sábado, 17 de maio de 2014

Bicicletando

Há dias vinha observando as bicicletas das gurias encostadas  num cantinho da garagem, empoeiradas e de cara feia, e não é para menos, afinal, bicicleta não foi feita para ficar parada.
Então, decidi que estava na hora de levar ao menos uma delas para uma faxina geral, considerando minha súbita vontade de andar por aí, abanando as tranças, livre leve e solta numa bicicleta, e não pude deixar de pensar porque razão deixamos de lado tantas coisas boas, que antes fazíamos, e não nos damos conta do tempo que passa e escorre como areia fininha entre nossos dedos, e as coisas que amamos e nos dão prazer vão caindo no esquecimento, numa espécie de limbo.
Combinando com a atual fase em que me encontro,  de repensar a vida, valores y otras cositas más, passei a mão na bicicleta e mandei arrumar, e o prazer que senti, ao vê-la prontinha, estalando como se fosse nova foi quase infantil, parecido com aquele que experimentei quando ganhei, num Natal, minha primeira bici; é, da primeira Caloi a gente nunca esquece e não seria eu a fugir de tal regra.
Minha Caloi azul com algumas faixas brancas e um cestinho preso ao guidon era tudo o eu precisava, e o que bastava para fazer feliz uma criança de seis anos. Uma bicicleta com duas rodinhas auxiliares que logo, logo, meu Pai tirou, para meu deleite e alegria de minha Mãe. Como lembro do olhar deles, sentados no pátio imenso de nossa casa, tomando mate e me observando a zanzar pelo gramado, desviando dos canteiros floridos.
Com 8 anos, ganhei uma bicicleta grande, minhas pernas mal alcançavam os pedais, mas o desejo de sair por aí era maior que tudo, equilibrava-me do jeito que podia e rapidamente troquei o pátio pela calçada e esta, pela rua.
Que fase espetacular de minha infância! Jamais senti medo, nem de nadar, nem de andar a cavalo e menos ainda de sair bicicletando pelo meu Itaqui, com suas ruas cheias de terra e pedras, isso não tinha ( e não tem) a menor importância, quando estamos felizes o entorno se torna mágico e lindo.
Levei um tombo, quando tinha doze anos, que me rendeu uma cicatriz no joelho esquerdo, mas ela também não foi e não é problema,  convivemos há tantos anos que nem nos lembramos uma da outra, somente em dias de chuva.
Todas essas lembranças, inclusive as de quando estive na Europa e aluguei uma bicicleta para percorrer os vinhedos no interior da Alemanha me fizeram sentir uma vontade doida de andar por aí, com a brisa de um dia  de sol sacudindo meus cabelos e a sensação de liberdade e domínio que só quem curte uma bici entende.
Hoje o dia estava excepcionalmente lindo e, ao raiar das 10 da matina passei a mão no mais novo objeto do meu desejo e saímos, calmamente, como duas amigas que não se viam há muito tempo e precisavam colocar o papo em dia.
Nos entendemos lindo, e lá fui eu, pedalando, até o Porto de Itaqui, observar o Rio Uruguai, que é simplesmente divino, mais ainda numa manhã de maio ensolarada e fresquinha como a de hoje.
Que felicidade,  meus amigos, quanta alegria senti ao reencontrar  a criança que andou de bicicleta, pela primeira vez, aos 6 anos.
E, como diz o ditado, quem aprende a andar de bicicleta jamais esquece!



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