terça-feira, 23 de junho de 2015

O Senhor Inverno

O Inverno convida à introspecção.
A gente senta na frente da lareira con un matecito, fica observando as chamas, as brasas que vão se formando, e o pensamento viaja.
Não raro, quando dou por mim estou novamente na sala da casa que era dos meus pais e que um dia foi minha, a embalar-me suavemente na cadeira de balanço do Dr. Edgard, colocada ao lado da lareira, como minha mãe gostava, sentindo o calor quase a queimar-me as pernas.
Vou até a cozinha imensa onde, sobre o fogão à lenha, um panelão de sopa de cheiro e sabor inigualáveis vai se virando, lentamente.
O Inverno me faz nostálgica, estado de alma do qual procuro fugir pois não me agrada e menos ainda me alegra, ao contrário, sinto um tal aperto no peito que quase me sufoco, quero chorar e sei que não devo, devo chorar mas não quero,  pois é preciso seguir vivendo e andando para a frente.
O passado, embora tão vívido, é um tempo que acabou e jamais voltará.
Antes, eu gostava do Inverno.
Dos dias gelados em que saía para a escola, a pé, sentindo o vento no rosto, e nada me abalava.
Das travessias de chalana até o Alvear, com minha mãe, para visitar minha avó Adelaida e minhas tias Maria Luisa e Alba Mercedes, fartando-me com doces em calda e pão caseiro.
De ajudar meu pai a fazer fogo no fogão à lenha e na lareira, e de ir até os fundos do pátio carregar os troncos no carrinho de mão.
Antes, eu gostava do Inverno.
Agora, não mais.
Ele me deixa irremediavelmente nostálgica e não, não quero sentir o coração apertado como um novelinho de lã.
Definitivamente, troquei o frio e a geada pelo calor e pelo sol, a lareira pelo mar, as janelas fechadas por persianas abertas, as silenciosas noites invernais pela alegria escandalosa das noites de verão, com suas estrelas, lua cheia, grilos e vagalumes.
Quem diria!
 Logo eu, nascida no rigor do Inverno, estou agora trocando-o pelo Verão.
Eterna caminhante, é o que sou.
E, em relação a isso, não transijo e nem desisto: sigo, sempre,  em busca de lugares musicais e coloridos, de dias enfeitados, atraída pela luz e pelo perfume das flores.
Onde meu coração fica leve, é aí que quero estar.




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