domingo, 27 de abril de 2014

Cinquentinha

Uns meses antes de completar 50 anos fiz altos planos, um mais mirabolante que o outro: festa faraônica, viagem a lugares exóticos, um ano sabático, quem sabe?  enfim, tudo o que a mente levemente enlouquecida de uma geminiana é capaz de imaginar.
De tanto planejar, a coisa foi indo de tal forma que acabou acontecendo exatamente o que eu mais temia, ou seja, nada.
O dia dos meus 50 anos amanheceu como qualquer outro e não houve espoucar de foguetes, nem banda marcial ou orquestra para saudar o meio século de minha existência.
Apenas uma simples comemoração com meus colegas de trabalho, uma saída para jantar mais tarde, e isso foi tudo.
Uma decepção, confesso.
Mas a decepção foi, de fato, comigo mesma, por conta daquele velho hábito que insisto em afastar de mim, de esperar demais dos outros.
Meu presente de aniversário para mim mesma foi um choque de realidade e uma conversa tête a tête, sem retoques e sem nenhuma condescendência, não tive a menor chance de escapar e não vislumbrei outra saída a não ser enfrentar meus medos, abrir o armário e tirar de dentro dele todos os fantasmas que me assombravam, as realizações, os caminhos que percorri, os desvios que tomei, é, foi uma conversa e tanto, daquelas em que a gente vara a noite e vê o dia surgindo...não dá pra sair incólume de um papo desses, não mesmo.
Por que razão precisamos esperar pelos outros para fazer o que desejamos e para realizar nossos sonhos?
Esta foi a primeira questão que se impôs e que ficou ali, incômoda, me cutucando.
E descobri que eu, e somente eu, sou a responsável absoluta por estes ou aqueles feitos em minha vida, pela viagem que desmarquei, pelo erro cometido, pelo amor que deixei passar com medo de vivê-lo, pela história que cortei pela metade apenas para me sabotar, pelos acertos, pelas vitórias.
Os 50 chegaram e se, de um lado, me empurraram de forma definitiva para resolver questões há muito tempo pendentes, é bem verdade que, de outro, me trouxeram uma certa urgência em colocar do lado de fora de minha vida alguns pesos inúteis, praticamente me obrigaram  a descarregar  os fardos que se tornaram pesados demais, e a focar apenas no que realmente interessa.
Então, quase chegando nos 53 e depois daquele papo cabeça comigo mesma, a coisa ficou mais ou menos assim:
Faço somente o que gosto, desde que não prejudique ninguém;
Digo não sem a menor cerimônia, porque meu tempo de aturar amolações já era;
Fico apenas na companhia de quem gosto muito e que sei que gosta muito de mim;
Não cultivo mágoas nem rancores, de todo que me hicieran de malo, me olvidé;
Procuro viver com alegria, rezo várias vezes ao dia e agradeço imensamente a dádiva de estar aqui, de acordar pela manhã e ver o Sol que vem surgindo, de observar as estrelas, ouvir a chuva, cuidar de minhas plantas, de ser senhora de mim e de meus desejos;
Estou tentando, bravamente, comer menos e andar mais, mas sem stress ou neura;
Cultivo os amigos que tenho, procuro dar a eles o melhor de mim;
Não tenho mais bagagem, levo apenas o estritamente necessário;
Leveza,  joie de vivre...punto e basta!







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