terça-feira, 3 de outubro de 2017

Piccolomini Caleche

Impressionante como um simples objeto pode evocar tantas recordações e me fazer sentir saudade.
Saudade da minha Mãe Maravilha, já estamos em outubro, talvez seja isso, memórias de um lapso de tempo que foi tão difícil para ela e para todos nós, e mal sabíamos que também ela iria logo embora.
Certo dia falei a uma amiga: eu era uma Lia, agora sou outra.
Com eles.
Sem eles.
Às vezes, sequer me reconheço.
Acredito que aprendi a viver longe deles.
Mas é, no mínimo, complexo.
A saudade, entretanto, aparece quando menos se espera.
Um dia tão lindo de primavera e eu ali, organizando alguns enfeites, e eis que me deparo com um pequeno pratinho, de fundo branco, onde de vê, pintada em tons de verde,  uma pequena carruagem e a inscrição: Piccolomini Caleche.
Eu sempre tive predileção por esse pratinho, o qual ficava, na casa da Mãe,  sobre em um móvel, equilibrando-se num suporte.
Decidi guardá-lo dentro de uma armário, talvez por medo que se quebrasse, e acabei esquecendo e hoje, justo hoje, me cai nas mãos o prato, lindo como sempre, perfeito em sua expressiva simplicidade.
Então fiquei repetindo, em voz baixa, piccolomini caleche, piccolomini caleche, e nada mais foi necessário para que as lágrimas começassem a cair.
Tirei o prato e o respectivo suporte do armário e coloquei-o sobre uma mesinha, bem à vista.
Ele é tão belo que não merece ficar encerrado, para que ninguém o veja.
Vou cuidar para que não se quebre, para que permaneça inteiro como o amor que sinto e que distância alguma será capaz de fazer diminuir ou desbotar.
A saudade é assim, quando menos se espera, vem.
Eu bem que tentei fugir dela, escondendo-me aqui e ali.
Não adiantou.
Ela chegou, pegou a minha mão e, sentadas lado a lado,  entabulamos uma silenciosa troca, suave e leve como o andar de uma piccolomini caleche.
Da mesma forma que chegou ela foi embora,  não sem antes secar minhas lágrimas e deixar um rastro de perfume no ar.
O perfume da minha Mãe, aquele cheiro de alfazema que só ela tinha.
Mãe, tenho absoluta certeza que, de onde estás, teu amor me ampara e me protege.
Pois, como afirmei incontáveis vezes, o amor nunca morre.


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