quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Codinome: Beija Flor - Parte 2

A cada dia mais linda e coroada por uma aura multicolorida, Florência preparava-se para o dia feliz de seu noivado com Maurício e, na pequena Alvear, de outro assunto não se falava a não ser do compromisso de ambos, marcado para o dia 22 de setembro.
Na casa da família corriam os preparativos, e todos os recantos, adornados com flores, prenunciavam o tom da festa.
Uma das filhas do casal estava dando o primeiro passo rumo ao casamento e isso, para os conservadores pais de Florência, significava muito.
Recostada a um canto do sofá da sala, Graciela a tudo observava.
Com um olhar feroz.
Com olhos de ódio.
E vibrava contra Florência, numa vibração de energia negativa tão intensa que ela própria chegava a tremer, cega pela raiva.
Por que Maurício preferira Florência, e não ela?
Ela, que era a filha perfeita, carinhosa, submissa, dedicada, que não abria o bico e aceitava, de bom grado, as decisões paternas.
Como quando quis estudar em Posadas e o pai não permitiu.
Internamente, ardia de indignação, mas a procissão ia por dentro.
Sí, papá...
Só ela sabia a frustração que aquilo lhe causara, mas engolira.
Agora, mais essa, o noivado de Florência.
E o amor por Maurício, que a fazia acordar no meio da noite molhada de suor e, depois, eram as lágrimas que ensopavam o travesseiro.
Ela tinha um dom e sabia disso. Uma forma de desejar, ardentemente, que algo saísse mal e, invariavelmente, saía.
Não fora em vão que nascera num 31 de outubro.
Muitas vezes, bastava um mero olhar, e um copo espatifava-se.
Um prato de parede caía.
A luz de uma lamparina apagava-se.
Certo dia, doña Fábia, que tudo percebia, não se sofreu e falou: sos mala, Graciela.
E ela, simplesmente, rira.
Um riso maligno.
Vamos ver até onde irá esse noivado, pensava.
A festa transcorreu normalmente, com os maravilhosos doces feitos pela melhor doceira do Alvear: tâmaras recheadas com fios de ovos, ameixas carameladas com recheio de doce de leite, pasteles de hojaldre,  e outras tantas iguarias finas.
No final da festa, quando os convidados começavam a sair Florência, de olhos esbugalhados, soltou um grande grito.
E, ipso facto, caiu.
Todos acorreram, desesperados, tentando fazê-la voltar a si.
A única que se mostrava impassível e estranhamente calma era Graciela; com um meio sorriso, observava a cena.

* Continua amanhã.







Nenhum comentário:

Postar um comentário