quinta-feira, 10 de abril de 2014

Fogão a Lenha

Um fogão a lenha tem seus encantos!
Havia um na casa de minha avó materna, Adelaida, na casa do meu avô paterno, Atílio e, claro, na casa dos meus pais.
Na casa de minha avó Adelaida, no Alvear, ele ficava bem no meio da cozinha, sempre aceso, com suas brasas brilhantes e um grande panelão de doce de mamão, borbulhando, dourado,  perfumando a casa toda e deixando a vizinhança com água na boca. Estirados sobre o chão e junto ao calor do fogo, estavam os gatos de doña Adelaida, um preto, outro cinza, um bege, um, cor de burro quando foge; os gatos não perdiam ponto de nada, sempre atentos aos movimentos de Otília, a cozinheira que, uma e outra vez,  jogava para eles uns pedacinhos de carne. No forno, um pan dulce crescia, devagar, como devem crescer os pães, feito especialmente para el té de la tarde, outra das tantas maravilhas que eram preparadas na casa da vó. Nós chegávamos de Itaqui lá pelas 11 da manhã, minha Mãe e eu, e íamos direto para a cozinha, onde tomávamos um chá com leite com pão torrado e manteiga, pão torrado na chapa do fogão - um espetáculo!
Na casa de meu avô Atílio, o fogão a lenha também ficava no meio da cozinha e dali saíram as melhoras iguarias que comi na vida, desde o simples feijão até um suflê de aspargos ou um tatu assado, cujo molho amadeirado mãe Gija, a cozinheira, me fazia provar, embebido em pedacinhos de pão. Nós ficávamos sentadas na cadeira da cozinha, ela e eu, ela sempre destampando as panelas e abrindo a portinhola do fogão para colocar mais lenha, não sem antes gritar para os cachorros Amigo, Tupi  e Chita, sempre latindo e abanando a cola: " saaaiiiiiiiiiiiii ".  Lá pelas tantas, aparecia meu avô para pedir seus dois ovos fritos e um bife na chapa.
Amigos, um bife feito numa chapa de fogão a lenha,  com um pedaço (generoso) de pão d'água, é para alegrar qualquer coração!
Na casa de meus pais, o fogão a lenha ficava no canto da cozinha, perto de uma janela.
Como lembro do meu Pai, em sua cadeira de balanço, tomando lentamente seu matecito, a chaleira sobre a chapa quente, dividindo espaço com uma panela de doce - minha Mãe fazia a mesma coisa que minha avó fazia, e eu  tento fazer igual, porque cheiro de doce, para mim, é sinônimo de felicidade.
O fogão a lenha começava a funcionar logo ao primeiro frio do Outono, e só era deixado de lado no rigor do Verão.
Aquecia a enorme cozinha de nossa casa, exercendo sobre nós, sentados a sua volta observando o estalar das lenhas e as brasas que se formavam, uma espécie de encantamento, até precisar sair para o pátio gelado e buscar mais lenha, e assim passávamos, conversando fiado por horas a fio.
O ventinho frio de hoje me fez  lembrar dos fogões a lenha que fizeram parte de minha vida,  em torno dos quais tantas histórias foram contadas e tecidas, alegrias compartilhadas, almas aquecidas.
Momentos lindos e mágicos que não se perderão, nem com a bruma do tempo.




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