quinta-feira, 27 de março de 2014

Portinho, 242 Anos!

Cheguei em Porto Alegre aos 16 anos, acompanhada pela minha Mãe maravilha que, dois dias depois, considerou que eu estava devidamente instalada no Pensionato Teresiano, me deu um longo abraço, muitos beijos e nadica de nada conseguiu falar além de um sussurrado "cuidate, nena",  sufocada pelas lágrimas.
Ahhh, como hoje, e somente hoje, entendo a minha mãe, hoje, com minhas filhas, meus três amores morando longe de mim...mas isso é outra história.
Refiro-me ao ano de 1978, março, eu, chegada lá do Itaqui, com minha malinha de roupas um tanto quanto bregas, eufemisticamente falando, sem conhecer nada nem ninguém, solta naquela cidade imensa.
Que pavor, viu! Nem de ônibus eu sabia andar. Itaqui não tinha ônibus, ora bolas! E só se aprende tentando, e foi assim que, pela primeira na vida, aos 16 anos, subi num ônibus de transporte coletivo urbano, subi, e não sabia como fazer pra descer: será que peço ao motorista? pergunto para aquele homem estranho, que fica gritando " um passinho à frenteeee"? Precisava ir até a Biblioteca da UFRGS, mas vi o prédio, e  o ônibus se foi, Osvaldo Aranha afora, e eu ali, suando, queria descer e não sabia como, até que lembrei de minha Mãe - como sempre, com seus sábios conselhos, " nenita, quem tem boca vai a Roma", e me atrevi a perguntar, como faço pra descer do ônibus? Ufaaa. Precisei voltar seis quadras, mas aprendi.
O primeiro ano foi muito difícil.
Acostumada a andar livre pelas ruas do meu Itaqui, morando numa casa grande, de repente meu espaço resumiu-se a um pequeno quarto, onde fazia um barulho infernal, e tudo era muito, muito diferente.
Pior eram os domingos, nos quais o povo do Pensionato que morava em cidades vizinhas a Porto Alegre se mandava e ficávamos somente as do Interior.
Quanta solidão!
Saudade, saudade, saudade. Eu chorava horrores, mas quando o Pai e a Mãe me telefonavam - o que acontecia só aos domingos, as 20 hs, eu fingia estar muito bem, afinal, não tinha sido aquele o meu sonho, o de ir estudar em Porto Alegre? Tinha mais era que aguentar.
O tempo passou, e Porto Alegre foi me seduzindo, lentamente, aos poucos. Sua gente,  suas ruas, parques, a vida cultural, a agitação.
Morei três anos no Pensionato e mudei para um apartamento na Av. Independência.
Aí sim, virei gente grande! Estava terminando a faculdade, morava sozinha e o Itaqui era muito bom, sim, mas...a vida no Portinho era muito melhor! O Portinho e eu viramos as melhores amigas de infância, companheiras inseparáveis, nossa cumplicidade era total. Decifrei o mapa da cidade, conhecia todos os lugares, como ir, como voltar.
Meu tempo de Porto Alegre foi de doze anos, um somatório de coisas boas, experiências que carregarei para toda a vida, assim como as amizades que fiz por lá.
Voltei pra Itaqui em 1990 mas, sempre que posso, tomo o rumo do Portinho, e a alegria invade meu coração quando avisto a Ponte do Guaíba, os armazéns do Cais do Porto, as luzes, o barulho, o vai e vem das pessoas.
Obrigada, Porto Alegre, amiga que me acolheu  tão bem, que me acarinhou, que me passou grandes lições!
Te amo, meu Portinhoooo, por isso sempre quero voltar!







2 comentários:

  1. olha o que a Monica Leal postou no blog dela:

    Mídia Social: Recomendo a leitura desse novo blog, da advogada e escritora de Itaqui/RS, Lia Mondadori, que escreve muito bem, compartilhando relatos confessionais da infância, da família, da vida no interior, costumes e fatos da sua cidade.
    Aqui o link: http://liamondadori.blogspot.com.br/

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    1. Obrigada, Vereadora Monica Leal, gosto muito do teu Blog também, um grande e afetuoso abraço. E apareça por aqui quando puder, te esperamos!

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