domingo, 22 de abril de 2018

A Mulher Que Não Queria Fazer Plástica

Faz tempo que penso sobre a questão das cirurgias plásticas, as quais crescem no Brasil de forma estratosférica.
O que leva uma mulher a procurar tais recursos?
A mim não cabe responder, pois isso é muito particular e está ligado, certamente, a questões e fatores de ordem interna.
Falo de mim, e por mim, exclusivamente.
De início, deixo claro que não teço, aqui, qualquer crítica a quem é adepta da cirurgia estética, ao contrário, admiro e invejo, eis que sou, assumidamente, vil para a dor e tenho um pavor atávico a clínicas, hospitais e assemelhados e, assim sendo, não penso em me internar de foma espontânea, entrar sã e sair cheia de cortes e hematomas que resultarão, dali certo tempo, em um resultado muito bom, não resta dúvida.
Mas não é a minha praia.
De criança magra passei a ser uma adolescente gorda, talvez resultado da Emulsão de Polivitaminas que minha Mãe me dava todos os dias, após o café da manhã.
Como lembro daquela cena: eu, paradinha ao lado do filtro de água que ficava no balcão da copa e a Mãe, com uma colherinha de chá, me fazia engolir aquele líquido que tinha um gosto de mel levemente amargo.
Tá.
Fato é que minhas gorduras localizadas, peitos grandes, bunda grande e culotes fazem parte da minha vida e me acompanham desde os treze anos.
Viveram comigo grandes emoções, desde o primeiro beijo à primeira transa, celebraram o amor, a formação acadêmica, os foras, dois casamentos, o nascimento de minhas filhas, a volta para minha cidade natal, Itaqui, depois de doze anos de Capital...as delícias e as tristezas da Vida, enfim.
Meu corpo resistiu bravamente a todos os embates e seguiu, lépido e faceiro, embora os sinais do tempo começassem  a se tornar bem visíveis, pois aos 56 anos não há mágica.
Apenas a mágica da cirurgia plástica, ou os tratamentos menos invasivos, Botox, preenchimento, etc...
Foi assim que optei pelo tão festejado Botox, e disso faz quatro anos.
Olhando, hoje, fotos minhas daquela época em que, toda botocada e de sobrancelhas feitas...ahhh, esqueci o detalhe das sobrancelhas: refiz as minhas, que estavam ralas e com os fios muito claros.
Pois bem, revendo aquelas fotos nas quais, supostamente, eu deveria estar muito bem, confesso que me achei horrível!
Sim, horrível!
As sobrancelhas pareciam ter vida própria, tão marcadas estavam!
Como resultado do Botox e do preenchimento, virei uma mistura de gafanhoto com o Fofão, meu nariz ficou estranho, um arrebitado estranho...
Não ficou nada bem, hoje eu vejo.
Por que não era natural.
Por que não era eu, com minha bagagem.
No início deste ano, logo após meu diagnóstico, meu corpo começou a encolher.
Meus peitões sumiram, a bunda ficou reduzida a...bueno, não sei...e até meus culotes desapareceram.
Cara, de um dia para o outro, eu não tinha mais nem ão, nem ões, nem nada!
Minha médica falou, rindo,  que eu era um caso à parte, e que ela jamais tinha visto uma mulher chorar por ter perdido os culotes. Sendo ela professora universitária, autorizei-a a contar aos alunos o estranho caso da mulher que não queria fazer plástica e que chorava a perda de suas gorduras localizadas.
Fiz a cirurgia há oito dias.
Mais uma etapa vencida nesta luta que será de glórias, Deus é mais!
E meu corpo, que estava triste, murcho, sem viço, está se recuperando a cada dia.
Despacito vai se ajeitando.
Tenho mantido com ele longas conversas de amor, beijo-o,  agradeço a ele pela força, pelo empenho, e combinamos, nós dois, que voltaremos: ele, a envolver carinhosamente uma gorda feliz, e eu a exibir, orgulhosa, o que me identifica, pois não sou Lia sem ter ãos e ões, é meu carimbo e minha marca registradíssima, da qual não pretendo me desfazer, basta o que perdi.
Pergunte-me, então, se quero fazer uma cirurgia plástica, e a resposta será um rotundo não!
Estou muito à vontade ante passagem do tempo, e com as cicatrizes que ele deixou.
Elas me lembram, todos os dias, quem sou e como sou - modelo único e sem similar no mercado, com todas as minhas verdades, contradições, sonhos, planos, projetos, desejos...
Como me disse certa vez minha Mãe,  em um de seus lances geniais: nena, increíble como no tenés complejos...
Não os tenho!
Concluo, portanto, com tudo o que tenho visto e vivido nestes últimos meses, que minha aversão à cirurgia plástica e a seus derivados, e meu amor inconteste por meus culotes e gorduras, efetivamente, merecem estudo.















Nenhum comentário:

Postar um comentário