domingo, 10 de fevereiro de 2019

O Pequeno Ventilador


O calorão de hoje, típico do nosso Itaqui, onde só se ouvem as cigarras cantando, loucas de faceiras, me fez lembrar da casa paterna que era enorme, fresca, agradável.
Meus pais acordavam cedo e abriam toda a casa, para que a brisa da manhã ventilasse todos os cômodos.
Em torno de 10 horas, minha mãe fechava as persianas, sombreando tudo, e o sol inclemente não entrava.
No final a tarde, repetiam o ritual matutino e abriam as persianas, as portas, só que não havia brisa alguma.
Havia, isso sim, uma mosquitama infernal.
E um único ventilador, pequeno, com quatro pás de metal e o botão de ligar/desligar tão rente às pás que era preciso prestar muita atenção, sob pena de cortar os dedos.
Esse ventilador que, ao fim e ao cabo já parecia ter vida própria, era carregado para lá e para cá: ora estava na sala, depois ia parar no balcão da copa, ia parar no escritório do pai; em suma, estava sempre à mão.
A tardinha, meu pai pegava uma mangueira e molhava a calçada da frente da casa numa tentativa de amenizar o calor para, logo após, colocar cadeiras, onde toda a família sentava para tomar um mate.
E o pequeno ventilador, posto no corredor de entrada e virado para a calçada girava, fazendo um ventinho pífio...
Faltando algum de nós, meu pai gritava, com seu vozeirão...
Aparte:
A voz do meu pai é algo que jamais irei esquecer, bem como sua risada escandalosa, é, ele ria para que o mundo inteiro ouvisse e soubesse o quão feliz estava.
Outro dia postarei sobre a voz paterna.
Volta.
...ele gritava, com seu vozeirão: Kilaaaa(minha mãe), vem tomar o mateeee!!!
Assim passávamos até a janta, sempre tarde, 22 horas.
O ventilador era levado para a copa, para fazer de conta que refrescava alguma coisa.
E outra rodada de calçada.
Hora de dormir, aí sim, o calor era brabo.
Nós, os filhos, dormíamos sentindo as costas coladas ao lençol, pois o ventilador era um luxo destinado aos pais, e era isso.
Como é que conseguíamos, me pergunto, se hoje, sem um split, a gente não consegue respirar?
Dormíamos, sonhávamos e acordávamos no dia seguinte lépidos e faceiros, e nenhum pedaço de nós tinha caído.
De manhã, íamos tomar banho no Rio Uruguai, um hábito que minha mãe tinha e dele não abria mão.
O almoço, sempre às 13h, 13h30min., era lento, barulhento, afinal, éramos seis, e meu pai fazia questão de trazer a sobremesa: fatias de melancia, que ele mesmo cortava.
Fartos com aquela comilança, chegava a hora da sesta, que era sagrada.
Por volta de 16 horas, comíamos, pasmem, um prato fundo de trigo, regado a leite gelado, com pedaços de rapadura.
Que coisa boa!!!
São tantas as lembranças dos verões familiares, são muitas!
Onde terá ido parar o pequeno ventilador, de saudosa memória?









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