terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O Benefício da Dúvida

Muitas vezes, as pessoas inventam histórias.
Ou, se tem alguma, aumentam.
Distorcem fatos ou falas, tecendo ilações que jamais existiram.
Alteram o contexto - e não posso crer que não seja um ato proposital, com o intuito de causar mau estar e destruir.
Acusam  e apontam o dedo, sem dó nem piedade.
Por seu turno, o que escuta aquilo que lhe chega aos ouvidos, tomado pela surpresa, engole aquela suposta verdade como se a mesma fosse absoluta.
Não concede ao outro o benefício da dúvida, isto é, deixa de fazer ao acusado a  mais singela das perguntas:  foi assim mesmo, como me está sendo contado?
Por tais razões, amizades antigas, de anos, que muitas vezes remontavam à infância, terminam.
Famílias se separam.
Parentes se afastam.
Porque alguém que, a toda certeza, não tinha coisa melhor a fazer que criar uma determinada situação foi, falou o que bem entendeu, e fim.
Terra arrasada.
Colocou o ponto final.
Já vi esse filme, por isso falo de camarote.
E não foram poucas as vezes em que pensei, até a cabeça doer, na razão que teria levado aquelas pessoas a acreditar , em primeira mão, na versão que lhes foi apresentada.
E a não me concederem o benefício da dúvida.
Por que?
Afinal, eram pessoas com as quais eu mantinha laços de afeto de longa data.
Pessoas que eu amava.
E como me fizeram falta!
Refiz os dias, as semanas, os meses, os anos em busca de repostas, atrás de algum ato falho, de uma palavra mal posta, inconveniente.
Talvez essas pessoas fossem de uma tal soberba que não teriam como descer de seu pedestal e manter um diálogo franco e branco, quebrar os pratos, rebentar tudo, cara a cara, não assim, na surdina, no silêncio, na indiferença.
Não assim, aceitando a primeira pseudo verdade que lhes foi apresentada.
Agora, passados muitos e muitos anos, e como o mundo é redondo e nada fica nos cantinhos, aconteceu um fato engraçado.
Um desse fantasmas ressurgiu das cinzas.
Apareceu como se nada tivesse acontecido, e sem dar nenhuma explicação, como se o tempo não tivesse passado.
Como se o tempo em que estave  longe e sequer lembrava que eu existia tivesse, por arte de mágica, se apagado.
Ao me deparar outra vez com aquela pessoa que veio, sorridente, me abraçar, todos aqueles anos de afastamento, cuja razões eu nunca soube, vieram à tona.
Retribui o cumprimento.
Sorri apenas com os lábios;  meus olhos, que são o retrato da alma, refletiram um misto de nojo e desprezo e sepultaram, em definitivo, a mínima chance de retorno.
Como diria Ibrahim Sued, ademã, que eu vou em frente!


















Nenhum comentário:

Postar um comentário