sexta-feira, 28 de março de 2014

A Rebelião da Vesícula.

Imaginem que, aos 52 anos, terei que me submeter a uma dieta um tanto quanto rigorosa para os meus padrões, sob pena de ter que operar a bendita vesícula que, há alguns dias, resolveu rebelar-se.
Essa notícia me aborreceu bastante.
Fiquei com tanta raiva que nem sequer me olhava no espelho; só de soslaio, e olhe lá. Cara feia é fome ou dor de estômago - no meu caso, dor na vesícula.E para que eu iria olhar minha própria cara de fúria refletida no espelho? Isso só pioraria a situação! Tentava me acalmar, mas nem uma triste bolachinha para alegrar o ambiente eu podia comer. Coisa desagradável, viu.
Andava há várias semanas - essa é que é verdade, com uma dorzinha incomodativa do lado direito e tanto falei nela e dela que, um dia, um colega de trabalho me deu um ultimato: ou vais ao médico, ou te levarei agora!
A la fresca!
Criei coragem e fui, que tal não era o estado da criatura, no caso, eu, para deixar minhas 1001 atividades e ir ao médico. Claro, meus amigos queridos, eu sei que isso é uma grande ignorância mas, podendo, não vou a nada nunca; minha farmácia caseira consiste em sal de frutas, eparema, aspirina e Ceréus, um remédio de china velha, como dizia meu Pai, muito bom para acalmar os nervos, e nada mais.
Na verdade, não sou afeita a medicamentos. Explico: uma vez, por erro médico, quase fui para o andar de cima, sim senhor, só que não: cheguei a dar uma volta por lá, mas fui barrada e mandada de volta, por isso minha verdadeira ojeriza a remédios.
Por sorte, este médico que me atendeu agora - e a quem passei a amar no mesmo instante, tendo em vista o que me falou, disse-me que não era nada urgente, etc mas... fazer dieta é preciso.
Amigos, a minha Mãe maravilha era argentina, como todos sabem, e cozinhava divinamente. Claro que também importou de allá os melhores ingredientes e receitas de que se tem notícia em matéria de comida caseira.
De outra banda, a família paterna, italiana, em nada contribuiu para que eu me tornasse uma mulher magra e esbelta, muito pelo contrário, como é fato público e notório.
Fui criada na base de muito feijão com arroz, carnes com um suculento molho, massas de um sabor incomparável e sobremesas que só, só a minha Mãe e a Dona Gija, que era a encarregada da cozinha na casa de meu avô paterno sabiam fazer.
Um dia passo a vocês as receitas, mas aviso aos navegantes: comprem antes um salzinho de frutas.
Meus lanchinhos da tarde consistiam em trigo com leite gelado e, para adoçar, pedaços de rapadura que meu pai comprava no mercado, canjica com leite (e dê-lhe rapadura), ou uma xícara de café com leite que equivalia a mais ou menos meio litro, com muito pão d'água com manteiga feita em casa, olha o detalhe.
Aliás, um parentese: você já comeu manteiga feita em casa, batida com a nata que ficou daquele leite purinho que o leiteiro deixou na sua casa à primeira hora da manhã? É, isso existiu!
No inverno, aquelas sopas maravilhosas,  fumegantes, perfumando a cozinha e o fogão a lenha com as brasas ardendo, aquecendo o ambiente e o coração.
Sim, meus amigos, me atracavam comida, e eu, né, fazer o que...comia. Tudo era muito bom!!!
Agora, a sra. vesícula decidiu por um fim a minha orgia gastronômica e simplesmente acabou-se a festa: é verdurinha pra cá, frutinha pra lá, chás, imagínate, nem meu copito de leite de 250 ml que eu costumava tomar antes de dormir, claro que com alguns acompanhamentos tipo bolo de laranja ou bolachinha maria, eu  posso mais!
Se ela está rebelde, eu estou revoltadíssima! Pensem bem, no rigor do inverno, somente um triste pratinho de mocotó, e bem raso, vai ser a dose máxima.
É a treva!
Ao menos, uma notícia auspiciosa: posso tomar mate, que não dá nada.
Sim, porque, sin mi matecito...andáte a la quete, vesícula!


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