terça-feira, 19 de maio de 2015

Noches de Verano

Talvez seja o veranico de maio, com dias espetaculares de temperaturas amenas, muito sol, brisa suave, céu limpinho e azul, talvez porque aproxima-se a data do meu aniversário, sei lá...hoje lembrei tanto de minha Avó materna, Adelaida, pessoa de uma doçura como jamais conheci outra, salvo minha Mãe adorada.
Pois minha Avó Adelaida tinha uma cadeira de balanço que, por essas voltas que a vida dá veio parar aqui em casa e, não por acaso, considerando que ela adorava gatos e os tinha em grande profusão, nunca menos que sete ou oito, meu gato Bibo tem predileção por esparramar-se nela.
Cada vez que olho para a cadeira de balanço, ponho-me a pensar no quão feliz e abençoada foi a minha infância, uma verdadeira ilha, eu era, cercada de amor e de afeto por todos os lados.
E minha Avó Adelaida era o símbolo máximo daquela ternura que somente as avós sabem ter.
Não são nossas mães, mas sabem muito mais que elas, pelo tanto que já viveram.
Não tem mais aquela ansiedade de ensinar (e aprender) ao filho as coisas de todos os dias.
Estão ali, disponíveis para amar.
Sem pressa, sem cobrança, sem nada.
Apenas amor, e somente ele, esse sentimento poderoso que cura tudo!
E não há nada mais fantástico que o amor  sincero e desinteressado, onde apenas o verbo gostar se faz presente e importa.
Pois a minha Avó Adelaida,  com seu amor sem fim, deixou-me a sua marca.
A marca da alegria e da suavidade, pois nunca ouvi dela um só grito ou qualquer palavra áspera.
Era carinho puro, a minha Avó.
Cada vez que lembro dela, vem a minha cabeça um ramalhete de flores coloridas.
Com ela aprendi tantas canções infantis, cantadas em espanhol, naturalmente, mas lembro-me de todas a letras e melodias, das histórias que me contava, eu, no seu colo, e ela a embalar-me, suavemente, na cadeira de balanço posta na calçada de sua casa, no Alvear ( aos amigos que me leem e não são da Fronteira, lembro que Alvear ( Argentina)é a cidade fronteiriça a Itaqui que fica do outro lado do Rio Uruguai, e cuja travessia se faz de lancha ou de balsa).
Noches de verano, noites mágicas em que ficávamos ali, sentados em círculo.  minha mãe, minhas duas tias, Maria Luisa e Alba Mercedes, minha avó e eu.
Uma reunião das mulheres Fernández, de onde saía muita conversa fiada e muitas, muitas risadas.
Era escuro, pois em toda a extensão da rua havia uma única lâmpada, posta bem no meio, com a pretensão de  iluminar toda a quadra.
Ninguém se importava com isso, nem com os mosquitos que nos charqueavam as pernas, pois muito mais interessante era olhar para o céu carregadinho de estrelas, escutar a brisa quase que imperceptível do verão, e o trec, tc, trec da cadeira de balanço.
Não sentíamos o passar das horas e nem pensávamos no tempo, afinal, era verão.
Hoje, aos 53 anos,  ponho-me a pensar que fui extraordinariamente feliz na minha infância, e, sim, sinto saudade, claro que sinto, não há como não sentir, e dias há em que tudo o que mais desejo é o regaço de alguém que me ponha no colo e me embale suavemente, ao som de velhas canções infantis.
Veranico de maio, noches de verano, e uma prece de agradecimento para minha Avó Adelaida e para seu colo encantado, para as porções de amor que dela recebi, verdadeiro tesouro que trago guardado dentro do coração.


Nenhum comentário:

Postar um comentário