sexta-feira, 21 de março de 2014

Ovinho Frito

O meu Avô paterno, Atílio Mondadori, que Deus o tenha, era uma pessoa boníssima, carinhoso comigo, adorava pescar ali, no cais do Porto e, sempre que podia, levava-me junto.
Ele era um homem alto, grande, forte, mas de fala mansa, e sempre me dizia, com sua fala tão linda" vamos, pequena, vamos dar uma volta". E estendia-me as mãos.
Que pessoa bacana, que ser humano especial era o meu Avô Atílio!
Imaginem vocês, queridos amigos, que ele presidia uma mesa onde, invariavelmente, sentavam-se em torno de 15 pessoas, todo santo dia, sem contar os domingos, é claro, que era uma festa a parte.
Italianíssimo, ele adorava aquela gritaria que se formava durante os almoços e jantares, mas bastava um olhar e todo mundo ficava quietinho, e meu tio Carlos Alberto anunciava, em tom solene: silêncio, que vai começar o Correspondente Renner e o papai não escuta!
Fazia-se um silêncio de sepulcro, e começava aquela musiquinha tátátátá... e, logo a seguir, começava:
" aqui fala o correspondente Renner, editado pelo departamento de jornalismo da Rádio Guaíba, como notícias da Associetd Press, Frans Press, e UPI.."
Ninguém podia dar um pio durante o correspondente Renner,  que começava as 13 horas.
Almoçávamos, sempre,  a partir das 13 horas, nunca antes. Meu Avô ficava uma arara se o almoço fosse servido antes desse horário.
Explica-se: todo dia, ele chegava na cozinha por volta de 11 horas e pedia pra cozinheira: " meus dois ovos fritos, Gija".
E seguia-se todo um ritual: um canto da mesa da copa era arrumado com um guardanapo, um prato raso,
pão d'água, garfo, faca e um copo com água. Meu Avô sentava-se ali como se fosse um rei, diante dos dois ovos fritos, e comia-os  lentamente, bem devagar, saboreando cada pedacinho.
Meu Pai adorado Dr. Edgard, tinha a mesma mania: chegava em casa as 11, e pedia: " dois ovinhos fritos, Comadre", e fazia exatamente a mesma coisa que meu Avô.
Tudo isso para dizer a vocês que, quem sai aos seus, não degenera.
Sempre que posso, como um, é, só 1 ovinho frito com pão. Como bem devagarinho, lentamente, saboreando cada pedacinho, como meu Avô Atílio e meu Pai faziam.
Sou alucinada por ovo frito, fico felicíssima depois que como um ovinho frito com pão e,  sempre que faço isso,  tenho a nítida sensação que o Avô Atílio e o Dr. Edgard estão ali, ao meu lado, sorrindo.
Só não me peçam pra escutar o correspondente Renner!



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