terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Entrelinhas

A cada dia que passa, mais  me convenço de que as pessoas não mudam, ou a soberba de que são feitas não conhece limites.
Fingem ser o que não são quando pretendem conquistar algo, ou alguém que não está ao alcance de suas mãos.
Impulsionados pela facilidade proporcionada por uma conversa através de meio eletrônico, outorgam-se liberdades que seriam impensáveis se tivessem de ser ditas cara a cara.
Presume-se, ao menos, para quem tem educação - aliás, artigo raríssimo nos dias que correm.
Aquele(a) que deseja ter para si determinada pessoa perde, completamente, a noção de tempo, modo e lugar e, como dizíamos há  mil anos atrás, " se encarna", isto é, não larga do pé da criatura, e não se flagra do papel ridículo que está desempenhando.
A outra pessoa, de começo, sorri.
Nada melhor para o ego que saber-se objeto do desejo de alguém.
Num segundo momento, o alvo do assédio começa a sentir-se ligeiramente inquieto: ...mas, afinal de contas...
A pessoa sem noção prossegue em seu patético monólogo, com elogios e declarações de amor e não se dá conta - ou se dá, mas não dá o braço a torcer, de que aquela é uma via de mão única.
Não há reciprocidade.
Tão simples!
Caso houvesse, estariam sob lençóis de cetim,  ou em algum paraíso tropical ou, quem sabe, observando a neve cair.
Andando de mãos dadas pela praia, com a maravilhosa água do mar sob os pés.
Tomando um matecito.
Não há tempo ruim, nem lugar feio quando estamos enamorados.
Eu que o diga: com 15 anos, me arrumei de um namorado argentino e passava os finais de semana no Alvear, sob um calor de 40 graus e, a noite, sentava na calçada da casa de minha tia Maria Luisa, sob o incessante zunido dos mosquitos, e nem bolas dava, pois os beijos trocados era o que importava!
Entretanto, vale registrar que isso acontece somente quando há uma integração de almas e de corpos - sim, nessa ordem, caso contrário, que diferença teríamos dos animais irracionais?
Quando um ser humano não está a fim de outro ser humano, tudo constitui impedimento.
Tudo.
Trava-se, então, uma guerra surda entre um e outro, mas o perdedor será aquele que não souber ler  as sutilezas ditas - ou não, nas entrelinhas.
É só prestar atenção:  as respostas estarão todas lá.





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