quinta-feira, 3 de abril de 2014

Bullying

Quem sofreu jamais esquece.
Aos 8 anos, meus Pais decidiram que eu iria para outra escola.
Aquilo me doeu, viu.
Trocar o meu Felipe Néry, a minha escola amada por outra, totalmente desconhecida, não era lá coisa para se achar muita graça.
No Felipe, eu era livre.
Livre para comer sopa de trigo até me fartar, subir na árvore do pátio, brincar com meus colegas e, também, brigar com eles na saída.
Isso, aliás, era um caso à parte.
Nós ficávamos nos encarando todo o período de aula, resmungado, entre dentes: me espera na saída...e, em plena rua de terra, resolvíamos nossas pendências com muito puxão de cabelo, algumas cusparadas e uma que outra pedrada.
Sim, éramos selvagens. Doces bárbaros.
No dia seguinte, todos estávamos rindo juntos, e era dessa forma que resolvíamos qualquer tipo de implicância ou ofensa de um para o outro, ninguém levava desaforo pra casa.
No Colégio Santa Teresa de Jesus, mudou a bolachinha.
Simplesmente detestei aquilo. Uma escola enorme, gelada, com uma turma que eu não conhecia e onde uma colega se exibia mais que a outra.
Foi um ano difícil.
Voltava para casa emburrada,  sentava para tomar o café que a Mãe preparava para mim e não dava um pio, ruminando por dentro. A Mãezinha me dizia " que te pása, nena, no te gusta el colegio?"
Nãoooooooo!!!
Nem pedras havia na rua da escola pra gente se divertir na saída!
Como eu era xucra, vinda do Felipe Néry, algumas colegas me olhavam e riam, sabe, aquele risinho insuportável de superioridade.
Eu chegava em casa, e chorava. Não entendia aquilo, não sabia como me defender. Até porque, quando minha Mãe estava por perto, ou a professora, elas me tratavam muito bem.
Quando me viam sozinha, lá vinham elas com o sorrisinho asqueroso e os mais diversos apelidos.
 Um era o predileto: beiçuda.
Eu era uma criança magra, mas o bocão, esse nasceu comigo.
Aquilo me deixava tão mal, todo santo dia eu me olhava no espelho, analisava minha boca, e pensava: como é possível isso?
E chorava.
O Bullying é assim, uma coisa odiosa que te marca para o resto da vida.
Eu, cria do Felipe Néry, louca para dar uns bofetões naquelas idiotas, nada podia fazer. Era feio brigar, aquilo era coisa de piá de rua, não de uma menina educada, era o que me diziam.
Engoli o apelido e a raiva por anos a fio, até a 8ª série, quando o grupinho se dissolveu, uma foi embora, outra saiu da escola, a outra sumiu no mundo.
Foi quando pude respirar e enxergar a escola como ela realmente era: grande, linda, com um pátio imenso, uma biblioteca lotada de livros, a banda, a quadra de esportes, a capela, os professores maravilhosos.
 Mas a marca ficou.
Muitos anos depois, por puro acaso e em circunstâncias diferentes, encontrei o trio que me torrou a paciência por vários anos.
Uma, vi num shopping de Porto Alegre: uma matrona gorda e feia como a morte, em nada lembrava a garotinha loira e magra que fora um dia.
Outra, encontrei numa audiência no Foro, escabelada e com meia dúzia de dentes na boca.
A que sumiu no mundo, avistei faz um par de anos, muito bonitinha, mas vazia e burra de chorar no cantinho.
Nenhuma delas seguiu com os estudos, pararam por ali mesmo.
Claro que a primeira coisa que eu fazia, a cada encontro, quando chegava em casa, era olhar longamente para minha boca na frente do espelho e, depois, para meu belíssimo Diploma pendurado na parede.
Nessa ordem.
Naqueles dias, o risinho de superioridade foi o meu...

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