sábado, 22 de março de 2014

L'Origan de Coty

Toda família tem ditos e expressões que lhe são peculiares, algo assim como um código particular que vai se formando ao longo do tempo,  e quando a ocasião requer.
O Dr. Edgard, quando queria referir que algo era muito fino e chique, dizia, " Huummm, igual a L'Origan de Coty (um perfume francês, caríssimo, da época). Mas o mesmo valia quando alguma coisa dava errado, ou não saía de seu agrado ou, pior ainda, exalava mau cheiro: " Huuuumm, soltaram um  L'Origan de Coty"...
Certa feita, Alberto e eu fomos convidados para um baile em Porto Alegre. Baile de gala, de longos e gravatas pretas, o que me fez correr durante mais de mês atrás do modelito, já que não queria fazer feio.
E lá fomos nós, e mais três casais de amigos aqui da fronteira para o tal do baile, num clube chiquetérrimo do Portinho.
Logo na entrada, via-se que a coisa era pra quem tinha café no bule, o que não era nosso caso mas, já que estávamos ali, iríamos dançar conforme a música. Que por sinal, era fantástica. Uma orquestra de cinema, com uns 40 integrantes, uma decoração linda, só gente bonita e glamurosa.
Estávamos entre umas 12, 14 pessoas em uma mesa finamente decorada, como todas as outras, conversando alegremente e, depois, a pista de dança ficou pequena para nosso grupo que, de longe, era o mais animado do baile. Como já disse: interioranos, sempre nós, agitando na festa.
Em nosso grupo havia, também, casais da Capital, amigos nossos, logicamente que bem mais comedidos, mas de igual modo, divertindo-se muito.
Nas mesas,  canapés e outras iguarias, acompanhando a champanhota, que era servida a todo instante; taças vazias, jamais.
Um baile realmente espetacular, perfeito, que corria normalmente até que, lá pelas 4 da manhã, quando todos os casais já estavam dançando em torno da mesa, aconteceu algo.
Algo saiu errado, não deu certo.
Não era pra ter acontecido, mas aconteceu.
E não tinha nada que se pudesse fazer pra remediar a situação.
Nada.
De repente, um cheiro insuportável espalhou-se pelo ar. Um cheiro fétido, nauseabundo, quente, puro ácido sulfúrico, salada de repolho, o escambau. Se lascassem um fósforo, com certeza pegaria fogo.
Num primeiro instante, todos se entreolharam, meio rindo, meio apavorados, aquela sensação de estar em falso e saber que vai cair e não tem onde segurar.
As madames mimimi não sabiam onde enfiar a cara; as do interior,  fizemos aquela cara de paisagem e olhar idiota, e tentamos seguir dançando, só que não dava. O fedor estava, realmente, insuportável.
Até que um dos que tinha vindo da fronteira sentenciou:
Isso é peido!!!
E, como todo mundo se fez de louco e que não escutou, ele berrou:
ISSOOO  É " CHERO"  DE  PEIIIIDOOOOOO!
Foi a deixa que faltava para a debandada.
Saiu todo mundo empurrando-se porta afora, um verdadeiro tropel, desatinados por ar puro, por uma brisa fresca.
Ninguém se atreveu a olhar pra cara do outro, simplesmente, o povo escafedeu-se.
E assim terminou o baile chiquérrimo, finíssimo, para o qual gastei uma nota preta com vestido, sapato, salão e outros penduricalhos.
No dia seguinte, não pude deixar de rir lembrando do Pai: com certeza, derramaram um litro de L'Origan de Coty naquele lugar.


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