segunda-feira, 31 de março de 2014

O Instituto da Sesta

Como boa neta, sobrinha e filha de argentinos, a sesta sempre fez parte da minha vida.
Lembro quando, ainda criança, naquelas tardes de sol insuportavelmente quentes do Itaqui, minha Mãe maravilha me obrigava - sim, obrigava a " dormir un rato", isto é, vamos dormir só um pouquinho, pois neste horário não há nada melhor para repor as energias. Que energia eu, com 5 aninhos, precisava repor?
Antes tinha era energia de sobra pra gastar mas, obedecer era preciso.
A sesta vinha acompanhada de verdadeiro ritual, a Mãe fechava uma porta, que dava para a copa da casa, e instalava-se um silêncio de sepulcro. Estendia esteiras de palha no chão de parquê  encerado,  colocava o travesseiro e estirava-se ali, suspirando de felicidade. Eu, do seu lado, com os olhos enormes tentava, tentava, e nada de vir um pouquinho de sono, que fosse,  mas não tinha saída, ao menor movimento ou tentativa de sair dali, ela me dizia " que pása, nena?"
Adeus, fuga para o pátio...só me restava ficar escutando a orquestra das cigarras, enlouquecidas, agarradas nos galhos dos cinamomos.
Queria ver minha mãe fula da vida, era fazer barulho na hora da sesta, que durava não " un rato", mas umas boas duas horas; ao raiar das 16, 16:30, ela acordava, feliz da vida, para organizar o famoso lanchinho básico da tarde ao qual já me referi numa post anterior, fazer un matecito e sentar com meu Pai na cozinha para tomá-lo, bem devagar.
Depois que fui morar no Portinho, o instituto da sesta foi definitivamente abolido e, até pouco tempo, somente lembrava-me dele -  não sem saudade!
Vejam vocês como a vida é engraçada, o mundo gira e voltamos ao nosso ponto de origem.
Depois de um verão tórrido como foi este último, e de ter (agora) as tardes livres para fazer o que me dá na telha(graças a Deus) resolvi, certo dia, sestear um pouco.
Não vou negar que achei aquilo simplesmente sensacional!
Das 14 às 16, dormi como uma bem aventurada, até sonhar, sonhei!
E, daquele dia em diante, declarei reaberto o instituto da sesta, agora bem mais incrementando: pijaminha, leitura de ZH ou de algum livro qualquer, una galletita e, então, lá pelas folhas tantas, deixo-me arrastar por aquele sono que vem como se fosse uma onda, e ploft...durmo, durmo como uma pedra.
E depois acordo, suspirando de felicidade, como minha Mãe, pois qualquer semelhança não é mera coincidência.
Só não como mais trigo com leite e rapadura!




Nenhum comentário:

Postar um comentário