quinta-feira, 2 de julho de 2015

A Vaga Comprada

Tempos atrás me contaram uma história.
Certa pessoa não conseguia, de jeito nenhum, entrar na Universidade e a abastada família, cansada de ver, ano após ano, seu rebento tomar ferro no vestibular, decidiu dar uma tenteada e foi lá, levar um papo reto com o reitor.
Lá chegando, disse-me essa pessoa, tomou um chá de banco daqueles, mas não se intimidou e permaneceu na sala de espera da reitoria por horas a fio, até que foi atendida.
O resultado de tal conversa não me foi contado, mas o fato é que, um par de meses depois, o jovem que queria entrar na Universidade mas não conseguia passar no vestibular estava lá, lampeiro da silva.
Eu não sei se isto é mentira ou é verdade.
O que me causou espécie é que, na época,  seu nome não constava na lista dos aprovados, nem na lista do remanejo.
Entretanto, atenho-me a comentar o fato de um pai ou uma mãe se prestarem para ir até uma reitoria para tentarem comprar uma vaga para o(a) filho(a) burro.
É preciso ser, além de cara de pau, extremamente mau caráter.
Esta historieta que me foi contada e, repriso, desconheço se é verdadeira ou falsa, causou-me verdadeira repugnância pois, ao ouvi-la, não pude deixar de lembrar do tanto que ralei para passar no vestibular.
Concluí o ensino médio aqui, no Itaqui e, com 16 aninhos, cheguei de mala e cuia em Porto Alegre.
Não sabia nada de coisa alguma, como aliás, já postei  anteriormente, mas isso não foi empecilho para que eu buscasse, a cada dia, aprender.
Um dia, outro dia.
Semanas.
Meses.
Um ano inteiro!
Enquanto os demais estavam na praia, eu estava ali, estudando, de manhã, de tarde, de noite.
Eu queria passar no vestibular!
E passei.
Não nego que uma das maiores emoções que senti na vida foi quando escutei meu nome sendo pronunciado pelo repórter da Rádio Guaíba.
Aquela conquista era minha, e somente minha.
Todos me ajudaram a chegar lá, mas se eu não tivesse me esforçado muito, não teria tido aquela alegria.
Bueno, então, eu posso dizer, de boca cheia, que entrei na Universidade pela porta da frente, e de lá saí, após os cinco anos de curso regular, igualmente pela porta da frente, com meu precioso Diploma em mãos.
Não houve necessidade de o Dr. Edgard, meu amado Pai, ir até a reitoria pedir penico e vender meia dúzia de cabeças de gado puro de pedigree para comprar uma vaga para mim.
Em tudo isso eu pensava, escutando aquele papo brabo de compra de vaga.
No começo, incrédula.
Depois, com nojo.
Agora, passados mais de quinze anos desta história, o resultado: a pessoa para quem, supostamente, foi comprada a vaga na Universidade, tornou-se um profissional movido apenas pela ganância e pelo dinheiro, sem ternura e compaixão.
Não estranho: se você tem um pai e uma mãe que vão até uma universidade tentar comprar uma vaga pra você, o que eles estão dizendo? que o dinheiro compra tudo.
Mas será que compra mesmo?
A suprema ventura de entrar e sair da faculdade pela porta da frente, sem nunca ter precisado valer-se de qualquer ardil para conseguir o ingresso, ah, isso, o vil metal não compra!










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