terça-feira, 18 de agosto de 2015

Réquiem Para os Livros

Como disse Santa Teresa, tudo passa.Só Deus não muda.
Quero crer que sim, adorável Santinha.
Tocou-me a triste tarefa de separar os livros que eram de meu Pai, documentos de antanho, pastas, fotografias, notas, bilhetes, recibos.
Foram dias separando tudo e, se não fosse pela ajuda que recebi do marido e de três fiéis funcionários, não teria conseguido, devido à extraordinária carga emocional que aquilo me trouxe.
Passei mais de semana chorando e pensava, queria escrever sobre tudo aquilo mas não tinha coragem, pois seria pesado demais.
Doloroso é ter que dar um fim a objetos que simbolizaram parte da história de nossas vidas mas que, por força das circunstâncias e do decurso do tempo, tornaram-se obsoletos e sem serventia.
Acumulavam pó, nada mais.
Simples assim, e extremamente triste, pois todos aqueles livros, coleções inteiras cuidadosamente enfileiradas nas estantes,  um dia foram úteis e tiveram seu passado de glória, lidos à exaustão, horas e horas de pesquisa, para que pudéssemos apresentar um trabalho digno e limpo.
Um trabalho bom.
Meu Pai, a toda certeza, logrou êxito em sua missão de operador do Direito.
Sobre a minha pessoa, o tempo dirá.
Mas o fato é que havia a necessidade de tirar todos os livros daquele local onde um dia foi o escritório de advocacia do Dr. Edgard.
Não foi possível fazê-lo de maneira rápida, o que talvez deixasse o processo menos dolorido.
Foram necessários vários dias e muitos ajustes, até que a última caixa saiu, e fechei a porta.
E como doeu!
Foi muito, muito difícil ver todos aqueles livros sendo tocados por mãos que não as do meu Pai, pois ele foi quem os adquiriu, cuidou, colecionou, limpou.
Livros de toda a vida!
Religiosamente, uma vez por semestre, ele contratava uma pessoa que ia lá para o escritório limpar os livros, um a um.
Que tarefa!
Ele tinha adoração por aqueles livros e eis que a mim, justo a mim, que amava e amo e sempre amarei meu Pai, e adoro livros, a mim coube tirá-los de circulação.
E, ao passo que via como iam sendo levados, vinha a minha cabeça, de maneira recorrente,  uma cena triste daquelas carruagens de antigamente, carregando pessoas.
Um réquiem para os livros.
Chorei uma semana, chorei no cantinho, na sala, da rua, na chuva e na fazenda, antes de dormir, e até dormir de tanto chorar, chorei no café da manhã, chorei tudo o que tinha para chorar.
Mas aí, como é de minha natureza, um belo dia eu acordei muito bem, e com uma energia nova.
Havia passado por mais uma prova, dessas que Ele me manda, e eu passo, pois não sou de fugir.
Fiz novos arranjos, perfumei a casa.
Levantei a cabeça e saí, para seguir em frente.
Sim, adorável Santinha, tens razão: tudo passa. Só Deus não muda.







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