sábado, 13 de setembro de 2014

Para Graciela, Minha Amiga Flor

Tenho uma amiga argentina que conheci quando tinha 16 anos, e foi mais ou menos assim:
Num dia lindo do mês de dezembro de 1977, fui ao Alvear com minha mãe e, lá chegando,  minha tia Maria Luisa me convidou para ir até a casa de uma amiga sua, chama Mabel, para encomendar uma torta doce para o Natal, que se aproximava.
Como lembro tão bem daquele dia de calor, eram umas 11 da manhã e nós duas saímos por aquelas ruas poeirentas do Alvear, caminhando devagarinho, de braços dados, sob a sombra das árvores, pois Alvear era assim, não tinha calçamento nas ruas mas as árvores sombreavam todos os espaços, e o calorão diminuía com o ventinho fresco que soprava.
A casa de dona Mabel, a amiga de minha tia, distava apenas três quadras dali, uma casa antiga, grande, de paredes imensas e largas, típica moradia argentina com seu saguán (corredor) e, logo à direita, uma sala espaçosa.
Dona Mabel era linda, tinha olhos castanhos grandes e brilhantes, boca carnuda e um sorriso maravilhoso, voz clara e forte, cabelos castanho claros, curtos. Abriu a porta com um avental e um vestido estampado, vestido de verão e, sorridente, nos fez entrar.
Ela olhou para mim e falou, mas que menina bonita, es la hija de Kila? Tu es muy bonita, falou, com aquela mistura encantadora de espanhol e português.
Nos serviu um suco de pomelo bem gelado e ficou acertando os detalhes da torta com minha tia.
Lá pelas tantas, surgiu à porta da sala aquela que seria minha grande amiga, aquele tipo de pessoa que a gente conhece, convive um tempo, a vida separa mas o coração não esquece, porque o amor não tem tempo, o amor é imortal e a amizade sincera também.
Graciela é seu nome, mas todo mundo a chamava de Cotita ou Coty, e assim foi que nos conhecemos.
Começamos a conversar e minha tia perguntou, não queres ficar um pouco mais por aqui?
Eu fiquei, encantada com minha nova amiga, tão bonita e charmosa que a gente não se cansava de olhar para ela: cabelos longos, passando, e muito, dos ombros, magra, não muito alta, olhos castanho claro, a mesma boca de sua mãe, dona Mabel, um narizinho pequeno, fininho e levemente arrebitado, aquele nariz era muito show!
A Cotita parecia uma flor,  de tão delicada!
Minha amiga Cotita arrasava corações no Alvear, e logo nos enturmamos que tal maneira que, parecia, éramos amigas de infância!
Convidaram-me para almoçar.
E aí, meus amigos, eis que, quando me sento à mesa, apareceu aquele que seria meu namorado por dois anos, o irmão da Cotita, recém formado na Marinha Argentina, um moreno de arrasar, de tão lindo que era, e que grudou o olho em mim e eu nele, nem me lembro, a bem da verdade, qual  foi o cardápio do almoço, só tinha olhos para Leon, esse era o nome dele.
Dali por diante, para resumir, foi o seguinte: o verão mais fantástico que passei em minha juventude, perdidamente apaixonada pelo irmão da minha melhor amiga, mimada pela sogra e cercada de amor, afeto e carinho por todos os lados.
Sexta feira à tarde eu me mandava para o Alvear e ficava na casa de minha tia Maria Luisa, e a programação começava cedo: à tarde, íamos tomar banho no Rio Uruguai,  Leon nos levava numa caminhonete, aos solavancos, numa estradinha de terra completamente esburacada, e quem dava bola para isso?
A tardinha voltávamos, para logo mais, à noite, nos reencontrarmos num barzinho horroroso que tinha em Alvear, era o único, eu acho, mas quem dava bola para isso?
É como eu digo, quando estamos felizes e com pessoas verdadeiras ao nosso lado, todos os lugares são belos.
Fiz muitos passeios  de chalana com meu amado Leon, fui a muitos bailes com minha amiga Cotita e passei momentos extraordinariamente felizes com aquela família que tão bem me recebeu: dona Mabel, seu Leon, o pai, minha amiga Cotita e seu irmão Leon.
Esses amores, a gente carrega no peito para o resto da vida, e não há distância capaz de esmaecer ou apagar o que nos fez felizes.
Há tempos eu queria escrever para ti, minha amiga Cotita, apenas para te dizer que guardo todos vocês num lado muito especial do coração.
Apenas para dizer-te, minha amiga querida, que te amo muito!




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