindo de morrer, é igualmente prazeroso arrumar as tralhas e partir, a caravana da coragem, de Itaqui a Torres, para  curtir  quinze dias de férias no nosso Litoral Norte.
Com Nordestão e tudo!!!










domingo, 8 de fevereiro de 2015

Pernambuco, Paraíso!

São dessas surpresas maravilhosas que de vez em quando acontecem e, pelo inesperado da coisa, nos tomam assim, desprevenidas e impossibilitadas de dizer não.
No final do ano passado, ganhei de presente de minha filha Marina uma viagem de oito dias.
Destino: Porto de Galinhas, Pernambuco.
Confesso que, a par da alegria imensa, levei um susto, minhas férias estavam planejadas há meses e nem de longe sonhava que seriam por aquelas bandas.
Torres, no Rio Grande do Sul, era o roteiro definido, sem qualquer alteração, e aquele pacote virou tudo de cabeça pra baixo.
A começar pelo voo.
De Porto Alegre ao Rio de Janeiro, do Rio ao Recife.
Total da brincadeira, 5 horas.
Não curto andar de avião, mas isso é papo para outra postagem.
Fato que é a mudança de rota, de estado e de horário ( não tem horário de verão em Pernambuco), cumulado com o fato de que eu estava indo pelas mãos da minha filha, não sabia nada sobre o hotel, a praia, os passeios, tudo isso despertou uma parte de mim há muito tempo adormecida: o gosto pela aventura, pela quebra total de antigas rotinas, pelo novo.
Um salto para o desconhecido.
Com esse espírito, arregle mi valijita e fui, a legítima que saiu sem lenço e sem documento, numa inversão completa de tudo o que havia programado.
O resultado, para tentar resumir oito dias de absoluta felicidade, foi o seguinte:
Um estado de espírito de permanente alegria mas, acima de tudo, de gratidão.
Quando vi o mar azul turquesa de Maragogi(Alagoas)diante dos meus olhos, as piscinas naturais, os corais, fiquei extasiada diante de tanta beleza.
Senti vontade de chorar, e chorei.
De puro contentamento!
Naquele momento, agradeci a Deus pela suprema ventura de poder estar viva, apreciando aquela paisagem de sonho.
Quando o barco saiu, singrando o mar de um azul inigualável, sem balançar, apenas levado pela brisa e, uma hora depois parou, e desci naquela água nem quente nem fria - perfeita, observando os peixes coloridos enroscando-se em minhas pernas, brincando, parece que riam, eles também, nada mais me fazia falta, eu seria capaz de passar ali horas e dias e semanas e meses e anos, sim, eu ficaria lá, de bom grado.
Quando andei de buggy, peito nu, cabelo ao vento, voltei a ter 13, 14 anos, e curti muito aquela sensação do sol queimando minhas costas, meus ombros e, a nossa frente, uma estrada que levava em direção ao mar, ao mar escandalosamente azul, transparente.
Meus amigos, através destas pequenas linhas quero dizer a vocês o seguinte: sair da nossa zona de conforto, mudar, ir até mares nunca dantes navegados é altamente prazeroso e revigorante.
Foram oito dias desligada do mundo, de tudo e todos.
Disparado, as melhores férias da minha vida.
Marina soube escolher, à perfeição, o horário dos voos, a pousada, os passeios, tudo funcionou muito bem!
Na hora de voltar, o coração ficou tão apertado que, em pleno aeroporto do Recife, sentei num cantinho e chorei: não é fácil deixar para trás o Paraíso!