segunda-feira, 5 de maio de 2014

O Príncipe Que Virou Sapo

A Marcinha e o Dudu conheceram-se no reveillon e, quando bateram  um  no olho do outro foi como o espoucar de fogos em Copacabana, uma extraordinária sensação de felicidade, uma certeza absoluta de que ambos eram almas gêmeas e de que nada e nem ninguém seria capaz de separá-los.
Foi uma paixão vulcânica, um amor intenso, vivido e celebrado todos os dias,  uma química fantástica.
Poderosos, a Marcinha e o Dudu eram jovens, solteiros e muito bem posicionados em suas profissões.
Tudo corria bem, até que um dia Flávia, a melhor amiga da Marcinha alertou,  " amiga, esse cara é um tremendo galinha, é useiro e vezeiro em decorar a cabeça da mulherada, esse cara não presta...", e nem terminou a frase, porque a Marcinha, enfurecida, acabou com o assunto e com a amizade de uma década, afinal, o Dudu era o seu mundo e aquilo era inveja, pura inveja de gente que não tinha mais o que fazer a não ser botar areia na sua felicidade.
E assim, a Marcinha foi se distanciando dos seus amigos, das tardes de chimarrão e conversa jogada fora com a Flávia, trocou o reggae pelas músicas que o Dudu apreciava, conheceu pessoas que faziam parte do círculo social dele e fechou-se num casulo onde só havia espaço para o ser amado e ninguém mais.
Os amigos dela estavam preocupados, mas  a Marcinha mantinha-se irredutível e, naquelas alturas, nem sabia ao certo por que mundos andava, mandara tudo pelos ares em nome do grande amor, inclusive sua personalidade e forma de ver a vida.
Um ano depois, casaram-se.
A lua de mel foi nas Ilhas Maldivas, um lugar paradisíaco que, no terceiro dia de viagem, virou maldito para a Marcinha quando ela recebeu o primeiro tabefe do Dudu, que voltara da praia completamente embriagado.
Dali para a frente, o príncipe encantado da Marcinha transformou-se em sapo, e a queda foi abissal, Dudu mostrou a verdadeira face, que escondera durante o namoro e agora revelava, de forma plena: um mulherengo de carteirinha que abusava da bebida e, não raro, tornava-se irônico e violento.
Dois anos se passaram e, nesse período, a Marcinha descobriu que era apenas mais uma entre meia dúzia de mulheres com as quais o Dudu se relacionava; uma das tantas, para ele não fazia diferença.
Certo dia, passeando sozinha, enxergou seu reflexo no vidro de uma loja: tinha 30 anos e estava com um aspecto de 70! Finas rugas haviam se instalado no canto dos olhos e ao redor dos lábios, os olhos tinham perdido o brilho, o cabelo estava sem viço, opaco, ela tinha um ar de desamparo e os ombros, encurvados, eram a prova cabal do desastre que era sua vida.
A Marcinha levou um choque de realidade tão grande que quase caiu.
Quase.
Juntando a ínfima parcela de amor próprio que ainda lhe restava,  encostou-se junto a um muro e chorou todas as lágrimas que tinha para chorar, perdeu o sentido das horas. Em compensação, ali mesmo selou o fim do tempo, relativamente curto, que vivera com o Dudu, foi para casa, juntou seus trapos e pratos e foi-se embora para nunca mais voltar.
Sumiu, evaporou-se,  saiu em busca de si mesma, de quem havia se distanciado tanto e baniu de sua vida, em definitivo, aquele sapo cururu travestido de príncipe!









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