quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Contra as Probabilidades

Certa feita, eu  precisava resolver um assunto delicado.
Algo assim como decidir entre ir ou ficar, abrir o verbo e falar tudo o que via e sentia, ou optar por uma outra via de acesso.
Quem sabe, fechar todas as vias e selar um determinado período de minha vida profissional.
Angustiei-me com tais pensamentos durante meses, não vou mentir a vocês.
Cedinho, com meu inseparável companheiro de tantos carnavais - meu tradicional matecito, pensava, pesava, media, mas conclusão que é bom, nada.
Apelei, por óbvio, aos meus Santos e Santas, que a fé não costuma falhar.
E, vendo aproximar-se a data em que precisaria dar meu veredicto resolvi, de cuia e terço em punho, ter uma conversa franca com meu Deus, Aquele que tudo pode e que me fortalece; primeiro para agradecer, pois assim me foi ensinado, agradecer sempre, para depois pedir.
Chegado o dia da reunião, depois de uma noite mal dormida, levantei-me de madrugadinha e ali, no silêncio da manhã, reforcei minhas preces.
Minha cabeça estava vazia, creiam-me.
Não pensava em nada, nem sombra de discurso ou atitude a tomar apareciam.
Saí, rumo à reunião.
Eis que, no meio do caminho, precisei parar pois o trânsito havia sido interrompido por uma caminhão, no qual lia-se, em letras garrafais, a palavra mudança.
O rumo e o norte para minha fala veio num átimo, como se fosse um raio.
Senti, nitidamente, meu Pai, meu amado Pai, o meu Dr. Edgard, de um lado e, de outro, meu tio Carlos Alberto o qual, no último ano de sua vida, me fez sofrer, o que não vem ao caso agora, apenas vejo que o amor e o perdão são infinitamente mais fortes e supremos que a maldade, então, também ele, meu tio, estava ao meu lado, aconselhando-me.
Entrei para a sala da reunião e não pude deixar de notar os olhares curiosos - o que será que vai acontecer?
Eis que, contra todas as probabilidades, palpites furados e apostas, minha fala enveredou pelo lado oposto do que era esperado: o do diálogo, da união, da gratidão e do afeto.
Aqueles que foram armados até os dentes, renderam-se.
A outra banda - a podre, a maligna, essa levou uma bofetada com luvas de pelica que até os dias atuais deve estar sem entender patavina do sucedido.
Não existe coisa melhor para o ego de alguém que dar uma surra de relho nos desafetos!
Aquele episódio foi uma recolocação das coisas em seus devidos lugares, um novo desenho de forças.
Saí do local renovada e leve, com a sensação de ter atravessado uma tormenta e de ter chegado ilesa, sem nenhum arranhão.
Já na rua, não senti mais a presença dos meus seres de luz, que tinham ficado ao meu lado o tempo todo naquela manhã memorável.
Compartilho esta vivência com vocês, queridos amigos, para dizer-lhes, primeiramente que a fé, a toda certeza, remove montanhas: as montanhas da vida.
Em segundo lugar,  que a força e o caráter legados por nossos antepassados emerge, nos momentos de crise, qual estrela luminosa a nos apontar o caminho.
Por fim, repriso: ante o poder do amor e do afeto,  depõe-se as armas.








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