quarta-feira, 1 de abril de 2015

O Retrato do Brasil

Têm criticado acidamente a novela das nove da TV Globo,  alegando que a mesma está, dentre outras coisas, destruindo os valores da família brasileira, tudo porque mostra duas mulheres idosas beijando-se na boca, um jovem de classe média alta agenciando garotas para velhotes tarados, e vigarices cometidas por profissionais e donos de empresa sem escrúpulo algum.
O que eu não entendo, realmente, é o motivo da surpresa das pessoas, do assombro fingido, da falsa e hipócrita moral e da pseudo defesa dos bons costumes.
Pois não foi esta mesma sociedade a que, há pouquíssimo tempo elevou a audiência dessa mesmíssima emissora e parou tudo para ver o famoso beijo gay do Félix, a biba que saiu do armário?
Não foi esta sociedade, agora tão ofendida com os selinhos entre duas mulheres, que vibrou com a loucura e a maldade do personagem Carminha, de Avenida Brasil?
É que novela é assim, quando cai no gosto do público, podem aparecer pelados que ninguém acha ruim, ao contrário, aplaudem, postam nas redes sociais e ficam horas tecendo comentários sobre esta ou aquela cena.
Veja-se, por exemplo, a minissérie Felizes Para Sempre?, que foi ao ar em janeiro deste ano.
Uma putaria total, ampla e irrestrita que começava com o pai da família, passava pela mãe e se estendia aos filhos do casal, suas noras e seu neto, este último viciado em drogas.
Formação de quadrilha, corrupção, homicídio, tinha de tudo na minissérie.
Mas foi um sucesso retumbante e todos pararam para olhar pra bunda da Paolla Oliveira que, depois da cena, foi declarada a nona maravilha do mundo!
Eu não entendo de que, afinal, o povo se queixa.
Esta novela nada mais é do que o reflexo da sociedade em que vivemos: permissiva, hipócrita, com pessoas que acham que podem fazer absolutamente tudo, e transgridem à vontade.
Pois se assistimos, todo santo dia nos telejornais que depredaram o patrimônio público.
E daí?
Dilapidaram e continuam  roubando bilhões.
E daí?
Num cansativo repeteco, os envolvidos falam, como que recitando uma espécie de mantra: eu não sabia, eu nunca vi, eu não sei de nada, desconheço esses fatos...
Tem filho agredindo pai e mãe, tem aluno agredindo professor, e fica tudo por isso mesmo.
Não há respeito, não há limites.
Palavra em desuso, essa: limite.
Fazem as leis, mas não é preciso cumprir a lei, essa é a mensagem que fica.
Para tudo, dá-se um jeito.
Há tanta liberdade que o caldo entornou e a coisa toda virou uma grande esculhambação, onde imperam o clima de caos, a falta de valores e o salve-se quem puder.
Quanto mais grito e agito, melhor.
Então, não se espantem com uma reles novelinha da Globo que mostra, cruamente, como é que a banda toca.
Aliás, quem não é assim já anda sendo taxado de otário, ridículo e antiquado, digno até de lástima.
Sim, tudo está mudado,  e está mudando o tempo todo.
Entretanto, um pouco de ordem e de enquadramento não faria mal a ninguém.
Como talvez isso demore um bom tempo ou, quiçá, nunca aconteça, aos que não querem ver cenas tão chocantes, sugiro o seguinte: desliga a TV e observa o entorno.
Porque ainda há vida lá fora...


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