terça-feira, 29 de abril de 2014

El Pañuelo de Mamá

Como está chegando o Dia das Mães e sou de véspera, comecei a dar  meus costumeiros volteios, sempre que quero evitar um fato ou condição da qual não tenho como escapar: sim, eu não tenho mais mãe.
É uma pena, um desastre, é algo que deixa a gente tão infeliz e com uma sensação de desamparo que, passe o tempo que passar, ela fica ali, como se fosse um ínfimo espinho encravado no coração.
Depois que não temos mais nossa mãe,  tudo fica bastante brutal, no sentido de que aquele amor incondicional  que desfrutávamos, na maravilha dos dias, das semanas, dos meses e dos anos que corriam lentamente, e que tivemos a ventura de viver,  nunca mais.
Não há palavras para descrever o que produz na gente a ausência da mãe.
Entretanto, para homenagear a minha Mãe Maravilha, a dona Kila, como todos a conheciam, embora seu nome fosse Célia Angélica,  não falarei de tristeza, deixarei de usar palavras como saudade, eterno, e deixarei  de fazê-lo porque ela não gostaria de me ver triste e, como dizia meu pai, com lágrimas.
Quando falar de minha Mãe, lembrarei da alegria de seu riso, exaltarei sua sabedoria,  honrarei o sobrenome que ela me deu - Fernández, tem sobrenome mais bonito que esse? só o Mondadori, tão bonito quanto.
Desculpem-me, amigos queridos, vejam vocês o que minha Mãe é capaz de evocar em mim.
Somente sentimento bons, é o que a lembrança dela me traz porque jamais a ouvi gritar, o contraponto perfeito à figura do meu pai,  que falava bem alto com seu vozeirão, a suprema ternura com seu andar lento, seus cabelos castanhos e curtos, quase na altura dos ombros, fininhos como seda, olhos castanho escuros sempre luminosos e sua voz, que  entremeava  expressões em espanhol e em português, num dialeto único, só seu.
Para homenagear minha Mãe, cantarei muchos tangos y boleros, especialmente aqueles que ela mais gostava.
Sim, a minha Mãe era um ser iluminado e é assim que a vejo sempre, porque penso nela e nos ensinamentos que meu passou,  todos os dias,  não somente no segundo domingo de maio.
Minha Mãe era vaidosa e elegante, andava perfumada e bem vestida e tinha uma gaveta em sua cômoda onde guardava uma coleção de lenços e echarpes para todas as ocasiões. Cada vez que abria a gaveta, dela exalava um perfume inconfundível, um cheiro que lhe era peculiar, uma delícia!
Aquilo exercia sobre mim uma espécie de encantamento; enquanto ela escolhia o lenço ou a echarpe, eu ficava ali, muda, observando aquele ritual. Ela percebia meu olhar e, rindo, me dizia: " Mirá que lindos, nena, los pañuelos de mamá!"
Para te homenagear, Mãe, no teu dia, colocarei um pañuelo colorido e perfumado como tu, uma forma de te sentir mais perto de mim.
Sei que, de onde estiveres, sorrindo, dirás: " que hermoso pañuelo, nena,  igualito al de mamá!"




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