terça-feira, 30 de setembro de 2014

La Depresión

Minhas tias maternas Alba Mercedes e Maria Luisa sofriam de depressão.
Minha Mãe sofria de depressão.
E eu me pelo de medo de sofrer de depressão.
Fiquei anos e anos escutando aquela frase que me parecia fatídica, quase uma sentença de morte, que minha Mãe pronunciava num tom de voz baixo, solene: Albita está con depresión. Maria Luisa tiene depresión.
Eu não entendia, ou me fazia de louca para não entender a razão daquele sofrimento todo pelo qual minhas tias passavam.
Choravam por tudo e por nada.
Andavam caminhando pela casa feito zumbis, o olhar triste e mortiço, o sorriso de canto de boca, sem vontade. O riso, antes torrencial, transformara-se apenas num murmúrio sem graça, murcho.
Nada agradava, nada era bom.
Depois, minha tia Albita foi embora e minha Mãe se viu sem sua grande amiga e parceira de tantas viagens que fizeram juntas.
Caiu em depressão.
Dois anos depois, ela foi embora.
Um ano depois dela, minha outra tia, Maria Luisa.
Hoje me vejo pensando no dilema daquelas mulheres que tanto amei, minha Mãe e minhas duas tias, e, sinceramente, é coisa que não gostaria que me sucedesse.
Conclui que as atividades funcionam como um antídoto para esse mal, ao menos no meu caso.
Mente desocupada, mente preocupada, diz o ditado.
Não é tão simples assim, mas a vida tem me mostrado que, do outro lado da família - minhas tias paternas, essas não sofreram de depressão.
Mantinham-se em atividade constante, envolvidas com os mais diversos afazeres, que iam desde a pintura de imagens da Igreja ao plantio de rosas ou à fabricação caseira de vinho de laranja.
Estavam muito bem obrigada até o dia em que, bem velhinhas, foram observar novas paisagens.
Talvez por isso, com tais exemplos, eu fuja do ócio.
O ócio não me faz bem.
Quando me pego triste ou pensando sobre questões que fogem de minha alçada, trato logo de sair por aí, inventando coisas.
Para mim movimento, novos desafios e projetos são remédio.
No fundo,  o que a gente quer,  e precisa, é de uma reafirmação da vida.
Mesmo que já tenhamos trilhado um bom pedaço do caminho.



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