segunda-feira, 12 de maio de 2014

Senso do Ridículo

Aí está um temor que me persegue, e não é de hoje: medo de parecer ridícula, sem noção, fora do esquadro, mal posta, llamale H, como diria minha mãe, fato é que deveríamos vir com um sensor instalado no corpo que nos avisasse, ó, pera aí, stop, isso não é para você, ou é, mas você ficou de bobeira  e perdeu o trem, a fila andou.
A gente não tem esse aparelhinho,  mas conta a ajuda bem vinda dos amigos, da família e dos colegas para que venham nos dizer que daquela forma não está bem, fica feio, será motivo de riso, ou de pena, o que é infinitamente pior.
Quando temos vinte anos, trinta, quarenta, a vida passa e nós andamos por ela flauteado, sem pressa ou qualquer outro compromisso que não o de ser  e descobrir as infinitas possibilidades que ela nos dá; podemos - e devemos surfar nas situações mais inusitadas, temos o domínio da cena.
Lá pelas tantas, começamos a questionar, uma espécie de adolescência tardia, mas muito válida.
Tentamos resgatar o que ficou mal resolvido e esclarecer a coisa toda, se ainda for possível.
Sorvemos apenas o néctar, já que o resto perdeu a importância e não vale mais nem um movimento nosso e muito menos lágrimas, dessas queremos distância, a menos que sejam de alegria.
Nesse meio tempo, entra o que eu chamaria de uma questão de equilíbrio entre aquilo que sempre fomos, o que aprendemos a ser e o que realmente queremos, mas nem sempre o que queremos, dá.
Por mais linda que seja, uma mulher de 50 anos com um mini vestido não ficará bem, não adianta, ela poderá ter se transformado numa boneca de silicone, de matéria plástica, repuxou tudinho o que tinha para esticar, ficou com olhos de ET e boca de...deixa pra lá, não importa, o ar a denunciará,  seu porte, seu jeito, sempre será o de uma pessoa de 50 anos. Aí, uma roupa curta a deixará com um  aspecto esdrúxulo, já que ela não é mais o que pretende parecer.
Esse equilíbrio é deveras difícil e, não raro, escorregamos.
Por tais razões, não consigo entender o que levou uma jornalista tão bacana como a Fátima Bernardes a fazer uma propaganda, em horário nobre, onde aparece abrindo um bocão e devorando uma fatia de presunto, olhando de soslaio para camera.
Terá sido o cachê? Não creio...
Terá sido a vontade de mostrar que é versátil e se enquadra em qualquer papel? Talvez...
Terá sido alguma vaidade que se manteve soterrada durante anos sob o manto da profissional séria e compenetrada, e agora ela cansou, continua uma profissional séria e compenetrada mas só que saber de abobrinhas ou, melhor dizendo, de presunto? Não sei, realmente, não sei...
Tem coisas que não dá, não combina, fica estranho.
Ou você consegue imaginar a Rainha da Inglaterra fazendo propaganda de amaciante?



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