segunda-feira, 28 de abril de 2014

Pgraia

Quando morava em Porto Alegre, isto lá pelo ano de 1985, tinha um colega de trabalho que costumava acrescentar a letra G antes da letra R, ou, então, simplesmente engolia alguma sílaba e enfiava outra completamente diferente, nada a ver com nada, mas a letra G, essa não faltava.
Quando chegava alguém novo no escritório, ele, prontamente, se adiantava e, estendendo a mão, lascava:
Muito pragzer, Alfredgo.
O recém chegado olhava em volta, assim, meio em falso, tipo será que entendi bem? e o povo sufocava o riso.
Quando atendia o telefone, Pgrocuradogria, Alfredgo, às ordgens.
Aquilo era motivo de comentários no escritório e fora dele, nos almoços entre colegas e, a tal ponto a coisa ficou engraçada que, sempre que podíamos, começávamos a imitar o camarada. Chegamos, certa feita, a fazer um campeonato para quer quem o imitava melhor; o ganhador levaria para casa uma caixa de bombons.
Francamente...
Essa mania de fazer pouco dos defeitos alheios é algo feio, sim, mas a vontade de rir que toma conta da gente é deveras incontrolável.
A cada almoço, se ele ia junto, nem dava para almoçar direito, o Alfredo olhava o bufe e voltava, anunciando:
hoje tem salada de magnese, tem um monte de verdugras e, de sobregmesa, cregme de fgrutas. Um podegue!!!
Difícil almoçar com um barulho desses. Um bagrulho!
Certo dia, saímos, uma turma de amigos, e, entre uma caipira e outra, o pileque foi pegando e, quando nos demos conta, estávamos todos falando na língua do G, ou melhor, arremedando o pobre Alfredo que, por ser véspera de feriado, tinha declarado, solenemente, que não poderia nos acompanhar porque iria para a praia.
Ou melhor, para  a pgraia.
As gargalhadas estavam já tão altas que o pessoal das mesas nos olhava e ria também, mesmo sem saber qual a razão de tamanho estardalhaço.
Nós nos perguntávamos, uns aos outros:
E aí, não quis ir pra pgraia?
Então, me conta, porque desististe de ir pra pgraia?
Deixaste de ir pra pgraia só porque o Alfredgo foi, é?
E dê-lhe risadas e tapas na mesa e nos ombros uns dos outros.
De repente, o Auri ficou mudo. Mudinho da silva. Branqueou, depois ficou vermelho até a raiz dos cabelos, as orelhas de abano meio que arroxearam.
Um a um, fomos parando, intrigados com o silêncio do Auri.
Mas que diabos...
Do nada, surgiu, entre nós, o Alfredo.
Sério que nem guri cagado, ele nos disse, meio chorando:
Pessoal, pergdi a cagrona pra pgraia. Tanto que eu queria ir pra pgraia...eu adogro pgraia; posso ficarg aqui com vocês?
Fez-se um silêncio de sepulcro.
As pessoas das outras mesas pararam de olhar, nem te ligo, não sei de nada.
Acabou-se a noitada, um a um fomos nos levantando e saindo de fininho, ninguém ousou encarar o Alfredo, salvo o Auri que, na condição de chefe do setor, ficou pra tentar ajeitar o que não tinha conserto.
E nós, bem, nós, até hoje estamos nos perguntado se o Alfredo não escutou, se fez de louco pra passar bem, ou então, se ficou rindo da nossa cara.
Vergdadeigro mistégrio!





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