quarta-feira, 26 de março de 2014

Caramelito

Eu tinha ( e sempre terei) adoração por minhas tias argentinas, as irmãs de minha Mãe, Maria Luisa e Alba Mercedes.
Maria Luisa, a Tia Mary, era uma pessoa culta, diretora de escola municipal no Alvear, sempre inteirada de todos os assuntos do país e do mundo, lia muito, as estantes e os móveis de sua casa eram cheios de livros dos mais variados tipos, desde os infantis, embora não tivesse filhos, passando pela poesia, indo pelos clássicos e assim por diante. Nós nutríamos grande amizade uma pela outra, uma camaradagem de amigas de toda uma vida, apesar da diferença de idade; ficávamos horas juntas, rindo de qualquer coisa e conversando. Ela me mimava como a filha que não tinha.
Alba Mercedes, a Tia Albita, era uma mulher linda, também era diretora de uma escola estadual em Concordia, onde morava, e pra lá fui muitas e muitas vezes passear, sair com ela para tomar banho de rio, comer um fantástico sorvete de doce de leite,   as noites de verão eram pequenas para tanto assunto e, também,  apesar de nossa diferença de idade, nos dávamos muito bem. Ela me mimava como a filha que não tinha.
O que ficou de tantas vivências maravilhosas com minhas tias maternas?
Ficou um saldo muito positivo de açúcar em mim.
Explica-se: elas me tratavam a pão de ló, me davam colo, saiam comigo, mostravam-me coisa novas, faziam a sobremesa que eu mais gostava para me esperar, como se eu fosse uma visita ilustre, só que não, eu era apenas a sobrinha criança/adolescente que chegava na casa delas com suas pequenas histórias pra contar, e nós, simplesmente, nos amávamos. Nosso convívio era doce, terno, agradável, elas, para mim, eram como um porto seguro ao qual eu podia chegar a qualquer momento e arriar as velas. Os abraços estavam ali, as palavras certas e sábias e carinhosas estavam ali.
E havia, também, entre as duas, um traço em comum:  quando percebiam  algum resquício de tristeza em mim elas, prontamente, perguntavam: " No queres um caramelito? Tomá um caramelito, y quedarás muy bien." Era a forma amorosa que encontravam de dizer " estou a teu lado, toma minha mão."
Por tais razões e tantas outras, meu queridos amigos, tenho uma dificuldade extrema em lidar com pessoas amargas, com pessoas/fel, que se comprazem em estragar o dia do outro, em criar uma montanha de dificuldades, em deixar um rastro de destruição por onde andam.
A amargura estampa o rosto desse tipo de ser humano e deixa marcas profundas, o que é uma lástima, com tantas coisas boas que temos sob este céu que nos protege.
Perdoem-me, amargos, mas não podem me culpar pelo excesso de amor que recebi, graças a Deus, o que me leva a perguntar, não sem uma ponta tristeza:
Será que nunca tiveram uma tia para lhes ofertar " un caramelito?"





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