sábado, 11 de outubro de 2014

Novas Histórias de Lucrécia, a Peidorreira - Parte 2

Após quatro horas na clínica de beleza em Santo Tomé, Lucrécia e suas amigas precisavam, urgentemente, de um lanche.
Tinham saído de Posadas pela manhã cedinho, o almoço fora frugal, quase nada, considerando a necessidade premente de emagrecer e, ainda, porque os tratamentos da tarde não requeriam estômago cheio.
Foram parar numa lancheria que ficava na rua principal da cidade onde, depois das 6 da tarde, costumavam reunir-se estudantes, aposentados e grupos de amigos, a fim de apreciar o final do dia saboreando una cerveza helada.
Escolheram uma mesa e abancaram-se, pedindo o menu ao garçom que, de início, já achou estranho o modelito de Lucrécia, em plena luz do dia vestindo uma saia de couro preta e uma blusa de renda da mesma cor, brincos dourados e grandes e um cabelo escovado, lisérrimo, fruto da escova progressiva que há pouco fizera.
Ali ficaram as três amiga, empanturrando-se com pães de queijo e torradas de presunto e queijo regadas a Coca Cola.
Eu mereço, pensava Lucrécia, comendo vorazmente a meia dúzia de pãezinhos que chegaram.
Mexia-se todo o tempo na cadeira, louca de dor nas pernas e no abdômen, fruto da criolipólise e das massagens absurdamente fortes a que se submetera para melhorar o visual.
Por la belleza, todo!, sentenciara  la senõra Babú, e Lucrécia, embora obediente aos conselhos da mãe, jurara a si mesma: criolipõlise, nem em mil anos!
Nunca mais!
Comia e peidava solto e bem como ela gostava, o som alto da música não deixava ninguém escutar nada e, se por acaso ouvissem, pouco se lhe dava.
Afinal,  era conhecida em toda aquela região e sua fama, divulgada pelas redes sociais, era objeto de permanentes comentários.
No fundo, ela adorava tudo aquilo.
Andava pensando, inclusive, em candidatar-se à vereadora nas próximas eleições a fim de levantar  a bandeira dos pobres e oprimidos peidorreiros, discriminados em todos os locais.
Como se o povo não peidasse!
Terminado o lanche, quase uma hora depois, dirigiram-se à farmácia, a fim de completar o tour de beleza.
Lá chegando, Lucrécia entrou porta adentro e nem ligou para o fato de a farmácia estar apinhada de gente e, ao lado, precisar pegar uma ficha para ser atendida.
E foi logo perguntando, moço, tem betacaroteno? e ômega três? e chia, tem? Quanto custa a caixa? Quero a maior, com 60 comprimidos...e, sem esperar a resposta, já lascava outra pergunta: quanto custa aquele pote de Nívea para pele extra seca?
A expressão do funcionário da farmácia era a de um misto de sufoco com riso e, sem saber ao certo o que fazer, apenas disse: usted tiene que aguardar, hay personas que llegaram primero...
Lucrécia riu alto, mas por dentro.
Esperar, ela?
Sabia uma maneira infalível de botar todo mundo pra correr dali, e rápido.
Tinha comido muito pão de queijo com Coca Cola, a pressão estava grande.
Pssssssssss....
E soltou um surdo poderoso e insuportavelmente fedido.
Recostada no balcão com cara de otária, ficou observando de soslaio o povo que debandava sem entender de onde vinha aquele cheiro nauseabundo.
Sorria,olhando para os produtos das prateleiras, nem era com ela.
Por fim, ficaram apenas as três amigas e o funcionário, que tratou, rapinho, de entregar a Lucrécia tudo o que ela queria para poder, ele também, rapar fora dali.
E foi assim que Lucrécia, a peidorreira, deu por encerrado seu  périplo na clínica de beleza em Santo Tomé, onde não pretendia mais voltar, pois sentira muita dor e o resultado não fora tudo aquilo que tinham alardeado.
Chegando em casa, encontrou la senõra Babú em polvorosa: tinham recebido um convite para ir ao casamento de uma afilhada, uma festança de arromba no Rio de Janeiro.
Prepará-te Lucrécia! Nos vamos a Brasil! A mi me encanta!
Um novo capítulo começava: era preciso programar a viagem à cidade maravilhosa.
( continua num outro dia qualquer).

Um final de semana maravilhoso a todos, queridos amigos!







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