sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Conversando Com Meus Botões

A minha Mãe maravilha, a dona Kila, que sabia das coisas, tinha um hábito que carregava desde os tempos de internato no Colégio do Sagrado Coração de Jesus, em Buenos Aires: acordava por volta de 6, 6 e meia da manhã.
Aquilo era costume seu,  do qual não abria mão.
Eu ficava abismada com aquilo, não entendia a razão que levava uma pessoa a sair da cama tão cedo, inclusive nos finais de semana.
Ela me dizia, nena, es la hora del dia que mas gosto. Fico sozinha, escutando el canto de los pajaritos, rezo, leio, penso na vida...es una hora que tengo solo para mi.
As mães são sábias.
A minha era.
Eu tive a suprema ventura de ter uma Mãe tão linda, que me ensinou tantas coisas que, cada vez que sinto saudade dela, e isso ocorre sempre, ponho-me a pensar que ela cumpriu, magistralmente, sua missão de mãe, e que não tenho o direito de ser egoísta a ponto de querer tê-la para sempre: os anjos, a toda certeza, precisam muito mais dela do que eu.
Me acolheu e me amparou sempre que precisei, o que não a impediu de ter puxado minhas orelhas e de ter sido dura comigo quando precisei.
Arrependo-me das vezes que a fiz chorar, com discussões inúteis.
Lembro-me de todas aquelas brigas tolas e que, por sorte, não foram muitas, não fecho os dedos de uma mão para contá-las.
Hoje, aos 53 anos, vejo que Minha Mãe maravilha, a que sabia de todas as coisas, tinha razão, e eis-me aqui, a imitá-la: acordo cedinho, 6 e meia, 7 horas, faço meu matecito e, escutando o canto dos pássaros, ponho-me a pensar na vida, numa conversa solitária com meus botões, solitária mas altamente produtiva, pois aquela horinha em que estou só é a que serve para repor minhas energias, a que uso para meditar, para respirar fundo e encarar mais um dia.
Nas coisas mais simples, vejo uma extrema beleza: o jasmim encantado carregado de flores, dançando ao toque da brisa matinal, a orquídea que acabou de florescer, o beija flor que vem, todas as manhãs, exibir-se para o sol que recém começa a surgir, os canários e sua música, as árvores, saudando a manhã...
Minha Mãe maravilha, a que sabia de todas as coisas, me transmitiu o amor à natureza e à contemplação, e a tudo o que alimenta nosso espírito e nutre nossa caminhada diária: a fé, a sintonia com as energias positivas,  a alegria, o bom humor.
Obrigada, Mãe!
Longe dos meus olhos estás, mas sempre perto do meu coração!



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