sábado, 8 de novembro de 2014

Codinome: Beija Flor -Final

Sobre a cama, Florência ardia em febre, e delirava.
Sonhava com lugares que nunca antes visitara, enxergando fantasmas atrás das cortinas.
Acordava gritando, dizendo palavras que ninguém conseguia entender o que significavam.
E, dia após dia, definhava.
Graciela não saía da cabeceira da irmã, desvelando-se em cuidados, consolando o desatinado Maurício que, vendo sua amada naquele estado deplorável, sentia que a vida perdera todo sentido.
Solícita, Graciela servia-lhe chá, uma infusão de ervas de delicado perfume, para acalmar-lhe os nervos em frangalhos, e ali ficavam, os dois, aos pés da cama de Florência, conversando por horas a fio, Graciela usufruindo de cada palavra, de cada gesto, de cada olhar de Maurício que, certamente, seria dela.
Era apenas uma questão de tempo...
Florência adorava aquela irmã, e uma das únicas coisas que conseguia perceber, dentro daquele torpor, era a presença constante de Graciela, dia e noite ao seu lado.
Só não compreendia porque razão a irmã olhava para ela daquela maneira, de forma tão penetrante que a fazia voltar àquele sono de pesadelos.
Um mês transcorrera desde a noite do noivado, em que ela caíra, como que fulminada por um raio e, depois de certo tempo, acordara febril e desorientada.
A família havia tentado de tudo, dentro dos parcos recursos da época, e nenhum dos médicos que a examinara sabia dizer, a fim de contas, qual era seu problema e de onde se originava aquela doença, que parecia não ser doença.
Um encantamento para o mal, era a razão de ser daquele estado de coisas.
Uma vibração maligna permanentemente expressada por Graciela através do olhar, o qual refletia o desejo de mandar Florência para o outro mundo, a fim de poder ficar com Maurício.
Era tão simples para ela, detentora daquele poder sobrenatural...e os resultados estavam ali!
Florência tinha um terço, o único objeto que conseguia, debilmente, segurar e, nos poucos minutos em que a irmã se afastava do quarto, rezava e pedia.
Implorava a Nossa Senhora da Imaculada Conceição, cuja festa comemorava-se no dia 8 de dezembro - era, inclusive, feriado no Alvear, que a salvasse, para que pudesse realizar o sonho de sua vida: casar com Maurício, seu grande e único amor.
Nada mais pedia, a não ser poder sair daquela cama.
Da janela aberta, que dava para o pátio da casa, incontáveis flores entrelaçavam-se nos canteiros, atraindo os beija flores.
Codinome: beija flor...
Onde estás, beija flor?
Quero estar sempre ao teu lado, beija flor.
Nunca vou deixar de te amar, meu beija flor.
E, de onde estava, via os beija flores no pátio...mas pareciam tão distantes!
Doña Fábia, a tia, também começara uma novena a Virgem.
Não era possível que sua menina ficasse daquela forma.
Muito lentamente, Florência começou a melhorar.
Um dia, outro dia...
A febre cedeu, os pesadelos foram embora.
Ela conseguiu levantar, sair até o jardim e caminhar.
Voltou a alimentar-se normalmente, até que,  no finalzinho de outubro, sarou por completo.
Como seria possível aquele verdadeiro milagre?
Era o que ruminava, furiosa, Graciela, ao ver a irmã novamente dona de si.
E, o que era infinitamente pior, com Maurício ao seu lado.
Foi quando, então, numa noite de lua cheia - 31 de outubro,  exatamente no dia do aniversário de ambas, deu-se conta do que havia feito.
Do mal que perpetrara  a sua irmã gêmea, de quem tanto gostava quando eram crianças, a quem amara sempre.
Como fora capaz de tamanha maldade?
Não havia mais como permanecer perto dela, pensava Graciela, consumida pelo remorso.
Naquela noite, em que ambas festejavam os aniversários e a recuperação de Florência, após o término da festa, Graciela saiu da sala, não sem antes ter dado na irmã um longo abraço.
Ninguém prestou atenção, muito menos entendeu.
Fato é que, no dia seguinte, Graciela desapareceu .
Procurada por anos a fio, nunca mais ninguém soube dela.
E, na esplendorosa manhã do dia 8 de dezembro daquele ano, Florência e Maurício casaram-se.
A cidade inteira acorreu para vê-los, na saída da Igreja mas, acima de tudo, queriam ver a noiva.
Florência estava magnífica, como só os que amam muito, e são amados, conseguem ficar.
Nas árvores e flores da Praça de Alvear, uma revoada de beija flores parecia saudar os dois.
Codinome: beija flor...
O amor e a fé venceram a maldade, a inveja, o olho gordo, as vibrações malignas, pois nada é mais poderoso e eficaz que um amor  sincero,  que as preces feitas com a alma e o coração.
Florência e Maurício eram a prova viva disso!
Muito tempo depois, veio a notícia: Graciela morrera, completamente sozinha, jogada em um casebre, murmurando perdón,  Florência, por el mal que te hice...e cumprindo o vaticínio da parteira, quando ambas nasceram: Un gran amor no sera capaz de separar-las . Solo despues de la muerte...
























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  - era até feirado no Alverar, que a rtirtasee daquele transe e a

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