terça-feira, 28 de março de 2017

O Feixe De Varas

Meu Avô paterno, Atílio Mondadori, descendente de italianos vindos da região de San  Benedetto Po que aqui se estabeleceram no século XIX, homem de grande tino para os negócios e com toque de Midas, fez fortuna com o estabelecimento comercial que possuía, as cinco fazendas onde se plantava trigo, arroz, laranjas,  e o gado povoava as terras a perder de vista.
Tudo corria muito bem, até que sobreveio a quebra da Bolsa de Valores de New York  em 1929.
Meu Avô dormiu rico e acordou pobre.
Todas as suas economias e as reservas que possuía no banco não valiam mais nada.
Segundo contava meu Pai, foi um dia de extrema aflição para todos, pois meu Avô encerrou-se em seu escritório e de lá não saiu até o cair da noite.
Não permitia que ninguém entrasse, nem sequer para lhe alcançar um prato de comida.
Estava ali encerrado, pensando.
Quando saiu, minha Avó Mathilde, meu pai e meus tios aguardavam, nervosos, o que diria o chefe da família, a quem todos obedeciam e seguiam sem pestanejar.
Com a serenidade que lhe era habitual, meu Avô sentou-se à mesa e, com uma única frase, decidiu os rumos da Família Mondadori dali para a frente:
" Nós seremos como um feixe de varas. Unidos, sairemos ilesos e ainda mais fortes desta situação. Se nos deixarmos levar pelo desespero e pelas discussões vãs, nos terminaremos."
Essa lição me foi passada pelo meu amado Pai, o Dr. Edgard, meu exemplo de homem de caráter, de homem digno e de bom coração, para quem, acima do dinheiro, importava a união familiar.
Meu Pai honrava lo que tenia bajo los pantalones.
Aprendi com ele que nem tudo na vida é medido pelo dinheiro, pois há coisas infinitamente maiores que esse senhor.
Meu Avô materno, Antônio, partilhava da mesma opinião.
A boa fortuna, - e tomara o fosse, não é condição permanente, perene, imutável.
Por isso, em tempos de crise, lembro dos ensinamentos de meus antepassados e das lições de vida que me deixaram, e a maior delas foi, é, e sempre será, o amor.
O afeto.
A união, tão bem representada pelo feixe de varas.
O abraço que acolhe, afaga e acalma.
O gesto que ampara.
Para isso estamos, afinal.
E que jamais se aplique a nós aquele triste ditado: " era uma pessoa tão rica que, de tão rica, chegava a ser pobre"!
























Nenhum comentário:

Postar um comentário