sexta-feira, 8 de maio de 2015

O Prato Quebrado

Eu tenho uma empregada doméstica que quebra objetos.
Já quebrou diversos copos, tirou lascas de pratos rasos, de pratinhos de apoio para pão, quebrou uma tampa de uma bomboneira de cristal que era de minha Mãe, o que me fez ter um pequeno chilique, mas colei a tampa, partida ao meio, e, bom, somente eu sei que aquela parte está quebrada, posto que tenho-a colocada sobre uma estante mais alta.
Mas hoje, hoje foi o fim da picada.
Eu tinha um prato pequeno, que era de minha Mãe que, por seu turno, comprou-o em uma viagem aos Estado Unidos.
Não interessam nem a viagem e nem o valor do prato, mas sim, que ela de minha Mãe, que não está mais comigo e dela guardo apenas os objetos que lhe eram caros e, não vou mentir a vocês, sou mesquinha em relação a eles, não gosto que ninguém toque, nem mexa, nem mude de lugar, porque eles são, a par de todas as incontáveis lembranças, o que restou do que ela gostava, daquilo que gostava e cuidava, cuidava muito.E não tô nem aí se me taxarem de materialista ou qualquer outro besteirol, tenho 53 anos e não ligo a mínima para o que pensam ou dizem de mim, sigo minha vida dia após dia, esforçando-me para fazer o bem, ou não fazer o mal, o que entendo ser uma grande coisa.
Mas já estou fugindo do assunto, que é o prato quebrado.
Pois não é que chego do trabalho e, arrumando uma coisa e outra, nada notei, até o momento em que, perambulando pela sala, dei pela falta do prato.
Me deu um aperto, uma raiva surda, de imediato pensei: ela quebrou o prato da Mãe!
E pus-me a procurá-lo - em vão, porque eu já sabia que ele estaria quebrado, até que fui fuçar no saco de lixo, displicentemente pendurado na grade do muro.
Aí eu já estava falando alto, não era mais um resmungo, era a raiva saindo pra fora e desatei o lixo e não me importei com os pedaços de cascas de tomate, nem com os restos de erva mate, apenas procurando, procurando.
Teria, talvez, se partido em tão poucos pedaços que eu não encontraria nem um farelinho dele?
Até que achei uma folha de jornal amarrotada.
Tinha que estar ali.
E estava!
O prato da minha Mãe, de 21 anos de idade ali jazia, sujo de erva e enrolado numa folha úmida de jornal.
Juntei os cacos, não sem ter tido um acesso de fúria e de ter dito todos os impropérios contra a criatura.
Sim, digam o que quiserem de mim, mas tudo que é de minha Mãe e de meu Pai, de minhas tias e de minhas avós eu guardo e procuro preservar, com unhas e dentes, até vir uma porra louca e quebrar o prato, e toda sua história junto.
Ontem vi no JN os novos direitos dos empregados domésticos, e agora estou a questionar: tá, e os meus direitos, onde estão?
Me quebra um negócio de imenso valor sentimental e lá está ele, jogado no lixo, enrolado num pedaço de jornal como se fosse uma casca de banana.
Disso ninguém fala, sobre isso ninguém se posiciona.E se a gente reclama, chamam de louca pra baixo.
Assim estão as coisas.
Invertidas.
Agora o empregado tem tantos direitos que manda mais que o empregador, e a nós só cumpre baixar a crista e pagar.
Pagar e pagar.
Só que não.
Mais ridículo ainda eu acho aquelas empregadoras que posam de mãozinha com sua empregada doméstica e ainda dizem " ai, tô super feliz com essa conquista, agora sim, estamos bem"!
Ou é muito hipócrita ou é muito burra!
Enfim, também existem empregadoras politicamentiiiii coorrréééétas!!!
E a minha querida empregada doméstica, sobre o prato quebrado, não falou nem um pio, foi embora como se nada tivesse acontecido.
Quer dizer, além de me causar prejuízo, me toma por tonta.
Isso sim, é demais para os meus combalidos nervos.
Bueno, ainda bem que hoje me vou pro Portinho ficar com minhas filhas amadas, espantar a tristeza que esta data de Dia das Mães me causa, sair, passear, não pensar.
Na volta, resolverei a questão do prato quebrado, e de outras tantas quinquilharias.
Tem horas que sinto vontade de morar num apartamento onde tenha um sofá, uma cama, uma TV, livros, fogão, geladeira, e deu.
Nem plantas quero ter, porque este ano, quando voltei das férias, minhas plantas estavam mortinhas da silva: ninguém molhou.
E reclamar para quem?
Não temos para quem reclamar!
Empregador que reclama demais é processado por dano moral.
Então, bico calado.
É ruim, hem...










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