sábado, 3 de dezembro de 2016

Jogo De Espelhos

Nada como um belo CD de Paul McCartney para nos fazer recordar que ainda somos românticos, que acreditamos no amor.
Naquele amor!
Será aquele que ainda virá, depois de uma longa, longa estrada.
The long and winding road.
Aquele amor!
Um amor bom, e amor bom é amor alegre.
Por que amor é sinônimo de brilho no olhar, de banho de chuva, de observar o entorno e ver que tudo, absolutamente tudo,  é leve e colorido.
Aquele amor, especialíssimo, não deixa espaço para que as mazelas do dia a dia interfiram na sua magia.
Ao contrário: quando ele chega, todas as questões parecem estar, de imediato, resolvidas.
Nós nos empenhamos tanto em atender a anseios que não são nossos, que não nos damos conta de que, na verdade, a alegria e o prazer do encontro ficaram lá atrás.
Pior, perderam-se na long long road  que as circunstâncias da vida, muitas vezes, nos impõe.
Mas chega o dia glorioso, sim, glorioso, em que olhamos para trás e enxergamos, embora desfocado pela poeira das desilusões, o romantismo.
Ele está lá, acenando, nos chamando para as coisas nas quais sempre acreditamos e que ficaram adormecidas.
É muito difícil ultrapassar todos os obstáculos que insistem em permanecer à nossa frente e que acinzentam nossas crenças, que nos deixam cheios de culpas que não temos, criando expectativas falsas, como se estivéssemos em um jogo de espelhos que, ora nos reflete nitidamente, ora turva completamente nossos sentimentos, a tal ponto que já nem sabemos, afinal, quem realmente somos.
Entretanto, importa frisar que nossa essência jamais se perde.
Jamais.
Poderemos ficar andando em círculos feito cegos tentando vislumbrar o que não vemos mais, pois a estrada ficou longa demais, porém nosso eu interior, a matéria da qual somos feitos - nosso carimbo, nosso jeito de ser e de ver a vida, esse não muda.
Fica apenas como um expectador dos caminhos tortos que percorremos mas permanece lá, aguardando nosso retorno.
Voltar para si mesmo e para aquilo em que acreditamos -  para as nossas verdades,  é como estar à beira de um penhasco e saltar de paraquedas com todas as cores do arco íris, voando outra vez em direção à nossa alma que ficou, lá atrás, perdida, parada naquela longa estrada.
Reencontrar-se consigo mesmo é uma dádiva,  é um presente que a vida insiste em nos entregar.
A nós cabe recebê-lo e abraçá-lo, agradecer muito e celebrar os novos começos.
Todos os sentimentos que ficaram naquela long long road,  empoeirados, voltaram para seus devidos lugares.
Sem jogo de espelhos: a imagem que vemos, agora, refletida, é a nossa.
A real.
A verdadeira.
Não há mais lugar para concessões inúteis.
Estas foram carregadas pela poeira da estrada e se esfumaram, para não mais voltar.
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