sexta-feira, 19 de junho de 2015

A Questão Do Nome

Pensei bastante sobre a questão do nome, algo que está tão ligado ao nosso ser e a maneira como encaramos a vida quanto o ar que respiramos.
O nome e o sobrenome que carregamos pode ser como uma grande bandeira, hasteada bem no alto de um mastro, tremulando altiva, e não é qualquer ventania ou batalha que possui o condão de despedaçá-la.
Você tem um orgulho imenso daquele sobrenome, desenho perfeito de suas origens e de toda a sua história, e da de seus antepassados, e isso é motivo de grande satisfação interior e é o que faz você acordar todo santo dia, faça chuva, faça sol, com calor, com frio, e enfrentar, de cara limpa e fronte erguida, o que o dia tem a lhe oferecer, e você, a ele.
Uma troca.
Muitas vezes, a vida lhe dá algumas gambetas, mas você continua lá, e quando está quase esmorecendo e pensando em mandar tudo para o alto, lembra do seu nome e do seu sobrenome, e ergue a bandeira outra vez.
Assim ensino, diariamente, as minhas filhas: honra o nome e o sobrenome que teus avós e teus pais te deram.
Eu, particularmente, tenho minha bandeira: o sobrenome que meus avós e meus pais me deram: Fernández de Mondadori.
Não há nada mais sagrado para mim, neste mundo, que esses dois sobrenomes, pois neles se encerra, repriso, a história daqueles que me antecederam,  a minha e a de minha família.
Por tais razões, fico fula da vida quando vejo uma pessoa que não é detentora do meu sobrenome vangloriar-se com ele, como se propriedade sua fosse, e não é.
São aqueles parentes que saíram da ribomboca da parafuseta, nunca tiveram participação alguma nas histórias familiares, aliás, nem nascidos eram, e utilizam os feitos de um antepassado distante para mostrar que são alguém na ordem do dia.
Isso, realmente, me deixa muito chateada, eufemisticamente falando.
Ora bolas, se eu não sou Fernández de Mondadori, por exemplo, a troco de que santo quero usar esse sobrenome, a não ser para vangloriar-me?
Por que?
Teria, por acaso, vergonha do nome e do sobrenome que detém?
Seriam eles, ao serem pronunciados, motivo de vergonha e opróbrio?
Será que aquele sobrenome é tão insignificante, a tal ponto de que não há como hasteá-lo?
Pareceria ele uma flâmula, daquelas da década de sessenta que meus irmãos colecionavam e penduravam na parede do quarto?
A questão do nome é complexa.
Você conhece uma pessoa rato?
Isto é, aquela pessoa que vai lá, pega um sobrenome que não é o seu, uma história de vida que não é a sua, de pessoas que ela sequer conheceu, e usa como se fosse um comercial de ração para cachorro?
Repugnante!
A pessoa rato se imiscui em uma história  da qual nada sabe - sim, porque, por mais que a pessoa rato detenha o título de propriedade do bem, há coisas que jamais serão suas: os momentos felizes, a trajetória da infância, da juventude, da idade madura, os valores, os hábitos, os fatos  e os caminhos trilhados por aquelas gentes que, um século antes de a pessoa rato existir, já estavam neste mundo e que, nem em seus piores pesadelos, poderiam imaginar destruição de tal envergadura - e faz de tudo o que foi construído ao longo de mais de cem anos, terra arrasada.
A pessoa rato não tem o menor pudor em mostrar sua prepotência que, ao fim e ao cabo, nada mais é que a falta de caráter que permeia a sua trajetória.
Sua, e não daqueles que a precederam.
Repulsivo!
Mas usa o nome e o sobrenome de outrem, e o que outros construíram para justificar seus feitos.
Feitos?
Que feitos?
Nada há de louvável em apoderar-se de uma história familiar que é composta por um sem número de pessoas com seus afetos, amores, decepções, vida, enfim,  e na qual a pessoa rato não teve a mínima participação  e adonar-se dela como se tudo tivesse passado a existir de um tempo para a frente, o seu tempo, e o tempo dos demais não existisse.
As pessoas rato são assim: começam a corroer, bem devagar, um pedacinho aqui, uma lasquinha ali, uma fatia acolá...até apoderar-se do bolo inteiro.
Nada sabem construir por esforço próprio, precisam da escora que os pedaços roubados lhes proporciona.
Uma coisa, entretanto, esse tipo de gente pilantra desconhece: nada do que se constrói usurpando aquilo que, de forma legítima e incontestável pertenceu a alguém, vinga.
Pois, tão certo quanto o mundo é redondo e nada fica nos cantos, igualmente correto é afirmar que a pessoa rato, por mais astúcia que imagine possuir, um belo dia cai na ratoeira.
Pláft!
















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